Luanda - Os independentistas de Cabinda insistem
que desejam negociar o futuro do território com o governo angolano saído das
últimas eleições gerais, realizadas a 31 de agosto. Assinado pelo Presidente da Frente de Libertação
do Estado de Cabinda (FLEC), Nzita Henriques Tiago, o comunicado, que chegou à redação da Dw África,
salienta que a organização, que mantém há 38 anos uma luta de libertação do
enclave, não vê do lado angolano uma vontade de engajar um diálogo sério para
uma solução definitiva.
Fonte:
DW
Em
entrevista à DW África, Nzita Tiago (NT), apelou ao governo e parlamento
angolanos para colocarem termo ao que considera ser a "ocupação ilegal e integração de Cabinda em
Angola pela força militar e pela violência",
e acrescenta.
Queremos
que o governo angolano, em particular o Presidente, José Eduardo dos Santos,
abra as negociações com os dirigentes da FLEC-FAC, ou então com todos os
políticos do território de Cabinda. Porque o povo de Cabinda não pode continuar
a suportar os assassinatos e o desprezo que os angolanos praticam em Cabinda.
Os angolanos estão a praticar em Cabinda um terrorismo do Estado e ninguém lhes
diz nada. Repito... queremos sentar à mesa de negociações com os angolanos .
DW
África: Mas existe um “Plano de desenvolvimento de Angola (2012-2017)" que
inclui Cabinda. Isso quer dizer que o “dossier” Cabinda é preocupação do
governo angolano ?
NT: Vamos
distinguir as coisas: Cabinda não é Angola, Cabinda é um protetorado português,
e as pessoas que querem o desenvolvimento de Cabinda não podem defender esse
prática no âmbito de um eventual Plano de desenvolvimento de Angola. Esse
desenvolvimento, que Luanda quer levar a cabo, ou que promete fazer, compete
única e exclusivamente às autoridades de Cabinda. Isso é que queremos e vamos
combater para reconquistarmos a nossa soberania usurpada pelos angolanos.
DW
África: A direção política da FLEC lançou apelos à CPLP, à UA, à ONU e à UE,
para que estas organizações ajudem a encontrar uma solução para Cabinda. Que
respostas a FLEC recebeu até agora?
NT:
Até agora continuamos à espera de alguma resposta. Mas, como a UA reconheceu o
território de Cabinda numa das conferências realizadas no Cairo, para nós isso
significa que a questão de Cabinda como território continua a estar nas mãos da
UA. Mas a nossa pergunta é: porquê a organização panafricana não tem a coragem
para dizer aos angolanos “vocês usurparam a soberania cabindesa e, portanto,
não tem o direito de continuar a fazer o que estão a fazer. Também o governo
português, que entregou Cabinda aos angolanos, sabe perfeitamente bem o que se
passa hoje no território. Mas, apesar dos nossos apelos, a UA e outros
continuam impávidos e serenos. Que não nos venham dizer amanhã: os cabinda são
terroristas. Porquê não enviam observadores para o terreno, para verem o que se
passa ali? E qual é o dever desses países e organizações, que se dizem amantes
da paz? Não é ver e aconselhar a comunidade internacional, para ajudar a acabar
com os conflitos?
DW
África: Como carateriza a situação em Cabinda?
NT:
Muito má, porque Cabinda está ocupada por militares angolanos que cometem
muitas atrocidades. As mulheres não podem ir buscar água aos fontanários, nem
podem ir para o campo cultivar, sem que tenham militares às costas para controlar
os contactos. Este é um dos muitos exemplos que poderia dar, passando pelos
assassinatos de cabindas que regularmente são cometidos no Congo-Brazaville.
Por isso dizemos: os angolanos devem pensar muito bem, porque o problema de
Cabinda pode desestabilizar os dois territórios do Congo (República Democrática
do Congo e República do Congo), se os congoleses não tomarem cuidado.
Cabinda
é um enclave responsável por cerca de 70 por cento da produção pretolífera
angolana. A FLEC luta pela independência do território, que considera um
protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco,
em 1885.