JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS DISSE QUE “REGRA DA
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS DEVE SER O DIÁLOGO E O DEBATE FRANCO E ABERTO, COMO
FORMA DE ALCANÇAR O CONSENSO”
A paz é um dos bens
mais preciosos para o continente africano e também aquele que o povo angolano
mais preza e procura proteger e conservar a todo custo, declarou nesta
terça-feira o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
O estadista
discursava na abertura do fórum panafricano “fundamentos e recursos para uma
cultura de paz”, a decorrer até ao dia 28, em Luanda, numa organização conjunta
da UNESCO, União Africana e o Governo angolano.
Segundo o Presidente
da República, “sabemos por experiência própria quão dolorosos são os efeitos da
guerra e quais os valores que a paz propicia e encerra”, salientando que o país
vive uma paz efectiva há 11 anos.
Disse que durante
mais de quatro décadas os angolanos conheceram de forma quase ininterrupta as
agruras e malefícios da guerra, que geraram no país mortes, miséria, fome,
luto, dor, destruição, inimizades, entre outros horrores que ninguém quer voltar
a experimentar.
Lembrou que só nos
últimos 30 anos foram registados um milhão de mortos, 200 mil mutilados e
estropiados, mais de 50 mil crianças órfãs, cerca de 4,5 milhões de deslocados
e mais de 600 mil refugiados.
Adianta que o país
teve mais de dois milhões de minas e outros engenhos explosivos implantados, 20
mil milhões de dólares de prejuízos materiais em infra-estruturas, como
estradas, pontes, aeroportos, barragens, linhas de transportes de energia
eléctrica e de caminhos-de-ferro, entre outros.
Juntou a estes
números 10 mil milhões de dólares em prejuízos em equipamentos sociais, tais
como hospitais, centros médicos, escolas, institutos, pavilhões desportivos,
locais de cultos religiosos.
José Eduardo dos
Santos afirmou que a conclusão que se pode tirar é que a “guerra é uma
verdadeira calamidade, cuja apologia constitui uma autêntica desumanidade”.
Disse ser convicção
que no contexto do mundo actual, em que os Estados democráticos e de direitos
se afirmam cada vez mais e se envidam cada vez mais esforços no sentido do
respeito dos direitos, liberdade e garantias dos cidadãos, a “regra da resolução de
conflitos deve ser o diálogo e o debate franco e aberto, como forma de alcançar
o consenso”.
Para o estadista, as
questões de natureza interna, e mesmo as que possam ocorrer a nível
internacional, não devem ser dirimidas por via da confrontação violenta, mas
sim através da concertação e negociação permanentes, até se chegar a um acordo
que dê resposta às aspirações das partes envolvidas, mas que ao mesmo tempo se
conforme com os superiores interesses nacionais, tal como a soberania, a
unidade e a integridade da nação e o respeito pela dignidade humana.
Citou as Repúblicas
Democrática do Congo, Centro Africana, Mali, a Nigéria, Somália, Líbia, no Sudão
do Sul como alguns dos exemplos onde a vida de milhões de civis inocentes,
homens, mulheres e crianças é posta em perigo por conflitos armados.
“O continente
africano tem tanta necessidade de paz como de pão para alimentar os seus
filhos. Não podemos satisfazer a necessidade de todos se a guerra prevalecer”,
afirmou.
Adiantou que “sem a
paz o desenvolvimento é impossível” e que a “paz consolida-se com o
desenvolvimento e a partilha equilibrada dos seus benefícios”.
Fruto da experiência
acumulada, o estadista angolano considera que “devemos cuidar da satisfação
material, moral e espiritual das pessoas, das famílias e do povo em geral, para
que a paz assente em alicerces firmes e se possa perpetuar”.
Declarou que o pano
de fundo da sincronização entre o desenvolvimento e a paz deve ser a
democracia, como o único caminho que permite aos povos serem senhores dos seus
destinos, escolher periodicamente os seus governantes num clima de respeito
pelas ideias alheias e a vontade popular.
Sublinhou que o
reforço e consolidação da paz não são só fruto do desenvolvimento, resultam
também da reconciliação, do perdão recíproco, da confiança e da aceitação
mútua, que conduzem a desejada pacificação dos espíritos.
O Presidente disse
que a afirmação na prática destas ideias nos levam a concluir que o caminho da
paz passa por um forte e permanente empenho cultural, que deve ser
protagonizado por todos quantos partilham o objectivo de fazer perdurar a paz
ao longo dos tempos.
Pensa ser um
“processo complexo” que exige a participação de toda a sociedade civil, em
especial das instituições religiosas (como paladinos do perdão e agentes da
fraternidade), e também das mulheres (na qualidade de mãe, companheira e irmã),
cuja voz é sempre escutada e respeitada nas sociedades africanas.
Fruto da amarga
experiência vivida pelo povo angolano, o Presidente apela que se cuide das
novas gerações, como garantes do futuro, por forma a serem formadas numa
autêntica cultura de paz e tolerância que, com tempo, se converterá em parte
integrante do património moral da sociedade.
ANGOP
OBSERVAÇÃO
O Movimento que
reivindica os tratados de protectorado para a Autonomia da Nação Lunda Tchokwe,
vai fazer uma declaração pública, pela importância do discurso do senhor
Presidente da Republica proferido na abertura do fórum Panafricano que esta a
decorrer em Luanda desde terça-feira dia 27 de Março.