CRISE PROFUNDA DO JORNALISMO ANGOLANO SOBRE A
HISTÓRIA DA LUNDA - MARTINHO JÚNIOR DIZ QUE O PROTECTORADO DA LUNDA TEM IDEOLOGIA
TRIBALISTA EM AINDA O VALE DO CUANGO – III
Martinho Júnior, Luanda
9 – O povo angolano
guarda na memória a saga da “guerra dos diamantes de sangue” de Savimbi, facto
que perdurará ainda por várias gerações, tais os impactos no seu tecido social.
Para aqueles que
foram vítimas da insanidade de Savimbi, conforme eu ilustrei em Vale do Cuango
(veja-se a quantidade de explorações que ele tinha no Cuango e no Cuanza),
esperava-se que os actuais responsáveis da UNITA, em contraste com seu antigo
chefe e por que a paz é uma questão-chave para todo o povo angolano depois dos
Acordos de Luena a 4 de Abril de 2002, assumissem uma posição sem ambiguidades
nem equívocos, particularmente onde ele explorou e negociou diamantes à revelia
do governo angolano para dar continuidade às sequelas do colonialismo e do
“apartheid”, aproveitando da “Iª Guerra Mundial Africana” (que desmente a
teoria da “guerra civil” que determinada propaganda, também de origem
identificada, nos quer impingir).
Samakuva visitou em
Março de 2011 a região do Cuango e comecem por verificar um dos propagandistas
das suas mensagens, as mensagens que na altura entendeu transmitir: o
“site” do Protectorado da Lunda, por via duma reportagem de
Manuela dos Prazeres, que para o fazer terá acompanhado a comitiva!
O Protectorado da
Lunda é um grupo que pelo seu programa, ideologia (tribalista) e objectivos
políticos, põe em causa a Constituição Angolana e esperava-se que, se a UNITA
não teve responsabilidade que esse grupo fizesse cobertura e publicidade à passagem
de Samakuva por Malange e pelas Lundas, tivesse o cuidado
de emitir um comunicado dizendo que não se responsabilizava por essa
publicidade, demarcando-se ao mesmo tempo desse grupo em tempo oportuno.
Samakuva e a UNITA
calaram-se, (“quem cala consente”) e desse modo destaco a primeira ambiguidade:
caberá aos partidos que têm acento na Assembleia Legislativa alinhar com grupos
que nada têm a ver com a Constituição Angolana, muito pelo contrário?!
Pode-se até não estar
de acordo com a actual Constituição Angolana, mas ela está vigente e os
representantes dos eleitores na Assembleia da República, UNITA incluída,
devê-la-ão respeitar e não foi, neste caso, isso o que aconteceu!
10 – Essa
permeabilidade em relação a grupos que põem em causa a Constituição Angolana
acontece também no que se prende com as questões de Cabinda, aproveitando por
vezes organizações bem identificadas pelo seu “activismo” pernicioso e
fragmentador.
A ambiguidade e os
equívocos, métodos utilizados por quem está interessado em tirar partido de
factores de desestabilização e de risco, ganham no entanto mais corpo em
Malange e nas Lundas quando se dá conta do conteúdo do que escreveu a
jornalista Manuela dos Prazeres:
- Faz alusão à
pobreza das populações angolanas numa terra onde há a proliferação de tantas
riquezas, culpando também, sem citar nomes, as empresas nacionais e
estrangeiras (o que é legítimo);
- Faz alusão à morte
de estrangeiros ilegais (sem dar mais explicações) que já haviam constituído
relações com angolanas (a sua morte deixou viúvas e em alguns casos órfãos, o
que é de facto de muito lamentar);
- Em nada se refere
contudo à migração clandestina para dentro de território angolano tendo como
última escala a RDC, muito menos de grande parte dessa migração ser proveniente
de países islâmicos sunitas do Sahel, com financiamentos estranhos a Angola!
Quer dizer, se
levarmos ainda em conta que “quem cala consente”: se não abordou os riscos de
ilegais islâmicos estarem a entrar sem controlo e em grande número em
território angolano através da muito porosa via do Cuango, é por que a UNITA
está a retirar dividendos sócio-políticos (se não mesmo financeiros) dessa
situação, quando tal acontecimento que se vai repetindo no dia-a-dia, põe desde
logo em risco o exercício da própria soberania nacional!
Essa questão
fundamenta o seguinte raciocínio: há factores de risco externo e interno que se
estão a conjugar, sob o olhar benevolente das potências cuja acção em África
influenciam em cadeia nos fenómenos políticos, humanos, económicos e
financeiros, implicando-se em todos os “efeitos dominó”, entre elas os Estados
Unidos, a França e os seus aliados “de mão”, como os “financiadores” desse tipo
de migrações, as ultra conservadoras monarquias arábicas avessas à democracia,
elas próprias também implicadas no jogo das “primaveras árabes”!
Para quem tem gente
ao seu serviço como Theresa Welan, é impossível que a situação presente do vale
do Cuango não seja perfeitamente entendida para melhor explorar os termos de
ingerência e manipulação, sobretudo no que diz respeito à confluência dos
factores de risco externos e internos!
A ambiguidade de
Samakuva, da UNITA e dos jornalistas que os servem não terá a mesma escola da
Theresa Welan?
11 – Por essa razão
também não é de estranhar que, sob o ponto de vista sócio-político, partidos da
oposição em Angola, ao invés de se assumirem contra os fenómenos de capitalismo
neo liberal que levaram entre muitas coisas a políticas de portas escancaradas
em Angola, que levaram a financiamentos mal parados que incluem a exploração e
o comércio ilegais de diamantes, bem como a massiva migração de correntes de
pessoas originárias dos países islâmicos sunitas do Sahel, ao silenciar
aspectos tão críticos, estão “a cavalo” tanto no neo liberalismo quanto em
fenómenos de desestabilização, para garantirem inclusive a sua capacidade de
mobilização num quadro cada vez mais evidente de “desobediência civil”, que é
por seu turno um pré-aviso de mais tensões e conflitos, senão duma nova guerra!
A UNITA tem de se
retratar uma vez mais perante o seu eleitorado e toda a situação que se prende
ao Vale do Cuango hoje, pela sua acuidade, é um motivo para tal, dados os
antecedentes de Savimbi e das implicações profundas da “guerra dos diamantes de
sangue”, questões que se interligam ao significado que têm para África a
evolução das situações da Tunísia, do Egipto, mas sobretudo da Líbia e do que
daí resultou no Sahel e por via do Sahel em direcção a Angola!
Assumirá a UNITA,
mais uma vez, a repetida “qualidade” de “cavalo de Tróia”, conforme o foi no
tempo colonial (recorde-se a Operação Madeira), na luta contra o “apartheid”
(recorde-se a Operação DISA entre dezenas de outras), ou ainda como apêndice,
mesmo no estertor do regime de Mobutu a ponto de Savimbi desencadear a “guerra
dos diamantes de sangue”?
OBSERVAÇÃO:
O Comité
Executivo Nacional do Movimento do Protectorado da Lunda Tchokwe, vai emitir o
seu ponto de vista sobre a matéria nas próximas horas e convida desde já o senhor
jornalista Martinho Júnior e outros que estiverem interessados para um debate
aberto, sério e transparente com o objectivo de sustentar qualquer tesse acusatório,
em como é que o povo Lunda Tchokwe é tribalista e a colagem do Movimento com
algum Partido da oposição ou no poder em Angolana.
Como é que
o Movimento do Protectorado fez campanhas publicitárias a favor da UNITA em
Malange e Cuango ou fez parte da Comitiva do Sr SAMAKUVA. Os arquivos
publicados no site do protectorado em 2011 e 2012 estão disponíveis e podemos
dar a quem tiver interesse sobre a matéria, www.protectoradodalunda.blogspot.com