COLOMBIANOS RECUSAM ACORDO DE
PAZ COM AS FARC
O
"não" venceu, tendo chegado aos 50,21%, enquanto o "sim"
alcançou os 49,78%.
Os
colombianos recusaram neste domingo em referendo o acordo assinado entre os
guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o
Presidente Juan Manuel Santos. O "não" venceu, tendo chegado aos
50,21%, enquanto o "sim" alcançou os 49,78%. A participação foi de
37,28%, o que equivale a 34,9 milhões de votantes. A pergunta que constava no
boletim de voto era: "Apoia o acordo final para a conclusão do conflito e
a construção de uma paz estável e duradoura?", que é também o título do
acordo que foi sendo negociado entre as duas partes em Cuba.
Esta votação, não obrigatória, era um dos
obstáculos a superar depois de 52 anos de luta armada entre a guerrilha de
inspiração marxista e as forças de segurança colombianas. O
acordo, com 297 páginas, foi assinado pelo líder das FARC (Timoleon Jiménez
ou "Timochenko") e pelo Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no
dia 26 de Setembro durante uma cerimónia histórica em Cartagena.
Tanto o Presidente como o líder da guerrilha
já se pronunciaram sobre o resultado do referendo. Santos garante que procurará
a paz até ao último dia do seu mandato, enquanto o líder das FARC afirma que
continuará a apostar na paz, ambos citados pelo diário El Tiempo. "As
FARC mantêm o seu desejo de paz e reiteram a sua disposição para usar apenas a
palavra como arma de construção do futuro", disse o principal rosto da
guerrilha citado pelo mesmo jornal.
"Esta derrota não deve desestabilizar o
país. O cessar-fogo continua válido", disse Santos numa mensagem ao país
transmitida pela televisão. O Presidente anunciou que se reunirá com as forças
políticas que apoiaram o "não". E já deu instruções aos seus principais
negociadores para se deslocarem até Havana, onde têm decorrido todo o processo
de aproximação.
Na Colômbia, só o perdão pode
acabar com a guerra
A pergunta que está na cabeça de toda a gente
é: "E agora?". O futuro político de Santos fica mais fragilizado com
este resultado, depois de quatro anos de empenhamento para que o acordo com os
guerrilheiros fosse alcançado. Com este escrutínio, o Presidente queria "a
maior legitimidade possível" para o documento que pretende pôr fim ao mais
antigo conflito armado das Américas que, ao longo dos anos, implicou várias
formações guerrilheiras de extrema-esquerda, milícias para-militares de
extrema-direita bem como as forças de segurança colombianas.
Estima-se que o conflito tenha feito 260 mil
mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
O Governo colombiano declarou por várias
vezes não ter nennhum plano B em caso de vitória do "não", tendo
rejeitado qualquer hipótese de renegociação do documento, cenário também já
posto de parte pelas FARC. Numa entrevista à AFP, o Presidente colombiano
chegou a admitir que uma eventual recusa do acordo em referendo significaria
"o regresso dos guerrilheiros à selva".
Este resultado de certa maneira inesperado
contraria várias sondagens das últimas semanas que colocavam o "sim"
à frente, ainda que com margens curtas. O acordo previa a reconversão da
guerrilha (criada em 1964 e ainda com 5765 combatentes) numa organização
política legítima, depois de terem depositado as armas à guarda da ONU.
Opositor declarado ao acordo com as FARC, o
antigo presidente de direita e actual senador Alvaro Uribe voltou a criticar o
processo neste domingo: "A paz é entusiasmante, os textos de Havana são
decepcionantes". Os partidários do "não" denunciaram, entre
outras coisas, o "laxismo" das sanções previstas contra os autores
dos crimes de guerra mais graves, e a participação de guerrilheiros
desmobilizados na vida política activa que criaram uma tendência ideológica
"castro-chavista" inspirada nos regimes de Cuba e Venezuela.
Segundo o ministro da Defesa colombiano, Luis
Carlos Villegas, citado pela AFP, apesar da surpresa causada pelo resultado
estas foram as eleições "mais calmas da história em matéria de segurança e
ordem pública.
No total, foram mobilizados 240 mil polícias
e militares para garantir a segurança da votação em mais de 82 mil mesas de
voto. Na maior parte do país, "a jornada eleitoral desenrolou-se sem
nenhum problema apesar da chuva", informou o director da Comissão
Eleitoral, Juan Carlos Galindo.