segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VIII

Subchefe da expedição Sizenando e Sertorio





A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VIII


8.- O REI DE PORTUGAL NOMEA HENRIQUE AUGUSTO DIAS DE CARVALHO CHEFE DA EXPEDIÇÃO PORTUGUESA A MUSSUMBA DO MUATIÂNVUA 1884 - 1888

Em Lisboa, Londres, París, Bruxelas e Berlim, as notícias sobre os territórios do dominio do Muatiânvua pareciam a descoberta de um novo planeta, sobretudo, o comércio da borracha e do marfim. A Lunda havia se tornado no epicentro das atenções no coração de África. O interesse pela sua exploração ciêntifica havia aumentado. A corrida para a Lunda por parte das potências Europeias era frenética, todos queriam ser os primeiros a apresentarem estudos ciêntificos sobre este o povo.

A Sociedade de Geografia de Lisboa colocou a disposição da expedição todas as condições financeiras e do saber. O Rei de Portugal nomeou para esta empreitada o major de infanteria Henrique Augusto Dias de Carvalho na condição de Chefe da expedição ciêntifica a Mussumba do Muatiânvua, expedição essa que tinha os seguintes objectivos; estudo etnografico e a história tradicionais dos povos da Lunda, mas também foi orientado para celebrar tratados comérciais, não foram tratados coloniais de ocupação ou usurpação territóriais.

Esta expedição aconteceu 402 anos (1482-1884) da presença portuguesa na sua colónia de Angola ou província ultramarina.

8.1.2.- HENRIQUE AUGUSTO DIAS DE CARVALHO, WISSMANN E O DR SUMMERS

No 6 de Março de 1884, embarcava em Lisboa para Luanda no vapor S.Tomé o major de infanteria Henrique Augusto Dias de Carvalho e a comitiva para a sua expedição ao Muatiânvua. No mesmo vapor vinha também o tenente da Armada Italiana Affonso Maria Massari, já conhcido pelas suas explorações no Norte de Africa, mas agora contratado para o serviço da Associação Internacional Africana. Fora o próprio Dr Max Buchner, então em Lisboa de passagem com Nachtigal, quem subira a bordo a recomendar a Henrique Augusto Dias de Carvalho o jovem tenente italiano.

Da expedição portuguesa ao Muatiânvua faziam também parte:
 Major farmacêutico Agostinho Sizenando Marques – Subchefe
 Tenente Manuel Sertório Almeida Aguiar – Ajudante
 Missionário padre António Castanheira Nunes

No dia 30 de Maio de 1884 desembarcava a expedição em Luanda, e, no dia 6 de Julho, entrava em Malanje. Em Malanje encontrou o major Henrique de Carvalho uma expedição Alemã, chefiada pelo tenente Wissmann, que desde Janeiro deste mesmo ano estava nesta vila para organizar o seu pessoal de carregadores, e um comissionado de uma casa comercial de MANCHESTER, também alemão, de nome BURGMASTTER, que estudava o modo de negociar com os nativos.

Durante quinze dias as expedições de major Henrique de Carvalho e do tenente Wissmann mantiveram em Malanje as mais cordiais relações. No dia 24 de Julho, Henrique de Carvalho acompanhhou o tenente Wissmann e o seu companheiro tenente Muller a Quipacassa, 12 quilometros de Malanje, onde Custódio Machado ia oferecer-lhes um jantar de despedida.

No dia segunte, na véspera da partida de Malanje, a expedição alemã teve uma reunião com as autoridades da administração portuguesa do concelho de Malanje, e o tenente Wissmann saudou o governador-geral da província de Angola, agradecendo o bom acolhimento e auxílio dispensados e os pêsames enviados por intermédio da Secretaria-Geral pela morte do alemão Dr Pogge, seu companheiro da primeira viagem a Àfrica.

Já no dia anterior, no jantar oferecido por Custódio Machado, Wissmann se desfizera em agradecimentos e desculpas por não ter particularmente e em nome da expedição alemã agradecido ao governador-geral da província de Angola. O major de infanteria Henrique de Carvalho, que também assistirá á reunião e tomara parte no jantar, foi solicitado em comunicar estes factos para LUANDA, mas de lá, da Secretaria-Geral, recebeu ele o oficio n.º 796, de 27 de Agosto de 1884, a comunicar-lhe «que seria conveniente que o tenente Wissmann escrevesse o seu agradecimento a fim de o poder fundamentar para Europa».

Mas era tarde e Wissmann bem o sabia...

No entanto, de tudo isto, por intermédio do representante português em Berlim, se deu conhecimento ao Governo de BISMARK, que agradeceu.

O carácter desta expedição Wissmann não passava desapercebido a ninguém: a grande quantidade de armamento e munições que trazia da Alemanha, o muito gado bovino de que se forneceu em Malanje e o Lubuco como objectivo da sua viagem não apresentavam de maneira alguma fins cientificos, mas sim comercial...

No dia 26 de Julho a expedição alemã punha-se a caminho para a Lunda do Muatiânvua a partir de Malanje.

Nesta data Capelo e Roberto Ivens desciam o Cuango, e Henrique Augusto Dias de Carvalho tinha já se estabelecido na estação Andala Quinguângua, que denominaram de 24 de Julho por ter sido neste dia que ali os Portugueses hastearam pela primeira vez a Bandeira de Portugal sob consentimento dos nativos da localidade.

Em Novembro de 1884, a expedição Wissmann fundava em LULUABOURG uma estação, onde se demorou até 28 de Maio de 1885. Daqui, num barco de aço, no PAUL POGGE, acompanhados de vinte canoas, Wissmann, o Dr LUDWING WOLF, e os tenentes VON FRANÇOIS e HANS MULLER desceram o rio Lulua, entraram no Cassai e em seguida no Zaire, e chegaram a LÉOPOLDVILLE depois de uma viagem de cinquenta dias.

8.1.3.- INICIO DA VIAGEM DA EXPEDIÇÃO H.A.D.C. PARA A MUSSUMBA NA LUNDA
8.2.1.- A ODISEIA DOS TRATADOS COMERCIAIS PORTUGAL-LUNDA (PROTECÇÃO EXTERNA DA LUNDA)

A viagem do major de infanteria Henrique Augusto Dias de Carvalho para a Mussumba na Lunda, se fundamenta numa expectativa Comercial de conquista, de conhecimentos, de mudanças, de conhecer uma sociedade e suas transformações. Um olhar etnográfico dos povos da Lunda, aspectos culturais e comportamentais, as mulheres, as crianças, as relações de trabalho, a educação e as classes sociais do imperio. Henrique de Carvalho vai para aquilo que ele chamou de povos selvagens, indolentes, preguiçosos, sem inteligência, ignorantes, apatia para uma imagem de inferioridade e primitivismo do povo da LUNDA, e assim começa a sua aventura para o desconhecido do mundo civilizado EUROPA do século XIX...

No dia 12 de Outubro de 1884, antes do inicio dos trabalhos da famosa conferência de Berlim ( 14 de Novembro 1884 á 26 de Fevereiro de 1885, Conferência Africana), para a partilha de África, do Quissole, em Malanje, partia a expedição portuguesa a Mussumba do Muatiânvua, Henrique Augusto Dias de Carvalho é o Chefe da Missão... de Quissole a Catala, daqui caminhou para Andala Quinguângua, para Cafúxi e para o Mulolo.

No dia 31 de Outubro de 1884, depois de ter erguido no Ambanvo a Estação Paiva de Andrade, passou o Cuango, a uns 36 quilometros acima do porto onde tinha atravessado a expedição alemâ.

Ainda Henrique de Carvalho mal tinha passado o Cuango, e já estava a chegar a S.Salvador do Congo uma expedição alemã composta pelo lugar-tenente SCHULTS, chefe, Dr WOLF, médico, e Dr BUTHNER, naturalista. Os outros dois elementos da expedição alemã tinham ficado no Zaire por não quererem ir a S.Salvador do Congo. Era o mês de Dezembro de 1884. Intentava esta expedição alcançar o Muquenngue pelo Cuango, onde contava com a protecção de QUIANVO, de Muene PUTO CASSONGO e de outros potentados.

A S. Salvador do Congo iam os outros exploradores angariar os carregadores preciosos. Dois meses depois, isto é em Fevereiro de 1885 morreu o chefe da expedição alemã, após prolongada doença. O Dr WOLF interna-se sozinho pelo mato; os exploradores que tinham ficado no Zaire, conhecendo a má vontade dos povos destas regiões para os acompanharem, resolveram subir o rio, para em seguida entrarem pelo Cuango até Quianvo, ponto onde todos deviam reunir-se. Mas não conseguiram vencer a resistência dos potentados, e foram obrigados a retroceder e a acolher-se em STANLEY-POOL.

Na margem direita do Cuango, em Muana MAHANGO, onde a expedição portuguesa construiu uma estação denominada COSTA e SILVA, lavrou, no dia 23 de Fevereiro de 1885 a expedição de Henrique Augusto Dias de Carvalho o primeiro tratado de protectorado (..); Muana Mahango e Muana Cafunfo, irmãs soberanas do ESTADO DE CAPENDA CAMULEMBA, pelo qual, elas «e seus actuais descedentes e grandes do Estado seus subditos, pedem a protecção de Sua Majestade EL-Rei de PORTUGAL.

Da estação Costa e Silva, o subchefe da expedição Major farmacêutico Agostinho Sizenando Marques, foi ao Muene Nzovo, subdito e regente do Muatianvua. No dia 8 de Março a expedição punha-se em marcha para o riacho CAMAU, em cujo vale se demorou 75 dias por causa das chuvas.

(...) - No mesmo dia 23 de Fevereiro de 1885, o tratado foi presente à votação de Muana SAMBA, senhora de Mahango, e de todos os do seu conselho. Os varios tratados que o major Henrique de Carvalho veio a celebrar com potentados na Lunda não devem ser alheios a uma carta datada de 25 de Abril de 1886, que Luciano Cordeiro lhe escreveu: «Não deixes também de fazer tratados...Imagine que agora voltou á Alemanha um explorador carregado de convenções que vão servir de base aos alemães para meterem cabeça do lado do sul até ao paralelo 12º». Povoação de Pendes, na margem do riacho do mesmo nome e afluente do Cuilo, na dependencia de Muata Cumbana (...).

O vale de CAMAU era ponto de passagem obrigatório de quem vinha de Muene Puto Cassongo, de Cassange, dos Xinjes para o Lubuco, Cassele ou da Mussumba.

No dia 10 de Junho Henrique de Carvalho deixou o vale do Camau, a que chamou das AMARGURAS, e dirigiu-se para o acampamento do comerciante portugues Francisco Maria da Cunha, perto de Suana Mulopo do Cassange que era Angunza Muquinji.

Cassassa era quilolo (Txilolo) e súbdito de Muene Capanga, cujo Estado se situava na margem direita do Lulua, para norte do paralelo 8º de latitude sul, confinando com as terras dos UANDAS, súbditos do Muatianvua. Contudo, a sua dependencia ao Muatianvua traduzia-se apenas em enviar de tempos a tempos tribudos, ou, com mais rigor, presentes ao Muene Capanga. Tinha sido um ascedente deste, grande no Estado do Muatianvua, quem tinha mandado sair em exploração para oeste a gente que Cassassa agora governava.

Estas migrações de povos Lundas foram amiudadas no tempo do Muatiânvua Noéji até 1850,cuja exigências feitas aos potentados de maior categoria recaíam depois sobre os de menos graduação (embora nos anos idos entre 1606 á 1630 a grande migração deu-se no governo da Lueji com a saida do Tchinguri). E eram estes, depois,que se punham em movimento.

Estava ainda Henrique de Carvalho no acampamento do Comerciante Francisco Maria da Cunha quando ali passou, na sua viagem de regresso de Cassele , o velho Ambaquista António Francisco que, em 1894, fora alferes de uma companhia móvel no Caluia, da divisão de Malanje. A comitiva voltava ao Lombe, onde residia António Francisco, com azeite de palma, borracha, esteiras e mabelas.


OBSERVAÇÃO:

Percebe-se que a presença EUROPEIA no interior de África representava o sacrificio, pois a ela cabia civilizar as raças atrasadas e inaptas que só iriam se beneficiar com o dominio europeu pautado no expansionismo territórial...mas o major Henrique de Carvalho cedo apercebeu-se que com os LUNDAS a diplomacia era o único caminho, continuação...