sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Bispo do Dundo preocupado com pobreza no Leste de Angola
O Bispo da diocese do Dundo e delegado apostólico de Saurimo, Dom José Manuel Imbamba, mostrou-se preocupado com o crescente nível de pobreza que assola as populações da região Leste do país, Lundas Norte, Sul e Moxico, que têm como base de sustento a extracção artesanal de diamantes e a prática de agricultura de subsistência. O facto foi revelado durante uma audiência que concedeu ao líder da UNITA, Isaías Samakuva, que esteve em visita de trabalho nessa região.
Dom Manuel Imbamba disse que a situação agudizou-se ainda mais com o fim da exploração ilegal dos diamantes, decretado pelo Executivo, que era considerada como a única fonte de receita da maior parte da população. O prelado sublinhou que a indigência é visível no seio desta gente que precisa de emprego, água, luz e habitação condigna, embora exista um esforço das autoridades competentes para reverter o actual quadro, que caracterizou de “sombrio”.
Segundo o bispo, há informações de actos de violência nas zonas de extracção de diamantes, perpetrados por efectivos das empresas de segurança contra cidadãos indefesos que insistem em procurar diamantes nas minas proibidas, para sobreviver, havendo mesmo situações que terminam em mortes. Esses casos, segundo D. Manuel Imbamba, ocorrem com maior frequência no município do Cuango, onde está localizada a maior bacia hidrográfica no rio com o mesmo nome.
O Bispo explicou que o facto de o diamante ser o único recurso das pessoas para obterem dinheiro, no Leste, sobretudo nas Lundas, mesmo com as denúncias de mortes de pessoas assassinadas e outras afogadas ao rio quando são surpreendidas supostamente por efectivos das empresas de segurança, que protegem as minas, elas não param de o fazer, e alegam ser a única forma de contrapor à fome, à miséria.
Reconheceu que a situação está a tomar contornos imprevisíveis e a solução passa necessariamente por políticas eficazes e abrangentes para as populações que clamam por soluções urgentes. Uma destas políticas, segundo o dirigente católico, é o incentivo dos cidadãos, maioritariamente camponeses, a optarem pela prática da agricultura de subsistência para a autosuficiência alimentar, tendo em conta a existência de solo arável nas Lundas e com realce no Moxico. “Este pode ser um dos passos para se diminuir a pobreza no seio das populações”, afirmou o bispo.
Prudente nas suas declarações, durante o encontro com Isaías Samakuva, Dom Imbamba reforçou que se esta política for levada em consideração por quem de direito, em toda a região do Leste a miséria e a pobreza poderão reduzir-se significativamente nos próximos tempos. “ Caso se efective esta ideia, as pessoas deixarão de depender exclusivamente da extracção e venda de diamantes para a sua sobrevivência” , uma prática que remonta há anos, ou seja, desde a exploração destas “pedras brilhantes”, ainda na era colonial”.
Universidade vai mudar o quadro
O bispo do Dundo acredita que com a implantação de pólos universitários nas províncias da Lunda Sul, Lunda Norte e Moxico, a actual situação poderá mudar num futuro próximo, com o lançamento de novos quadros que sairão destas universidades, que, na sua óptica, poderão ajudar a desenvolver as suas respectivas regiões, que clamam pela falta de tudo para resolver as prementes necessidades que afligem as suas populações. “ A implantação das Universidades nas províncias poderá ajudar a mudar muita coisa, e esperemos que isso aconteça o mais breve possível”, afirmou Dom Imbamba.
Segundo o prelado, “ uma sociedade só muda se tiver homens formados em várias áreas do saber, dando respostas às várias necessidades ou preocupações que se lhes apresentarem pela frente, e por isso mesmo, os formados que sairão destas universidades ajudarão a desenvolver a região que por esta altura precisa de muita coisa para o bem das suas populações, e também do país em geral”, referiu.
Durante o encontro com a comitiva da UNITA, chefiada pelo seu líder, o sacerdote sublinhou ainda que a situação sócio-económica do Leste agrava-se ainda mais devido ao fluxo migratório de estrangeiros, alguns dos quais vivendo em situação ilegal, apesar do esforço incansável das autoridades para contornar essa situação que tem sido uma preocupação constante.
Alguns destes estrangeiros, afirmou o prelado, fazem-se passar por pastores de seitas religiosas espalhadas nestas províncias, e têm estado a pregar uma doutrina alheia à matriz cristã. Os locais de culto, segundo o bispo, servem de esconderijos para muitos destes pastores e seus crentes, cuja maioria vive em condição supostamente ilegal. Referiu também que com base na existência de tais seitas, o número de igrejas aumentou significativamente, atingindo as centenas.
As aludidas seitas, dirigidas maioritariamente por congoleses-democráticos, estão espalhadas em áreas de garimpo. Para além dos congoleses, estão também emigrantes oeste-africanos, detentores de vários negócios na região, e que ergueram várias mesquitas (templos muçulmanos), um pouco por toda a Lunda, onde, para além de adorar Aláh (Deus), ensinam também o Alcorão, o livro sagrado do Islão.
Feitiçaria preocupa clero
As acusações de práticas de feitiçarias contra as pessoas subiram de tom nos últimos tempos, segundo o bispo Manuel Imbamba, que explicou que o problema está a generalizar-se em toda a extensão territorial das Lundas e do Moxico. Sem revelar a faixa etária mais vulnerável destas acusações que considera de gravíssimas, o bispo da diocese do Dundo disse que o assunto inspira sérios cuidados e é necessário a conjugação de esforços para se acabar com esta situação que se pode constituir num fenómeno endémico.
Para melhor ilustrar a gravidade do problema, o prelado relatou um episódio “triste e chocante” ocorrido no município do Lucapa (Lunda-Norte) no ano passado, em que foram enterradas duas pessoas vivas, acusadas de “terem enfeitiçado uma criança de tenra idade”.
Os dois homens foram sepultados na mesma campa que a suposta vítima de feitiço, acontecimento que provocou um profundo sentimento de mal-estar na localidade. “ Este caso chocou toda a sociedade, não só da Lunda, mas de toda Angola, quando o assunto se tornou do conhecimento geral”, recordou o bispo.
Na óptica de D. Imbamba, para se acabar com esta situação, é preciso que se tomem medidas profilácticas que passam pelo esclarecimento das populações para que não acredite na fantasia do feitiço e evite as acusações gratuitas de práticas de feitiçaria e outras.“ É preciso explicar às pessoas que devem abster-se desta prática no seio das nossas comunidades”, sublinhou.
Quanto à questão da evangelização dos povos, o bispo disse que a sua diocese precisa de mais sacerdotes para levar a mensagem de Deus até às áreas mais recônditas, porque os poucos disponíveis são insuficientes para a cobertura total que se pretende.
“ A diocese é nova e precisa de mais missionários para darmos respostas às preocupações das nossas comunidades”, defendeu. Refira-se que Dom José Manuel Imbamba é o primeiro Bispo da Diocese do Dundo, criada em 2008.