sábado, 18 de agosto de 2012

“Terceira alternativa”, campanha eleitoral e eleições-2012


“Terceira alternativa”, campanha eleitoral e eleições-2012
Por: Marcolino Moco - www.marcolinomoco.com



Trazendo para aqui uma interpretação autêntica da minha “Angola: a terceira alternativa”, em conjugação com tudo que venho afirmando, desde que apenas foi anunciado o “golpe político e jurídico-institucional” de José Eduardo dos Santos, contra a Constituição histórica de Angola, as eleições de 31 de Agosto são, desde logo, um jogo num plano inclinado, a favor do golpismo. Se se quisesse uma metáfora olímpica mais esclarecedora, diria que estamos perante um jogo em que há uma baliza de um metro de largura para o país marcar (não falo só da oposição político-partidária) e outra com, por aí, uns dez metros, para Sª Excelência o Senhor Presidente-candidato enfiar os seus estrondosos golos, calmamente.


Foi efectivamente um golpe de mestre, se analisado sob um ponto de vista daqueles que vêm a política como a “arte do possível” e quando nesse “possível”, tudo é permitido, mesmo que seja contra consensos arduamente elaborados por uma sociedade durante todo um processo histórico anterior, contra o Direito, contra toda a moral e contra qualquer tipo de ética.


Foi um golpe efectivamente fulminante, antes de mais, contra o próprio programa de um partido de grandes responsabilidades nacionais como o MPLA, regressado aos seus iniciais ideários democráticos, no princípio dos anos 90 do século passado. É esse golpe de mestre, assente em antecedentes explicitados no “Angola: a terceira alternativa”, que permitiu que José Eduardo tenha imposto um provável candidato a sua sucessão, sem dar a mínima possibilidade de disputa a outros e mais carismáticos líderes, do que hoje deveria ser um tão múltiplo e multifacetado MPLA, sem dramas.


Apesar de tudo, não tendo argumentos para contrariar o aforismo “política como a arte do possível” (mas um “possível” que deveria ser para o bem da sociedade e não de uma casta) esperava que estas eleições de 2012, que poderão, anunciadamente, servir para agravar ainda mais o nosso “plano inclinado”, podem, igualmente, constituir uma oportunidade para desagravá-lo. Por exemplo, se este Presidente perdesse ao menos a inimaginável e arrogante maioria que tem através do “sequestro” a que submete o MPLA, no qual já não é possível votar sem reforçar a arrogância, o açambarcamento à luz dia, o nepotismo, o cinismo, enfim, o desprezo total de tudo quanto não seja o “eu posso e mando”, já seria meio caminho andado para sossegar até o próprio Eng.º Manuel Vicente, que desta vez sim, estaria imune de qualquer derrube na grande área, por quem lhe passou a bola. Todos entendem o que quero dizer: o nosso verdadeiro Engenheiro, o que tem demonstrado ao longo destes anos, especialmente nos últimos 10 anos da sua “arquitectura da paz”, é que não confia em ninguém e não dá confiança a ninguém.


Mas por vezes soçobra-me esta esperança, a de ver estas tão injustas eleições, logo à  partida, virem a dar algum empurrão para uma solução de “terceira alternativa”, a que defendo no meu “livrinho verde”, não como um programa político-partidário, mas como um método de negociação, em busca do retorno ao caminho de uma sociedade suficientemente aberta, justa e de paz sustentável, sem prejuízo para ninguém, até mesmo para a própria família mandante actual; a que vem sendo despropositada e preocupantemente chamada de “família real”, sem sentidos figurados.


 E ontem soçobrou-me a esperança ao chegar a Benguela, vindo de Luanda, passando por um Amboim e Sumbe, e ter tempo para sonhar, os “sonhos” do poeta nascido nessas terras – o Viriato da Cruz – a sonhar com uma Angola africana e moderna, ao mesmo tempo!


Soçobrou-me a esperança ao encarar uma campanha eleitoral morna e insonsa da parte de todos os contendores, até mesmo, pasme-se, do dono da bola que parece nem mais precisar de marcar golos, que os golos já estão todos bem marcados. Mas o meu cambalear com a esperança aconteceu quando foi ligada uma “Radio Mais” de Benguela, transformada numa autêntica “Angola Combatente” do “Engenheiro”, onde uma bela melodia de promoção da Unitel do popular músico Matias Damásio, é mais longa e tem outra letra, já não a da promoção da Unitel, mas sim do “candidato do povo”, quer dizer, do “Engenheiro-Arquitecto” da paz e de todas as movi-e-unitéis do país e do Mundo. É isso que em países assentes em “terceiras alternativas” levaria os prevaricadores a “tribunal” constitucional ou eleitoral, em tempo de eleições. Mas aqui, em plena terra de “primeira alternativa”, os prejudicados é que são ameaçados de ir parar a tribunal e verem seus parcos espaços de campanha anulados na RNA e TPA.


É o que aconteceria comigo agora ao dizer estas coisas, tão reais como dizer que estou a escrever este texto, se fosse candidato a qualquer coisa nessas eleições, sem tempo para pensar e continuar a contribuir com as minhas ideias de genuína paz e reconciliação nacional. E alguns incautos, em silvadas mensagens de bastidores, seriam mobilizados para espalhar a ideia estereotipada dos políticos da minha região que têm o apanágio de se infiltrarem nas fileiras do “Glorioso” para traírem esta “luta que continua”, mesmo que agora, aparentemente, só sirva para bolsos encher “e contra os canhões, marchar, marchar”.


 Seria um morrer de tédio, a aturar recadinhos subliminares, a apelar para o cuidado de não denegrir Sª Ex.ª, e comprometer a paz. É o que fizeram de forma tão coordenada os “camaradas” Falcão do Secretariado do BP do MPLA e o da Silva, Presidente do CNE, a semana passada. E já colhem os resultados positivos. Com efeito, alguns partidos da oposição minimamente credível, e que sobraram da purga pré- eleitoral, morderam o isco. Deixaram de falar do que nas circunstâncias destas eleições seria uma das questões fundamentais a esclarecer: como é que à filha de um presidente cessante e candidato ao mesmo tempo, são atribuídos pela comunicação social do país e do Mundo, tantos teres e haveres de origem não explicada, nunca desmentidos, pelo contrário tão ostensivamente exibidos interna e internacionalmente? Como não falar disso agora?


Por isso, ao correr para o meu quarto de hotel para apreciar os programas de escassos 5 minutos para cada partido no TPA, tenho mais um afundamento na esperança de ver as coisas mudadas minimamente, a partir destas eleições: um partido da oposição, destes que caíram no engodo dos mandatados “camaradas” – o de que deve falar-se de “programas de futuro” e não na fortuna dos outros, que isso é denegrir a imagem dos “outros candidatos”, etc, etc,” (querem iniciar uma nova guerra, ai, ai, ai … !) – desancava impiedosamente nos “comunistas” (ainda existem?!) que assassinam filhos indesejados, nos homossexuais e ateus (também não são filhos de Deus?!) que estão trazer para esta terra o reino de satanás; anunciava por outro lado o corte radical da importação de bebidas alcoólicas (à boa maneira da Líbia de Kadafi e de outros teocráticos regimes islamitas) ao mesmo tempo que prometia a imposição de um rigoroso programa de ensino religioso (não sei de que religião, entre tantas) nas escolas, e ai daquele que o contrariar. Enfim, um belo programa para afugentar eventuais eleitores para esse partido, tão ocidentalizado e laico que é este país, até no melhor sentido, e aferrá-los a essa continuidade monolítica do “la loi c’ést moi, l’état c’est moi”, bien sur!”. Assim “não vamo-lá”! Assim mesmo, sem “s”.


Mas esperanças sempre se renovam. Para a semana haverá mais. Como se dizia no meu tempo de aluno da secundária, quando se apanhava um chumbo: − Por ano há mais! Quem sabe me levante rápido desta profunda soçobra, ainda em terras de belas misses e rúbras acácias! E terra de Pepetela, de um Paulo Jorge e outro Flores!


Benguela, 16 de Agosto de 2012