quarta-feira, 29 de junho de 2011

APELO DA AMNISTIA INTERNACIONAL ACERCA DOS DETIDOS DO MANIFESTO NA PRISÃO DA KAKANDA LUNDA-NORTE



AMNISTIA INTERNACIONAL

APELO À ACÇÃO 3ª ACTUALIZAÇÃO: SAÚDE DE PRISIONEIROS POLÍTICOS EM ANGOLA DETERIORA-SE


Cinco prisioneiros políticos e dois reclusos detidos na prisão de Kakanda, na província da Lunda Norte, Angola, estão a sofrer de uma deterioração na sua saúde após concluírem uma greve de fome de 13 dias, em protesto contra a sua detenção continuada. As condições nas quais eles se encontram detidos não melhoraram e continua a ser-lhes negado acesso a tratamento médico e a água potável e alimentação adequadas.

Os sete homens: Sérgio Augusto, Sebastião Lumani, José Muteba, António Malendeca e Domingos Henrique Samujaia, que foram julgados e condenados por crimes contra o Estado em alturas diferentes em 2010 e 2011; e dois detidos, Mário Muamuene e Domingos Capenda, que foram julgados e absolvidos no dia 8 de Março, permanecendo contudo na prisão, entraram em greve de fome entre 16 e 29 de Maio de 2011. A saúde deles continuou desde então a piorar devido à persistente falta de saneamento, fornecimento inadequado de água e alimentação insuficiente (apenas uma chávena de arroz, uma vez por dia). Estas condições colocam a vida dos reclusos em risco e constituem tratamento cruel, desumano e degradante.
A Amnistia Internacional está particularmente preocupada com Sebastião Lumani, José Muteba, António Malendeka e Augusto Sérgio, que são aparentemente os mais fracos do grupo e estão a sofrer de outras doenças. Além disso, Sebastião Lumani e José Muteba contraíram aparentemente febre tifóide e estão demasiado fracos para se porem de pé ou andarem sem ajuda. A Amnistia Internacional está seriamente preocupada que a saúde deles continue a deteriorar-se ainda mais, a não ser que lhes seja facultado acesso imediato a tratamento médico adequado.

POR FAVOR ESCREVA IMEDIATAMENTE em português ou na sua língua:

 Explicando que é um profissional de saúde preocupado com os direitos humanos;
 Expressando preocupação com os relatos do mau estado de saúde de Sérgio Augusto, Sebastião Lumani, José Muteba, António Malendeca, Domingos Henrique Samujaia, Mário Muamuene e Domingos Capenda e por as autoridades prisionais não lhes facultarem tratamento médico adequado;
 Apelando às autoridades angolanas para que assegurem que todos os prisioneiros e reclusos recebam acesso imediato a todos os cuidados médicos necessários, incluindo internamento hospitalar, de acordo com as disposições das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos;
 Apelando às autoridades para que melhorem as condições na prisão de Kakanda, nomeadamente proporcionando alimentação e água potável adequadas com regularidade, assim como condições de higiene adequadas;
 Apelando para a libertação imediata e incondicional de Mário Muamuene e Domingos Capenda, que foram absolvidos de todas as acusações em Março de 2011 pelo Tribunal Provincial da Lunda Norte.


POR FAVOR ENVIE OS APELOS até ao dia 31 de Agosto de 2011 PARA:


Ministra da Justiça
Sua Excelência Guilhermina Contreiras da Costa Prata
Ministra da Justiça
Ministério da Justiça
Rua 17 Setembro
Luanda
República de Angola
Fax: +244 222 339914/ 330 327
Tratamento: Excelência

Ministro da Saúde
Sua Excelência José Vieira Dias Van-Dúnem
Ministro da Saúde
Ministério da Saúde
Rua 17 Setembro
Luanda
República de Angola
Email: geral@minsa.gov.ao
Tratamento: Excelência

Governador Provincial
Sua Excelência Ernesto Muangala
Governador Provincial
Sede do Governo da Província
Dundo
Lunda Norte
Angola
Fax: +244 252 640 12/645 53
Email: govlunda-norte@hotmail.com
Tratamento: Excelência

Cópias para:
Ministro das Relações Exteriores
Sua Excelência Jorge Rebelo
Luanda
República de Angola
Fax: +244 222 393 246


Por favor envie também cópias para os representantes diplomáticos do governo angolano acreditados no seu país. Por favor verifique junto do escritório da sua secção da Amnistia Internacional caso envie os apelos após a data acima indicada.

CASO NÃO RECEBA QUALQUER RESPOSTA DENTRO DE SEIS SEMANAS APÓS O ENVIO DA SUA CARTA, POR FAVOR ENVIE UMA SEGUNDA CARTA A SOLICITAR RESPOSTA. AGRADECEMOS QUE ENVIE CÓPIAS DE EVENTUAIS CARTAS QUE RECEBA PARA: INTERNATIONAL SECRETARIAT, ATTENTION OF THE HEALTH AND DETENTION TEAM, 1 EASTON STREET, LONDON WC1X 0DW, REINO UNIDO; OU POR E-MAIL, PARA: HEALTH@AMNESTY.ORG

INFORMAÇÃO ADICIONAL
Os sete homens acima indicados faziam parte de um grupo de cerca de 40 membros da Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda Tchokwe (CMJSP-Lunda) e foram presos em alturas diferentes entre Abril de 2009 e Outubro de 2010. Foram inicialmente detidos na prisão de Conduege, na província da Lunda Norte. No dia 7 de Fevereiro de 2011, foram transferidos para uma prisão mais nova, a prisão de Kakanda, no Dundo, onde as condições foram inicialmente melhores. Contudo, a prisão ficou sobrelotada; NÃO HÁ electricidade; a alimentação e água potável oferecidas são escassas e não há serviços de saúde.
No dia 17 de Março de 2011, mais de 30 dos detidos da CMJSP-Lunda foram libertados após uma petição de habeas corpus apresentada pelo seu advogado. Contudo, os cinco prisioneiros condenados e os dois detidos acima mencionados não se encontram entre eles.
Sérgio Augusto; Sebastião Lumani; José Muteba; António Malendeca e Domingos Henrique Samujaia foram julgados e condenados por crimes contra o Estado em alturas diversas em 2010 e 2011 e condenados a penas de prisão entre três e seis anos.

Esta é a terceira actualização de AFR 12/002/2010 (27 Janeiro); AFR 12/10/2010 (11 Agosto); e AFR 12/012/2010 (14 Outubro)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890

Este mapa mostra o roteiro dos exploradores europeus e as suas expedições no interior da LUNDA.

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE IV


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE IV

O texto que temos vindo a publicar, esta bem claro que as expedições europeias na Lunda, eram meramente de caracter ciêntifico, estudos etnograficos e história tradicional dos povos sob dominio do Muatiânvua, em nenhum momento havia intenções de ocupação colónial por parte, seja ela de Portugal, da França, da Alemanha ou da Inglaterra, conforme relatos do Rodrigues Graça.

Não havia interesses especificos na Lunda de nenhuma potência Europeia. O interesse maior sobre a exploração da Lunda começa no ano de 1875, uma terra desconhecida e mal estudada há menos de 9 anos para a realização da CONFERÊNCIA DE BERLIM de 1884-1885.

4.- ESTRANGEIROS EM EXPEDIÇÕES NO INTERIOR DA LUNDA
4.1.- TENENTE VERNEY LOVETT CAMERON

Também em 1872 a Inglaterra confiou ao tenente Verney Lovett Cameron a missão de ir ao encontro do Dr David Livingstone e de lhe levar toda a ajuda de que carecesse. Teve, porém, a triste surpresa em Taborá a fúnebre caravana que conduzia para a costa o cadáver do grande explorador de todos os tempos em Africa, do Dr David Livingstone.

Verney Cameron, tendo por adjunto o Dr W. E. Dillon (...) faleceu em Africa em Cassequera, já depois de ter passado Taborá (...), saiu de Inglaterra em 30 de Novembro de 1872, no mesmo dia em que o tenente GRANDYE e seu irmão partiam de LIVERPOOL para a costa ocidental Africana. Rumou em direcção ao Cairo no Egipto, Suez, Aden e Zanzibar, onde associou à expedição ROBERT MOFFAT (...) depois de atravessar o Quingâni, Cameron mandou-o regressar a Bagamoio num jumento, por se mostrar extenuado da marcha. Morreu a duas horas da marcha do Simba, e o seu corpo foi sepultado no começo da planície de Macata (...), sobrinho do Dr David Livingstone, partiu para Bagamoio, onde penetrou no coração de Africa. Rumou emdirecção ao médio Tanganica, por Quicoca, atravessando o rio Macata, a povoação de Ugogo, de Panga Sanga, Canhenhé, Usequé, cruzando o rio Mabungúru, Ituro até Unhanhambe (Taborá), onde soube da morte do Dr David Livingstone.

No entanto, Cameron, resolveu prosseguir até Udjidji, descendo por Cassequerá, Ugunda, Cuicúru, Gombe Nulá, daqui a Teueré, Taca, atravessando o Síndi « sobre uma massa de vegetação flutuante», o Malagarázi até Ugaga e daqui até Udjidji. Deu um grito em volta do Tanganica e passou-se para a margem ocidental. Desceu o Lucuga até ao Lualaba. Em Nhangoé encontrou-se com TIPPU-TIB, que o escoltou desde aí até Utorera. Bem quis ele explorar o Lualaba, mas não conseguiu canoas. Desceu até forte Díná, Muncula e chegou a Munza onde se encontrou com o mercador Árabe Jumá Americano (...) Este árabe « tinha estado nas mínas de ouro e cobre de Katanga; fora ao país de Massama, onde encontrara carvão; Jornadeira entre os lagos Moero e Tanganica; atravessara o Lucuga; e formara acampamento permanente em Quiruga (...).

O árabe, Jumá, ao saber da chegada de um explorador Inglês, julgou tratar-se do Dr David Livingstone, com quem uma vez se encontrara. Conheceu ele em Udjidji também SPEKE e BURTON. Parecia, portanto, pessoa capaz de dar a Cameron informações úteis.

Por ele, soube Cameron, tentado a visitar a Mussumba na Corte do imperador Muatiânvua, «que as chuvas tornariam o caminho, em pouco tempo, impraticável» e «que se chegasse á capital não voltaria de lá, porque o último homem branco que se sabia ter visitado Sua Majestade imperador Muatiânvua, fora detido à força para instruir o povo na arte da guerra Europeia, e depois de quatro anos de cativeiro lá morreu sem ter ocasião de fugir».

Se os motivos foram estes ou se os seus receios foram outros, de qualquer modo, Cameron passou muito acima e muito ao lado da Mussumba a capital do Imperio LUNDA e não conseguiu encontrar-se com a corte do Muatiânvua.

Começaram depois os encontros de Cameron com os portugueses, a respeito dos quais se não coibiu de fazer as mais descabidas diatribes. Falou primeiro como négociante portugues José Alves, que se propunha também regressar a província de Angola e com quem ele alí entrou. Conheceu, em seguida, um filho do major Coimbra, Lourenço de Sousa Coimbra, que ele dá na conta de quem «alcançara grau elevada na arte dos bandidos».

Em Lupanda, voultou a ter notícias sobre o imperador da LUNDA Muatiânvua de que fora deposto por sua irmã e andava escondido numa região oito milhas ao norte ele estava acampado.


No dia 27 de Julho, estava em Ulunda, de onde partiu em direcção ao lago Dilolo, depois ao Bié e daí para Benguela. Não teve, portanto, o tenente Cameron qualquer contacto com a Mussumba, embora tivesse andado no interior da LUNDA e também a sua missão foi de natureza puramente cientifica.

4.1.2.- HENRY STANLEY

Henry Stanley estava talhado para se sujeitar em Africa às vicissitudes das explorações. Nascido em Denbigh, no País de Gales, filho de campónios, levou vida agitada e dificil. A narrativa sua da tomada do forte Frisher, na Guerra da Secessão (1860 – 1865) Americana, para a folha de Nova Iorque, abriu-lhe as portas do Jornalismo.

De regresso da viagem que em 1871 empreendeu por Bagamoio em busca do Dr Davd Livingstone, aparelhou Stanley nova e grande expedição. No dia 21 de Setembro de 1874, estava ele em Zanzibar para dar inicio à sua viagem de contracosta, a qual findou no ano de 1877. Atinge o lago Vitória, pelo caminho de SPEKE, descobre em Janeiro de 1876 o lago Alberto, e faz, de 11 de Junho a 31 de Julho de 1876, o reconhecimento completo do lago Tanganica.

De Ruanda, no lado ocidental e médio do lago, parte em direitura às nascentes do Lucuga, a Uhombo, Riba-Riba, passa o rio Luama, desce por ele até Uzura, e em Muana Mamba, perto de Cassongo, encontra-se com TIPPU-TIB, que o acompanha por algum tempo na tentativa dificil de reconhecer o curso do Congo.

No dia 5 de Novembro de 1876, as duas expedições, a de Stanley e a de Tippu-Tib, num total de 400 homens, deixam Nhangoé e internam-se na floresta equatorial.

Em Vuane-Quirumbo, Tippu-Tib mostrou desejos de ver anulado o contracto de acompanhar Stanley. No entanto, avançaram juntos por mais algum tempo e entram no Lualaba perto do sítio de Campunzo. Na confluência deste rio com o Ruíqui, travam combate com as flechas dos nativos. Já dentro do Congo, em Vinha-Njara, Stanley concorda com rescindir o contracto de Tippu-Tib. O célebre esclavagista árabe estava exausto, tinha perdido muitos dos seus homens e boa parte do seu harém, atacados de beixigas.


Henry Stanley, apesar de tudo, não deciste. Segue o rio Zaire até à foz, e chega a Cabinda. Daqui parte para a província de Angola e chega em Luanda a bordo da canhoneira portuguesa TAMEGA, onde viaja com o major Serpa Pinto «Um dos primeiros actos do governador-geral da província Angola, foi enviar-lhe o seu ajudante de campo para lhe oferecer todo o dinheiro que lhe fosse necessário e uma cnhoneira que o conduzisse a Lisboa.

Foi convidado para tomar parte num banquete que o comandante portugues oferecia ao major Serpa Pinto, ao comandante Brito Capelo e ao tenente Robert Ivens, que iam partir para a expedição do rio Cunene (...). E teve em Luanda ainda mais dois banquetes em sua honra, ele que, na Europa, se fartou de dizer mal dos Portugueses, ele, que, com LEOPOLDO II, fez o Congo a expensas do que pertencia a Portugal.

Também Henry Stanley não contactou com a corte do imperador Muatiânvua na Mussumba. De 1874 a 1884, cuidou antes de abril no Congo 40 postos mercantis e estabelecer comunicações, por barcos a vapor, entre o Atlântico e «o ponto do rio onde as cataratas levam o seu nome. Em 1887, ainda voltou à África em busca de Emin-Pachá.

Das viagens de Henry Stanley, a Inglaterra apenas aproveitou, politicamente e sem demora de tempo, o Uganda. Estava Henry Stanley nas águas meridionais do lago Vitória, quando enviados do «imperador» Mteza lhe disseram em Suaili que fosse bem-vindo a UGANDA. O convidado acedeu a uma entrefala com Mteza, a quem ministrou uns rudimentos de catecismo e de etiqueta.

Apela depois para o DAILY TELEGRAPH e para NEW YORK HERALD pedindo-lhes que fizesse todos os esforços para que uma missão cristã fosse enviada para junto de Mteza. O jornal de Londres abre uma inscrição que rende 625 mil francos. Segue depois uma leva de missionarios, que o «imperador» recebe festivamente em finais de 1876, e o Uganda torna-se uma possessão Britânica. Mas a Lunda do Muântinvua não há presença de nenhuma potência Europeia. Prmanece intacta com os seus Estados sob dominio da Mussumba.
___________
OBSERVAÇÂO:
- O proximo texto vai tratar dos exploradores Pogge e Lux, Otto Schútt, Silva Porto, Max Búchner, Capelo, Ivens, Serpa Pinto Von Mechow, Wissmann, irmãos Machados e o Dr Summers.

O DELÍRIO DE AUTO-ESTIMA


O DELÍRIO DE AUTO-ESTIMA
Carlos Tiago Kandanda

A virtude dos louros reside no facto de que, não se procura. Nem deve ser auto-proclamada. É sim, atribuída. É um mérito reservado; um beneplácito. Noutras palavras, é um Acto do Bem e de Glória. Os feitos dos Homens têm o peso histórico quando são reconhecidos pelos outros através de uma vontade explícita e honesta de tomar uma iniciativa de conferi-los ao Actor sem a sua influência directa ou indirecta. Este procedimento faz parte integral da ética e dos princípios morais que reflecte, de forma profunda, a sensibilidade e o bom senso.

Qualquer manifestação de auto-estima é uma falsa modéstia que tem como propósito provocar apreciações lisonjeiras de outrem. O Povo Bantu é de natureza reservada, humilde, comedido, decente e digno. Reconhece e respeita a sensibilidade e a honra de outrem. Quando fizemos recurso à auto-estima é porque a Obra em causa não cintila o brilho adequado no coração das trevas da noite. É uma partícula que se perde facilmente no deserto. O seu esplendor não pendura no tempo.

A Iniciativa de induzir os outros Estados da Região da SADC para Comemorar o Dia da Batalha do Kuito-Kuanavale, 23 de Março, me parece não ter sido tão oportuna. Por mais significativo que fosse, não teria sido na vigência do Consulado do Presidente José Eduardo dos Santos, um dos protagonistas do conflito armado, que tivesse vindo a terreiro com este Projecto. Teria sido numa outra época, de outro Ministério, que tomasse o protagonismo deste Acto. Na condição normal, esta iniciativa teria sido dos outros Países afectados, como o caso da Namíbia e da África do Sul que ficaram no centro dos acontecimentos. O que acontece neste caso concreto é uma manifestação de auto-estima pessoal. Um delírio das grandezas, que tem sido um carácter marcante do comportamento comum do Regime Angolano em todos domínios da sua Governação.

Por outro lado, é uma pretensão injusta reduzir o colapso do Apartheid, na África do Sul, numa ínfima Batalha do Kuito-Kuanavale, cujo alcance fica relegado à apreciação imparcial, objectiva e realista das gerações vindouras.

A Revolução Sul Africana é a mais complexa da Era contemporânea, tendo em consideração a natureza e a dimensão deste fenómeno. A Luta Sul-africana atraiu atenção de todo Mundo que se engajou nela de forma extraordinária. Ela foi uma Revolução conduzida por Lideres abnegados, íntegros e humildes. Quadros de grande sentido humano, sensatos e providos de rica sabedoria. Estamos perante um Homem imponente cuja estatura política prestou a dignidade humana à uma Sociedade Multirracial do seu País que se encontrava a beira da desintegração absoluta.

Refiro-me precisamente ao Madiba, Nelson Mandela, um Líder que granjeou respeito e admiração do seu Povo e do Mundo inteiro. Um homem generoso sem ódio, sem egoísmo, sem revanchismo e sem arrogância. Uma personalidade de trato fácil; amigo de crianças e educador da humanidade. Um dirigente que sabe congregar e amar intimamente sem excepção, incluindo os seus inimigos, adversários e detractores. Um grande unificador não apenas da Nação Sul-africana, mas sim, de todas raças do nosso planeta terra. Um estadista que apareceu como Messias, anunciando a Boa Nova da dignidade humana contra o desdém e o desprezo em que a Raça Negra ficou submetida há muitos Séculos da dominação e da exploração do homem pelo homem.

Nelson Mandela emergiu da Cadeia como Salvador e foi capaz de incutir a Fé e a Confiança em todos Sul-africanos para a edificação de uma Sociedade justa, pacifica, reconciliada e harmoniosa, em que cada comunidade do País sentiria em sua Casa sem qualquer discriminação. A Palavra de Compaixão, de Fraternidade e de Liberdade é que desceu sobre a Alma e o Espírito dos Sul-africanos e que permitiu a derrota definitiva do sistema de Apartheid. Foi a conjugação de forças de todas Nações do Mundo que nos trouxe a felicidade e amor entre as diversas comunidades daquele País martirizado.

Por isso, sejamos modestos com as nossas ambições desmedidas que sempre nos leva ao ridículo, de traduzir uma Obra desta tamanha à infimidade de uma Batalha do Kuito-Kuanavale. Quem julga assim, sofre da miopia política que ofende a consciência do pan-africanismo que registou o Papel fundamental que os Nacionalistas Sul-africanos desempenharam, com toda bravura e dedicação, no combate contra o Colonialismo Europeu em África. Nós, Africanos, devemos comungar com os nossos irmãos Sul-africanos que têm sido felizes em demonstrar ao Mundo a Qualidade e a Competência de Governação. Abracemos, com humildade, aquilo que é Bom e tirarmos Lições apropriadas para potenciar a nossa curiosidade de modo a sermos um dos melhores do amanha. Pois, isso é um direito inalienável que cabe à cada Nação do Mundo.

Dizia Franz Joseph Strauss, politico Alemão: O Adolfo Hitler foi insensato. Pela potencialidade da Alemanha de altura, em todos domínios, não era necessário fazer a Guerra. Com o tempo, Alemanha ficaria no topo das Nações do Mundo.

Na verdade, por virtudes intrínsecas da Cultura Alemã, apesar da derrota decisiva da II Guerra Mundial, Alemanha foi capaz de ressurgir, em pouco tempo, na Comunidade Internacional como uma Potência económica bastante significativa. Tendo conquistado a Reunificação do País. Ali estará encoberto o nó da ascensão e da queda de uma Nação na sua longa Caminhada de afirmação, em busca do bem-estar social e do desenvolvimento tecnológico, cientifico, económico e cultural.

Deixo uma interrogação no ar: Será que a Batalha do Kuito-Kuanavale foi mesmo desta dimensão que tanto propagámos ao Mundo? Será que foi mesmo uma Vitória decisiva das FAPLA? Ou, afinal foi um retrocesso táctico que não foi capaz de consumar a grande Estratégia traçada no contexto da Guerra-fria? Como é possível ao um Exército vitorioso, que vence a Batalha do Kuito-Kuanavale, é logo derrotado decisivamente na Batalha do Ultimo Assalto, em Mavinga? Nesta altura, o combate ficou unicamente fechado entre as FAPLA e as FALA, sem a intervenção das forças estrangeiras. Afinal, quem venceu a Batalha de Mavinga que visava a tomada da Jamba para se colocar fisicamente na fronteira da Namíbia? Este fenómeno paradoxal não nos transmite alguma realidade oculta que precisa de desvendar?

Se a Batalha de Mavinga, Ultimo Assalto, tivesse sido vencida pelas FAPLA, o cenário teria sido o outro. Os Acordos do Triplo Zero não teriam tido os Pés para andar. Nem haveria os Acordos do Bicesse; muito menos o Protocolo de Lusaka. Pois, a Estratégia global era da tomada da Namíbia que daria acesso à fronteira da África do Sul, a meta estratégica do Bloco Soviético, para o controlo efectivo da Rota marítima do Cabo de Esperança. Se isso tivesse sido materializado, punha em causa o desfecho da Guerra-fria que resultaria na consolidação do Sistema Comunista, do Partido Único, no Continente Africano. A Democracia seria um mero Sonho, bem distante da afirmação prática. Graças à Resistência efectiva da UNITA tornara viável travar a Expansão Soviética em África. Contudo, houve Má Fé e à Traição política por parte das Potências Ocidentais que, no desmoronamento do Império Soviético, assumiram a Estratégia de sacrificar os seus próprios Aliados da Guerra-fria em prol dos seus Interesses Estratégicos de isolar a antiga União Soviética dos seus Aliados do Continente Africano.

Esta postura negativa resultou, através do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na aplicação das Sanções injustas, desumanas e indiscriminadas contra a UNITA, que culminaram na decapitação da Direcção do Galo Negro. Este foi o factor decisivo que enfraqueceu a UNITA na última fase da Guerra Civil que terminou em 2002.

Nenhum Exército, por mais potente que seja, é capaz de travar a Guerra com êxito sem a Logística adequada. Neste contexto, através das Sanções punitivas, as Nações Unidas sitiaram e privaram a UNITA de quaisquer acessos ao sistema de Logística para municiar as suas tropas. Foi nesta base que podemos considerar, com propriedade, de que a Guerra Civil Angolana foi efectivamente vencida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta Organização multilateral interveio massivamente ao lado do MPLA com seu pessoal e suas estruturas multinacionais na aplicação das Sanções compreensivas. Causando um enorme desequilíbrio político-militar que se faz sentir ainda hoje na correlação de forças, incapaz de sustentar a construção da democracia real em Angola.

Se fossemos honestos, patriotas e realistas, a nossa atenção actual estaria virada para libertar as mentes dos Angolanos dos fantasmas e dos traumas da Guerra. Curar as feridas, sarar as cicatrizes, limpar as lágrimas e unir os irmãos desavindos. Angola, de facto, é um Barril de pólvora, um Vulcão adormecido que pode entrar em actividade a qualquer altura. Logo, não acho que era sensato insistirmos na intoxicação das mentes do Povo Angolano. Exacerbando a divisão e o ódio entre os cidadãos desavindos no passado através da fundação das Associações Sociopolíticas de Batalhas: A, B, C, etc. Gastando avultados somas de dinheiro na construção de Monumentos de uma Guerra intestina de desgaste e estúpida; enquanto o Povo morre da fome e da pobreza extrema.

Este Cântico de Guerra leva consigo uma dose excessiva de exclusão e de discriminação política, social, cultural e económica. O Regime Angolano está fortemente empenhado na construção do sistema político de segregação política, económica, social e cultural, semelhante à situação que prevalece entre os Povos da Palestina e do Israel. Parece que, o Soberano Angolano subestima a profundidade da sua Política segregacionista cujas ervas daninhas estão sendo espalhadas por toda parte. Como diz no adágio popular: Erva ruim não a cresta a geada.

Tenho a impressão forte de que, os factos do Conflito Angolano que estão sendo escamoteados constantemente na opinião pública nacional e internacional, a qual seguiu de perto os acontecimentos do nosso passado recente, devem estar na origem da postura megalómana do Sistema. Não tendo êxito na Governação do País que se mergulhou na corrupção galopante, causando a pobreza extrema, a fome e a miséria, tenta buscar os louros no passado da Guerra fratricida. Afastando constantemente todos os factores necessários para a edificação da Identidade Nacional que constitui um factor decisivo da Unidade Nacional. Tendo como propósito estratégico distrair a atenção do Povo dos problemas real que assola a Sociedade.

Só que, a Consciência do Povo Angolano cresceu de forma fantástica capaz de discernir e desbravar o Caminho acertado ao futuro risonho e próspero para toda gente. Cedo ou tarde a Revolução democrática será uma realidade no País e o seu efeito sentir-se-á na sua plenitude. Será nesta altura que a Historia do Nacionalismo Angolano será consagrada plenamente sem quaisquer distorções e manipulações políticas dos factos reais.

Conecta: http://baolinangua.blogspot.com

sábado, 25 de junho de 2011

AUTONOMIA ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA EFECTIVA DA LUNDA


O Estatuto do MPLA – durante a guerrilha até o ano de 1977, sempre defendeu a Autonomia para as Regiões onde as minorias (onde existe estas minorias), nacionais vivem em agrupamentos densos e têm um caracter individualizado, podem ser Autonomas.

Qual é o medo do Governo do MPLA ao reivindicarmos autonomia da Lunda?

Vejam a cópia do Estatuto do MPLA durante a guerrilha no seu N.º 2 e na alinea d)

Fonte:FOLHA8

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE III


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE III

A Lunda, dada a sua posição em pleno coração da África, só depois da ocupação da costa atlântica ou indica, podia atrair comerciantes e exploradores europeus. Contudo o interesse sobre a Lunda por parte dos Europeus tem maior interesse a partir de 1875.

3.- PORTUGUESES
3.1.- Saturnino de Sousa Machado e Silva Porto

Depois da viaje do Rodrigues Graça a mussumba, entre 1843 á 1850, muitos portugueses, ajudados pelo Jagado de Cassanje, conseguiram penetrar no interior da Lunda com fins meramente comerciais e com autorização dos potentados ou Miananganas chefes dos Estados indiginas da época.

Por cerca de 1850, o português Carneiro solicita a autorização do Muene Muatximbundo e funda nas suas terras uma feitoria comercial junto aos rios Luvo e Cassengo, á qual associou mais tarde o seu empregado Saturnino de Sousa Machado, sob a firma Carneiro & Machado, firma que finalmente ficou de Machado.

Dela foram mais tarde aviados vários portugueses, tais como João de Carvalho (vulgo dictus da Catepa em Malange), António Lopes de Carvalho e José do Telhado, que percorreram em negócios de lés-a-lés o interior da Lunda e tiveram a ordem do Muatiânvua fixando uma agência na Mussumba.

Entre 1857 e 1860 grandes nomes de chefes tchokwes ou chefes de estados indiginas se destacarm como, Muatchissengue, Tchinhama, Muamuchico, Congolo e Muacanjanga. A Casa Caneiro passou então a fazer negócios com estas entidades.

No dia 3 de Abril de 1852, chegam inesperadamente a Benguela três (3) comerciantes mouros ( embora Bernardino Freire Figueiredo Abreu e Castro tenha mandado para o Boletim Oficial de Angola a notícia de que eram três, a verdade é que no oficio n.º 102, de 15 de Abril de 1852, do governador de Benguela para o Governador-geral se fala de cinco), vindos de Zanzibar através do continente africano, e logo o colono Bernardino Freire Figueiredo Abreu e Castro chama para o facto a atenção de todos. No dia 15 do mesmo mês, o governador de Benguela, José Rodrigues Coelho Amaral, dá disso notícias ao governador-geral, lembrando que talvez ele quisesse aproveitar «o regresso desta gente» para «enviar alguma carta ao Governador Geral de Moçambique.

O resultado foi que o governador-geral da província de Angola, decidiu conferir «o posto de Capitão de Passagens, com o soldo ou gratificação que o governo de Sua Majestade» designasse e um prémio de um conto de reis, a pagar pela Junta da Fazenda, àquele que, indígina ou europeu, se animasse «a seguir os caminheiros em questão», oficio n.º 474, de 28 de Abril de 1852, da repartição Civil do Governo-Geral de Angola para o Governo de Benguela.

Das instruções constava também que a expedição deveria « fazer conhecer aos regúlos poderosos – Chefes ou potentados poderosos, as grandes vantagens que lhes devem resultar de serem nossos fiéis aliados, e com especialidade ao imperador Muatiânvua, quando por aí passassem, certificando-lhe o desejo que o Governo-Geral da Província de Angola tinha de estabelecer com ele íntimas relações de aliança e amizade perpétua (...)» (artigo 5º) – In Silva Porto e a travessia do continente Africano,pp.27-28.

O governador de Benguela, receioso de que a empresa viesse a pertencer a algum aventureiro menos capaz, dirigiu a António Francisco da Silva Porto caloroso apelo para chamar a si a « glória de realizar intento tão profícuo».

Além das viagens para sudoeste, tinha este penetrado nos sertões do norte pelo Cuanza, pela LUNDA até ao Cassai, ao Lulua, ao Lubuco.

Silva Porto, que acabava de realizar a sua quarta viagem, acedeu ao convite do governador, e preparou-se para ir em direitura às cabeceiras do rio Sena. No dia 20 de Novembro de 1852, partia ele de Belmonte em direcção a Cangombe, daqui a Dumba, a Bango-Acunuco, às nascentes do Cuando, Ninda, Libonta, até ao Catongo, depois de passar o rio Zambeze, numa jornada de cento e sete dias. A gente de Silva Porto continuou com os Mouros até Moçambique, e ele regressou a Angola.

3.2.- PORTUGUESES E ESTRANGEIROS
3.2.1.- DR DAVID LIVINGSTONE

Entre os exploradores estrangeiros (Europeus), o que deve ter penetrado primeiro em terras da antiga LUNDA foi o Dr David Livingstone, enviado pela LONDON MISSIONARY SOCIETY em 1840 a África, onde fez três viagens e viveu vinte e cinco anos.

Na segunda viagem, em 1853, Livingstone subiu o Zambeze, travessou o Cuango, chegou até Luanda, e regressou a Moçambique, passando pelo cotovelo superior do Zambeze. Em Março de 1868, e pela última vez, internou-se no sertão Africano, embarcando na baía de Mikindâni, ao sul de Zanzibar, pelo rio Rovuma acima, em direcção ao Niassa. Atravessou depois os territórios de Kinsula, o rio Luângua, contornou a margem sul do Tanganica e atingiu o Muata Kazembe da LUNDA, onde recebeu deste bom acolhimento.

Até 1868, Dr David Livingstone, explorou as regiões vizinhas do Moero, Tanganica e Kazembe. Em Junho desse ano, partiu do Kazembe para Bemba, e foi em seguida conduzido pelo potentado Chicúmbi á beira do Bangueolo. No dia 1 de Maio de 1871, em Chitambo, ao sul do lago Bangueolo, falecia ele atacado de febres e minado por uma disentera crónica.

Apesar de ter percorrido regiões tão vastas da Africa Central, não conseguiu ele visitar a MUSSUMBA DO MUATIÂNVUA. Tentou realmente explorar o Lualaba e possivelmente caminhar depois mais para ocidente, mas não pode remover a animosidade dos nativos. Em vão procurou obter informes sobre o rio, mas Muíni Dugúmbi, que interrogara,« recusou-se a isso, com o pretexto de que morreria se tal fizesse». Procedeu, por isso, de ma fé quando escreveu que o Sr Rodrigues Graça e outros portugueses visitaram este chefe de Estado LUNDA o Muatiânvua por várias vezes; porém, nenhum europeu reside além Cuango: é contrário á politica do Governo da Província de Angola consentir que os seus súbtidos penetrem pelo interior a dentro.

Quando Dr David Livingstone, na sua segunda viagem, chegava às nascentes do Cuango, já em Muana Tximbundo (Quimbundo) estava estabelecido o comerciante Carneiro, já aviados seus tinham na mussumba uma agência, o que traduz as boas relações com gentes vinda da Província de Angola de origem europeia com os Áfricanos da Lunda.

A presença dos portugueses na Lunda como amigos deste povo, foi testemunhada, nas conversas que Stanley teve com Tippu-Tib, este lhe dissera que na aldeia de Cassongo, no Lua, muito para lá do Lualaba, «costumam parar alguns negociantes portugueses. E era este um testemunho de um Àrabe que devassava o continente negro e que poucas simpatias manifestava pelos portugueses.

Em 1858, Dr David Livingstone, antes de regressar a África, apresentou ao Governo Britanico um projecto de exploração do rio Zambeze na Lunda, para o qual a Inglaterra solicitou do Governo de Portugal a necessária autorização (...Porque? se a Lunda não era propriedade de Portugal..). Portugal propôs então que nessa exploração seguissem também dois ou três súbditos portugueses escolhidos pelo Governo de Sua Majestade (Oficio reservado N.º 1, de 6 de Janeiro de 1858, do embaixador portugues em Londres. In LAVRADIO, Marques do), mas tal proposta foi rejeitada in limine. O representante portugues em Londres lembrava, por isso, para Lisboa a necessidade de fazer anteceder ou seguir a expedição de David Livingstone de uma expedição portuguesa.

Tal sugestão não veio a efectivar-se, e David Livingstone foi estabelecer-se nas margens do Niassa, seguido de um Bispo protestante, de missionários e de uma colónia escocesa. Assim se levantava para Portugal mais um litigio Africano ( Porque? Se Portugal não era nada no estado da Lunda, não existia relações oficiais).

Os arrojos de David Livingstone de penetrar nos sertões inóspitos de Àfrica e a falta de novas suas emocionaram a Europa. Vários foram os que se ofereceram para ir em busca dele: um foi Henry Moreland Stanley, que antes, em 1868, tinha ajudado o capitão SPEKE na sua expedição à Abissínia. Em 1871, parte para o centro da África e, achando o missionário inglês, prepara ele uma expedição para completar as Explorações.

Activista de Cabinda detido em Kinshasa a pedido das autoridades angolanas

Agostinho Chicaia está detido sem saber o motivo das acusações




A POSIÇÃO DE RAUL TATI

Agostinho Chicaia, antigo líder da Associação Cívica de Cabinda Mpalabanda, foi detido pelas autoridades da República Democrática do Congo, no aeroporto de Kinshasa, no momento em que ia apanhar o avião para Harare, no Zimbabué.Chicaia está detido sem saber o motivo das acusações, mas recorda-se que as autoridades angolanas o indiciaram de crimes contra a segurança do Estado num processo em que dois outros réus já foram absolvidos.

A detenção de Agostinho Chicaia já provou diversas reacções de várias personalidades angolanas de destaque.O padre Raúl Tati, activista cabinda, acusou o vizinho Congo Democrático de intrometer-se no conflito em Cabinda ao orientar a detenção do presidente da extinta Mpalabanda.Tati considera a detenção de Chicaia como "repugnante e que faz paret das políticas de Luanda em silenciar a sociedade civil cabindense.A propósito,Raúl Tati apela à ponderação sob pena de se intentarem mecanismos contra aquele Estado.


A imprensa local diz que Chicaia foi interditado,na passada segunda-feira, pelos Serviços de Emigração do Congo Kinshasa, no aeroporto de N'Djili, quando embarcava para Harare.As autoridades alegam terem recebido orientações da embaixada de Angola naquele país.

Enquanto isso,as três organizações cívicas,segundo Patrocínio deverão tomar uma posição conjunta sobre o qual condenam a detenção de Chicaia.“Pedimos ao Estado angolano e ao Congo para que apresente explicações e garanta a segurança de Agostinho Chicaia,enquanto estiver detido e para que haja a sua libertação imediata.”

Quando questionado sobre se os alegados actos de perseguição contra os activistas dos direitos cívicos protagonizados pelo regime angolano poderia reduzir a dinâmica destes actores no país, Patrocínio respondeu que, tais flagrantes abusos,demonstram a necessidade dos defensores dos direitos humanos continuarem com as suas acções.

A POSIÇÃO DE JOSÉ PATROCINIO

José Patrocínio, coordenador da associação cívica Omunga considera que a detenção de Agostinho Chicaia pode reflectir o clima de perseguição e de intimidação que os activistas cívicos em Angola enfrentam.Em declarações à "Voz da América", Patrocínio revelou que a sua organização, em conjunto com AJPD e a Fundação Open Society-Angola, estão a tentar obter informações do Congo Kinshasa sobre o paradeiro e as condições em que se encontra Agostinho Chicaia.

“Isso pode representar o clima de pressão que estamos a viver. Isso parece ser mais uma estratégia de tentar limitar a actividade dos activistas cívicos em Angola”, considera o líder da Omunga.



UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Recorda-se, a propósito, que a Lei 7/78 dos Crimes Contra a Segurança do Estado foi explicitamente revogada pela Assembleia Nacional.Mesmo assim, ela continua a criar transtornos aos activistas angolanos.

Depois da libertação da cadeia do Yabi, na Província de Cabinda, Francisco Luemba foi retido no aeroporto de Luanda, quando pretendia seguir para Lisboa.O advogado permaneceu uma noite nas celas da DNIC- Direcção Nacional de Investigação Criminal - mas foi posto em liberdade no dia seguinte, depois de um arranjo administrativo que retirou o seu nome das listas das pessoas procuradas em Angola.

A revogada lei continua,porém,a ser usada pelos órgãos de repressão,principalmente fora da capital do país,funcionando como instrumento para intimidar.

Apesar dos passos dados pelos advogados ainda no início do ano, sete presos do Protectorado das Lundas continuam na cadeia da Kakanda, como confirmou Gideão dos Santos, porta-voz do movimento.

Bento Bembe,por nós contactado,disse desconhecer a detenção de Agostinho Chicaia ocorrida na segunda-feira.Bembe disse que estava a tomar conhecimento da notícia por nosso intermédio.

Mas,qual a interpretação jurídica que pode ser feita destes incidentes todos.Reis Luís é jurista. Segundo o especialista, uma lei revogada não deve produzir efeitos jurídicos.

Sobre que passos poderia tomar para acabar com as actuais tropelias,Bento Bembe não foi claro,se poderia levar avante alguma iniciativa.O Secretário de Estado dos Direitos Humanos angolano nega, por outro lado, que ainda existam vítimas da revogada lei 7/78, mas admite que é preciso continuar a analisar as causas das detenções que ainda prevalecem.

VOA

Convenções e tratados sobre a Lunda 1885-1894/1955-1975


1. Convenção entre Portugal e a Associação Internacional do Congo
2. Acordo entre os Governos de Portugal e do Estado Independente do Congo sobre a questão da Lunda
3. Tratado de protectorado entre Portugal e Mona Samba (Capenda)
4. Tratado de protectorado celebrado entre Portugal e Caungula (Xa Muteba)
5. Auto de eleição do embaixador a enviar a Luanda a solicitar a ocupação e a soberania de Portugal na Lunda
6. Tratado de protectorado celebrado entre Portugal e Tchissengue e seus Muananganas (Quiocos)
7. Auto de declarações por que Caungula de Mataba reconhece a soberania de Portugal
8. Tratado de protectorado entre Portugal e Muatiânvua Ambinji, superior dos calambas
9. Tratado de protectorado entre Portugal e a Corte do Muatiânvua
10. Auto de concessão da Bandeira Nacional Portuguesa a Mona Quissuássua (Quioco)
11. Oficio de Capenda-Camulemba ao major Henrique de Carvalho a pedir a protecção de Portugal
12. Tratado que Dhanis pretendia celebrar com Nzovo
13. Norma dos tratados que os agentes do Estado Independente do Congo celebravam com os Potentados
14. Protesto do tenente Dhanis entregue por este pessoalmente a Simão Cândido Sarmento
15. Resposta de Simão Cândido Sarmento ao protesto de Dhanis de 13 de Setembro de 1890
16. Protesto de Dhanis e resposta ao protesto de Simão Cândido Sarmento de 1 de Outubro de 1890
17. Resposta de Dhanis ao oficio n.º 27, de Cândido Sarmento
18. Resposta de Cândido Sarmento aos oficios n.º 2 e 2 anexo de Dhanis
19. Resposta de Dhanis ao oficio n.º 28, de Simão Cândido Sarmento
20. Protesto de Simão Cândido Sarmento contra a ocupação de Capenda-Camulemba feita por Dhanis
21. Protesto de Cândido Sarmento dirigido ao representante do Estado Independente do Congo em Capenda-Camulemba
22. Auto de ocupação de Mona Samba
23. Auto de declarações prestadas por Mona – N’guello, grande e herdeiro do Estado de Capenda Camulemba. Cabangue sobrinho do soba Quitupo-Cahando e Zenga sobrinho do soba Quizaze
24. Auto de declarações prestadas pelos impungas da soba N’guri A’cama do Mussuco em 4 de Junho de 1891
25. Convenção relativa á delimitação das espheras de soberania e de influencia de Portugal e do Estado Independente do Congo na região da Lunda
26. Ractificação da acta das fronteiras na Lunda

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Discurso do Presidente JES ontem no Kuando Kubango

Uma parte do Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos, ontem dia 16/06/2011 no Kuando Kubango, na reunião do conselho de Ministros realizado naquela província


Vamos gizar programas nesta sessão para resolver problemas da população, mas estes não serão os últimos programas. Vamos acertar, reforçar, reajustar, depois de auscultarmos as autoridades locais, governo da província, os membros da comissão executiva do partido maioritário, para que possamos caminhar mais depressa.

Nós temos pressa porque os problemas são prementes, nos domínios da água potável, energia, saúde, educação, da produção alimentar por forma a conseguirmos a auto-suficiência e combater a fome e a pobreza, e a criação de emprego para jovens, empregos todos que tenham idade activa para contribuir para o desenvolvimento nacional.


Portanto, estes problemas estão nas nossas agendas. Temos algumas soluções para agora, temos soluções para curto prazo e temos soluções de longo prazo. Mas insisto, não nos percamos em problemas secundários. Não enveredemos para a via da divisão da população, do tribalismo, o racismo, o separatismo são métodos maus que minam a coesão, a unidade nacional, a união e unidade necessária para acção vigorosa.

Por isso termino como comecei. Eu penso que juntos vamos conseguir resolver os nossos problemas. Tenhamos esperança em dias melhores e contamos com o apoio da população. Confiamos no nosso povo e só juntos é que poderemos realizar os nossos sonhos.

QUEM FOI DUMBA WATEMBO


Régulo do Tchiboco, Rei da Lunda Tchokwe entre 1860 – 1880, primo da Rainha Nhakatolo, tio materno do Tchissengue ou Muatchissengue, personalidade aristocratica da corte do Muatiânvua dos mesmos anos.

Muene N’Dumba-Tembo ou Dumba Watembo, é homem elegante, da figura distinta, tipo inteligente, ar nobre e maneira delicada. Trajava um pano de riscado preso á cinta por uma correia, tendo suspensa adiante pequena pele de antilope. Casaco de fazenda escura, coberto de quadradinhos bordados a cassungo completava a sua modesta mas esquesita «toilette».

Uma coroa de latão, como a dos monarcas da Europa, singular cópia de que nunca podemos conhecer a proveniência, cingia-lhe a frente, tendo na parte inferior uma fila bordada a missanga de cores. Pendia-lhe no pescoso exótico colar, onde figurava dois búsios (Cyprea Moneta) e um pequeno chifre de antilope.

Os seus dedos guarnecidos de aneis de latão, terminavam por longas unhas do mesmo metal, dificultando os movimentos, e não lhe permitindo segurar o bordão que muitas vezes lhe caía por terra. Em extremo industrioso, segundo nos afiançaram, anéis, unhas e coroa, tudo era obra sua nos momentos roubados à governação do Estado.

ENCONTRO COM EXPLORADORES CAPELO E IVENS, CAMERON E LEVINGSTONE

Assim descreveram os exploradores portugueses Capelo e Ivens a figura de Dumba Watembo, quando no dia 11 de Julho do ano já distante de 1878 ou 1874, entravam em contacto com ele, no CUCHIQUE, sanza-capital dos Tchokwes daquela época (...) a sanza-capital cuchique situava-se um pouco a oeste das nascentes do rio Cuango e do rio Cassai. O rio cuchique, que difere frequentemente de nome, de mapa para mapa, é afluente norte do rio Luando, subafluente do rio Cuanza (...).

Na primeira das paginas citadas dãos-nos os autores um muito curioso retrato do antigo Rei do Tchiboco, instruindo com ele a proposito, as páginas em que o descrevem. É sem dúvida um documento interessante e o único identificado que conhecemos, não apenas do referido Rei nativo dos Tchokwes como dos seus antecessores e sucessores.

Isolados nas extensas e formosas florestas hiemisilva dos seus territórios do TCHIBOCO, país do mel e do embriagante hidromel, os Dumba Watembo, e os seus irrequietos tchokwes, encheram aquelas espessuras duma reputação temerosa que afastou, prudentemente, os viajantes, até porque as suas comitivas indiginas se negavam penetrar naqueles amedrontadores dominios dos «demonios silviculas do Tchiboco», segundo a expressão de CAMERON que se desviou daqueles caminhos na sua travessia Zanzibar-Benguela, em 1875.

Já anteriormente, em 1854, o mesmo fizera LEVINGSTONE. Para mais, tivera ele a má ideia de retribuir um soba Tchokwe daquelas proximidades com um boi vivo ao qual faltava o rabo. Valeu-lhe, e dificilmente, a forte escolta dos seus Makokolos que aliás, o tornaram afoito para entregar boi incompleto, em tão exigentes paragens.

O Tchiboco foi, na verdade, e durante longo tempo, um país ensombrado de florestas e de atemorizantes lendas, e por isso sistemáticamente evitado pelos exploradores europeus, como bem o confirmam as primeiras palavras do Rei Dumba Watembo aos exploradores:«NUNCA POR AQUI SE VÊM OS HOMENS BRANCOS»...

Isto explica a raridade de notícias e de documentos iconograficos dos antigos régulos daquela região ou estado e o interesse histórico da gravura citada.

Não há dúvida nenhuma que Dumba Watembo provinha das estirpes aristocráticas dos Muatiânvuas, criadores e governantes do Império LUNDA, constituido nos finais do Século XV ou XVI, na Katanga Ocidental.

Á margem de dessidentes familiares e politicas, que inimizaram e dividiram LUNDAS e TCHOKWES, os altos chefes Tchokwes eram de etnia Lunda e das familias aparentadas aos Muatiânvuas. O próprio Dumba Watembo, historiando a sua genealogia, descreveu a Capelo e Ivens a existência, na Lunda de além-Cassai ou seja na Mussumba, duma mulher denominada Lukokessa mãe de três chefes Tembos, um deles ele próprio (Dumba).

Podemos esclarecer que a Lukokessa (algumas vezes sob a forma gráfica de Lucoqueça) era um alto dignatário feminino da corte dos LUNDAS.

Dumba era filho da Tembo irmã de Yala ya Muaka ou (Iala Maku deturpação), tia da Lueji, mãe ou avô de Muatiânvua Ianvo que foi o primeiro Muatiânvua eleito.

Provavelmente, a data do colapso e da separação das dinastias com o tabú da Lueji, fixa-se entre os anos de 1595 – 1650, a contar da presença do Tchinguri em Luanda.

Trata-se, neste caso, do antepassado de Dumba Watembo que conduziu a invasão dos tchokwes da Mussumba, atráves do rio Luau, e seguidamente ao longo do Cassai superior, em épocas que fixamos no primeiro quartel do século XV ou XVII, seja uns dois e meio século antes da vista dos exploradores Europeus, ao Dumba Watembo, no Tchiboco.

Se atribuissemos 20 anos a cada Reinado, o Dumba Watembo em questão seria o 12º ou 13º Rei do Tchiboco.

Dumba significa Leão, Tembo sua mãe, significa que Leão da Tembo. Trata-se de uma hierarquia nobre, apoiada no prestigio de nome ou de familia e um titulo da governação no reino, tal igual o nome do Muatchissengue.

Encontram-se os nomes Tembo junto ao Lucala e a Massangano. Na língua de Matamba, o local onde se guardava os idolos era designado Tembo. Há notícias dum nome Tembo-Ndumba, da mulher do Jaga Zimbo, e na Jinga venerava-se a memória de Tem-Bam-Dumba. Aliás, vários etnógráfos e historiadores têm encontrado correlações entre os Tchokwes e os Jagas.

Desse facto, e das ramificações do nome Tembo em Angola, o próprio Dumba Watembo deu elementos, nas conversas com os exploradores europeus, ao referir como parentes Muzumbo Tembo dos Songos ou Massongos, e Cassange Tembo, que se institui Jaga do Quembo-Songo e Holo.

O Dumba Watembo, da época de Capelo e Ivens, ainda se empenhou no alargamento de dominio, e blasonava do seu poderio, em arengas como esta: - Os meus dominios são tão grandes que estendem daqui a catende para lá do norte; neles só eu mando, amim tudo obedece.


Mantinha, também hábitos de grande corte Africana, com a sua guarda pessoal do comando dum seu sobrinho, « armado até aos dentes», um corpo de tamborileiros e xalofonistas para festas e recepção, e um estado-maior de notáveis de conselho e de guerra.

Esta actividade bélica e praxe da corte, estão de acordo com as ambições dos primeiros Dumba Watembo, que imaginaram a criação no Tchiboco dum Estado poderoso e organizado, nos moldes do estado dos LUNDAS da Katanga (do qual, aliás, foram dessidentes, para se eximirem ao seu poder nascente, aliado ao dos Balubas do II Império, nos finais do século XVI).

Aquela tentativa do Tchiboco, porém, foi uma concepção de classes aristocráticas, a que a massa tchokwe, irrequieta e nómada, de perfeito acordo com a sua ancestralidade de caçadores savánicos, se não prestou.

Á volta dos anos 1857 a 1878 ou 1879 já os tchokwes imigravam através dos Lutchazes, atacavam os povos matabas no nortes da lunda e alcançavam com os seus primeiros bandos os territórios dos Batchilangues, por altura do quinto grau de latitude sul. O estado de Tchiboco entrava em rarefação.

Ao Dumba Watembo da época do Capelo e Ivens, outros se seguiram até a passagem do trono ao Tchissengue ou Muatchissengue, decerto mais decadentes, até que uma terrivel época de fome assolou o Tchiboco, haverá pouco mais de meio século, levando as populações a um êxodo que baixou extraordináriamente os efectivos demográficos do Estado de Tchiboco. Uma epidemia de varíola elevou a alto grau o indice de mortalidade. Esta catástrofe, que ficou conhecido por “Muaka ua kapunga ou Muaka ua Nzala (Época da fome), terá sido a grande responsável pelo desaparecimento do Estado do Tchiboco.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Wa Wê! Quando em Cafunfu tinha Kamanga!



Há uma pedra valiosa lá nas Lundas em Angola, se lhe tocas ficas rico! se lhe tocas ficas quente eh! eh! Kamanga! eh! eh! Kamanga! Assim cantava Rey Webba nos meus tempos de menino.

Mais adiante na música, ele cantava que a Kamanga era uma pedra que dá furtuna, uma que dá kumbu. Que para os nativos lundas ainda naquela altura, poderiam tê-la vertido em a kamanga é uma pedra que dá sustento.

Movidos pela música e pelo o status que as "Lundas" davam, muitos angolanos afluiam livremente a estas terras em busca desta pedra valiosa. E sem dúvida, muitos se fizeram às Lundas e conseguiram não uma, mas várias pedras valiosas e podiam vendê-las tão livremente assim como as conseguiam. A terra, as doenças e ambição fizaram algumas vítimas, mas não o suficiente para parar o ímpeto das Lundas.

Algumas pequenas curvas no tempo depois, chegamos para outra música. A música que mais mulheres angolanas deixou desgostadas. A música de Nacobeta, não o Wa ki Mono, outra muito imoral e muito dura ao retratar o que hoje, Hertz e sua turma insistem em dizer que não há ofensa no tema "Os monólogos da VAGINA", Nacobeta, quis ser terra-a-terra e arranjou-se o pior sarilho, meteu toda a OMA revoltada. Mas parece que "Monólogos da Vagina não soa mesmo ofensivo, neh!? É claro que eu não compactuo com músicas ou conteúdos imorais e obcenas, longe de mim! Nacobeta retratou-se cantando "Desculpa Mamã".

Ainda na senda das Músicas, e não muito tempo depois, "Quero ser Político" de Teta Lagrimas, chegou no cenário e parece ter ofendido por demais os sobas da política angolana. Por que a política conforme retratada nesta música saiu do grego "politikós" (ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados) para se tornar num hobbie, por que ser Político <<é o que está a bater>> onde desarrazoados e insensíveis, intelectuais ou burros, angolanos ou estrangeiros, sérios ou lambe-botas, homens ou mulheres se engajam para ter o bolso cheio, o último carro da moda, imunidade à lei juizes e tribunais etc, simplesmente porque <<é o que está a bater>>. Eu não sei se o Teta Lagrimas ainda canta! Mas parabens pela música.

O que dizem os factos, muito tempo depois?

Rey Webba cantou que a kamanga é uma pedra que dá fortuna e precisou o lugar onde encontra-la <>. Hoje, nem por sonho se vai às Lundas cavar kamanga. Hoje vai-se às Lundas, mas só para ir vender postiços, roupa "Nigéria", gastáveis e outras míseres. As "Matas" - vulgos possos de diamante - estão repletas de tropas armados até aos dentes e de plantão 24/24horas, para cravar com balas qualquer um (menos alguns) que se atreva a tentar conseguir as famosas pedras valiosas que Webba cantou. Nem alguns nativos Lundas, que davam a minima para a formação acádemica, porque haviam nascido numa terra abençoada, onde para se ser rico basta cavar 2 a 3 metros em direção ao núcleo da terra. Hoje eles viram que tudo mudou, e para pior. Eles querem estudar, mas estão privados de Universidades, só devem estudar até ao ensino médio. Querem sair das Lundas, mas só de avião porque há muito que estradas não existem. Eles hoje querem entender as polítcas de gestão dos <> diamantes, mas tudo que podem é servir como mão-de-obra para Endiama, Catoca e muitas outras que ninguém Toca. A kamanga acho que tem sido a pedra que dá desgraças para os Lundas assim como o petróleo para os zairenses (habitantes da província do zaire). Não é à toa que eles (os Lundas) clamam por autonomia! Quiçá, Independência!!!

Nacobeta cantou "Sua ....." e quase que lagrimou pela avalanche de criticas que recebeu. Não só ele, mas o kuduru de uma forma geral, era visto como o pior dos estilos musicais de Angola. A OMA, os Deputados, os Cotas do Semba, etc não pouparam as gargantas. E chegaram mesmo a perguntar, <> Mas o golpe para a mudança deste conceito veio de quem menos se esperava.

Bruno M canta "Tchubila" (que até hoje eu não sei o que significa) e põe aquele que muitos angolanos tem chamado de "Nosso clarividente" Presidente Eduardo dos Santos a cantar Tchubila (eu não sei se ele já sabe o que significa. Mas acho que para ele pouco importa o significado). Foi mesmo um golpe de mestre. Desde aquela data até hoje ninguém critica mais o kuduru e nem ninguém. A OMA se tornou OMIssa.

Todo mundo calou e a coisa virou moda. Para reforçar, no concurso Divas de Angola de 2010, Própria Alixa com suas bailarinas, não se cansaram em exibir tamanhas nádegas na frente (se quiser, na cara) do presidente. Era tanta extravagância que só um clarividente não processa, tanto a organização do evento bem como a Própria Alixa por irreverência. Mas ninguém deu a mínima e já estamos no fim do IV congresso do MPLA, "Mais Desenvolvimento, Mais Democracia" (Faltou "e Mais Libertinagem") de 2011. E é a vez de Patricia Faria fazer a farra, levantando a saia tantas vezes na frente do Presidente e ninguém pode negar que o que vinha depois da grande saia, era aquela roupa de que prefiro não comentar.

Muito antes deste episódio, lançaram-se no mercado do kuduru as músicas: “Do Kambuá” e “Tchuco Tchuco lá Dentro”. Numa das festas publicitada pela TPA os autores dessas irreverências apareciam no spot a dizer: "Eu o criador do Kambuá lá estarei", "Eu o putu do Tchuco Tchuco também lá estarei”. A dança do kambuá foi praticada até por influentes políticos. Eu me pergunto, onde está a OMA que tanto criticou Nacobeta? Os kotas, os Deputados? O que o director da TPA diz quando vê que nos spots da casa que dirige, os organizadores das festas chamam-se "Os Engravida"? Cantam Tchuco, Kambuá (a primeira vez que ouvi/vi esta música, foi num videoclip no canal 2 da TPA, no programa “Sempre a Subir”), Zig Zig etc? Terá ele coragem de proibir seus filhos de tacarem essas músicas em casa? Que moral é que voces querem passar para os jovens e as crianças (visto que as vossas publicidades ofensivas ou não, não tem hora nem idade). Eu não sei como chamar essa fanfarrice, o que é condenado na rádio e no jornal, passa a bom tom na TPA!! Se o que o Nacobeta cantou foi uma grande ofensa o que os Irreverentes de hoje desde os "Monólogos da Vagina" (com estreia da apresentação do projecto em pleno horário nobre em que crianças estão no sofá) à nova vaga do kuduru, alguns sembas/kizombas como ngaxi, zig zig, dá só, etc, não são um atentado à moral social?

E a música de Teta Lagrimas? Será que estava longe de acertar? Quem são os mais ricos? Quem são os que têm a lei sempre a seu favor? Que se eximem de culpa da pobreza, quando filhos e esposas são milionários? Quem que nos seus casos judiciais (raros) a acusação parce engolida pela defesa, levando 3 a quatros dias, desta vez, já vamos fazer uma semana sem que a acusação se pronuncie? Quem são os que nos seus casos judiciais, tanto a defesa como acusação parecem não existir, pôem-se na prisão, sem julgamento e meias voltas, tiram-se de lá e lá estão novamente ocupando grandes cargos na política interna? Quem são os que nunca são exonerados apenas trocados? Quem são os cujos filhos comentem a bel prazer qualquer irregularidade e a polícia até tem medo deles? Quem são os que têm condominios bancos e tantos outros investimentos e não precisam se preocupar com impostos aduaneiros e outros relacionados? Quem é que manda em Angola????

Com tudo isso, eu só quero dizer a ti que o MPLA e seu Governo já não servem para Angola. Roubam-nos Economicamente, destroem a moral social do país, dificultam cada vez mais a vida de desfavorecidos como você, eu, nós os angolanos dos pés descalços. Nunca sairão por eleições, (mas também não aconselho a você a fazer guerra, guerra eles gostam e sai-lhes um lucro!!! Voce nem imagina! Não faça guerra das armas, a nossa guerra é verbal, é ajudar a você a ver o que realmente é o MPLA, um INADEQUADO PARA ANGOLA) nunca melhorarão as condições. Nunca despirão do seu governo todos os escaravalhos que nem para fazer jornal mural servem. Nunca terão o povo nas suas prioridades. Nunca destruirão a espiral que lhes liga um ao outro, eles estão amarrados entre si; se tirar forçosamente alguém e ele "abrir a boca", eles sabem que é o fim deles. Por isso nunca espere julgumentos justos quando os envolvidos são os da rede do regime, pior ainda se não o forem. Nunca terão moral suficiente para corrigir os angolanos - porco não pode dar conselhos ao javalí. Enfim, è preciso que você que ainda não se envenenou com o MPLismo ou que já está saturado, unamos forças para juntos construirmos uma NOVA ANGOLA! Ela está tão próxima!!!!!

Mbanza Hamza, o soldado esquecido ( nozcinquenta@live.com )

Angola24horas.com

Chineses em Angola traficam Pau de Cabinda


Segundo uma carta da Direcção Nacional das Alfândegas endereçada ao Ministério da Agricultura, foram apreendidas no aeroporto da Catumbela quatro malas contendo Pau de Cabinda.

O documento a que Voz da América teve acesso diz que a mercadoria tinha um valor comercial e presume-se que seria escoada para China através do porto do Lobito.

Os três cidadãos de nacionalidade chinesa, acrescenta a fonte, transportavam o produto de forma ilegal, tendo passado pelos aeroportos de Cabinda e Luanda. Fontes da VOA referem suspeitas de cumplicidade com pessoas influentes no regime.

Depois de retirada a mercadoria pelos serviços alfandegários do Lobito, os chineses meteram-se em fuga e encontram-se foragidos.

Fontes da VOA informaram que, até agora, a mercadoria apreendida e os passaportes dos supostos traficantes estão detidos na Alfândega do Lobito.

De acordo com a pauta aduaneira, os produtos da fauna e flora não podem ser exportados sem a autorização do Ministério da Agricultura.

A propósito, a Voz da América tentou ouvir sem sucesso as Direcções das Alfândegas e da Agricultura.

Proveniente da casca de uma árvore com o mesmo nome, só é possível encontrar o Pau de Cabinda, nas florestas do Mayombe.

Descrito como um afrodisíaco 100% natural, o Pau de Cabinda, de acordo com pesquisas, combate o problema de frigidez e impotência e não é aconselhável o seu uso sem prescrição médica.

Na Europa o produto já é comercializado em algumas farmácias. Em Portugal, uma embalagem com 40 cápsulas pode ser vendida por 50 dólares. Nada está claro em relação a forma como o produto tem saído de Cabinda para exterior do país.

VOA

terça-feira, 14 de junho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE II


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE II

2.- PORTUGUESES.
2.1.-HONORATO DA COSTA, SEUS POMBEIROS E JOSÉ MARIA CORREIA MONTEIRO E PEDROSO GAMITO

Os poruguses dizem que foram eles os primeiros Europeos a ter contacto com o povo da Lunda, não temos esta certeza, já que outras potências que exploraram Africa não desmentem esta afirmação.

Os Portuguses dezem mesmo que tiveram contacto com o povo Lunda antes da formação do Imperio – Será que eles podem nos dizer a data do mês e o ano que se formou o Imperio Lunda? Se eles não têm a certeza da chegada do Tchinguri a Lunda vinda da Mussumba?

No Cazembe uma grande personalidade da Corte da Lunda a norte da actual República da Zambia, eram eles queridos pelo menos a partir da viagem de Manuel Caetano Pereira. Não quis o muata deixá-los sair sem obter dele a promessa formal de voltar. «E o Rei então lhe disse que assim o não fizessem, trataria os Portugueses como seus inimigos, mataria os que lá fossem e tomaria por perdidas todas as fazendas que levassem» - Segundo os portugses nesta altura não se falava ainda da Lunda.

Asseveraram-nos os documentos (o jagado de Cassange e Bangalas – Pag106) que já em 1797 existia uma feira portuguesa na região dos Cassanges, no sitio do Múcari. Para seu chefe veio a ser nomeado o tenente-coronel de milicias Francisco Honorato da Costa, que até então vivia em PUNGO-ANDONGO entregue ao comércio e á agricultura. Chegado ao Muúcari, estabeleceu residencia proximo do Jaga. Bem cedo cuidou ele de organizar uma expedição até a Nação dos Moluas.

A pequena viagem de Francisco Honorato da Costa, além Cuango foi rica de notícias: confirmou-se da existência de vários potentados para além do rio, todos súbditos do Muatiânvua. Por motivo dela, insistiu o Governador Geral de Angola António Saldanha da Gama com Honorato da Costa para este mandar os seus pombeiros alcançar o Imperador Muatiânvua na Mussumba com presentes para o convencer de que os seus negociantes seriam bem recebidos nas terras de Muene Puto (ANGOLA), ao contrário de que o Jaga de Cassange lhe mandava dizer. Desta expedição resultou a vinda oficial a Luanda de uma Embaixada da Lunda a acompanhar, no regresso, os pombeiros de Francisco Honorato da Costa. Em Janeiro de 1808 chegava ela á LUANDA.

Foi também este mesmo chefe da feira de Cassange quem, por ordem do governador de Angola, mandou a Tete, em 1802, dois dos seus pombeiros com cartas para o governador dos rios Sena. Eram eles Pedro João Baptista e Anastácio José. Saíram de Cassange em fins de Novembro, mas retidos pelo «POTENTADO POMBA» até 1805 e pelo Muata Cazembe até 1810, só atingiram Tete em 2 de Fevereiro de 1811. Em Junho de 1814 chegavam a Angola pelo mesmo caminho.

No ano de 1814, estiveram na LUNDA e ali se demorara o comerciante João Vicente da Cruz.

Em Agosto de 1815 organizou-se em LUANDA uma companhia de pedestres para repetir as viagens entre as duas costas. Como oficiais, foram colocados os dois pombeiros do tenente-coronel Honorato da Costa, recebendo Pedro José Baptista o posto de Capitão com o solto de 10$000 réis mensais.

O major José Maria Correia Monteiro, governador de Tete, e o capitão da vila de Sena, António Cândido Pedroso Gamito, respectivamente, primeiro e segundo comandantes de uma expedição que marchou de Tete no dia 1 de Junho de 1831, chegava á LUNDA do Cazembe em 19 de Novembro e ali permaneceram até ao dia 20 de Maio de 1832, sem obterem deste licença para seguir avante até Angola. No dia 18 de Outubro entravam em Tete sem poder chegar ao seu destino, porque as autoridades Lundas não permitiram.

2.2.- JOAQUIM RODRIGUES GRAÇA

No dia 18 de Março de 1843, o governador de Angola José Xavier Brassane Leite encarregava Joaquim Rodrigues Graça de uma expedição, simultâneamente politica e comercial, até às cabeceiras do rio Sena. Era este antigo empregado e depois sócio da angolana D. Ana Joaquina dos Santos Silva, comerciante muito conhecida no sertão de Luanda pelo nome de Dembo-ià-Lala, e que o gentio dos Estados da LUNDA supunham senhora de todos os artigos de comercio europeu que passavam pelas suas terras.


Em Abril desse mesmo ano, no dia 24, partia ele de Bango-Aquitamba, no Golungo Alto, em direção a Malanje, onde acampou no dia 9 de Maio. Para evitar os Cassanges, descaiu para o sul, bordejando o Cuanza, e atingiu o sitio denominado Boa Vista no mês seguinte, no dia 5, onde residia o major Francisco José Coimbra, chefe do distrito do Bié, «homem abastado de bens, negociante,(...), natural do presídio de Caconda, homem pardo, alto e reforçado, hospitaleiro».

Na verade o major coimbra era um mestiço de origem indiana. Seus pais ou avós, vindos de Moçambique, tinham-se fixado no Bié. Percorreu muitas regiões da África Central, como a LUNDA, a Samba e a Garanngaja. Um dos seus filhos foi guia de explorador Cameron.

Demorou-se Joaquim Rodrigues Graça na província do Bié até 4 de Maio de 1846. Marcou para o dia 8 de Fevereiro deste ano uma reunião de todos os súbditos portugueses « bem como negociantes volantes e outros negociadores» ali residentes. Para tal, oficiou ao major Coimbra a pedir-lhe que convocasse as pessoas em questão. Mas poucos compareceram. O próprio chefe do distrito faltou e só passados dois dias é que ele fez chegar às mãos de Rodrigues Graça a portaria em que nomeava para sua substituição o negociante Guilherme José Gonçalves. Queixou-se então Rodrigues Graça para Luanda « dos frivolos pretextos» do major Coimbra para não comparecer, «tratando todas estas obrigações de menos-cabo», sem impor respeito ao soba D. António Lourenço de Alencastro (Quinjila).

E quando ao governador-geral aquele propôs a criação de uma companhia de voluntários no Bié, foram os nomes de Guilherme José Gonçalves e de Silva Porto para seu comandante e imediato, respectivamente, que sugeriu.

No dia 2 de Junho estava no LUMEGE; no dia 19 tinha ele uma entrevista com o poderoso Muene Catende na região da LUNDA actual Moxico, feudatário do Muatiânvua. Quis então o Muene Catende obter de Muene Puto (Portugal) protecção para rebelar-se contra o Muatiânvua « porque nada posuiam, que não estivesse sujeito aos seus desejos, e que ao menor desagrado era cortada a cabeça ao delinquente, havendo dia de muitas cabeças serem cortadas». Contudo, sem nada decidir a tal respeito, Rodrigues Graça, ele que caminhava em direcção à Mussumba do Muatiânvua, pôs-se a caminho no dia 20, descendo pela margem do rio Cassabi.

O governo do Cassábi estava confiado a Catende-Mucanzo, avô do anterior, pelo próprio Muatiânvua. E também ele se mostrou resolvido a aceitar a vassalagem de Muene Puto e descontente como governo da Mussumba.

Depois de passar por Xacambunje, no dia 5 de Agosto, Rodrigues Graça deixava à direita o rio Cassabi e seguia rumo para leste. No dia 13, acampava no Lulua, e, no dia 21, entrava na capital do régulo Chala (Tchala), também ele feudatário do Muatiânvua e descontente, prometendo obedecer às ordens do Muene Puto.

No dia 3 de Setembro de 1846, chegava ele (Rodrigues Graça) à Mussumba na Corte do Imperador Muatiânvua Noéji, em Cabebe, onde já antes estivera o negociante europeu de nome Romão (Ninguém sabe em que periodo teria ele estado ai), que falecerá naquela terra. Foi bem recebido e agasalhado.

No dia 18 de Setembro, Rodrigues Graça obtinha pela primeira vez do Muatiânvua Noéji o reconhecimento da soberania portuguesa (Não como colonizador da LUNDA) com as condições «de o Muene Puto conceder a compra dos seus escravos para Calunga – Mar, Quer dizer para serem embarcados para o Brasil, mandar uma força para por meio dela, sujeitar os seus inimigos que não quisessem obedecer-lhe e ser o comércio como no tempo dos seus antecessores.

Joaquim Rodrigues Graça – As promessas do Imperador Muatiânvua Noéji Graça respondeu deste modo: “o que a lei ordena, Muene Puto não faz e achando-se abolida o trafico de escravos, não se pode conceder a sua exportação. Podeis vende-los em vossa terras, mas eles serão empregados na lavoura, pesca, caça, e em outros oficios, que vos são úteis; empregai-os também na agricultura e na caça de que tanto abundam as vossas matas. Se anuirdes, o meu governo fará em vosso beneficio o que poder e se não aceitais os meus conselhos não vos deveis queixar do resultado”.

Tudo parecia conduzir ao maior sucesso na Mussumba a viagem do Rodrigues Graça. Porém e entretanto, tinha chegado também à Mussumba uma expedição comércial de quatro pombeiros chefiados por António Bonifacio Rodrigues, « homem pardo, natural do Bailundo e residente em o Presidio de Pungo-Andongo, aviado de D. Ana Joaquina dos Santos Silva». Estes aviados achavam-se ali «cheios de orgulho, dizendo ao Imperador Muatiânvua Noéji, que o explorante Rodrigues Graça não era ninguém, meramente um sócio de sua ama (D.Ana), que as ordens que se haviam publicado eram falsas, que tais ordens não haviam; que em Luanda só sua ama é que tinha o direito de comunicar-se com o Muatiânvua e a seus potentados; que a senhora de Angola era ela; que o explorante Graça havia enganado o Muatiânvua e o seu Estado, para, por este meio, fazer o seu negócio e fortuna»(...)

E Rodrigues Graça não passou depois aos olhos do Muatiânvua Noéji senão por um simples cangundo, insignificante empregado, de D. Ana Joaquina, e a sua missão falhou.

Para o insucesso da viagem de Graça devem ter contribuido também outros motivos: inveja e as manipulações dos Cassanges por os portugueses terem passado avante até a Mussumba, e alguns desmandos seus entre o sexo fraco. Teve, por isso, de fugir de noite e abandonar a maior parte das fazendas e os débitos. Disto se queixou ele amargamente, culpando a prepotência da sua sócia.

Quando, nos principios de 1848, Rodrigues Graça regressou da Mussumba a caminho de Luanda, fixava-se, o sertanejo portugues Lourenço Bezerra Correia Pinto em terras do potentado Muene Xacambunje, na margem direita do rio Cassai. Entre os anos de 1849 e 1850, foi este comerciante chamado pelo imperador Muatiânvua para se estabelecer na Mussumba.

OBSERVAÇÂO:
1.- No proximo texto falaremos de Saturnino de Sousa Machado e Silva Porto, de Cameron, de Stanley, do Pogge e Lux, de Max Búchner, de Capelo Ivens e Serpa Pinto, de Von Mechow,de Wissmann,dos irmãos Machados, do Dr Summers e finalmente do Henrique Augusto Dias de Carvalho.

2.- Neste texto que acabamos de escrever, não há aqui nenhuma imposição portuguesa e ou fins colonizadoras do Estado da LUNDA.

LUNDAS: Dezenas de mortos em confrontos com garimpeiros e agentes da Teleservice

Lundas: dezenas de mortos em confrontos com garimpeiros
Agentes da segurança industrial da empresa Teleservice e garimpeiros em número não determinado confrontaram-se neste fim-de-semana na região da Antena-Kafunfu/Cuango.


Agentes da segurança industrial da empresa Teleservice e garimpeiros em número não determinado confrontaram-se neste fim-de-semana na região da Antena-Kafunfu/Cuango.
Informações a que tivemos acesso davam conta que se tinha elevado para 14 o número de mortos contabilizados do incidente da Lunda Norte, rica em diamantes.

Esta manhã dois corpos tinham sido resgatados das águas do rio Cuango. Ambos eram filhos de um chefe da autoridade tradicional local, cujo nome não conseguimos identificar.

Os restos mortais foram sepultados hoje mesmo e na vizinhança da margem do rio, operação que contou com a colaboração de elementos da polícia nacional.

Na sequência da refrega ocorrida, a polícia deteve pelo menos 47 pessoas implicadas, desconhecendo-se qual o seu paradeiro certo neste momento.

Na semana passada, agentes da segurança industrial da Teleservice resolveram dispersar garimpeiros, talvez por receios de que estes se apossassem do espaço pertencente ao Projecto Cuango, fazendo vítimas mortais.

Da reacção popular, dois agentes da segurança terão sido atingidos mortalmente.
Todas as tentativas por nós efectuadas incluindo o contacto com o governador provincial, não resultaram.

A VOA não pôde verificar independentemente esta informação reportada por testemunhas, embora o padre Tony, da Comissão de Justiça e Paz, organismo afecto à Igreja Católica na região, tenha admitido a ocorrência do incidente.

A retomada do discurso da restituição das terras aos residentes locais para a exploração artesanal de diamantes tem criado um forte entusiasmo nos residentes locais.

Na semana passada o ministro da Indústria Joaquim David atribuiu centenas de senhas e anunciou que o processo vai continuar, como forma de minimizar a pobreza que grassa as populações.

Tudo que nós queremos é que das promessas do ministro com quem estivemos na semana passada possamos beneficiar também da nossa riqueza, disse o regedor Mwakapenda, por nós entrevistado.

VOA/CMJSPLT

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dedicação aos povos Lunda Tchokwe

O antropólogo Vicente Martins fala da sua vida e obras dedicadas aos povos Lunda Tchokwe de Angola.

«Os Tutchokwe de Angola» é um estudo sobre um dos maiores grupos étnicos matrilineares do Leste de Angola e constitui a tese de doutoramento do professor Doutor João Vicente Martins.

Com 447 páginas, 9 mapas e 103 fotografias, a obra editada pelo Instituto de Investigação Científica Tropical, com os patrocínios da SEP (Sociedade Portuguesa de Empreendimentos ex-Companhia de Diamantes), da Fundação Luso-Americana e do Instituto de Cooperação Portuguesa, foi lançada a 22 de junho 2001. Sobre os povos da Lunda João Vicente Martins já publicou várias comunicações e cinco livros nomeadamente “Subsídios Etnográficos para a História dos Povos de Angola”, “Idade dos Metais na Lunda”, “Contos dos Quiocos”, “Elementos da Gramática da Língua Utchokwe (quioca)”, “Crenças Adivinhação e Medicina dos Tutchokwe de Angola”. Este ano pretende lançar, em Abril, a segunda edição do livro “Contos, Fábulas e Lendas dos Tutchokwe do de Angola” Na época colonial, os tutchokwe ocupavam quase toda a região da Lunda e parte das províncias do Moxico, Bié e Cuando-Cubango, excluindo pequenos grupos que se espalharam por outras províncias, habitando a República do Zaire, desde as fronteiras leste e norte de Angola até ao paralelo 5º de latitude sul, assim como os que habitavam a parte nordeste da Zâmbia.

Professor universitário, sócio correspondente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, sócio da Associação dos Amigos dos Castelos e membro 2515 da Sociedade Portuguesa de Autores, Vicente Martins é acima de tudo um homem que dedicou a sua vida aos estudos e colocou parte do seu saber ao serviço de um povo que como afirma «estava esquecido, agora fica recordado para sempre». Viveu com uma mulher da Lunda, teve filhos e trouxe-os consigo.

A apetência pelo saber transformou Vicente Martins num aventureiro, um homem de sete ofícios e um autodidacta pluridisciplinar. Nasceu na aldeia portuguesa de Moimenta, numa família de poucos recursos e só aos 43 anos conseguiu realizar um grande sonho: estudar para ter uma licenciatura «Só quando ganhei dinheiro, tive que organizar o ensino para adultos na Lunda para também eu pudesse estudar».

Em 1962 Vicente Martins recebeu o diploma de técnico de topografia, com a categoria de topógrafo e prospector, e em 1969 concluiu o 7º ano do Liceu de Malange. Ele recorda «Em miúdo o médico da minha aldeia era o único que sabia responder as minhas perguntas, tinha uma grande admiração por ele por isso quis ser médico, mas para estudar era preciso descender de uma família abastada. Conclui a instrução primária e aos doze anos tive que ir trabalhar para Espanha».

Na vizinha Espanha Vicente Martins, trabalhou em agricultura, como paquete, aprendeu castelhano, não conseguiu estudar acabou por voltar a terra natal a qual dedicou a sua dissertação de Mestrado em Ciências Antropológicas, a publicação «Moimenta da Raia, uma Aldeia em evolução e Mudança».


A sua ambição sempre foi aprender o máximo possível, e como não pôde ser médico quis uma licenciatura, escolheu antropologia por estar relacionada com a origem do homem e das raças, «comecei a interessar-me pela tribo onde trabalhava vi que tinham muitas coisas que deviam ser preservadas».

Vicente Martins aprendeu várias outras línguas incluindo o chiluba e utchokwe que fala fluentemente, estudou árabe porque constatou a sua grande influência sobre algumas línguas do leste de Angola. A língua proporcionou-lhe uma melhor pesquisa antropológica, entre os trabalhadores das equipas de prospecção que dirigiu. «Quando comecei o meu primeiro trabalho acerca dos provérbios que reuni, deparou-se-me o problema de não ter uma gramática para puder classificar as palavras da língua utchokwe.

Vi-me obrigado a coligir e estudar um certo número de vocábulos e achei a estrutura gramatical tão interessante que resolvi escrever». Não imaginava quão árdua era a tarefa, nem os milhares de horas de trabalho que iria necessitar para conclusão deste trabalho que muitas vezes pensou em abandonar «as vezes fartava-me, atirava os papeis desordenadamente para todo lado e ia-me deitar. O cozinheiro Mwamezanza é que no dia seguinte os apanhava e arrumava em cima da minha mesa de trabalho» conta.

Antes de seguir para Angola Vicente Martins ainda entrou para a tropa como aprendiz de música para conseguir estudar, mas Salazar acabou com os aprendizes de música, não antes do nosso entrevistado concluir o 2º Curso das Escolas Regimentais equivalente ao primeiro ciclo do liceu. Já fora do Exército estudou francês, inglês, italiano, esperanto, latim e grego e fez o curso prático de contabilidade numa escola particular à noite. Concluiu por correspondência o Curso de Contabilidade da Escola de Comércio e ciências Económicas do Rio de Janeiro (Brasil). Por conta própria também estudou pesquisas minerais e minas, mineralogia, geologia e topografia.

Trabalhou como prospector de mineiros em Monte Alegre, Chaves, Vila Real, Amarante, no Alentejo. Sob contrato da empresa de diamantes portuguesa que na altura era uma sociedade de capitais belgas, americanos, sul-africanos e ingleses, seguiu para Angola dia 3 de Abril de 1943 num barco a vapor, a fim de integrar os quadros da Diamag.

Na actividade como topógrafo prospector de diamantes Vicente Martins modificou um concentrador de diamantes, o feito foi recompensado com um louvor e um prémio pecuniário pela Diamang que o convidou em 1959 para frequentar um curso de Arqueologia em Livingstone (ex-Rodésia), a fim de lhe entregar a organização do Museu do Dundo.

A par deste trabalho dedicou-se ao estudo etnográfico-linguístico, económico e social dos grupos étnicos do nordeste de Angola. O livro sobre crenças, adivinhação e medicina dos tutchokwe é o resultado de 15 anos de investigação, passaram-se mais vinte até conseguir publicar, estava na tipografia mas quando se deu o 25 de Abril foi-lhe devolvido.

Entre Angola e Portugal, e com o apoio da Companhia de Diamantes, em 1969 Vicente acabou o sétimo ano. Chorou de alegria quando se matriculou no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas em Lisboa. Em 1986 concluiu o mestrado em Ciências Antropológicas.

Os 28 anos passados em Angola tiveram um interregno entre 1949 e 1954 altura em permaneceu em Portugal a organizar o Arquivo e a Biblioteca da Sorefame “De Bragança à Lunda dos Diamantes” é o nome da autobiografia onde este estudioso, romanceia as memórias da sua vida errante, o seu primeiro quarto século de vida, os anos que viveu em Angola, e o que viveu após regressar a Portugal em 1975. A poesia também o atraiu vai publicar um volume denominado “No Tempo da Meditação e do Amor”.

Por publicar tem dois volumes (cerca de 800 páginas) sobre cerâmica arqueológica do nordeste de Angola, e sobre povos antropófagos do nordeste de Angola. «Os bakongo, ou tukongo», como lhes chama Vicente Martins «eram povos antropófagos», sustenta. Estes livros estão há mais de um ano na Imprensa Nacional Casa da Moeda.


Sílvia Milonga

Lenda tradicional e oral do grupo LUNDA-TCHOKWE - por José Vicente Martins


Lenda tradicional e oral do grupo LUNDA-TCHOKWE sobre a sua ascendência divina e criação do Universo

Segundo a história tradicional e oral, que o pesquisador José Vicente Martins ouviu, da boca dos mais idosos e categorizados chefes da tribos, Lundas Tutchokwe, que todos os povos negros descenderiam dos Bungus e estes directamente do Nzambi (Deus supremo da mitologia tchokwe).



Eis pois, tal como nos foi contada, a história da criação do Universo e a ascendência divina destes povos.

O Nzambi a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus que se criou a si próprio) e Sã Kalunga (Senhor infinitamente grande, Deus supremo e infinito), depois de ter criado o Mundo e tudo quanto nele existe, criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que, por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e dominasse todos os animais selvagens, por ele também criados. Disse a sua esposa que passaria a chamar-se Ná Kalunga, em virtude de a filha que iria dar à luz, se chamar Kalunga.

Com efeito, tal como o Nzambi tinha anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha Kalunga. Esta foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na tchihunda tcha Nzambi (aldeia de Deus).

Logo que sua filha atingiu a puberdade, o Nzambi, seu pai, informou Ná Kalunga, sua esposa, que tencionava fazer uma caçada, durante os três meses da época seca e que, para não ir sozinho, levaria sua filha com ele.

Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acompanhasse. Porém, o Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto que, além de seu marido, era também seu Deus.

Contrariada, mas impotente para obrigar o esposo a desistir do seu intento, limitou-se a deixar ir a filha com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.
Logo que chegaram ao local escolhido para a caçada o Nzambi instantaneamente, construiu uma palhota, na qual instalou uma só cama.

Ao ver um único leito, a filha do Nzambi recusou-se a dormir com seu pai e saiu, a chorar, da cabana.

Ao ver a recusa da filha e não podendo convencê-la doutra forma, disse-lhe que, se não viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta.

Transida de medo, pelo que acabava de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana, deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite mas durante todo o tempo que durou a caçada.

Finda esta, regressaram a casa e, a Ná Kalunga, tal como tinha previsto, verificou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida pelo ciúme e pelo desgosto, no meio das maiores blasfémias, enforcou-se numa árvore, perante os olhares atónitos da filha e do marido que nada fizeram para evitar tal suicídio.

Desgostoso pela atitude da mulher, que não quis compreender os seus desígnios para povoar o Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente, amaldiçoou-a e transformou-a num espírito maligno, a que deu o nome de Mujimo.
A partir dessa altura, o Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga, a qual, depois da morte da mãe passou a chamar-se também Ndala Karitanga e a ser a segunda divindade.

Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que a deixou apavorada. Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e a insultá-la, mordida pelo ciúme que ainda a devorava, enquanto ela, envergonhada, lhe pedia desculpa e lhe dizia que de nada era culpada, posto que, seu pai a tal a tinha obrigado. No meio desta aflição acordou e contou ao pai o seu pesadelo. Este sossegou-a, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que agora era espírito mau, pois que ela nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedia comida. Portanto, disse ele, vamos dar-lha.

Levantaram-se ambos e ele fez um pequenino montão de terra, junto da porta da casa, simulando uma sepultura. Disse, então, à filha, que fosse buscar carne e outra comida e a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras:

Mama ngu n'ezanga ua-ku-kurila.
Halapuila kanda uiza kuri yami nawa;
ny ngu-na-ku mono nawa ngu n'eza ny ku ku cheha

(minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes ter comigo outra vez (porque), se volto a ver-te, venho matar-te).

Chegado que foi o tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual, seu pai-avô deu, também, o nome de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade.
Logo que o seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, o Nzambi ordenou-lhe que casasse com sua mãe Kalunga, para que esta concebesse dele muitos filhos, de ambos os sexos, a fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais.
Cumprindo as ordens do Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram e tiveram um filho e uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, o Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse com sua mãe e a filha casasse com o pai, dizendo que já se não justificava a primeira união que ele tinha ordenado, informando-os ainda, que, depois daquelas uniões, as seguintes se fizessem só entre primos.

Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer, para que a sua descendência crescesse e se multiplicasse, para que lutasse contra as doenças e os feitiços que um dos seus descendentes, do sexo feminino, viria a possuir, porque ele lhos legaria, o Nzambi despediu-se de todos.

Chamando, depois, o seu cão, que sempre o acompanhava, dirigiu-se para a tchana tcha Mweu(planalto do Mweu) e dali subiu para o espaço, levando consigo o cão.
Naquela altura, as rochas estavam moles, por terem sido formadas há pouco tempo. Ainda hoje se podem observar as pegadas esculpidas, numa rocha ali existente, especialmente do pé direito do Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão. Estas pegadas existem também em diversas outras rochas por toda a África.

Foi, pois, dali, que o Nzambi subiu à tchihunda tcha Nzambi (aldeia de Deus), ou céu como nós lhe chamamos(os europeous), onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e castigar os maus.

À pergunta que fizemos, a diferentes tutchokwe, como é e quem foi que criou o Nzambi, eles responderam, apenas, que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.

A lenda que acabámos de expor foi-nos contada no nosso acampamento do Luaco, conselho de Cambulo, em 1945, por dois velhos tutchokwe, trabalhadores da equipe de prospecção que dirigíamos. Esses homens eram naturais da região do Sombo, concelho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sã Fuca e o outro Sã Hongo, ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, reformado da DIAMANG, o segundo faleceu, na sua terra natal, com cerca de 90 anos, em 1964.

Em 1962, ouvimos a mesma lenda da boca do Mu'atchissengue José Sã Tambi( foi deputado do MPLA na II Republica), regedor de Saurimo e chefe dos tutchokwe da Lunda. Vemos igualmente respectivamente, outros nossos informadores, os chefes lundas Ritende e Mwatchyanvwa.

NOTAS

O Nzambi é representado por uma pequena estatueta de madeira a qual simboliza um homem com os braços e pernas abertos e ligados a um retângulo. O Nzambi é representado no Ngombo ya Tchisuka por uma braçadeira de canhangulo em forma de cruz ou por uma cruz feita de madeira ou de Kajana.

Ao contrário de nós, em que os filhos tomam os nomes dos progenitores, entre os nativos são os pais que tomam o nome da filha ou filho primogénito. Assim, por exemplo, logo que um casal tem o primeiro filho, os pais acrescentam, aos seus primitivos nomes, o nome do filho, precedido dos títulos de Sã ou Xá, para o pai e Ná para a mãe. Desta forma, chamando-se a filha Kalunga, os pais chamar-se-ão. respectivamente, Sã ou Xá Kalunga e Ná Kalunga. Kalunga, além de Deus supremo, designa tudo aquilo que é onipotente, imenso, infinito ou horroroso.
Designa ventre mas, neste caso, significa o espírito da primeira mãe que existiu na Terra.

Segundo as indicações dos nativos a tchana tcha Mweu (planalto do Mweu) situar-se-ia na região dos grandes lagos, possivelmente no Kilimanjaro, pois dizem que este monte está perto do Kalunga ka meya (mar, lago), e está sempre gelado. Também dão o nome de tchana tcha Mweu a uma planície situada entre os rios Luembe e Cassai, aproximadamente a 11º 10' de latitude sul e a 20º 20' de longitude este, junto da nascente do ribeiro Mbanze (afluente do rio Chiumbe). Dão-lhe este nome por estar perto do Mweu (estrangulamento) do rio Cassai. Neste ponto o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Mbanze representa a separação entre o Tchinguri e a Lueji depois do erro desta na corte do Imperador Muatianvua.

Segundo a tradição tchokwe foi junto à nascente do ribeiro Mbanze que se estabeleceram, primeiramente. os chefes Ndumba-ua-Tembo, Muambumba, Muatchissengue e outros. quando fugiram à soberania do Mwatchyanvwa. Foi naquele mesmo ponto que, mais, tarde, se reuniram. novamente, os três chefes e ali planearam a separação e distribuição de terras que, cada um deveria ocupar. Convém notar que a crença num único Nzambi (Deus) é muito viva entre Tutchokwe e Lundas, independentemente das influência das missões cristãs da Europa. Estas, por sua vez tendo encontrado uma tal crença, aproveitaram-na e apoiaram-se nela, o que facilitou imenso a difusão da religião católica entre estes povos.



* tata Katuvanjesi – Walmir Damasceno, é jornalista, Nganga diama diá Inzo Ia Tumbansi Tua Nzambi Ngana Kavungu, pesquisador e estudioso de culturas tradicionais e crenças afro bantu.