segunda-feira, 3 de outubro de 2016

COLOMBIANOS RECUSAM ACORDO DE PAZ COM AS FARC

COLOMBIANOS RECUSAM ACORDO DE PAZ COM AS FARC

O "não" venceu, tendo chegado aos 50,21%, enquanto o "sim" alcançou os 49,78%.


Os colombianos recusaram neste domingo em referendo o acordo assinado entre os guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o Presidente Juan Manuel Santos. O "não" venceu, tendo chegado aos 50,21%, enquanto o "sim" alcançou os 49,78%. A participação foi de 37,28%, o que equivale a 34,9 milhões de votantes. A pergunta que constava no boletim de voto era: "Apoia o acordo final para a conclusão do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?", que é também o título do acordo que foi sendo negociado entre as duas partes em Cuba.


Esta votação, não obrigatória, era um dos obstáculos a superar depois de 52 anos de luta armada entre a guerrilha de inspiração marxista e as forças de segurança colombianas. O acordo, com 297 páginas, foi assinado pelo líder das FARC (Timoleon Jiménez ou "Timochenko") e pelo Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no dia 26 de Setembro durante uma cerimónia histórica em Cartagena. 


Tanto o Presidente como o líder da guerrilha já se pronunciaram sobre o resultado do referendo. Santos garante que procurará a paz até ao último dia do seu mandato, enquanto o líder das FARC afirma que continuará a apostar na paz, ambos citados pelo diário El Tiempo. "As FARC mantêm o seu desejo de paz e reiteram a sua disposição para usar apenas a palavra como arma de construção do futuro", disse o principal rosto da guerrilha citado pelo mesmo jornal.


"Esta derrota não deve desestabilizar o país. O cessar-fogo continua válido", disse Santos numa mensagem ao país transmitida pela televisão. O Presidente anunciou que se reunirá com as forças políticas que apoiaram o "não". E já deu instruções aos seus principais negociadores para se deslocarem até Havana, onde têm decorrido todo o processo de aproximação. 


Na Colômbia, só o perdão pode acabar com a guerra


A pergunta que está na cabeça de toda a gente é: "E agora?". O futuro político de Santos fica mais fragilizado com este resultado, depois de quatro anos de empenhamento para que o acordo com os guerrilheiros fosse alcançado. Com este escrutínio, o Presidente queria "a maior legitimidade possível" para o documento que pretende pôr fim ao mais antigo conflito armado das Américas que, ao longo dos anos, implicou várias formações guerrilheiras de extrema-esquerda, milícias para-militares de extrema-direita bem como as forças de segurança colombianas.


Estima-se que o conflito tenha feito 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.


O Governo colombiano declarou por várias vezes não ter nennhum plano B em caso de vitória do "não", tendo rejeitado qualquer hipótese de renegociação do documento, cenário também já posto de parte pelas FARC. Numa entrevista à AFP, o Presidente colombiano chegou a admitir que uma eventual recusa do acordo em referendo significaria "o regresso dos guerrilheiros à selva".



Este resultado de certa maneira inesperado contraria várias sondagens das últimas semanas que colocavam o "sim" à frente, ainda que com margens curtas. O acordo previa a reconversão da guerrilha (criada em 1964 e ainda com 5765 combatentes) numa organização política legítima, depois de terem depositado as armas à guarda da ONU.


Opositor declarado ao acordo com as FARC, o antigo presidente de direita e actual senador Alvaro Uribe voltou a criticar o processo neste domingo: "A paz é entusiasmante, os textos de Havana são decepcionantes". Os partidários do "não" denunciaram, entre outras coisas, o "laxismo" das sanções previstas contra os autores dos crimes de guerra mais graves, e a participação de guerrilheiros desmobilizados na vida política activa que criaram uma tendência ideológica "castro-chavista" inspirada nos regimes de Cuba e Venezuela. 



Segundo o ministro da Defesa colombiano, Luis Carlos Villegas, citado pela AFP, apesar da surpresa causada pelo resultado estas foram as eleições "mais calmas da história em matéria de segurança e ordem pública.




No total, foram mobilizados 240 mil polícias e militares para garantir a segurança da votação em mais de 82 mil mesas de voto. Na maior parte do país, "a jornada eleitoral desenrolou-se sem nenhum problema apesar da chuva", informou o director da Comissão Eleitoral, Juan Carlos Galindo.