AVANÇO DE BOKO HARAM ATERRORIZA MILHARES DE
NIGERIANOS
Se
ocuparem Maiduguri, extremistas darão passo importante para a criação de um
Estado islâmico no norte da Nigéria. Exército do país é inapto para conter os
radicais, e milhares de moradores estão em fuga.
Acordado
durante a noite, ele ouve tiros à distância. "Ninguém consegue mais
dormir", conta um ouvinte da DW da cidade de Maiduguri. A capital do
estado de Borno, localizado no nordeste da Nigéria, possui mais de um milhão de
habitantes. O ouvinte prefere ficar no anonimato, por medo da milícia
islâmica Boko Haram, que se aproxima cada dia mais de Maiduguri.
Gwoza,
Bama, Gulak, Michika, Duhu, Shuwa, Kirshinga – os extremistas conquistam, quase
que diariamente, uma nova cidade. Eles chegam em veículos roubados do Exército,
espantam as tropas nigerianas e aterrorizam os moradores.
"Os
guerrilheiros do Boko Haram matam e estupram. Eles também levam embora as
mulheres mais jovens e deixam um rastro de cadáveres", descreve o senador
Ahmed Zanna. Essa é também a situação da cidade que ele representa no Senado
nigeriano, Bama, que fica a 70 quilômetros de Maiduguri e foi tomada pelos
islamistas dias atrás.
Zanna
conta ainda que os soldados que deveriam libertar Bama se recusaram a avançar.
"Eles estavam mal equipados e decidiram ficar em Konduga", explica o
senador. Em Konduga, localizada a apenas 40 quilômetros de Maiduguri, já teriam
tido confrontos com o Boko Haram, no último fim de semana.
A CAMINHO DE MAIDUGURI
A
ocupação de Maiduguri seria de suma importância para o principal objetivo do
Boko Haram: a criação de um Estado islâmico no norte da Nigéria. "Mesmo
uma conquista rápida da capital de Borno seria uma vitória simbólica
significativa", afirma o consultor sul-africano em segurança Ryan
Cummings.
Também
o especialista do Internacional Crisis Group (ICG), o nigeriano Nnamdi Obasi,
salienta que a posse da cidade daria um grande impulso aos extremistas. Com
Maiduguri, os islamistas não teriam apenas o controle sobre uma das maiores
cidades do país, mas também o de um aeroporto internacional.
E
o Exército nigeriano? A
moral das tropas do governo anda em baixa, e seus equipamentos são piores do
que os dos terroristas. "Um oficial contou que ele nada pode fazer
contra o Boko Haram. O grupo miliciano possui metralhadoras automáticas e o
Exército fuzis AK-47", reporta o correpondente da DW Sheriff Alhassan.
Alhassan
é um dos poucos repórteres que ainda ousam se aventurar nas áreas de conflito.
Ele se encontra na cidade de Mubi, no estado de Adamawa, que também corre risco
de cair nas mãos dos islamistas. "Nós todos estamos com medo", conta
um dos moradores. "Os soldados entram em nossas casas, tiram seus
uniformes e vestem roupas civis. Se os militares já estão abandonando a luta,
então nós teremos nenhuma chance."
DEZENAS DE MILHARES EM FUGA
Milhares
de pessoas fogem das áreas de conflito em direção à Yola, capital do estado de
Adamawa. Lá, moradores abrigam os fugitivos, que chegam a dividir um quarto com
mais de dez pessoas.
"Não
sobrou ninguém na nossa cidade. Todos fugiram", diz uma refugiada à DW.
"Os terroristas chegaram à cidade e matam as pessoas. Acabei de receber
uma ligação telefônica, dizendo que bombas estavam sendo lançadas em minha
cidade natal." Em Yola, ela agora necessita de ajuda. "Precisamos de
comida para nós, para as crianças e para os parentes que vieram com a
gente."
Em
Maiduguri, a 400 quilômetros ao norte de Yola, muitos moradores já estão
arrumando suas coisas. "As pessoas estão assustadas. Muitos já deixaram a
cidade", conta uma mulher, que também preferiu não ter seu nome divulgado.
"Nós, que aqui ficamos, esperamos que Deus nos ajude."
Já
outros moradores de Maiduguri estão decididos a combater o Boko Haram, mesmo
que armados apenas com pedaços de pau. Milhares de jovens exigem do governo
que, como parte de uma espécie de exército civil, eles possam apoiar os
soldados na defesa da cidade.
"Há
soldados na cidade, mas eles não têm armamento pesado", relata o ouvinte
da DW. Até mesmo o senador Ahmed Zanna é cético que o Exército possa defender
Maiduguri. "Se uma cidade como Bama, que tinha mais de mil soldados, caiu
em três, quatro horas, então a preocupação que eles agora estão visando
Maiduguri é grande", afirma o senador.
Enquanto
isso, fontes militares anunciaram que Bama estaria novamente sob controle das
Forças Armadas, e que Maiduguri estaria segura. Porém, ainda não há relatos
independentes que confirmassem essas informações. Assim, dormir com
tranquilidade ainda é algo distante para os cidadãos nigerianos.
Hilke
Fischer (rc) – Deutsche Welle