ALTERNATIVA DO PODER, SÃO TOME
E PRÍNCIPE TEM NOVO PRESIDENTE EVARISTO CARVALHO
O analista
Gerhard Seibert acredita que com um Presidente e um Governo do mesmo partido,
São Tomé e Príncipe poderá contar com "maior estabilidade". Mas, por
outro lado, o Executivo também poderá ser menos "controlado".
Evaristo Carvalho, o candidato apoiado pela Ação Democrática
Independente (ADI) foi eleito na primeira volta, no domingo (17.07), com
50,1% dos votos, contra
24,8% do atual Presidente Manuel Pinto da Costa,que
concorria a um segundo mandato, e 24,1% de Maria das Neves, apoiada pelos
partidos da oposição parlamentar.
A candidatura de Maria das Neves, que ficou
em terceiro lugar nas presidenciais, anunciou esta segunda-feira (18.07) que
vai contestar judicialmente os resultados e pedir a anulação do ato eleitoral.
As eleições presidenciais "não foram nem livres, nem justas nem
transparentes", disse Danilo Santos, diretor de campanha de Maria das
Neves, citado pela agência de notícias Lusa.
Para saber que mudanças esperam o país, a DW
África entrevistou o analista alemão Gerhard Seibert, que atualmente trabalha
na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
(UNILAB), na Bahia.
O especialista em São Tomé e Príncipe não
acredita que Evaristo de Carvalho faça uma "fiscalização rígida" da
governação da ADI, o seu próprio partido. E também não prevê mudanças nas
relações com outros países.
DW África:
Na sua opinião, qual o porquê da derrota de Manuel Pinto da Costa, o Presidente
cessante?
Gerhard Seibert (GS): Acho que
isso tem a ver com um maior apoio da ADI e do Governo ao candidato Evaristo de
Carvalho, que era o candidato oficial da ADI. E também devido à mensagem de que
a eleição do candidato da ADI podia criar em São Tomé uma situação de partido
único. A maior parte do eleitorado, uma maioria, parece estar a favor de uma
governação da ADI em todos os setores.
DW África: O
primeiro-ministro, Patrice Trovoada, disse após vitória de Evaristo Carvalho
nas presidenciais que ele é "uma personalidade que tem todos os requisitos
para poder, com o Governo, inaugurar um período de estabilidade para São Tomé e
Príncipe". O que significa para o país um Governo e um Presidente da ADI?
GS: A partir de agora, a ADI, o partido
no Governo, também tem a presidência. Pode haver uma maior estabilidade, mas,
por outro lado, também pode haver menos controlo e menos fiscalização deste
Governo. Porque não se espera que Evaristo de Carvalho, que é conhecido como um
fiel, um seguidor de Patrice Trovoada, e já era muito próximo do pai dele,
Miguel Trovoada, faça qualquer oposição ou uma fiscalização rígida da
governação da ADI, o seu próprio partido.
DW África:
Acredita que haverá mudanças nas relações externas?
GS: Não haverá, porque quem determina as
relações externas e a política externa do país é o Governo. Já não é como no
início, nos anos 90, até 2006, quando entrou em novo vigor a nova Constituição.
Naquela altura, o Presidente tinha competências na área da política externa.
Mas isso já não acontece.
DW África:
Como serão as relações com a Nigéria, parceiro tradicional da ADI e da família
Trovoada e um parceiro importante, face à zona de exploração petrolífera
conjunta?
GS: Neste momento, não vejo grandes
alterações nessa área. Aliás, essa zona conjunta também está moribunda, porque
saíram de lá todos os investidores estrangeiros. Não há exploração de petróleo.
DW África: O
Presidente cessante, Manuel Pinto da Costa, manteve relações de cooperação com
Teodoro Obiang, na Guiné Equatorial, e com Angola. Como será o futuro dos
investimentos destes dois países em STP?
GS: Acho que vão manter-se esses
investimentos e esses interesses porque o próprio Governo também manteve essas
relações e depende também em termos financeiros e de investimento destes dois
países.
DW África:
São Tomé e Príncipe reconheceu Taiwan e os Governos de São Tomé e de Taipé são
parceiros. Acha eu poderá haver mudanças no futuro?
GS: Agora é menos provável uma
aproximação à China continental porque a ADI e o próprio Patrice Trovoada são
mais fiéis a Taiwan e a Taipei do que Manuel Pinto da Costa, que procurou uma
maior aproximação com Pequim. Neste caso, acho que vai continuar a relação
bilateral com Taiwan.
Bettina Riffel – Deutsche Welle