quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dossier Lunda XVII - «AUTO DE DECLARAÇÃO PRESTADAS POR MONA-N’GUELLO,

«AUTO DE DECLARAÇÃO PRESTADAS POR MONA-N’GUELLO,
GRANDE E HERDEIRO DO ESTADO DE CAPENDA CAMULEMBA,
CABANGUE SOBRINHO DO SOBA QUITUPO-CAHANDO E ZENGA
SOBRINHO DO SOBA QUIZAZE»

SGL – Anexo ao Res. 1-B-75

Ao primeiro dia do mês de Junho do anno do Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Christo de mil oitocentos noventa e um na Estação Costa e Silva, sede
da Delegação do governo Portuguez, na margem direita do rio Cuango,
aonde se achava o delegado do governo Frederico Cesar Trigo Teixeira,
capitão do exercito da Africa Occidental, comigo António Augusto d’Araujo
Palha de Carvalho ajudante da expedição, achando-se tambem presente o
tenente Simão Candido Sarmento, delegado do governo Portuguez na região
da LUNDA que a este veio em serviço publico e bem assim sua Exma Esposa
D. Maria Felizarda de Amorim Sarmento, interprete Domingos Manoel da
Silva, Manoel João Soares Braga, João Cunha Soares e Joaquim José Martins
de Sant’Anna, 2.º cabo numero cincoenta e oito e quinhentos e oito da
primeira companhia, Abel numero sessenta e duzentos e noventa da segunda
companhia e Couro soldado numero cento e sete e seiscentos e quatorze da
terceira companhia todos do batalhão de Caçadores numero tres, destacados
n’esta delegação;

Compareceram Mona N’guello, grande e herdeiro do Estado de Capenda
Camulemba, Cabangue sobrinho do soba Quitupo-Cahando e Zenga
sobrinho do soba Quizaze, que declararam o seguinte;

Que em um dos dias do mês de Abril que não podem precisar passara em
suas terras uma força de pretos ao serviço dos Estados Livres do Congo que
se dirigiam para o Capenda Camulemba levando em sua companhia um
preto que haviam comprado para os lados do Mussuco, o qual lhes consta
fora morto no rio Lué, e comido pela mesma força, tendo-se encontrado
uma mão da victima na banza do capenda.

Que desde principio desconfiaram d’esta gente por costumarem metter
agulhas no nariz para tirarem sangue que juntavam á comida, e tendo vivido
sempre com os portuguezes de quem são subditos, nunca lhe viram praticar
taes cousas.

Que achando-se aqui o delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal, único
senhor de suas terras,vinham protestar contra tal crime, o primeiro d’este
genero praticado em suas terras, e pedir para que fossem obrigados a retirar
da banza do Capenda Camulemba e N’Guri A’cama, os Belgas que alli se
acharem para evitarem digo evitar que se comettam outros crimes revoltantes
como o que há pouco praticaram.

Que se não fora achar-se em suas terras o delegado de Sua Magestade
Fidellissima El-Rei de Portugal, elles teriam feito justiça por suas mãos
matando todos os belgas que se acham em Capenda Camulemba e N’guri
A’cama.

Pelo que se lavrou este auto que depois de lido por mim António Augusto
de Araujo Palha de Carvalho e explicado pelo interprete na língua do paiz,
vae assignado por todos e de cruz pelos que não sabem ler nem escrever e
por mim António de Araujo Palha de Carvalho, escrivão nomeado para este
auto.

(Ass.) Frederico Cesar Trigo Teixeira, cap. Do Deleg.º do Gov.º; Simão
Candido Sarmento, Delegado do Governo na Lunda; Maria Felizarda
d’Amorim Sarmento; Domingos Manoel da Silva; Manoel João Soares Braga;
+ João da Cunha Soares; +Joaquim José Martins de Sant’Anna; +Abel;
Couro; +Mona-N’guello grande herdeiro do Estado de Capenda
Camulemba; + Calangue, sobrinho do soba Quitupo-Cahando; +Zenga,
sobrinho do soba Quizaze.

O escrivão António Augusto de Araujo Palha de Carvalho, ajudante da
expedição. Certifico serem dos proprios individuos as assignaturas feitas
n’este auto. Eratut supra. O escrivão, António Augusto de Araujo Palha de
Carvalho, Ajudante da expedição.