quarta-feira, 4 de agosto de 2010
As populações das áreas diamantíferas em Angola, beneficiam pouco dessa riqueza
Em Angola, as populações das áreas diamantíferas, nomeadamente nas províncias nordestinas das Lundas Norte e Sul, beneficiam pouco dessa riqueza, constata um relatório publicado hoje em Luanda.
Elaborado pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz, ligada à Igreja Católica, o relatório pede ao governo uma maior transparência da indústria de diamantes e criação de mais postos de trabalho nas Lundas.
Estas estão entre as províncias angolanas com o mais elevado índice de desemprego e com as piores condições sociais.
Durante décadas, Angola tornou-se famosa pelos seus "diamantes de sangue", as pedras preciosas traficadas para financiar a sua guerra civil, que terminou há oito anos.
Hoje o estado angolano controlo de forma mais apertada a venda de diamantes.
O relatório agora publicado, pede aos governos locais e central que invistam mais nas Lundas e criem mais postos de trabalho.
Pede também uma maior transparência da indústria de diamantes e uma melhor protecção do meio ambiente, especialmente dos rios e das terras agrícolas.
Legado colonial
O Padre Belmiro Chissengueti, Secretário-Geral da Comissão Episcopal de Justiça e Paz, disse que a Igreja Católica promoverá o estudo com vista a melhorar as condições de vida das populações das Lundas.
"Para se evitarem os focos de tensão é essencial que as áreas de exploração diamantífera sintam e vivam o reflexo dos direitos da sua riqueza natural, abrindo novos horizontes para os jovens, fazendo com que não se iludam com o garimpo como única forma de sobrevivência, nem com o ópio para fugir à realidade do desemprego e da pobreza".
Lassalete Gonçalves, assessora do Governo Provincial de Lunda-Norte, que esteve presente na cerimónia de apresentação do relatório, disse à BBC que havia níveis muito elevados de pobreza na região, algo que atribuiu ao legado colonial.
"No tempo colonial a Lunda Norte era uma provícnia meramente para extracção diamantífera e a população era proíbida de fazer agricultura. Devido a esse facto a população não se habituou a cultivar a terra".
Mas Lassalete Gonçalves disse ainda que o governo provincial estava agora a trabalhar em grandes programas de investimentos em escolas, na alfabetização de adultos, na formação profissional e noutros serviços.
Ainda segundo ela, está a ser dada agora uma maior atenção à agricultura, de forma a diversificar a economia local, fortemente dependente da indústria de diamantes.
O propósito do relatório publicado esta sexta-feira, em Luanda, foi o de criar um diálogo sobre a situação nas províncias das Lundas Norte e Sul e pedir mais transparência da indústria diamantífera.
O documento deu à estampa numa altura em que o governo angolano se prepara para publicar uma nova lei sobre a exploração de minerais, que as pessoas esperam que exija das companhias mineiras uma maior responsabilidade social.
FONTE: BBC/ÁFRICA