sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Angola resgata ex-colonizador Portugal








Desde que tomou posse há um ano, o governo português já realizou 12 visitas oficiais a um único destino: Angola.


A mensagem oficial do país europeu em crise financeira para a ex-colônia africana tem sido clara. "O capital angolano é muito bem-vindo", afirmou o premiê Pedro Passos Coelho, em novembro.


Portugal acompanha nesta sexta com atenção, portanto, a eleição que deve dar novo mandato de cinco anos para o presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.


Apesar de criticado por corrupção, falta de transparência e autoritarismo, Santos é agora visto como salvador. Seu país tem índices enormes de pobreza, mas, grande produtor de petróleo, também tem capital sobrando.






DIFICULDADES



"Estamos conscientes das dificuldades que o povo português tem atravessado. Angola está disponível para ajudar Portugal", disse Santos.


Líder do partido MPLA, de origem marxista, ele é favorito absoluto. A campanha é feita pelo marqueteiro petista João Santana, que adaptou para Angola bandeiras como o Minha Casa, Minha Vida.


Impulsionada pelo petróleo, a economia angolana deverá crescer 17% este ano, segundo o FMI. Em Portugal há previsão de contração de 3%.


Com US$ 31 bilhões de reservas cambiais originadas pelo petróleo, Angola é um investidor rico, apesar de figurar no
148º lugar do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (em 187 países).


"A economia portuguesa precisa de capital estrangeiro e o investimento angolano é bem-vindo e importante para Portugal", afirma Luís Mira Amaral, presidente do Banco BIC Português, um banco privado de capitais luso-angolanos.


Angola passou a exportar capital para Portugal com mais intensidade desde 2009. O investimento feito em bancos, energia e comunicação é liderado pela discreta
Isabel dos Santos, 39 anos, filha do presidente.


Em Portugal, a empresária pôs dinheiro em TV a cabo (tem 19,8% da Zon Multimédia) e em bancos (19,4% do Banco BPI e 25% do BIC).


Por meio de uma offshore, ela detém cerca de um terço da petrolífera portuguesa Galp, em parceria com a petrolífera estatal angolana Sonangol.


Além disso, membros da elite empresarial, política e militar angolana investem bilhões difíceis de contabilizar em Portugal --de indústrias cerâmicas e de cimentos a apartamentos de luxo e quintas na região vinícola do Douro. "Há procura crescente para o segmento de luxo por parte de Angola", afirma Eurico Silva, que dirige o escritório da
Sotheby's International Realty no Estoril, uma das principais áreas de luxo da capital, Lisboa.


"Portugal é um mercado que oferece segurança em termos políticos e a falta de liquidez deprime os preços. Os angolanos veem a oportunidade e têm feito compras a preços interessantes", diz.


Em Lisboa a presença da elite de Angola tornou-se bem visível em lojas, hotéis e condomínios de luxo.



Novos-ricos



Os grandes grupos de média portugueses publicam histórias sobre os grandes negócios e sobre a vida social da nova classe angolana endinheirada.


"Há anos havia um clima hostil na imprensa portuguesa em relação a Angola, que entretanto desapareceu", observa Xavier Figueiredo, editor do África Monitor, um serviço de informação estratégica sobre Angola.


O país ainda é apontado por ONGs como
Human Rights Watch e Transparência Internacional como um dos mais corruptos do mundo. Enquanto isso, 68% dos 20 milhões de angolanos vivem com menos de US$ 2 por dia.


Fonte: Folha de S.Paulo