sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mensagem proferida por Sua Majstade Mwene Muatchissengue Watembo no colóquio sobre direitos Humanos no ano 2004 em Lisboa, organizado pela FMS

MENSAGEM PROFERIDA POR SUA MAJESTADE MWENE MUATCHISSENGUE WATEMBO NO COLÓQUIO SOBRE DIREITOS HUMANOS NO ANO DE 2004 EM LISBOA, ORGANIZADO PELA FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES. 7 ANOS DEPOIS, QUE MUDANÇAS NA LUNDA?..CONFIRA O TEXTO





Principal riqueza de uma região é o seu povo. Mas, no Leste, o povo está a ser vítima da ganância pelos diamantes. Os sectores da saúde e da educação são os principais indicadores que reflectem a condição social de um povo e o nível de aplicação dos seus recursos para o bem-estar comum. Os pequenos indicadores que acima apresentei, demonstram que os filhos do Leste estão a ser lançados para a escuridão total do obscurantismo e da ignorância.
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Por isso, às vezes, as pessoas em Luanda, dizem que os Tchokwés e outros povos da região são matumbos. Essa é a linguagem da capital de Angola. Os outros são matumbos, não é? Então se o governo não dá escolas aos Tchokwés, como é que podem estudar para deixarem de ser atrasados? Eu pergunto aos senhores que manipulam o dinheiro dos diamantes, dos petróleos e com o nosso destino se isto está certo? Na região Leste, mais de 88% das pessoas são analfabetas.
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Como o soberano legítimo da Lunda-Tchokwé diz: não há sequer uma escola primária ou um posto médico, lá onde vivo. Os meus filhos não estudam. Amanhã receberão o meu poder tradicional sem qualquer educação. Isso é muito grave. Estou em crer que o mesmo acontece com os meus irmãos de Pungu-a-Ndongo, Ekuikui IV, a Nhakatolo Tchilombo e Bakongo.
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Na região, o desemprego ultrapassa os 90% da força de trabalho. Nas Lundas, as pessoas praticamente sobrevivem do garimpo ou da candonga de comprar mercadorias em Luanda e revender lá nas praças a preços exagerados. As Lundas são a região mais cara de Angola, por causa dos diamantes, apesar de serem as mais empobrecidas do país, ao lado do Moxico e Kuando-Kubango.
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Os diamantes têm sido explorados no subsolo das Lundas, por parte da Endiama, Sociedade Mineira do Lucapa, Sociedade Mineira do CATOCA, Projecto Luô, SOMINOL, ASCORP, as dragas dos generais do exército,ministros e outros que operam nas áreas do Cafunfo, Cuango, Calonda, Lucapa, Nzaji, Chitotolo, Catoca, Cucumbi, Capenda-Camulemba, Cuilo e Luangue, para não citar outras localidades,serao para o bem das populacoes ou da NAÇÃO?
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Tem-se falado muito na atribuição de 10% das receitas de imposto sobre a venda de diamantes para benefício das populações da região Leste. O povo não conhece a verdade sobre esse assunto, porque ninguém explica como é que se está a governar para o bem-estar das populações. A miséria é cada vez maior.
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Por exemplo, o Hospital Provincial, em Saurimo, só faz consultas a olho nú. Praticamente não tem laboratório. Para se fazer um raio-X ou qualquer análise tem de se ir aos postos médicos privados ou dos missionários de Caluquembe. Para aqueles que trabalham no Catoca têm o privilégio do posto médico da empresa.
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Outro exemplo é a instalação do núcleo universitário de Saurimo numa escola de professores do IIIº Nível. Pintaram a escola e puseram lá a correspondente da Universidade Agostinho Neto. Portanto, menos uma escola para dar lugar a outra. É como fazer funge sem conduto. No mundo inteiro não existe um povo sem cultura, usos e costumes como símbolos da sua dignidade humana, com que Deus abençoou cada grupo etno-linguístico.
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A tradição tchokwé é apreciada no mundo inteiro, menos em Angola, onde praticamente só se aplaudem os cantores brasileiros e procura-se abafar aquilo que é a essência da nossa identidade. Basta verificar que o Museu do Dundo, que era um grande símbolo cultural do Leste do país, e de Angola em geral, está abandonado. Muitas peças de arte foram roubadas e vendidas na Europa.
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Na capital do nosso país, em Luanda, muita gente que se diz civilizada, estranha quando os alguem fala kikongo, umbundu, fiote e outras línguas maternas angolanas. Dizem que são línguas do mato e de matumbos. O colono dizia que eram línguas de cão. Nos obrigam a falar apenas o português, com sotaque de Lisboa, como língua de unidade nacional.
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Por isso é que estamos assim, sem rumo nem liderança que nos indique um caminho para o bem e para a harmonia entre todos os angolanos. O país que temos é de improviso e para aqueles e rejeitam a cultura do seu próprio povo.
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Eu, como Rei, não aceito que hajam angolanos de primeira, de segunda e terceira categorias.