Lisboa -
O Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu considerou hoje que os dirigentes
africanos que defendem uma retirada do Tribunal Penal Internacional (TPI)
procuram na realidade "uma autorização para matar, mutilar e oprimir"
com total impunidade.
Fonte: Lusa
Lembrando que África
participou na criação do tribunal, Tutu pediu aos líderes dos 54
estados-membros da União Africana (UA), reunidos hoje e no sábado em Adis
Abeba, para se oporem aos homólogos "menos democratas" evitando que
saiam do TPI.
"Alguns na UA podem avançar com a carta racial ou com a carta colonial no seu discurso", disse o arcebispo sul-africano num artigo publicado no Cape Times. "Longe de ser o que alguns chamam 'uma caça às bruxas iniciada pelo homem branco', o TPI não poderia ser mais africano, mesmo se o quisesse", escreveu o Nobel da Paz.
Tutu lançou este
apelo na altura em que os dirigentes da UA estão reunidos numa cimeira
destinada a debater as difíceis relações entre o continente e o TPI, que acusam
de apenas ter julgado africanos desde o início dos seus trabalhos, em 2002.
"Esta cimeira é
um combate entre a justiça e a violência brutal. Longe de ser um confronto
entre a África e o Ocidente, é um confronto entre africanos, pela alma do
continente", escreveu o Nobel da Paz.
Tutu acusou os
dirigentes que reclamam uma saída do TPI de "quererem na realidade uma
autorização para matar, mutilar e oprimir os seus povos sem
consequências".
"África sofre as
consequências dos atos de dirigentes irresponsáveis há demasiado tempo para se
poder deixar enganar desta maneira", sublinhou, apelando à assinatura de
uma petição na Internet iniciada pelo grupo ativista Avaaz.
"Sem este
tribunal não haverá qualquer freio aos piores excessos (...) Os dirigentes
violentos continuam a infestar África: os Grandes Lagos, o Mali, o norte da
Nigéria e o Egito são todos fontes de inquietação (...) Os autores de
violências não devem ser autorizados a saírem com uma pirueta", escreveu
Tutu.
Na reunião de dois
dias na capital etíope, os líderes africanos estão a debater o tipo de relações
que a organização Pan-Africana (que conta com 34 membros dos 122 países do
mundo que ratificaram o Estatuto de Roma, que fundou o TPI) vai manter com o
tribunal internacional.
As acusações dos
líderes africanos intensificaram-se depois de o TPI ter acusado de crimes
contra a humanidade os quenianos Uhuru Kenyatta e William Ruto, eleitos em
março passado Presidente e vice-Presidente do Quénia, respetivamente.