sábado, 28 de julho de 2012

LISBOA - Exposição sobre expedição do primeiro Governador da Lunda Tchokwe


LISBOA - Exposição sobre expedição do primeiro Governador da Lunda Tchokwe



Em 1884, o major Augusto Henrique Dias de Carvalho iniciou uma expedição em Angola, que tinha como destino a Mussumba (corte) do império Lunda. Um século depois o que resultou dessa viagem, que durou cerca de quatro anos, pode ser visto em Portugal, numa exposição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, sob o título «Memórias de um explorador».

Patente até ao dia 31 de Julho, a exposição percorre o vasto espólio da colecção doada por Henrique de Carvalho à Sociedade de Geografia de Lisboa. Nela podem ser vistos alguns documentos, mapas, fotografias e objectos que constituíram a preparação e o resultado da expedição do explorador português, que veio a ser o primeiro governador da Lunda.

A viagem de Henrique de Carvalho iniciou-se em Maio de 1884, a partir de Malanje, com o objectivo de atingir a Mussumba do império Lunda, situada na actual República Democrática do Congo.

Já antes tinham passado pela Lunda, no coração da África Central, várias expedições, donde se destacam a de “David Livingston, enviado pela London Missionary Society em 1840, a Verney Lovott Camaron, do alemão Otto Schuth em 1887, de Max Bucher em 1879”. A do major Henrique Carvalho é, no entanto, considerada a “mais célebre” de todas e a que deixa mais marcas.

Da longa e dura expedição científica, diplomática e comercial à Lunda (Angola), entre os anos de 1884 a 1887, resultou a constituição de colecções científicas no âmbito da etnografia, fauna e flora, o registo de observações meteorológicas, um álbum fotográfico e a publicação de uma obra em oito volumes.



Henrique Carvalho acabou por doar  essa vasta colecção etnográfica à Sociedade de Geografia de Lisboa que a coloca agora à disposição do público português, nesta mostra patrocinada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Projecto Explora e que tem como curadora a professora Manuela Cantinho.


A exposição conta ainda com o apoio da Fundação Escom que, como investidor em Angola, se quis associar a esta iniciativa, no âmbito da sua política de mecenato cultural.

“A exposição retrata a zona das Lundas, onde temos investimentos na  área da exploração mineira”, explicou ao Novo Jornal José Tavares de Almeida, lembrando que já em 2010 a Fundação Escom resolveu lançar a edição portuguesa do livro «A arte decorativa Tchokwe», da investigadora belga Marie Louise Bastin, com o objectivo de colocar à disposição do mundo lusófono um livro cujo “valor  científico é referência obrigatória para os investigadores, estudantes e o público em geral”, referiu então o presidente da Escom, Hélder Bataglia. Ao longo de um mês podem ser vistos, na Sociedade de Geografia de Lisboa, documentos, fotografias, mas também objectos Tchokwe e Kongo dessa importante colecção.

Henrique Augusto Dias de Carvalho foi o primeiro governador da Lunda, entre 1920 e 1957,  muito depois da sua expedição, durante a qual assinou “vários tratados de Protectorados com chefes Lunda-Tchokwe, sendo os mais importantes com Xa-Mutepa, Caungula, Muachissengue e Muachianva Mucanza Samaliamba, este último na Mussumba a 18 de Janeiro de 1887”.

“No âmbito da organização e direcção das operações militares de ocupação colonial portuguesa, foi criado através do Decreto de 13 de Julho de 1895, o Distrito da Lunda, tendo Capenda-Camulemba como sede capital e em 1905, 1907 e 1912, são fundados sucessivamente os postos de Caungula, Camaxilo e Mona-Quimbundo”, lê-se numa resenha histórica sobre a província da Lunda colonial ou Protectorado.


Nesse texto é referido ainda que “em consequência das reformas administrativas da potência colonizadora (Portugal), a Lunda toma em 1917 o carácter de Distrito Militar com sede em Saurimo e a 20 de Abril de 1929, Saurimo recebe a denominação de “Vila Henrique de Carvalho”, em homenagem ao chefe da expedição portuguesa, também primeiro Governador do novo distrito”.

Isabel Costa Bordalo