segunda-feira, 27 de junho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE IV


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE IV

O texto que temos vindo a publicar, esta bem claro que as expedições europeias na Lunda, eram meramente de caracter ciêntifico, estudos etnograficos e história tradicional dos povos sob dominio do Muatiânvua, em nenhum momento havia intenções de ocupação colónial por parte, seja ela de Portugal, da França, da Alemanha ou da Inglaterra, conforme relatos do Rodrigues Graça.

Não havia interesses especificos na Lunda de nenhuma potência Europeia. O interesse maior sobre a exploração da Lunda começa no ano de 1875, uma terra desconhecida e mal estudada há menos de 9 anos para a realização da CONFERÊNCIA DE BERLIM de 1884-1885.

4.- ESTRANGEIROS EM EXPEDIÇÕES NO INTERIOR DA LUNDA
4.1.- TENENTE VERNEY LOVETT CAMERON

Também em 1872 a Inglaterra confiou ao tenente Verney Lovett Cameron a missão de ir ao encontro do Dr David Livingstone e de lhe levar toda a ajuda de que carecesse. Teve, porém, a triste surpresa em Taborá a fúnebre caravana que conduzia para a costa o cadáver do grande explorador de todos os tempos em Africa, do Dr David Livingstone.

Verney Cameron, tendo por adjunto o Dr W. E. Dillon (...) faleceu em Africa em Cassequera, já depois de ter passado Taborá (...), saiu de Inglaterra em 30 de Novembro de 1872, no mesmo dia em que o tenente GRANDYE e seu irmão partiam de LIVERPOOL para a costa ocidental Africana. Rumou em direcção ao Cairo no Egipto, Suez, Aden e Zanzibar, onde associou à expedição ROBERT MOFFAT (...) depois de atravessar o Quingâni, Cameron mandou-o regressar a Bagamoio num jumento, por se mostrar extenuado da marcha. Morreu a duas horas da marcha do Simba, e o seu corpo foi sepultado no começo da planície de Macata (...), sobrinho do Dr David Livingstone, partiu para Bagamoio, onde penetrou no coração de Africa. Rumou emdirecção ao médio Tanganica, por Quicoca, atravessando o rio Macata, a povoação de Ugogo, de Panga Sanga, Canhenhé, Usequé, cruzando o rio Mabungúru, Ituro até Unhanhambe (Taborá), onde soube da morte do Dr David Livingstone.

No entanto, Cameron, resolveu prosseguir até Udjidji, descendo por Cassequerá, Ugunda, Cuicúru, Gombe Nulá, daqui a Teueré, Taca, atravessando o Síndi « sobre uma massa de vegetação flutuante», o Malagarázi até Ugaga e daqui até Udjidji. Deu um grito em volta do Tanganica e passou-se para a margem ocidental. Desceu o Lucuga até ao Lualaba. Em Nhangoé encontrou-se com TIPPU-TIB, que o escoltou desde aí até Utorera. Bem quis ele explorar o Lualaba, mas não conseguiu canoas. Desceu até forte Díná, Muncula e chegou a Munza onde se encontrou com o mercador Árabe Jumá Americano (...) Este árabe « tinha estado nas mínas de ouro e cobre de Katanga; fora ao país de Massama, onde encontrara carvão; Jornadeira entre os lagos Moero e Tanganica; atravessara o Lucuga; e formara acampamento permanente em Quiruga (...).

O árabe, Jumá, ao saber da chegada de um explorador Inglês, julgou tratar-se do Dr David Livingstone, com quem uma vez se encontrara. Conheceu ele em Udjidji também SPEKE e BURTON. Parecia, portanto, pessoa capaz de dar a Cameron informações úteis.

Por ele, soube Cameron, tentado a visitar a Mussumba na Corte do imperador Muatiânvua, «que as chuvas tornariam o caminho, em pouco tempo, impraticável» e «que se chegasse á capital não voltaria de lá, porque o último homem branco que se sabia ter visitado Sua Majestade imperador Muatiânvua, fora detido à força para instruir o povo na arte da guerra Europeia, e depois de quatro anos de cativeiro lá morreu sem ter ocasião de fugir».

Se os motivos foram estes ou se os seus receios foram outros, de qualquer modo, Cameron passou muito acima e muito ao lado da Mussumba a capital do Imperio LUNDA e não conseguiu encontrar-se com a corte do Muatiânvua.

Começaram depois os encontros de Cameron com os portugueses, a respeito dos quais se não coibiu de fazer as mais descabidas diatribes. Falou primeiro como négociante portugues José Alves, que se propunha também regressar a província de Angola e com quem ele alí entrou. Conheceu, em seguida, um filho do major Coimbra, Lourenço de Sousa Coimbra, que ele dá na conta de quem «alcançara grau elevada na arte dos bandidos».

Em Lupanda, voultou a ter notícias sobre o imperador da LUNDA Muatiânvua de que fora deposto por sua irmã e andava escondido numa região oito milhas ao norte ele estava acampado.


No dia 27 de Julho, estava em Ulunda, de onde partiu em direcção ao lago Dilolo, depois ao Bié e daí para Benguela. Não teve, portanto, o tenente Cameron qualquer contacto com a Mussumba, embora tivesse andado no interior da LUNDA e também a sua missão foi de natureza puramente cientifica.

4.1.2.- HENRY STANLEY

Henry Stanley estava talhado para se sujeitar em Africa às vicissitudes das explorações. Nascido em Denbigh, no País de Gales, filho de campónios, levou vida agitada e dificil. A narrativa sua da tomada do forte Frisher, na Guerra da Secessão (1860 – 1865) Americana, para a folha de Nova Iorque, abriu-lhe as portas do Jornalismo.

De regresso da viagem que em 1871 empreendeu por Bagamoio em busca do Dr Davd Livingstone, aparelhou Stanley nova e grande expedição. No dia 21 de Setembro de 1874, estava ele em Zanzibar para dar inicio à sua viagem de contracosta, a qual findou no ano de 1877. Atinge o lago Vitória, pelo caminho de SPEKE, descobre em Janeiro de 1876 o lago Alberto, e faz, de 11 de Junho a 31 de Julho de 1876, o reconhecimento completo do lago Tanganica.

De Ruanda, no lado ocidental e médio do lago, parte em direitura às nascentes do Lucuga, a Uhombo, Riba-Riba, passa o rio Luama, desce por ele até Uzura, e em Muana Mamba, perto de Cassongo, encontra-se com TIPPU-TIB, que o acompanha por algum tempo na tentativa dificil de reconhecer o curso do Congo.

No dia 5 de Novembro de 1876, as duas expedições, a de Stanley e a de Tippu-Tib, num total de 400 homens, deixam Nhangoé e internam-se na floresta equatorial.

Em Vuane-Quirumbo, Tippu-Tib mostrou desejos de ver anulado o contracto de acompanhar Stanley. No entanto, avançaram juntos por mais algum tempo e entram no Lualaba perto do sítio de Campunzo. Na confluência deste rio com o Ruíqui, travam combate com as flechas dos nativos. Já dentro do Congo, em Vinha-Njara, Stanley concorda com rescindir o contracto de Tippu-Tib. O célebre esclavagista árabe estava exausto, tinha perdido muitos dos seus homens e boa parte do seu harém, atacados de beixigas.


Henry Stanley, apesar de tudo, não deciste. Segue o rio Zaire até à foz, e chega a Cabinda. Daqui parte para a província de Angola e chega em Luanda a bordo da canhoneira portuguesa TAMEGA, onde viaja com o major Serpa Pinto «Um dos primeiros actos do governador-geral da província Angola, foi enviar-lhe o seu ajudante de campo para lhe oferecer todo o dinheiro que lhe fosse necessário e uma cnhoneira que o conduzisse a Lisboa.

Foi convidado para tomar parte num banquete que o comandante portugues oferecia ao major Serpa Pinto, ao comandante Brito Capelo e ao tenente Robert Ivens, que iam partir para a expedição do rio Cunene (...). E teve em Luanda ainda mais dois banquetes em sua honra, ele que, na Europa, se fartou de dizer mal dos Portugueses, ele, que, com LEOPOLDO II, fez o Congo a expensas do que pertencia a Portugal.

Também Henry Stanley não contactou com a corte do imperador Muatiânvua na Mussumba. De 1874 a 1884, cuidou antes de abril no Congo 40 postos mercantis e estabelecer comunicações, por barcos a vapor, entre o Atlântico e «o ponto do rio onde as cataratas levam o seu nome. Em 1887, ainda voltou à África em busca de Emin-Pachá.

Das viagens de Henry Stanley, a Inglaterra apenas aproveitou, politicamente e sem demora de tempo, o Uganda. Estava Henry Stanley nas águas meridionais do lago Vitória, quando enviados do «imperador» Mteza lhe disseram em Suaili que fosse bem-vindo a UGANDA. O convidado acedeu a uma entrefala com Mteza, a quem ministrou uns rudimentos de catecismo e de etiqueta.

Apela depois para o DAILY TELEGRAPH e para NEW YORK HERALD pedindo-lhes que fizesse todos os esforços para que uma missão cristã fosse enviada para junto de Mteza. O jornal de Londres abre uma inscrição que rende 625 mil francos. Segue depois uma leva de missionarios, que o «imperador» recebe festivamente em finais de 1876, e o Uganda torna-se uma possessão Britânica. Mas a Lunda do Muântinvua não há presença de nenhuma potência Europeia. Prmanece intacta com os seus Estados sob dominio da Mussumba.
___________
OBSERVAÇÂO:
- O proximo texto vai tratar dos exploradores Pogge e Lux, Otto Schútt, Silva Porto, Max Búchner, Capelo, Ivens, Serpa Pinto Von Mechow, Wissmann, irmãos Machados e o Dr Summers.