Morreu ex-presidente de
Portugal, Mário Soares
O antigo Presidente da República
Mário Soares faleceu este sábado às 15h28, na "presença constante"
dos seus filhos, Isabel e João Soares, informou o director clínico do Hospital
da Cruz Vermelha, onde se encontrava internado.
"É com enorme tristeza que o
Hospital da Cruz Vermelha anuncia a todos que, na presença constante dos seus
filhos João e Isabel, às 15h28 do dia 7 de Janeiro de 2017, ocorreu o
falecimento do doutor Mário Soares", afirmou Manuel Pedro Magalhães numa
curta declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas.
Falando em nome do
estabelecimento de saúde, Manuel Pedro Magalhães agradeceu "a confiança
depositada na sua equipa clínica” e reconheceu que “o nome de Mário Soares, um
grande lutador por ideais vários da democracia, ficará para sempre ligado à
história do Hospital".
Mário Soares encontrava-se
internado desde o dia 13 de Dezembro, tendo sido transferido no dia 22 dos
Cuidados Intensivos para a "unidade de internamento em regime
reservado" do Hospital da Cruz Vermelha, depois de sinais de melhoria do
estado de saúde.
No dia 24, um agravamento súbito
da situação clínica obrigou ao regresso do antigo chefe de Estado à Unidade dos
Cuidados Intensivos.
No dia 31 de Dezembro, dia da
última actualização feita pelo hospital sobre o seu estado de saúde, Mário
Soares continuava em "coma profundo", mas "estável e com
parâmetros vitais normais".
Mário Soares morreu aos 92 anos,
depois de uma vida em que desempenhou os mais altos cargos no país. A sua vida
confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a
ditadura, foi fundador do PS, primeiro-ministro e Presidente da
República.
Nascido em Lisboa, a 7 de
dezembro de 1924, Mário Soares era visto cada vez menos em público. A última
vez tinha sido a 28 de setembro passado, numa homenagem do atual Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, à sua mulher, Maria Barroso, que morreu em
2015, a 7 de julho, no mesmo hospital onde estava agora internado o marido.
Mário Alberto estava então de rosa amarela na mão e rosto enrugado do sorriso,
amparado enquanto caminhava mas capaz de uma palmada mais vigorosa nas costas
de Marcelo.
Um dos 27 que se juntou em abril
de 1973 na cidade alemã de Bad Münstereifel para fundar o Partido Socialista
teve uma vida intensa dedicada à política e à democracia. Advogado e professor,
envolveu-se desde cedo em atividades de oposição à ditadura do Estado Novo.
Preso 12 vezes, acabou deportado para São Tomé, em 1968, e depois exilou-se em
França. A seguir ao 25 de Abril, regressou a Lisboa três dias depois, no que
ficou conhecido como o "comboio da Liberdade", tendo a aguardá-lo uma
multidão na estação de Santa Apolónia.
Desde então o Portugal
democrático deve-lhe muito - é reconhecido como sendo o principal líder civil
do campo da democracia na convulsão dos dias do PREC (Processo Revolucionário
Em Curso) e, nestes 42 anos de liberdade no país, foi ministro dos Negócios
Estrangeiros (1974-75) e primeiro-ministro por três vezes (1976-77, 1978 e
1983-85) e foi o obreiro da adesão de Portugal à CEE (a União Europeia de hoje)
assinada em 1985.
Chegou a Presidente da República
em 1986, como o primeiro Presidente "de todos os portugueses", como
se afirmou nessa noite de 26 de janeiro em que foi eleito (numas eleições que
dividiram o país ao meio). O seu primeiro mandato foi de tal modo consensual
que seria reeleito com uns estratosféricos 70,35% (quase três milhões e meio de
votos, resultado nunca alcançado por outro político em eleições nacionais).