MOXICO TERRA DE MIL MOTIVOS ,
PROFESSORES APROVADOS MAS EXCLUÍDOS, ASSIM VAI O REGIME TIRÂNICO NA NAÇÃO LUNDA
TCHOKWE
Mais de três mil cidadãos aprovados no concurso público do
ministério da Educação, realizado em 2014, queixam-se de injustiça por parte do
governo provincial do Moxico por colocar nos seus lugares pessoas que não
concorreram aos postos de trabalho no passado.
Por Sedrick de Carvalho
Em 2014 foram realizados
concursos públicos em vários sectores da função pública, e o sector da educação
foi um dos que mais vagas tinha. Os aprovados nestes concursos começariam a
trabalhar em 2015, passados seis meses desde os exames de admissão.
No dia 15 de Outubro de 2014,
José Eduardo dos Santos, presidente da República, na sua mensagem sobre o
estado da nação, falou tanto da baixa do preço do petróleo, indicativo da crise
económica dada a dependência quase exclusiva deste recurso natural, que ficou claro
que em 2015 os angolanos desfavorecidos seriam mais desfavorecidos ainda.
Logo no início de 2015, os
aprovados foram informados que, devido à crise económica, o governo havia
cancelado as entradas na função pública. Em seguida ouviram outra promessa: tão
logo surgisse a possibilidade de admissão, os aprovados seriam colocados nos
postos de trabalho para os quais concorreram.
Nelson Mucazo Euclides é um dos
jovens que concorreu e foi aprovado no concurso para o sector da educação. À
nossa reportagem confessou que, apesar de na altura sentir-se preparado para
enfrentar o teste, teve de pagar 40 mil Kzs a um funcionário da Direcção
Provincial da Educação e membro do júri para “garantir o lugar” visto que em
2008, quando também concorreu, não foi apurado.
Em Lumeji Kameia, município onde
fez o exame, não foi afixado o resultado dos testes, por isso não sabe quantos
valores obteve. Apenas sabe que ficou aprovado. O funcionário corrupto
“garantiu o lugar”.
Os 40 mil Kzs pagos por Nelson
não é o máximo que se cobrava na altura, pois há quem pagou 250 mil Kzs pela
vaga. Um amigo de Nelson, que concorreu no município de Kamanongue, pagou 150
mil Kzs. Nesse município os resultados foram afixados, e o jovem obteve 19,5
valores.
O governo provincial anunciou, em
2014, que estavam aprovados 3.114 professores. O número dos concorrentes não
foi divulgado, mas estima-se que tenham ultrapassado cinco mil.
Por imperativo constitucional,
este ano deverão acontecer eleições em Angola. A crise económica continua e
tem-se agravado a cada dia, mas foi autorizada a admissão de funcionários
públicos, em contradição com a justificação dada em 2014, pelo que muitos
desconfiam ser manobra eleitoral do MPLA enquanto governo.
Foram afixadas novas listas na
escola do primeiro ciclo Camarada Tchifuchi, localizada no Lwena, capital da
província, com o nome dos aprovados para o sector da educação. Ao contrário de
2014, desta vez constam da lista apenas 695 professores apurados.
Para além de não constar o nome
de Nelson Mucazo, nenhum dos seus 16 amigos que também concorreram e foram
aprovados em 2014 têm o nome na lista, inclusive o jovem que teve 19,5 valores
em Kamanongue.
“Esperamos pacientemente que a
tal crise passasse e nos chamassem como prometeram. Não passou ainda mas
disseram que nos vão colocar, mas fomos surpreendidos pelas listas publicadas e
os nomes dos apurados em 2014 não vimos, não estão lá, e desconhecemos como foi
feita está selecção”, reclama Nelson Mucazo.
O governo provincial chegou a
divulgar 3.114 aprovados em 2014, como já referimos. Agora alega que os 695
foram seleccionados dentre os 3.063, o que não corresponde com o número
divulgado na altura.
“Quando publicaram na primeira
vez que concorremos eram 3.114 vagas, mas desta vez apresentam 3.063. Até isso
também pode ser outra pergunta, porque o povo todo tem conhecimento de 3.114, e
como aparece este outro número?”, questionou Nelson.
Para além dos aprovados, um grupo
de jovens que foram formados pela ONG norueguesa Ajuda de Desenvolvimento de
Povo para Povo (ADPP) e que também tinham garantias de admissão imediata não
foram seleccionados. “Segundo eles [os jovens formados], a Direcção Provincial
da Educação fornecera-lhes as guias de colocação e prometido que eles seriam
colocados, mas nenhum deles saiu na lista”, contou Nelson.
Tal como Nelson, muitos jovens no
Moxico esperavam sair do desemprego ao ingressar na função pública, tanto que
não hesitaram em se envolver nos esquemas de corrupção montados por
funcionários locais. “Sempre só discriminado, e até agora não sei o que farei
para ter emprego porque não tenho pai na cozinha como eles dizem”, lamenta.
Os professores excluídos da lista
acreditam que em seus lugares foram colocados familiares e pessoas que
compraram vagas pelo valor mais alto. Actualmente exigem esclarecimento por
parte do director provincial da educação, e pedem que lhes seja mostrado o
resultado dos exames de 2014. As autoridades do Moxico não respondem, mas eles
prometem não cruzar os braços enquanto a situação não for resolvida.