quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DESMOND TUTU DIZ QUE LÍDERES AFRICANOS CONTRA TPI PROCURAM “AUTORIZAÇÃO PARA MATAR”



Lisboa - O Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu considerou hoje que os dirigentes africanos que defendem uma retirada do Tribunal Penal Internacional (TPI) procuram na realidade "uma autorização para matar, mutilar e oprimir" com total impunidade.





Fonte: Lusa
Lembrando que África participou na criação do tribunal, Tutu pediu aos líderes dos 54 estados-membros da União Africana (UA), reunidos hoje e no sábado em Adis Abeba, para se oporem aos homólogos "menos democratas" evitando que saiam do TPI.


"Alguns na UA podem avançar com a carta racial ou com a carta colonial no seu discurso", disse o arcebispo sul-africano num artigo publicado no Cape Times. "Longe de ser o que alguns chamam 'uma caça às bruxas iniciada pelo homem branco', o TPI não poderia ser mais africano, mesmo se o quisesse", escreveu o Nobel da Paz.


Tutu lançou este apelo na altura em que os dirigentes da UA estão reunidos numa cimeira destinada a debater as difíceis relações entre o continente e o TPI, que acusam de apenas ter julgado africanos desde o início dos seus trabalhos, em 2002.


"Esta cimeira é um combate entre a justiça e a violência brutal. Longe de ser um confronto entre a África e o Ocidente, é um confronto entre africanos, pela alma do continente", escreveu o Nobel da Paz.


Tutu acusou os dirigentes que reclamam uma saída do TPI de "quererem na realidade uma autorização para matar, mutilar e oprimir os seus povos sem consequências".


"África sofre as consequências dos atos de dirigentes irresponsáveis há demasiado tempo para se poder deixar enganar desta maneira", sublinhou, apelando à assinatura de uma petição na Internet iniciada pelo grupo ativista Avaaz.


"Sem este tribunal não haverá qualquer freio aos piores excessos (...) Os dirigentes violentos continuam a infestar África: os Grandes Lagos, o Mali, o norte da Nigéria e o Egito são todos fontes de inquietação (...) Os autores de violências não devem ser autorizados a saírem com uma pirueta", escreveu Tutu.


Na reunião de dois dias na capital etíope, os líderes africanos estão a debater o tipo de relações que a organização Pan-Africana (que conta com 34 membros dos 122 países do mundo que ratificaram o Estatuto de Roma, que fundou o TPI) vai manter com o tribunal internacional.



As acusações dos líderes africanos intensificaram-se depois de o TPI ter acusado de crimes contra a humanidade os quenianos Uhuru Kenyatta e William Ruto, eleitos em março passado Presidente e vice-Presidente do Quénia, respetivamente.