MARÇO
2013 - JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS DISSE QUE “REGRA DA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS DEVE
SER O DIÁLOGO E O DEBATE FRANCO E ABERTO, COMO FORMA DE ALCANÇAR O CONSENSO”
A paz é um dos bens mais preciosos
para o continente africano e também aquele que o povo angolano mais preza e
procura proteger e conservar a todo custo, declarou nesta terça-feira 27 o
Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
O estadista discursava na abertura
do fórum panafricano “fundamentos e recursos para uma cultura de paz”, a
decorrer até ao dia 28, em Luanda, numa organização conjunta da UNESCO, União
Africana e o Governo angolano.
Segundo o Presidente da República,
“sabemos
por experiência própria quão dolorosos são os efeitos da guerra e quais os
valores que a paz propicia e encerra”, salientando que o país vive uma
paz efectiva há 11 anos.
Disse que durante mais de quatro
décadas os angolanos conheceram de forma quase ininterrupta as agruras e
malefícios da guerra, que geraram no país mortes, miséria, fome, luto, dor,
destruição, inimizades, entre outros horrores que ninguém quer voltar a
experimentar.
Lembrou que só nos últimos 30 anos
foram registados um milhão de mortos, 200 mil mutilados e estropiados, mais de
50 mil crianças órfãs, cerca de 4,5 milhões de deslocados e mais de 600 mil
refugiados.
Adianta que o país teve mais de
dois milhões de minas e outros engenhos explosivos implantados, 20 mil milhões
de dólares de prejuízos materiais em infra-estruturas, como estradas, pontes,
aeroportos, barragens, linhas de transportes de energia eléctrica e de
caminhos-de-ferro, entre outros.
Juntou a estes números 10 mil
milhões de dólares em prejuízos em equipamentos sociais, tais como hospitais,
centros médicos, escolas, institutos, pavilhões desportivos, locais de cultos
religiosos.
José Eduardo dos Santos afirmou
que a conclusão que se pode tirar é que a “guerra é uma verdadeira calamidade, cuja
apologia constitui uma autêntica desumanidade”.
Disse ser convicção que no
contexto do mundo actual, em que os Estados democráticos e de direitos se
afirmam cada vez mais e se envidam cada vez mais esforços no sentido do
respeito dos direitos, liberdade e garantias dos cidadãos, a “regra da resolução de
conflitos deve ser o diálogo e o debate franco e aberto, como forma de alcançar
o consenso”.
Para o estadista, as questões de natureza interna,
e mesmo as que possam ocorrer a nível internacional, não devem ser dirimidas
por via da confrontação violenta, mas sim através da concertação e negociação
permanentes, até se chegar a um acordo que dê resposta às aspirações das partes
envolvidas, mas que ao mesmo tempo se conforme com os superiores interesses
nacionais, tal como a soberania, a unidade e a integridade da nação e o
respeito pela dignidade humana.
Citou as Repúblicas Democrática do
Congo, Centro Africana, Mali, a Nigéria, Somália, Líbia, no Sudão do Sul como
alguns dos exemplos onde a vida de milhões de civis inocentes, homens, mulheres
e crianças é posta em perigo por conflitos armados.
“O continente africano tem tanta
necessidade de paz como de pão para alimentar os seus filhos. Não podemos
satisfazer a necessidade de todos se a guerra prevalecer”, afirmou.
Adiantou que “sem a paz o desenvolvimento
é impossível” e que a “paz consolida-se com o desenvolvimento e a partilha
equilibrada dos seus benefícios”.
Fruto da experiência acumulada, o
estadista angolano considera que “devemos cuidar da satisfação material, moral
e espiritual das pessoas, das famílias e do povo em geral, para que a paz
assente em alicerces firmes e se possa perpetuar”.
Declarou que o pano de fundo da
sincronização entre o desenvolvimento e a paz deve ser a democracia, como o
único caminho que permite aos povos serem senhores dos seus destinos, escolher
periodicamente os seus governantes num clima de respeito pelas ideias alheias e
a vontade popular.
Sublinhou que o reforço e
consolidação da paz não são só fruto do desenvolvimento, resultam também da
reconciliação, do perdão recíproco, da confiança e da aceitação mútua, que
conduzem a desejada pacificação dos espíritos.
O Presidente disse que a afirmação
na prática destas ideias nos levam a concluir que o caminho da paz passa por um
forte e permanente empenho cultural, que deve ser protagonizado por todos
quantos partilham o objectivo de fazer perdurar a paz ao longo dos tempos.
Pensa ser um “processo complexo”
que exige a participação de toda a sociedade civil, em especial das
instituições religiosas (como paladinos do perdão e agentes da fraternidade), e
também das mulheres (na qualidade de mãe, companheira e irmã), cuja voz é sempre
escutada e respeitada nas sociedades africanas.
Fruto da amarga experiência vivida
pelo povo angolano, o Presidente apela que se cuide das novas gerações, como
garantes do futuro, por forma a serem formadas numa autêntica cultura de paz e
tolerância que, com tempo, se converterá em parte integrante do património
moral da sociedade.
In…