MPLA PREPARA NOVO GOLPE
Ora
aí está a redescoberta da pólvora. O MPLA, partido que só está no poder desde
1975, acusou hoje “outras forças” de estarem na origem dos confrontos entre
elementos da seita religiosa “Kalupeteca” e agentes da autoridade, que
terminaram com a morte de oito polícias. Terá Jonas Savimbi ressuscitado?
Por
Orlando Castro
Sete
destes agentes morreram na quinta-feira à tarde, na província do Huambo,
abatidos a tiro por elementos da seita – ilegal no país e que advoga o fim do
mundo em 2015 -, quando tentavam capturar o líder da mesma e após confrontos na
província de Benguela que terminam na morte de outro agente da Polícia
Nacional.
“Os
dados até agora recolhidos permitem facilmente concluir que por detrás destes
factos estão outras forças, que pretendem criar condições para um retorno a
situações de perturbação generalizada, que não poderão ser toleradas”, lê-se
num comunicado do Bureau Político do Comité Central do MPLA.
Embora
– como é hábito nos que são fortes com os fracos e fraquinhos com os fortes –
sem concretizar a acusação, o partido dirigido por José Eduardo dos Santos
recorda que “estes actos bárbaros” foram concretizados “com armas de fogo” que
“ilegalmente” estavam na posse de pessoas que “pretendem alterar a ordem
pública em Angola”.
No
Huambo, a morte dos sete agentes da polícia – outros dois foram feridos gravemente
-, incluindo o comandante municipal da Caála, aconteceu em Serra Sumé, a 25
quilómetros da Caála, tendo estes sido surpreendidos por elementos da
denominada igreja “Sétimo Dia a Luz do Mundo”, conhecida por queimar livros,
travar a escolarização e vacinação dos fiéis, concentrando-os em acampamentos
sem condições e reunindo centenas de pessoas.
Entretanto,
o líder da seita, Julino Kalupeteca, de 52 anos, já terá sido detido pela
Polícia Nacional, no Huambo.
Para
“estancar esse tipo de acções criminosas”, o MPLA exortou hoje a Polícia
Nacional e “todos os órgãos de Defesa, Segurança e de Justiça” a tomarem
medidas “que conduzam à responsabilização dos desordeiros”, apelando ainda às
populações “a não segui-los, a manterem vigilância cerrada sobre eles e a
denunciá-los, quando estejam a preparar acções subversivas”.
Previsivelmente,
na óptica do regime, estes actos bárbaros são o prenúncio do regresso à guerra
civil pelo que o melhor será certamente decretar a ilegalização de todos os
partidos da oposição, regressar ao partido único, e prender os responsáveis das
tais “outras forças”, ao que tudo indica começando por Isaías Samakuva.
Além
do Huambo e do Bié, esta seita tem actividades conhecidas – ilegais por não
estar reconhecida – nas províncias do Cuanza Sul, Cuando Cubango e Benguela,
multiplicando-se nos últimos dias os confrontos com as autoridades e com a
população.
O
Ministério do Interior de Angola já exigiu que “os autores deste crime
hediondo” sejam “levados à barra dos tribunais” e “exemplarmente punidos”,
exortando a polícia para uma “resposta firme a todos quantos enveredem por este
tipo de conduta, bem como aos eventuais instigadores de ignóbeis acções desta
natureza”.
Razão
tinha, e pelos vistos continua a ter, Kundi Paihama (por sinal governador do
Huambo) quando explicou ao país que os antigos militares do MPLA, “se têm
armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Já quanto
aos outros…
Quanto
aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse na altura que a conversa era
outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este
assunto.
E
então? Se calhar é chegada a altura.
Importa
por isso perguntar: Então malta da UNITA? O que é que é isso? Têm para aí um
arsenal de metralhadoras debaixo da cama para quê? Não é para caçar, com
certeza. E julgavam vocês que o MPLA não descobria? Francamente.
Em
abono da sempre divina tese do MPLA que, neste como noutros casos, aponta
“outras forças”, reconheçamos que – por exemplo – Alcides Sakala tem na sua
secretária de trabalho 925 Kalashnikov, para além de 423 mísseis Stinguer.
E
Lukamba Gato? Da última vez que estivemos com ele trazia na mala aí uns 14
órgãos Staline (seriam katyushas?), para além de transportar no porta bagagens
do carro oito tanques Merkava de fabrico israelita.
“Eu
tenho muitos dados na qualidade de Ministro da Defesa (…) mas não posso revelar
publicamente”, indiciou Kundi Paihama, na altura o ministro da Defesa, que
disse ainda acreditar que há dirigentes da UNITA interessados num regresso à guerra.
Recordam-se?
Terão
regressados com o disfarce de serem membros da Kalupeteca?
O
MPLA admite que sim. Os seus serviços de informação até descobriram que Isaías
Samakuva nunca sai à rua sem levar no bolso três tanques ucranianos, modelo
T-84. Não são grande coisa, mas quem não tem cão caça com gato.
Com
esta insinuação e com a consequente caça às bruxas, das duas uma: Ou o MPLA
acredita nas próprias mentiras que patologicamente, ou preparam-se para pela
força justificar uma qualquer purga, até mesmo – como aconteceu a 27 de Maio de
1977 – dentro do próprio MPLA onde, apesar do medo, começam a aparecer algumas
importantes vozes a discordar do dono do país.
E
se os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram milhares de mortos,
foram o resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como
responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder, será que o actual
“querido líder” está, ou teme vir a estar, na mesma posição?
Será
que, como há 38 anos, Angola tem algum Nito Alves, ministro ou não, político ou
não, chefe militar ou não, disposto a protestar contra o rumo despótico do
MPLA?
E
se tem, voltaremos a ter, tal como em 12 de Julho de 1977, uma declaração
oficial do Bureau Político do MPLA a falar de uma “tentativa de golpe de
Estado”?