A lenta agonia dos jornais
privados angolanos
Os jornais privados angolanos
enfrentam dificuldades financeiras para se manterem no mercado. Com a crise
económica, os custos de produção subiram. Os responsáveis dos jornais
queixam-se da falta de apoios do Estado.
A atual situação financeira que o
país vive esteve na base do encerramento de vários jornais tradicionais como o
"Agora", o "Angolense", "A Capital", entre
outros. O mais recente caso de semanários falidos é o caso da “Visão”, que não
teve capacidade de sobreviver na atual conjuntura.
Outros jornais como o
“Manchete", o "Liberdade" e o "Folha 8” (este último
pioneiro na imprensa privada em Angola) imprimem exemplares "em
miniatura", ou seja, em dimensão reduzida e, na maioria das vezes, sem a
qualidade exigida.
Custos de impressão elevados
Em Angola os custos para a
impressão de um jornal são considerados muito elevados. Numa gráfica angolana,
a edição de três mil jornais pode facilmente custar cerca de um milhão de
kwanzas (o equivalente a cerca de cinco mil euros).
A Lei de Imprensa em vigor prevê
a atribuição de subvenções a órgãos privados por parte do Estado, mas apenas
alguns meios de comunicação social beneficiam, de facto, desses mesmos apoios.
Albino Sampaio, chefe de redação do semanário “Liberdade”, lamenta o facto de o governo não prestar apoio a todos os órgãos independentes como, manda a legislação.
“Infelizmente, daquilo que
sabemos, o Estado só entregou dinheiro a Ecclésia", afrma o jornalista.
"Temos dificuldades em mantermo-nos no mercado, principalmente neste
período, em que as gráficas aumentam os seus preços consideravelmente. Temos,
pois, encontrado imensas dificuldades. Temos de multiplicar os esforços com vista
a nos mantermos no mercado”.
Dificuldades de acesso a papel
O acesso ao papel para a impressão de jornais está difícil nas gráficas de Luanda. A situação levou à diminuição das tiragens da maior parte dos jornais privados angolanos. Outro problema: a falta de publicidade institucional.
Francisco Kabila, diretor geral
do semanário “Manchete”, disse à DW Africa que a perda de poder de compra dos
leitores também se associa a este problema.
“Nós já não vendemos ou não
colocamos a disposição dos leitores o número de exemplares que colocávamos, por
exemplo, há um ano ou há nove meses. Os leitores também perderam o poder de
compra. No entanto isto obrigou a que o Manchete fizesse uma engenharia, no
sentido de se reduzir a sua tiragem, mas continua a fazer chegar a informação
aos seus leitores semanalmente”.
Nova lei agrava situação
O exercício da atividade
jornalística está em crise em Angola, e a situação provavelmente agravar-se-á
com a entrada em vigor do pacote legislativo que poderá vir a ser aprovado já
esta sexta-feira, 12 de agosto de 2016, na Assembleia Nacional.
Os diplomas legais têm sido
contestados pela classe jornalística que acusa o poder político de pretender
restringir a liberdade de imprensa no país.
A futura legislação prevê, entre
outras situações, a obrigatoriedade de as rádios e estações televisivas
publicarem em direto as mensagens do Presidente da República.
Falando num colóquio sobre
imprensa realizado, na última quinta-feira (10.08), pelo MISA-Angola (Instituto
de Comunicação Social da África Austral, órgão independente de acompanhamento
dos media, criado no âmbito de um projeto apresentado pela UNESCO), o
jornalista Ismael Mateus disse que a nova lei pode constituir uma “intromissão
abusiva na autonomia editorial dos órgãos”.
“Aparentemente isto é tranquilo. Só que não é tão tranquila assim. É,
sim, uma intromissão abusiva na autonomia editorial. Quem decide o que
transmite e o que não transmite é o editor e não devemos abrir mão disso.
Ninguém nos pode obrigar, por lei, e impor o que devemos transmitir”, conclui o
jornalista sénior angolano, Ismael Mateus.