O Comandante
Geral da Polícia Nacional, comissário-geral Paulo Gaspar de Almeida, afirmou
hoje, domingo, em Luanda, que o vandalismo público que se regista actualmente
em Angola é um crime com pendor político. E o que sempre se registou sem o
rótulo de “actualmente”, também tinha esse pendor? Já em 2015 Paulo Gaspar de
Almeida dizia que as últimas manifestações convocadas pelos partidos da
Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado.
FONTE: FOLHA
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Ocomissário-geral
fez este pronunciamento quando discursava na abertura da Primeira Conferência
Nacional de Formação de Mulheres Polícias, que vai decorre até terça-feira, no
Instituto Superior de Ciências Criminais e Polícia (Osvaldo Serra Van-Dúnem),
sob o lema “Por uma liderança feminina na corporação capacitemos a mulher
polícia”.
Paradigmática é a
tese de Paulo Gaspar de Almeida, para quem os criminosos estão a sabotar para
inviabilizar o progresso e o desenvolvimento do país: “Estes autores querem
estancar o progresso do país contudo não vão conseguir”.
Paulo Gaspar de
Almeida manifestou preocupação com um certo tipo de crimes que ultimamente têm
vindo assolar o país, nomeadamente os passionais violentos, utilização de armas
de fogo, roubos violentos, violações e vandalismo de bens públicos. E, é certo,
não tenhamos dúvidas que os crimes passionais violentos também são uma forma de
os protagonistas, por razões políticas, “querem estancar o progresso do país”.
O Comandante da
Polícia acrescentou que esses crimes têm vindo a criar um certo sentimento de
insegurança no seio das populações, realçando que este tipo de situações vão
ter resposta dos órgãos competentes que garantem a ordem e a tranquilidade
pública, bem como da justiça.
“A partir do
próximo mês vamos desenvolver acções operacionais de grande dimensão, com a
participação das administrações locais, associações cívicas e cidadãos
patriotas e de boa-fé, com vista a resgatar a ética, o civismo e a autoridade
do Estado”, frisou.
Aplaudamos, irmãos.
Que Paulo Gaspar de Almeida esteja convosco. E vocês, em uníssono, respondam:
“Ele está no meio de nós”.
Paulo Gaspar de
Almeida referiu, por outro lado, que desde o princípio do mês e curso, a
Polícia tem vindo a realizar acções operacionais com fim de prevenir e conter
as tendências de crescimento de crimes em Angola, contando com a colaboração e
participação da mulher polícia, bem como de todas as forças de segurança e
defesa.
Nova interessante
afirmação. A Polícia conta com a participação da mulher polícia. Quem diria? É
obra, senhor Comandante Geral da Polícia Nacional (homens, mulheres e similares
incluídos).
O Comandante Geral
da Polícia Nacional apelou, com uma perspicácia notável, às entidades de
direito no sentido das leis em vigor no país serem elementos encorajadores da
manutenção e preservação da ordem e tranquilidade públicas. Tem razão. Isto
porque, a fazer fá nas suas palavras, nem todas as leis encorajam a manutenção
e preservação da ordem e tranquilidade. É isso, não é comissário-geral Paulo Gaspar
de Almeida?
No encontro vão ser
abordados temas como o trabalho da mulher polícia, junto das comunidades,
assédio sexual, intimidação feminina, violência doméstica, fuga a paternidade e
prestação de alimentos. Tudo temas relevantes para que as nossas polícias
combatam, presume-se que em colaboração com os polícias, o vandalismo público
que se regista actualmente no país e que é um crime com pendor político.
Sempre na linha da
frente
Recorde-se, por
exemplo, que já em 2015 o então Comissário Chefe da Polícia Nacional, Paulo
Gaspar de Almeida, dizia que as últimas manifestações convocadas pelos partidos
da Oposição tinham como objectivos a tomada do poder, um golpe de Estado,
portanto, motivo pelo qual as forças de segurança as impediram. Nessa altura foi
“capturado” um vasto arsenal bélico, com destaque para umas centenas de…
cartazes contra o regime.
A Polícia Nacional
afirmou na altura ter provas mais do que cabais que provam que esses meliantes
(para não dizer terroristas) pretendiam mesmo derrubar o regime. Ontem eram
uns, hoje são outros, amanhã seremos todos nós.
Emblemática foi a
entrevistado à Rádio Ecclésia sobre o balanço das actividades desenvolvidas
pela Policia Nacional durante o ano 2013, em que seu então Segundo Comandante
Geral sacou da pistola, perdão, da cartola, a mais bombástica revelação:
“Temos provas de
que as orientações eram de um grupo chegar ao Palácio do Governo Provincial,
outro grupo saía do Baleizão para chegar ao Palácio Presidencial. As provas
recolhidas sustentam a tese de que o objectivo da última manifestação era o
assalto ao poder”, garantiu na altura Paulo Gaspar de Almeida.
A revelação foi de
tal modo estrondosa que, mesmo tendo passado muitos dias sobre essa tentativa,
Europa e EUA, para além da Coreia do Norte, terão aconselhado o então
Presidente José Eduardo dos Santos a, imediatamente, fechar a Assembleia
Nacional, prender (antes que eles se exilem) os dirigentes golpistas, instaurar
um regime de excepção, com suspensão de todos os direitos civis, cancelamento
de qualquer calendário eleitoral e imposição do estado de sítio com a
necessária lei marcial.
Desconhece-se a
razão pela qual, perante as declarações do Segundo Comandante da Polícia
Nacional, Eduardo dos Santos não avançou com estas regras basilares de reacção
à tentativa de golpe de Estado. Há quem diga, sem fundamento, que muitas delas
já fazem parte do dia-a-dia do regime, sendo por isso desnecessárias. É
verdade.
Paulo de Almeida
disse que “a lei permite que os cidadãos ou associações cívicas se manifestem.
Os polícias não têm nada que impedir. Mas também a lei diz que essas
manifestações têm regras, não podem ser próximas de locais de soberania, não
podem ser manifestações que perturbem a ordem e a tranquilidade pública,
violentas, que criam instabilidade e ameaçam o pacato cidadão que não tem nada
a ver com a confusão”. E acrescentou, para que não restem dúvidas quanto à
tentativa de tomar o poder pela força, que “as manifestações não podem ser
agressivas, não podem ser desordeiras e nós só actuamos quando elas
desrespeitam essas situações”.
Então ficamos todos
a saber (e por alguma razão Paulo Gaspar de Almeida tem hoje a total confiança
de João Lourenço) que a presença de mais de dois cidadãos junto aos locais de
soberania é um indício de golpe, que se não forem vestidos com as cores do MPLA
e dando vivas ao Presidente, os manifestantes serão considerados agressivos,
que se andarem a colar cartazes entram na categoria, potenciais golpista,
desordeiros, inimigos e terroristas.
Paulo de Almeida
sublinhou também que a Polícia Nacional sabia quais são as intenções dos
manifestantes. E sabia com certeza. Se até consegue saber o que os cidadãos
pensam… E então no que pensavam esses golpistas? O Comandante respondeu: “O
público pode não saber isso, mas nós sabemos, então agimos em conformidade. Eu
sei que isso não vai agradar às pessoas mas a verdade é esta. Nós estamos aqui
para garantir a segurança de todos”.
De todos é como
quem diz. De todos os bons, os do MPLA, queria dizer Paulo Almeida. Os outros,
chamem-se Manuel de Carvalho Ganga, Cassule ou Kamulingue, não contam como
cidadãos e, sempre que possível, devem entrar a cadeia… alimentar dos jacarés.
Por alguma razão,
em Abril de 2012, a propósito de mais um, este sim, golpe de Estado na
Guiné-Bissau, o Jornal de Angola (órgão de leitura obrigatória, por
doutrinária, do Comandante Paulo Almeida) disse que foi resultado da acção de
militares que são “um bando de aventureiros”.
É claro que quando
o então chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, o
tenente-general António Indjai, visitou Luanda (Setembro de 2010) para
solicitar o apoio do Governo do MPLA para a reforma do sector da defesa e da
segurança, o órgão oficial do regime do Comandante-Geral da Policia Nacional
ainda não considerava os militares “um bando de aventureiros”.
“Quando se pensava
que a normalização da situação política na Guiné-Bissau era um facto com o
processo eleitoral abruptamente interrompido, a comunidade internacional e, em
particular o mundo que fala português, ficou chocado com a notícia de mais um
golpe de Estado. Não podemos falar de surpresa, porque o papel dos militares
tem-se caracterizado pela usurpação das atribuições dos políticos”, leu-se num
editorial do Pravda.
É que, atrasados no
tempo e sem tempo para aprender com os amigos do MPLA, os guineenses ainda
teimavam em fazer golpes de Estado à moda antiga. Poderiam tentar, como foi
revelado por Paulo Almeida, brincar aos golpes, colar cartazes, manifestarem-se
junto aos órgão se soberania ou reunirem para falar dessa epidemia que dá pelo
nome de democracia.
Ao que parece,
apesar de António Indjai ter tido encontros com altas patentes das Forças
Armadas Angolanas e com responsáveis do Ministério da Defesa, ninguém reparou
que ele era um dos elementos desse “bando de aventureiros”, faltando saber se o
então Segundo Comandante da Polícia Nacional do MPLA não tinha informações de
haver uma estreita colaboração entre os nossos manifestantes e o bando de
aventureiros guineenses.
Designando,
repita-se, os militares golpistas como “bando de aventureiros”, o editorial do
Boletim Oficial do regime reconhecia que a saída para mais esta crise “tinha
que ser negociada e com muita diplomacia”, mas logo a seguir concluía sobre a
impossibilidade de um acordo.
“Mas negociar com
golpistas que não sabem o que querem, é muito difícil, para não dizer
impossível”, acentuava o pasquim, mostrando a sua mestria em reproduzir a ordem
de serviço enviada pelo MPLA.
Não deixa, contudo,
de ser interessante ver que, segundo o órgão oficial do regime, tudo começou
com o “assassinato de Amílcar Cabral, em conluio com a PIDE e as tropas
coloniais, e nunca mais acabou”.
“Quando depuseram
Luís Cabral ainda lhe pouparam a vida. Mas desde então, alimentam-se do sangue
das suas vítimas. Vai longa a lista de políticos e militares assassinados por
sucessivas hordas de golpistas na Guiné-Bissau”, destacava o editorial do
jornal mais lido pela Polícia Nacional.
Recorde-se,
contudo, que António Indjai não se esqueceu de, em Luanda, dizer que a sua
visita se realizava “no quadro das históricas relações de amizade existentes
entre a Guiné-Bissau e Angola forjadas entre os presidentes Agostinho Neto e
Amílcar Cabral”.
Na altura, de
acordo com a Angop, “a República de Angola e a Guiné-Bissau desenvolvem
“excelentes” relações de cooperação, quer no quadro bilateral, como no âmbito
da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e do grupo de Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), sobretudo nas áreas da
política, diplomacia, defesa e segurança, educação, saúde e transportes”.
Por mera
curiosidade relembre-se que a 14 de Novembro de 1980, num golpe de Estado
denominado localmente por “Movimento Reajustador”, Luís Cabral (irmão de
Amílcar Cabral e que morreu em Lisboa a 30 de Maio de 2009) seria destituído do
cargo num golpe de Estado protagonizado e liderado pelo seu então
primeiro-ministro, João Bernardo “Nino” Vieira.
Por alguma razão
por cá só há uma pessoa a acumular os cargos de Presidente da República,
Titular do Poder Executivo e Presidente do MPLA…