Martinho Júnior,
Luanda
1 – Encerra no dia em
que escrevo (9 de Junho de 2013) mais uma reunião anual do grupo Bilderberg,
agora mais publicitada e comentada que nunca.
Efectivamente, à
medida que a “democracia representativa” é imposta como modelo acabado de como
deve institucionalmente funcionar o poder de estado, mais publicidade se tem
dado ao “acontecimento” Bilderberg, o que não deixa de ser um sinal evidente do
que começa a ser do domínio público: a “democracia representativa” é a
formatação política que mais convém aos interesses da aristocracia financeira
mundial, das elites, como das oligarquias, no quadro da lógica capitalista e
das “economias de mercado” e aqueles estados que ousarem, como Cuba, aprofundar
a democracia no sentido da participação, arriscam-se a ser tratados como
“estados terroristas”!...
Pelos vistos a saúde
e a educação para todos parece ser inimiga da lógica capitalista tal como ela é
sentida e digerida pela aristocracia financeira mundial e pelas elites: é
precisamente com mais saúde e mais educação garantida que Cuba, em função da
sua Revolução, avançou com ousadia na democracia participativa, no quadro aliás
da lógica com sentido de vida!
O aprofundamento da
democracia só poderá realizar-se com cada vez maior consciência e inteligência
em relação à situação global e local e só se conseguirá alcançar um patamar
estável, precisamente quando mais saúde e ensino para todos for propiciado e
efectivamente garantido.
Enquanto a Revolução
Cubana recorre à história e ao materialismo dialéctico, a José Marti, a Fidel
de Castro, a Che Guevara, a Karl Marx e a Lénin para melhor fundamentar e
aprofundar as conquistas da democracia participativa cujo único “lobby” é a
Revolução, o campo capitalista esmera-se com um ramalhete de doutrinas, entre
elas a de Karl Popper, de que não só alimenta a lógica capitalista
contemporânea, mas sobretudo o neo liberalismo do modelo de globalização que
interessa e convém precisamente à aristocracia financeira mundial, às
oligarquias e às elites… ao império!...
2 – …E o império tem
também no Bilderberg a sua expressão anual, por aquilo que implicam as
análises, os pontos de vista e as opções daqueles que o servem, por dentro dos
mecanismos de poder, por dentro dos bancos, por dentro das corporações
multi-nacionais e por dentro dos “média de referência”, análises, pontos de
vista e opções que com a “globalização que interessa” a bem ou a mal se tornam
“determinantes”.
Até que ponto é que
com lógica capitalista, globalização neo liberal, “democracias
representativas”, formatação de novas elites, “mercados abertos”, “petróleo
barato” e outros méritos como tais, estão afectivamente a ser “defendidos” os
interesses da aristocracia financeira mundial, assim como das oligarquias e
elites “representativas”, sua agenciadas?
Até que ponto está a
ser bem sucedido o exercício do poder dos 1%, com as suas “receitas”, “ementas”
e “correias de transmissão”, quanto tudo isso implica no carácter dos
relacionamento para com os outros 99%, o resto da humanidade?
Para responder a tudo
isso existem os “think tanks” elitistas e, entre eles, o “prestigiado”
Bilderberg!...
3 – O representante
assumido do Bilderberg em Portugal é uma figura notável no meio sócio-político:
Francisco Pinto Balsemão.
Francisco Pinto
Balsemão pertenceu, é preciso sempre recordá-lo, à “ala liberal” no tempo de
Marcelo Caetano e, sendo um dos fundadores do Partido Social Democrata,
continua a ser um dos “experts” e um potentado da comunicação portuguesa.
Essa é precisamente
um tipo de trajectória e de personalidade que é modelar para estabelecer os
vínculos do Bilderberg naquela parcela Ibérica e na sua expressão no mundo.
De facto, enquanto
membro da “ala liberal”, ele pôde-se aperceber muito antes da eclosão do 25 de
Abril, das transformações que a sociedade portuguesa foi tendo a nível dos
processos de consciência e de inteligência sobre a evolução da situação, sem
nunca deixar de se assumir ao serviço dum poder “forte” que tendia a adequar-se
ao poder do capital: a época de transição foi uma experiência única e é desse
tipo de capacidades de que tem de se nutrir o Bilderberg… “para responder aos
desafios”…
4 – Francisco Pinto
Balsemão na “democracia representativa” portuguesa passou a ser um cientista
social do poder post 25 de Abril, um “guardião do templo” que interessa no
quadro da lógica capitalista e da economia de mercado, um “estratega” para as
opções sócio-políticas e mediáticas… um artífice do “arco de governação” de que
o estado português se passou a nutrir.
Agora que a crise se
tornou exponencial e avassaladora, é um dos homens mais habilitados, em nome da
aristocracia financeira mundial e das oligarquias portuguesas, a fazer as
escolhas, a modelar o poder e a orientar no caminho que, de acordo com as
“receitas e as ementas” de conveniência, se tem de percorrer a curto, médio
prazos… com os olhos tanto quanto o possível no longo e muito longo prazos.
Ele sabe que mesmo
que cumpra com o mandato o actual governo não conseguirá sustentar-se em
eleições próximas, pelo que há que preparar o futuro, com recurso ao “arco da
governação”, não vá o diabo tecê-las… ou seja, precisamente no momento em que
um governo patriótico e de esquerda é tido como possível opção alternativa.
Para ele um governo
patriótico e de esquerda, abrangendo o PS, o PCP, o BE e os Verdes, mesmo numa
“democracia representativa”, mesmo com os “Bilderbergers” do PS lá embutidos,
pode quanto muito assumir uma transição mais caótica (a esquerda que fique com
o ónus do caos, para que mais rapidamente as oligarquias voltem ao poder e o
mantenham durante mais umas quantas décadas).
Se tiver que recorrer
a essa trilha, Francisco Pinto Balsemão poderá de qualquer modo garantir para
as correntes dominantes da globalização, tanto o PS quanto o CDS (o PSD está
reservado ao plantão mais esbatido nos próximos tempos), nas pessoas de seus
actuais dirigentes mais exponenciais ou em outros já antes co-optados e, no
quadro dessa manipulação sem limites, garantir a continuidade do “arco da
governação”.
É claro que a
presença de Seguro e de Portas na Reunião de Londres do “Bilderberg” é uma
pista das preocupações do “Clube” e do que Portugal pode esperar nos próximos
tempos… coisas do “arco da velha”!...
Foto: Seguro e Portas
presentes na reunião de Londres do “Clube Bilderberg”… coisas do “arco da
velha”!
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