LEÕES CONTRA FALCÕES, TURQUIA O
GOLPE QUE PODE ABALAR A OTAN
Com Erdogan
firmando suas garras de ferro dentro da Turquia, garras de ferro pré-existentes
– OTAN/Turquia – vão-se lentamente dissolvendo no ar. É como se o destino da
base aérea Incirlik estivesse pendurado e balançando, enforcado – literalmente
–, nuns poucos, selecionados fios de radar.
Há
desconfiança extrema em todo o espectro na Turquia de que o Pentágono sabia do
que os “rebeldes” estavam
preparando. Não há quem não saiba que não cai um alfinete em Incirlik sem que
os norte-americanos saibam. Membros do AKP destacam o uso da rede de
comunicação da OTAN para coordenar os putschistas e assim escapar da
inteligência turca. No mínimo, os putschistas podem ter acreditado que
contariam com a OTAN para garantir-lhes a retaguarda. Pois nenhum “aliado na OTAN” dignou-se a alertar
Erdogan sobre o golpe.
E há também
a saga do avião para reabastecimento de jatos em voo, que reabasteceria os
F-16s “rebeldes”. Todos os aviões de reabastecimento em voo em Incirlik são do
mesmo modelo – KC-135R Stratotanker – para norte-americanos e turcos. Trabalham
lado a lado, sob o mesmo comando: a 10ª Main Tanker Base, cujo comandante
é o general Bekir Ercan Van, devidamente preso no domingo passado – e sete
juízes já confiscaram todos os controles da torre de comunicações da base. Não
por acaso, o general Bekir Ercan Van é muito próximo de Ash Carter do
Pentágono.
O que aconteceu
no espaço aéreo turco depois que o Gulfstream IV de Erdogan deixou o litoral do
Mediterrâneo e aterrissou no aeroporto Ataturk em Istambul já está quase
completamente mapeado – mas ainda há buracos crucialmente importantes na
narrativa, abertos à especulação. Erdogan tem-se mantido de boca fechada em
todas as entrevistas, e resta esse cenário estilo Missão Impossível, com
dois F-16s “rebeldes”, “Leão I” e “Leão II”, em “missão especial”, com
ostransponders desligados; o encontro deles com os “Falcão I” e “Falcão
II”; um dos “Leões” pilotado por ninguém menos que o homem que derrubou o Su-24
russo em novembro passado; o hoje já famoso avião de reabastecimento em voo que
decolou de Incirlik para reabastecer os “rebeldes”; e mais três duplas extras
de F-16s que decolaram de Dalaman, Erzurum e Balikesir para interceptar
os “rebeldes”, inclusive a dupla que protegia o Gulfsteam de Erdogan (que voava
sob prefixo THY 8456, disfarçado como voo da Turkish Airlines).
Mas quem
estava por trás de tudo isso?
Erdogan em missão dada por Deus
O conhecido
“vazador” saudita “Mujtahid” causou frisson por revelar que os Emirados
Árabes não apenas “tiveram uma função” no golpe mas, também porque manteve a
Casa de Saud no circuito. Como se já não houvesse aí problemas que bastassem, o
autodeposto emir do Qatar, Sheikh Hamad al-Thani, muito próximo de
Erdogan, afirmou que EUA e outra nação europeia (alta probabilidade
de ser a França) montaram toda a operação, com envolvimento da Arábia Saudita.
Ankara, como seria de prever, negou tudo.
O Irã, por
sua vez, viu claramente o jogo de longo prazo e apoiou firmemente Erdogan desde
o início. E mais uma vez ninguém falará sobre o assunto, é claro, porque a
inteligência russa sabia perfeitamente de todos esses passos – o que o rápido
telefonema do presidente Putin a Erdogan, imediatamente depois do golpe, só
confirma.
Mais uma
vez, os fatos básicos: todos os agentes operadores de inteligência no sul da
Ásia sabem que sem luz verde do Pentágono, todas as facções militares turcas
encontrariam imensa dificuldade – senão absoluta impossibilidade – de organizar
qualquer golpe. Além disso, durante aquela noite fatídica, até que se teve
certeza de que o golpe fracassara, nenhum dos conspiradores – de Washington a
Bruxelas – foi apresentado precisamente como “o mal”.
Uma fonte da
alta inteligência norte-americana, que não acompanha o consenso da Av.Beltway
[o cinturão rodoviário que circunda Washington e define seu perímerto], não
precisa de meias palavras. Para essa fonte,
“os
militares turcos jamais dariam um passo sem luz verde de Washington.
Planejou-se o mesmo para a Arábia Saudita em abril de 2014, mas o movimento foi
bloqueado nos mais altos escalões em Washington, por um amigo da Arábia
Saudita”.
Essa fonte,
que é capaz de pensar fora da caixa, adere à hipótese que se tem de tomar como
hipótese chave e atual hipótese de trabalho: o golpe aconteceu, ou foi
acelerado, essencialmente, “por causa da repentina reaproximação de
Erdogan com a Rússia”. Turcos de todo o espectro jogam gasolina ao fogo,
insistindo que é mais que provável que as bombas contra o aeroporto de Istanbul
tenham sido uma Operação Gladio. Não param de surgir rumores, de leste e de
oeste, já sinalizando que Erdogan deixará a OTAN mais dia, menos dia; para
integrar-se à Organização de Cooperação de Xangai.
Apesar de
Erdogan ser ator no qual absolutamente não se pode confiar e canhão geopolítico
giratório, não se deve descartar a possibilidade de que esteja a caminho um
convite de Moscou-Pequim, em futuro não muito distante. Putin e Erdogan terão
encontro absolutamente crucial no início de agosto. Erdogan conversou por
telefone com o presidente do Irã Hassan Rouhani. O que disseram disparou
calafrios pela espinha da OTAN:
“Hoje
estamos decididos, mais que antes, a contribuir para a solução dos problemas
regionais, de mãos dadas com a Rússia e em cooperação com eles”.
Assim sendo,
mais uma vez está configurada a disputa crucial que definirá o século 21: OTAN
contra a integração da Eurásia, com o Sultão do Vaivém da Turquia exatamente no
meio. “Deus” com certeza brincou com esse cenário arrepiante, quando falou
diretamente a Erdogan, pelo Face Time.