Lisboa - Ao fim de mais de 4 anos de trabalho, Rafael Marques vai finalmente colocar no mercado um extenso levantamento sobre a exploração e comércio de diamantes em Angola.
*Marques da Silva
Fonte: NJ
Intitulado “ Diamantes de Sangue, Corrupção e Tortura em Angola” e publicada em forma de livro, a obra é o resultado de mais de 10 viagens à Lunda Norte, região onde se concentram as principais áreas de exploração aluvial diamantífera.
Além do balanço de mais de 10 viagens que efectuou àquela província de Angola, “ Diamantes de Sangue” congrega o resultado de mais centenas de entrevistas, e experiências vividas por Rafael Marques em casos que envolveram detenções, confisco de documentos e pressão política.
Conhecido por conduzir extensivas investigações sobre direitos humanos e corrupção em Angola, Rafael Marques narra questões como mortes de cidadãos locais às mãos de militares das forças armadas e de companhias de segurança, que em alguns casos se confundem uma com a outra.
Detido e interrogado ele próprio em mais de uma ocasião, Rafael Marques atribui às companhias de segurança e a algumas concessionárias, na maior parte dos casos controladas por uma mesma instituição, “autoridade extraordinária” em todas as áreas de exploração de diamantes.
Do trabalho de Rafael Marques, fazem parte também abordagens e avaliações conduzidas por organismos governamentais angolanos. De acordo com Rafael Marques, confrontadas com o que os seus documentos diziam, o ministério da Defesa, Estado Maior General das Forças Armadas e outros organismos oficiais preferiram o silêncio.
Rafael Marques observa também que tentou, sem sucesso, a reacção de concessionárias e de empresas de segurança.
Segundo Rafael Marques, a intervenção abusiva e sem limites de empresas privadas, detidas por membros da elite, submeteu os garimpeiros locais a uma espécie de regime de escravatura.
“Além de impedidos a desenvolver como faziam há dezenas de anos, qualquer actividade de subsistência, são sujeitos a prisões arbitrárias, mortes e à tortura”.
De acordo com relatos do livro, o que se passa nas Lundas é reflexo da política executada em Luanda, e que faz com que a corrupção se tenha tornado no principal obstáculo à democratização de Angola.
Distinguido em 2000 com o Civil Courage Prize, pela Northcote Parkinson Foundation, Rafael Marques dá uma luz sobre a composição dos monopólios que controlam a exploração de diamantes de Angola, e que nalguns casos, envolvem cidadãos angolanos, russos, e instituições portuguesas e britânicas.
Rafael Marques é formado em jornalismo e antropologia pela Universidade de Londres, e mestre em estudos africanos pela universidade de Oxford. Actualmente encontra-se nos EUA a convite da National Endowment for Democracy de quem beneficia de uma bolsa para investigação e da qual fez parte um trabalho sobre corrupção em Angola, apresentado em Washington em Abril passado.
Como resultado de um seu aturado trabalho de investigação, a Daimler-Mercedes pôs fim a sua participação na sociedade conhecida como Auto-Star e que tinha adquirido licença para actuar como agente daquela marca alemã em Angola. Foi também uma denúncia sua que levou a Comissão de Mercado de Capitais dos EUA, a investigar se a Cobalt não violou a Lei sobre a corrupção de identidades estrangeiras. A Cobalt foi citada numa relatório de Rafael Marques como sendo sócia de dignitários angolanos na exploração de petróleo num processo em que a parte angolana não investiu absolutamente nada.
A Cobalt anunciou no mês passado o fim da sua participação nessa joint venture. A passagem pelos EUA já o levou a duas audiências no Departamento de Estado. Em ambos os casos, conversou com o sub-secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos, Johnny Carson.
O trabalho de Rafael Marques chegará às livrarias na próxima quinta-feira. O lançamento está previsto para 15 de Setembro em Lisboa, Portugal.