ESPANHA - ELEIÇÕES NA CATALUNHA: A obsessão pela
independência
A
questão da autodeterminação da região é o objetivo principal das eleições de 25
de novembro e impôs-se como tema único da campanha. A ponto de apagar outras
preocupações dos catalães, como o desemprego, a educação e a saúde.
FONTE: presseurop
A
vantagem desta campanha eleitoral é termos a sorte de haver apenas um assunto
que preocupa, interessa ou perturba os catalães. O assunto é único. Falamos
dele no café, em casa, no escritório e na rua. Sintonizar uma estação de rádio
e não haver ninguém a falar do assunto provoca-nos grande sobressalto. Viverei
no meu país?
O
assunto penetra tudo, abarca tudo, envolve tudo. Está nos debates de televisão
de forma persuasiva e constante. O assunto move-se em todos os ambientes e em
todas as direções. Recebi jornalistas norte-americanos, britânicos, alemães,
italianos e suecos pedindo-me que lhes fale do assunto.
Parece
que o assunto de que se tratará no domingo, nas urnas, está na agenda da Casa
Branca, do Kremlin e do Palácio do Povo de Pequim. Paris, Londres e Berlim
vivem pendentes do assunto. Lembrei-me daquela tirada de James Joyce para um
compatriota irlandês: “já que não podemos mudar de país, podemos mudar de
assunto?” Não. O assunto é o assunto.
O desemprego é a
principal preocupação
O
assunto é que no próximo domingo poderemos votar em diferentes opções que
anunciam um referendo sobre o direito a decidir, um eufemismo para falar de uma
independência que uns querem para já, outros prometem-na para esta legislatura
e um terceiro grupo contempla-a ao longe. Nem toda a frente “soberanista”
partilha táticas, estratégias e calendários. Mas no domingo à noite unir-se-ão
por um só objetivo e um só assunto.
A
questão também é vista de maneira diferente pela frente que não concorda com o
assunto. Os populares [Partido
Popular] rufam os tambores
políticos e mediáticos com ar apocalíptico. O Ciutadans [centro-esquerda antinacionalista] fala menos do assunto e toca em temas mais
incómodos para o poder. Os socialistas querem ocupar o caminho do centro mas
tem havido tantas fugas das suas fileiras que muito dificilmente evitará o
precipício.
No
assunto não entram os imigrantes. O assunto não é chamado para os mercados,
como era habitual. Poucos políticos na peixaria e na frutaria. Medo que lhes
digam que, para além do assunto, há outras preocupações. O desemprego é a
principal. Os cuidados com os mais frágeis, a educação, a saúde, a
segurança, a corrupção e o humanismo desapareceram dos discursos. Tudo isso se
resolverá quando o assunto deixar de ser um sonho. Viveremos numa terra que
manará leite e mel. O assunto far-nos-á felizes.