segunda-feira, 27 de maio de 2013

QUESTÃO: NAÇÃO LUNDA TCHOKWE E A IGNORANCIA QUE MATOU MILHARES DE ANGOLANOS AO LONGO DOS 37 ANOS DE INDEPENDÊNCIA

QUESTÃO: NAÇÃO LUNDA TCHOKWE E A IGNORANCIA QUE MATOU MILHARES DE ANGOLANOS AO LONGO DOS 37 ANOS DE INDEPENDÊNCIA





Gentileza do Sr  J.A. Borges Moura
Carta Publicado no dia 10 de Outubro de 2012
Retomado no www.Club-k.net



A minha opinião é a propósito do que se escreve e se comenta sobre Angola, Angola que é parte de mim, terra que me viu nascer há cinquenta e três primaveras para cá, naquela maravilhosa cidade de Nova Lisboa, hoje Huambo, de seu nome originário que não visito há 37 anos, que a coroa portuguesa teve como distrito ou concelho ultramarino da integridade de Portugal.



A minha opinião vem também a propósito de uma notícia veiculada por sítio da internet www.club-k.com, um sítio respeitado de notícias e informações sobre Angola, trata-se neste caso da notícia “Imprensa e sítes angolanos ignoram a reivindicação da questão Lunda Tchokwe”, retendo-me a analisar alguns comentários de alguns internautas sobre aquela informação no geral e nos acontecimentos que tiveram lugar ao longo dos 37 anos, numa analogia comparativa da história universal.



O que me chamou atenção, é de facto, muitos internautas nos seus comentários sobre aquela notícia estarem a fazer analogias erradas, considerarem a palavra Autonomia como sinonimo de tribalismo, separatismo ou independência da Lunda Tchokwe, estes internautas não conhecem as vantagens e desvantagens de Autonomias e o que a história recente de Angola nos deixou como legado.



Entre 1950 à 1960, fundaram-se vários grupos em Angola para lutar contra a ocupação colonial de Portugal, onde o destaque vai para a FNLA, MPLA e a UNITA mais tarde. A luta ou a guerra chamou-se de libertação, do lado dos movimentos patrióticos angolanos, enquanto Portugal chamava-os de insurrectos, rebeldes ou “turas”.



Para acabar com estes movimentos, a saída e solução que Portugal encontrou, foi o de colocar os dirigentes políticos nas cadeias, desterrados para Cabo Verde e em algumas cadeias espalhadas no interior de angola. Seria essa a solução para Portugal? Esta era a medida acertada?- Absolutamente Não!..



As prisões fortificaram os movimentos e despertou não só a sociedade angolana, como também a comunidade internacional a saberem os acontecendo no interior de Angola, com ela o acordo negocial de Alvore e a independência no dia 11 de Novembro de 1975.



A brutalidade portuguesa não teve mais força do que a razão do povo. Mas, entre 1960 à 1975, não foram poucas as mortes inglórias, tanto de guerrilheiros como de portugueses que defendiam uma causa inexistente, porque Angola não era Portugal, mas sim uma colonia que não queria mais o colonizador.



O grito da liberdade com razão de legitimidade tem mais força do que qualquer brutalidade da tirania, do que qualquer força militarizada até aos dentes, assim, se Portugal soubesse negociar e dialogar não haveria mortes. O fim das guerras sempre foram diálogos e negociações.



As Ilhas da Madeira e de Açores são Autónomas de Portugal continental, estas autonomias nunca significaram tribalismo ou separatismo, elas estão a cerca de 900 Km de distância, não existe nenhum perigo sobre a soberania de Portugal, aliás, o nosso vizinho Espanha é exemplo de Autonomias nos seus territórios e comunidades.



É uma aberração tentar confundir esta palavra “Autonomia” com tanta asneira de adjectivos tão graves como tribalismo, separatismo que se ajunta ao espectro de retorno a guerra em Angola, sobretudo quando quem se confunde é um universitário, um licenciado, um doutor da lei.



Existe várias tribos em Angola, Bacongos, Quimbundos, Umbundos, Lunda Tchokwes, Kuanhamas e outros de pequena dimensão, mas nenhuma delas depende de outro, logo o bacongo não pode chamar o quimbundo de tribalista, ou vice-versa porque são dois povos completamente diferentes. Agora que existe tribos em Angola que sobrepõe as outras tribos é por demais conhecido.



Angola é também um país multirracial, sobretudo anti-racial onde o preto é preto, o branco é branco e o mulato é mulato, onde se respeita a cada um segundo a sua crença e origem, mas todos a contribuir ao desenvolvimento, o princípio ético de cada integrante ninguém deve mudar.



 Foi esta ignorância que matou milhares de Angolanos ao longo dos 37 anos da independência, ao considerarem questões mesquinhas, a guerra civil entre os três movimentos durou o tempo que todos conhecem, cada um trouxe um exército estrangeiro; Cubanos, Russos, Zairenses, Israelitas, Sul-africanos, Chineses e outros para os angolanos se combaterem entre irmãos ao invés de sentarem na mesma mesa para dialogar, negociando os pontos discordantes.



Foram estes países estrangeiros que agitavam os angolanos para não dialogar, foram estes países que venderam o seu armamento aos três movimentos, trenaram as tropas dos três movimentos, porque os Africanos não apreendem que só dialogando resolvem processos que foram considerados difíceis e complexos.



Porque tantos anos de guerra? Quem ganhou e quem perdeu?- o farto pesado ficou em Angola, mergulhou milhões de dólares em divida de armamentos, mutilados, órfãos e um atraso no desenvolvimento, para hoje fazerem aquilo que já deveria ter sido feito faz anos, a reconciliação, o diálogo, a negociação e as eleições, afinal ninguém desapareceu, pois ai estão o MPLA, a UNITA e a FNLA.



Se o MPLA fazer esta retrospectiva dos últimos 37 anos, concluirá que é necessário dialogar com a FLEC de Cabinda do Nzita Tiago e dialogar com o Movimento do Manifesto do Protectorado da Lunda Tchokwe, de Zecamutchima. É conversando que se pode encontrar saídas, porque cada um deles colocou um dossier e um projecto que vai defendendo. 


Não há porque temer das Autonomias ou independências, se não há dialogo como é que se vai ultrapassar o diferendo?



O processo da reivindicação da Lunda Tchokwe, é muito interessante, mas necessita diálogo urgente antes que seja tarde, porque água mole tanto bate na pedra até furar. O dossier é muito rico em informações com fontes dignas de confiança, que a difere de qualquer outra reivindicação em Angola.



A portaria N.º 15446, diz assim: “Sendo de lembrar, com orgulho e gratidão, a epopeia que representou a expedição ao Muatiânvua, através das terras da Lunda, entre os anos de 1884 e 1887, pelos trabalhos e padecimentos que acarretou aos seus componentes, e em especial ao seu chefe, major Henrique de Carvalho;


Tendo em atenção a antiga Saurimo, hoje Vila Henrique de Carvalho, é a capital da Lunda, vasta região cortada por vários e grandes rios, correndo de sul para norte, na sua maior parte atravessados naquela famosa viagem:


Manda o Governo da Republica Portuguesa, pelo Ministro do Ultramar, nos termos do artigo 4.º das ordenações aprovadas pela Portaria n.º 8098, de 6 de Maio de 1935” o direito de a Lunda usar escudo, bandeira e selo.  Portaria assinada pelo Ministro de Ultramar, Manuel Maria Sarmento Rodrigues, no dia 1 de Julho de 1955 e publicado no Boletim Oficial de Angola.


Aos académicos angolanos, no lugar de proferirem ofensas graves, devem pesquisar, irem ao fundo das reivindicações, estudarem cuidadosamente os processos que se apresente, conhecerem a história do passado de Africa e da Conferência de Berlim 1884-1885, para depois emitirem qualquer comentário, assim ajudarão o governo e a sociedade a compreenderem os anais da história ao invés de serem os primeiros desinformadores.



A reivindicação da Autonomia da Lunda Tchokwe por parte do Movimento do Manifesto do Protectorado, não é um mero capricho ou uma aventura de um grupo de pessoas, deve considerar que estas pessoas são Lundas de origem, conhece a sua história, a vivem diariamente, por isso é que deve existir um debate sério a volta deste assunto e não a banalização.



J.A. Borges Moura em Portugal



OBS: voltamos a publicar esta carta, por que o conteúdo é actual e de capital importância para a análise que se impõe sobre a questão da reivindicação dos tratados de Protectorado pelo Movimento Lunda Tchokwe.