PARTE II – A QUESTÃO DA LUNDA
1885 – 1894; DO CONFLITO ENTRE PORTUGAL E A BÉLGICA DE 1890 A CONVENÇÃO DE
LISBOA DE 1891 E O FIM DO CONFLITO COM ASSINATURA DO ACORDO DE PARÍS DE 1894
A ORIGEM DA CHAMADA A QUESTÃO DA
LUNDA 1885 – 1894
A Expedição Científica
Portuguesa a Mussumba do Muatiânvua 1884-1888
Em
1877, o magnata Rei da Bélgica, Leopoldo II, funda o Estado Livre do Congo, mas
antes desta data, em 1843 o comerciante Português Joaquim da Graça que fazia
negócios no Congo, é levado no Catanga pelos Belgas e conhece a Mussumba do
Muat Yanv, a 1.ª capital do Império Lunda em decomposição ou fragmentação, e
denota-se com uma organização política administrativa e militar da corte do
Muat Yanv igual, a das dinastias Européias e fica estupefacto.
Como,
apenas sabia a via marítima, para chegar até Leopold-Vill via rio Zaire, o seu
regresso para a província de Angola, da Mussumba é feita, atravessando os rios
Cassai, Luembe, Luatchimo, Luana, Tchihúmbwé, Kuango até Kassanje, fronteira
natural do Reino do Ndongo com os domínios do Muat Yanv e, meteu um marco no Kazabi, com o seu
nome e ano, assim atingiu Luanda.
Posto
em Luanda Joaquim da Graça informa ao Governador Geral da Província de Angola,
sobre as terras da Lunda, para além do Reino do Ndongo em Malanje e, dos
benefícios de comércio com os potentados sob domínio do Muat Yanv, o que comoveu
o governador que, em nome do seu Rei, reuniu todos os comerciantes e; como na
altura a Dona Ana Joaquina Silva era a mais rica, fora incumbida a missão de
financiar e abastecer o Sr Joaquim da Graça, de panos, fazendas e outros
produtos e, formou-se uma comitiva de contratados que regressou a Mussumba do
Muat Yanv.
É
assim que, desde 1843 até 1883, varias comitivas de Portugueses Europeus e
Africanos da província de Angola, isto é, 40 anos mais tarde, fizeram-se as
Lundas para o mero Comércio e, como os Belgas queriam expandir a sua influência
para outras latitudes, não queriam mais ver outras potências na região,
sobretudo os portugueses brotaram o conflito, conhecido por “Crise do Congo”, para que os Belgas,
Ingleses, Franceses, Portugueses e Alemães, estabelecessem as fronteiras de
suas influências públicas.
Como
Portugal, era o único país fraco e, para que tivesse razão fundada no direito,
o governador geral da província de Angola, comunica ao seu Rei e, este em 24 de
Março de 1884, nomea oficialmente o Major de Infantaria Henrique Augusto Dias
de Carvalho, como Chefe da Expedição Cientifica Portuguesa a Mussumba do
Muatiânvua, missão financiada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, que tinha
entre outras orientações, a celebração de tratados de protectorados com
potentados e Estados Indigenas sob domínio do Muatiânvua, para a garantia do
comércio nestes Estados, depois de terem passado 402 anos da presença de
Portugal na sua Província ultramarina de Angola 1482 - 1884.
A
Comitiva de Henrique Augusto Dias de Carvalho, era integrada por contratados de
Luanda e de Malange, para além destes, a comitiva era composto por Major Farmacêutico – Agostinho Sizenando
Marques, sub chefe da expedição, Capitão João Baptista Osório de Castro,
oficial as ordens, Tenente Manuel Sertório de Almeida Aguiar, Ajudante , e o
missionário Padre António Nunes Castanheira, com domínios de geografia,
cartografia, etnografia e línguas.
Em
10 de Outubro de 1884, a comitiva da Expedição Portuguesa a Mussumba, partia de
Malanje para a capital Mussumba ao encontro do Imperador Muatianvua nas terras
da Lunda, na altura o Povo Kimbundo ou região de Luanda a Malanje, era
representada pelo Soba Grande chamado “AMBANGO”,
este deu ao representante do Rei de Portugal, o seu irmão Augusto Jayme, para
que, subscrevesse aos tratados que, em Kimbundo se chama por “KIVAJANA”, ou seja, acertar, concordar
etc., com o fim de Augusto Jayme testemunhar a pertença da Lunda aos
Portugueses e, é assim que, começou a famosa expedição de 1884-1888, antes de
ter iniciado em Berlim a conferencia da partilha de Africa.
Entre
Agosto de 1882 á Janeiro de 1886, Angola estava conduzida por um Conselho de
Governo. E entre Janeiro de 1886 á Abril de 1895 Angola teve os seguintes
Governadores Gerais:
ü Francisco Joaquim Ferreira do Amaral,
ü Guilherme Augusto de Brito Capelo,
ü Jaime Lobo de Brito Godins,
ü Álvaro António da Costa Ferreira,
Finalmente em 1895 era Governador Francisco Eugênio Pereira de Miranda.
No
ano de 1895 foi o da criação do Distrito militar da LUNDA, ou seja, o
reconhecimento do Estado da Lunda Independente, porque não poderia existir dois
exércitos de um mesmo estado português se a Lunda fosse parte integrante da
província ultramar de Angola.
Com
o fim do conflito ou a crise do Congo, estabelecem-se as fronteiras convencionais
de Africa, eliminando as fronteiras naturais. No decurso da conferência de
Berlim, Portugal apresentou o mapa da sua província ultramarina Angola com
665.629,9444Km2 iguais Km2, atribuídas a França no Congo – Brazavill e Centro
Africano.
A
Comitiva Portuguesa a Mussumba partiu de Luanda conforme já explicado no
parágrafo anterior, passa por Kassanje e atinge o Estado de Kapenda Kamulemba,
e, aos 23 de Fevereiro de 1885, Henrique Augusto Dias de Carvalho celebrou o
tratado de Protectorado n.º2 em nome de Portugal com potentado Muana Samba
Capenda e Família na estação Costa e Silva no Kuango, o senhor Jayme Augusto
irmão do Soba Ambango do Reino do Ndongo subscreveu a favor da nação Lunda.
Aos
31 de Setembro de 1885 na estação Luciano Cordeiro, celebrou-se o tratado n.º 3
com Caungula e Xá-Muteba;
Aos 2 de Setembro de 1886, um ano depois, o
tratado n.º 5 com Tchissengue e seus Manangas Tchokwes no Luatchimo;
Aos
1 de Dezembro de 1886 na estação Júlio Vilhena no Lucusse – Moxico, o tratado
n.º 7, com Muatiânvua honorário Ambiji Suana Kalenga.
E,
finalmente aos 18 de Janeiro de 1887 na Corte do Imperador Muata Yava Mucanza 17.º,
o tratado n.º 8 na Mussumba sita em Calanhi.
Aos
11 de Maio de 1888, Henrique Augusto Dias de Carvalho, regressou a Lisboa e,
escreveu as suas “Memórias sobre a
Lunda”, onde era Residente Político, Chefe da Expedição Portuguesa a
Mussumba do Muata Yava durante 4 anos (1884-1888).
Entre
1888 até 1895, a representação Portuguesa nos Estados sob domínio do
Muatiânvua, ou Estados dos potentados na Lunda esteve sob a direcção do Sr
Simão Cândido Sarmento, o mesmo que fez parte da Delegação Portuguesa nos
trabalhos da delimitação das fronteiras na Lunda com outra Delegação do Governo
da Bélgica entre 1892 á 1893. Em sua homenagem a actual comuna ou Vila de Xá-Cassau
era chamada de Veríssimo Sarmento.
Em
1895 Henrique Augusto Dias de Carvalho foi nomeado o primeiro Governador da
Lunda já nas vestes de General do Exercito de Portugal.
Próxima
edição com a Parte III...