LISBOA - Exposição sobre expedição do primeiro Governador
da Lunda Tchokwe
Em
1884, o
major Augusto Henrique Dias de Carvalho
iniciou uma expedição em Angola,
que tinha como destino a Mussumba (corte) do império Lunda. Um século depois o
que resultou dessa viagem, que durou cerca de quatro anos, pode ser visto em
Portugal, numa exposição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, sob
o título «Memórias de um
explorador».
Patente
até ao dia 31 de Julho, a exposição percorre o vasto espólio da colecção doada
por Henrique de Carvalho à Sociedade de Geografia de Lisboa. Nela podem ser
vistos alguns documentos, mapas, fotografias e objectos que constituíram a
preparação e o resultado da expedição do explorador português, que veio a ser o
primeiro governador da Lunda.
A
viagem de Henrique de Carvalho iniciou-se em Maio de 1884, a partir de Malanje,
com o objectivo de atingir a Mussumba do império Lunda, situada na actual
República Democrática do Congo.
Já
antes tinham passado pela Lunda, no coração da África Central, várias
expedições, donde se destacam a de “David
Livingston, enviado pela London Missionary Society em 1840, a Verney Lovott
Camaron, do alemão Otto Schuth em 1887, de Max Bucher em 1879”. A do major Henrique Carvalho é, no entanto,
considerada a “mais célebre” de todas e a que deixa mais marcas.
Da
longa e dura expedição científica, diplomática e comercial à Lunda (Angola),
entre os anos de 1884 a 1887, resultou a constituição de colecções científicas
no âmbito da etnografia, fauna e flora, o registo de observações
meteorológicas, um álbum fotográfico e a publicação de uma obra em oito
volumes.
Henrique
Carvalho acabou por doar essa vasta
colecção etnográfica à Sociedade de Geografia de Lisboa que a coloca agora à
disposição do público português, nesta mostra patrocinada pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia no âmbito do Projecto Explora e que tem como curadora a
professora Manuela Cantinho.
A
exposição conta ainda com o apoio da Fundação Escom que, como investidor em Angola,
se quis associar a esta iniciativa, no âmbito da sua política de mecenato
cultural.
“A
exposição retrata a zona das Lundas, onde temos investimentos na área da exploração mineira”, explicou ao Novo
Jornal José Tavares de Almeida, lembrando que já em 2010 a Fundação Escom
resolveu lançar a edição portuguesa do livro «A
arte decorativa Tchokwe», da investigadora belga Marie Louise Bastin, com o objectivo
de colocar à disposição do mundo lusófono um livro cujo “valor científico é referência obrigatória para os
investigadores, estudantes e o público em geral”, referiu então o presidente da
Escom, Hélder Bataglia. Ao longo de um mês podem ser vistos, na Sociedade de
Geografia de Lisboa, documentos, fotografias, mas também objectos Tchokwe e
Kongo dessa importante colecção.
Henrique
Augusto Dias de Carvalho foi o primeiro governador da Lunda, entre 1920 e 1957,
muito depois da sua expedição, durante a
qual assinou “vários tratados de Protectorados com chefes Lunda-Tchokwe, sendo os mais
importantes com Xa-Mutepa,
Caungula, Muachissengue e Muachianva Mucanza Samaliamba, este último na
Mussumba a 18 de Janeiro de 1887”.
“No
âmbito da organização e direcção das operações militares de ocupação colonial
portuguesa, foi criado através do Decreto de 13 de Julho de 1895, o Distrito da
Lunda, tendo Capenda-Camulemba como sede capital e em 1905, 1907 e 1912, são
fundados sucessivamente
os postos de Caungula, Camaxilo e Mona-Quimbundo”, lê-se numa resenha histórica
sobre a província da Lunda colonial ou Protectorado.
Nesse
texto é referido ainda que “em consequência das reformas administrativas da
potência colonizadora (Portugal), a Lunda toma em 1917 o carácter de Distrito
Militar com sede em Saurimo e a 20 de Abril de 1929, Saurimo recebe a
denominação de “Vila Henrique de
Carvalho”, em homenagem ao chefe da expedição portuguesa,
também primeiro Governador do novo distrito”.
Isabel
Costa Bordalo