QUESTÃO: NAÇÃO LUNDA TCHOKWE E A IGNORANCIA QUE
MATOU MILHARES DE ANGOLANOS AO LONGO DOS 37 ANOS DE INDEPENDÊNCIA
Gentileza do
Sr J.A.
Borges Moura
Carta Publicado no dia 10 de Outubro de 2012
A
minha opinião é a propósito do que se escreve e se comenta sobre Angola, Angola
que é parte de mim, terra que me viu nascer há cinquenta e três primaveras para
cá, naquela maravilhosa cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, de seu nome
originário que não visito há 37 anos, que a coroa portuguesa teve como distrito
ou concelho ultramarino da integridade de Portugal.
A
minha opinião vem também a propósito de uma notícia veiculada por sítio da
internet www.club-k.com, um sítio respeitado de notícias e informações sobre
Angola, trata-se neste caso da notícia “Imprensa
e sítes angolanos ignoram a reivindicação da questão Lunda Tchokwe”, retendo-me a analisar alguns comentários de
alguns internautas sobre aquela informação no geral e nos acontecimentos que
tiveram lugar ao longo dos 37 anos, numa analogia comparativa da história
universal.
O
que me chamou atenção, é de facto, muitos internautas nos seus comentários
sobre aquela notícia estarem a fazer analogias erradas, considerarem a palavra
Autonomia como sinonimo de tribalismo, separatismo ou independência da Lunda
Tchokwe, estes internautas não conhecem as vantagens e desvantagens de
Autonomias e o que a história recente de Angola nos deixou como legado.
Entre
1950 à 1960, fundaram-se vários grupos em Angola para lutar contra a ocupação
colonial de Portugal, onde o destaque vai para a FNLA,
MPLA e a UNITA
mais tarde. A luta ou a guerra chamou-se de libertação, do lado dos movimentos
patrióticos angolanos, enquanto Portugal chamava-os de insurrectos, rebeldes ou
“turas”.
Para
acabar com estes movimentos, a saída e solução que Portugal encontrou, foi o de
colocar os dirigentes políticos nas cadeias, desterrados para Cabo Verde e em
algumas cadeias espalhadas no interior de angola. Seria essa a solução para
Portugal? Esta era a medida acertada?- Absolutamente Não!..
As
prisões fortificaram os movimentos e despertou não só a sociedade angolana,
como também a comunidade internacional a saberem os acontecendo no interior de
Angola, com ela o acordo negocial de Alvore e a independência no dia 11 de Novembro
de 1975.
A
brutalidade portuguesa não teve mais força do que a razão do povo. Mas, entre
1960 à 1975, não foram poucas as mortes inglórias, tanto de guerrilheiros como
de portugueses que defendiam uma causa inexistente, porque Angola não era Portugal,
mas sim uma colonia que não queria mais o colonizador.
O
grito da liberdade com razão de legitimidade tem mais força do que qualquer
brutalidade da tirania, do que qualquer força militarizada até aos dentes, assim,
se Portugal soubesse negociar e dialogar não haveria mortes. O fim das guerras
sempre foram diálogos e negociações.
As
Ilhas da Madeira e de Açores
são Autónomas de Portugal continental, estas
autonomias nunca significaram tribalismo ou separatismo, elas estão a cerca de
900 Km de distância, não existe nenhum perigo sobre a soberania de Portugal,
aliás, o nosso vizinho Espanha é exemplo de Autonomias nos seus territórios e
comunidades.
É
uma aberração tentar confundir esta palavra “Autonomia” com tanta asneira de adjectivos tão graves como
tribalismo, separatismo que se ajunta ao espectro de retorno a guerra em
Angola, sobretudo quando quem se confunde é um universitário, um licenciado, um
doutor da lei.
Existe
várias tribos em Angola, Bacongos, Quimbundos, Umbundos, Lunda Tchokwes,
Kuanhamas e outros de pequena dimensão, mas nenhuma delas depende de outro,
logo o bacongo não pode chamar o quimbundo de tribalista, ou vice-versa porque
são dois povos completamente diferentes. Agora que existe tribos em Angola que
sobrepõe as outras tribos é por demais conhecido.
Angola
é também um país multirracial, sobretudo anti-racial onde o preto é preto, o
branco é branco e o mulato é mulato, onde se respeita a cada um segundo a sua
crença e origem, mas todos a contribuir ao desenvolvimento, o princípio ético
de cada integrante ninguém deve mudar.
Foi esta ignorância que matou milhares de
Angolanos ao longo dos 37 anos da independência, ao considerarem questões
mesquinhas, a guerra civil entre os três movimentos durou o tempo que todos conhecem,
cada um trouxe um exército estrangeiro; Cubanos,
Russos, Zairenses, Israelitas, Sul-africanos, Chineses e outros para os angolanos se combaterem entre irmãos ao
invés de sentarem na mesma mesa para dialogar, negociando os pontos
discordantes.
Foram
estes países estrangeiros que agitavam os angolanos para não dialogar, foram
estes países que venderam o seu armamento aos três movimentos, trenaram as
tropas dos três movimentos, porque os Africanos não apreendem que só dialogando
resolvem processos que foram considerados difíceis e complexos.
Porque
tantos anos de guerra? Quem ganhou e quem perdeu?- o farto pesado ficou em
Angola, mergulhou milhões de dólares em divida de armamentos, mutilados, órfãos
e um atraso no desenvolvimento, para hoje fazerem aquilo que já deveria ter
sido feito faz anos, a reconciliação, o diálogo, a negociação e as eleições,
afinal ninguém desapareceu, pois ai estão o MPLA,
a UNITA e a FNLA.
Se
o MPLA fazer esta retrospectiva dos últimos 37 anos,
concluirá que é necessário dialogar com a FLEC
de Cabinda do Nzita Tiago e
dialogar com o Movimento do Manifesto do Protectorado
da Lunda Tchokwe, de Zecamutchima.
É conversando que se pode encontrar saídas, porque cada um deles colocou um
dossier e um projecto que vai defendendo.
Não
há porque temer das Autonomias ou independências, se não há dialogo como é que
se vai ultrapassar o diferendo?
O
processo da reivindicação da Lunda Tchokwe, é muito interessante, mas necessita
diálogo urgente antes que seja tarde, porque água mole tanto bate na pedra até furar.
O dossier é muito rico em informações com fontes dignas de confiança, que a
difere de qualquer outra reivindicação em Angola.
A
portaria N.º 15446, diz assim: “Sendo de lembrar, com orgulho e gratidão, a
epopeia que representou a expedição ao Muatiânvua, através das terras da Lunda,
entre os anos de 1884 e 1887, pelos trabalhos e padecimentos que acarretou aos
seus componentes, e em especial ao seu chefe, major Henrique de Carvalho;
Tendo
em atenção a antiga Saurimo, hoje Vila Henrique de Carvalho, é a capital da
Lunda, vasta região cortada por vários e grandes rios, correndo de sul para
norte, na sua maior parte atravessados naquela famosa viagem:
Manda
o Governo da Republica Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, nos termos do
artigo 4.º das ordenações aprovadas pela Portaria n.º 8098, de 6 de Maio de
1935” o direito de a Lunda usar escudo, bandeira e selo. Portaria assinada pelo Ministro de Ultramar, Manuel Maria Sarmento Rodrigues, no dia 1 de Julho de 1955 e publicado no Boletim
Oficial de Angola.
Aos
académicos angolanos, no lugar de proferirem ofensas graves, devem pesquisar,
irem ao fundo das reivindicações, estudarem cuidadosamente os processos que se
apresente, conhecerem a história do passado de Africa e da Conferência de Berlim 1884-1885,
para depois emitirem qualquer comentário, assim ajudarão o governo e a
sociedade a compreenderem os anais da história ao invés de serem os primeiros desinformadores.
A
reivindicação da Autonomia da Lunda Tchokwe por parte do Movimento do Manifesto
do Protectorado, não é um mero capricho ou uma aventura de um grupo de pessoas,
deve considerar que estas pessoas são Lundas de origem, conhece a sua história,
a vivem diariamente, por isso é que deve existir um debate sério a volta deste
assunto e não a banalização.
J.A.
Borges Moura em Portugal
OBS:
voltamos a publicar esta carta, por que o conteúdo é actual e de capital
importância para a análise que se impõe sobre a questão da reivindicação dos
tratados de Protectorado pelo Movimento Lunda Tchokwe.