segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Morreu ex-presidente de Portugal, Mário Soares

Morreu ex-presidente de Portugal, Mário Soares




O antigo Presidente da República Mário Soares faleceu este sábado às 15h28, na "presença constante" dos seus filhos, Isabel e João Soares, informou o director clínico do Hospital da Cruz Vermelha, onde se encontrava internado.


"É com enorme tristeza que o Hospital da Cruz Vermelha anuncia a todos que, na presença constante dos seus filhos João e Isabel, às 15h28 do dia 7 de Janeiro de 2017, ocorreu o falecimento do doutor Mário Soares", afirmou Manuel Pedro Magalhães numa curta declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas.


Falando em nome do estabelecimento de saúde, Manuel Pedro Magalhães agradeceu "a confiança depositada na sua equipa clínica” e reconheceu que “o nome de Mário Soares, um grande lutador por ideais vários da democracia, ficará para sempre ligado à história do Hospital".


Mário Soares encontrava-se internado desde o dia 13 de Dezembro, tendo sido transferido no dia 22 dos Cuidados Intensivos para a "unidade de internamento em regime reservado" do Hospital da Cruz Vermelha, depois de sinais de melhoria do estado de saúde.


No dia 24, um agravamento súbito da situação clínica obrigou ao regresso do antigo chefe de Estado à Unidade dos Cuidados Intensivos.


No dia 31 de Dezembro, dia da última actualização feita pelo hospital sobre o seu estado de saúde, Mário Soares continuava em "coma profundo", mas "estável e com parâmetros vitais normais".


Mário Soares morreu aos 92 anos, depois de uma vida em que desempenhou os mais altos cargos no país. A sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS, primeiro-ministro e Presidente da República. 


Nascido em Lisboa, a 7 de dezembro de 1924, Mário Soares era visto cada vez menos em público. A última vez tinha sido a 28 de setembro passado, numa homenagem do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à sua mulher, Maria Barroso, que morreu em 2015, a 7 de julho, no mesmo hospital onde estava agora internado o marido. Mário Alberto estava então de rosa amarela na mão e rosto enrugado do sorriso, amparado enquanto caminhava mas capaz de uma palmada mais vigorosa nas costas de Marcelo.


Um dos 27 que se juntou em abril de 1973 na cidade alemã de Bad Münstereifel para fundar o Partido Socialista teve uma vida intensa dedicada à política e à democracia. Advogado e professor, envolveu-se desde cedo em atividades de oposição à ditadura do Estado Novo. Preso 12 vezes, acabou deportado para São Tomé, em 1968, e depois exilou-se em França. A seguir ao 25 de Abril, regressou a Lisboa três dias depois, no que ficou conhecido como o "comboio da Liberdade", tendo a aguardá-lo uma multidão na estação de Santa Apolónia.


Desde então o Portugal democrático deve-lhe muito - é reconhecido como sendo o principal líder civil do campo da democracia na convulsão dos dias do PREC (Processo Revolucionário Em Curso) e, nestes 42 anos de liberdade no país, foi ministro dos Negócios Estrangeiros (1974-75) e primeiro-ministro por três vezes (1976-77, 1978 e 1983-85) e foi o obreiro da adesão de Portugal à CEE (a União Europeia de hoje) assinada em 1985.



Chegou a Presidente da República em 1986, como o primeiro Presidente "de todos os portugueses", como se afirmou nessa noite de 26 de janeiro em que foi eleito (numas eleições que dividiram o país ao meio). O seu primeiro mandato foi de tal modo consensual que seria reeleito com uns estratosféricos 70,35% (quase três milhões e meio de votos, resultado nunca alcançado por outro político em eleições nacionais).