ZENÚ O FILHO DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS A ESPERANÇA DO DESESPERO
Rui Verde, doutor em Direito, 5 de Dezembro de 2015
Zenú, num momento de dança, é a esperança do regime para a
sucessão do pai José.
Em 2012, quando Manuel Vicente foi designado vice-presidente
de Angola, os fala-baratos do costume apressaram-se a anunciar que ali estava o
futuro presidente, um homem de gosto requintado, que bebia vinho francês, um
gestor de topo com a capacidade de um Jack Welch, que tinha tornado a Sonangol
uma das referências petrolíferas mundiais. A pátria abria a boca de espanto
perante tão egrégia luminária.
Rapidamente, entre os próprios que designaram Vicente, foi-se
desconstruindo a grosseira ficção. Afinal, sob o comando de Manuel Vicente, a
Sonangol tornou-se um paquiderme frouxo à beira da falência, fruto de uma
gestão descuidada; e o gosto refinado pelos vinhos transformou-se em anedota,
quando se soube que Vicente mandava o jacto a Paris buscar as melhores
colheitas, mas não dava boleia a ninguém para não perturbar a temperatura do
vinho… Vicente assumiu o posto de ajudante social do presidente, para ir aos
locais aonde este não quer ou não pode ir.
A realidade é que a aposta da família real angolana sempre
foi que José Filomeno dos Santos “Zenú” sucedesse ao pai José no trono, logo
que este considerasse que era tempo para isso. Kabila não sucedera a Kabila? E,
nos EUA, Bush não sucedera, passado um interregno, a Bush? Então porque é que
Santos não sucederia a Santos?
Zenú representava a Angola moderna e de sucesso, quando esta
crescia a dois dígitos.
Tinha porte de “Mestre do Universo”, rodeava-se de jovens
ambiciosos que conduziam carros desportivos brilhantes. Era o símbolo da nova e
próspera Angola. Tal como a irmã, formara-se em Inglaterra (também Bashar
Al-Assad, o ditador da Síria, é filho do ditador-presidente Hafez Al-Assad, e
tirou o curso de oftalmologista em Inglaterra, e no entanto…).
Para fazer o seu tirocínio, Zenú ficou a comandar o famoso
Fundo Soberano de Angola - nomeado por José Eduardo dos Santos, o pai. Tirando
os anúncios propagandísticos, até ao momento, o que se sabe é que constituiu um
Fundo Hoteleiro. Não parece que fazer hotéis seja uma prioridade absoluta para
Angola, onde aliás o sector privado poderia tranquilamente investir. Fora os
hotéis, o que aparece são intenções… aliás, muitas e amplas intenções.
Estranhamente, os investimentos do Fundo parecem limitar-se a construções de
longo prazo, não incidindo sobre instrumentos com liquidez. Ora, sabendo-se o
risco e a má gestão que os investimentos públicos têm tido, torna-se quase
aterrorizador olhar para a estratégia de investimento do Fundo, devido à
incerteza e ao risco. Sobretudo quando não há nada para ver de concreto.
E na actual crise, o Fundo não tem cumprido nenhuma função,
contrariando assim um dos seus objectivos estatutários, que é a “salvaguarda
contra quaisquer eventos futuros que possam ter impacto na economia nacional”.
(decreto presidencial 107/13, de 28 de Junho). Estamos numa crise séria e com
impacto… Dá ideia que o Fundo é um fiasco, mas só perante números reais de 2015
se poderá confirmar esta conclusão.
Zenú é a esperança do desespero em que se encontra o regime,
o qual sustentou a sua legitimidade política nos resultados crescentes da
economia, que se esperava que viessem a beneficiar todos. O problema é que o
crescimento não beneficiou todos e agora há crise, e ninguém espera que Zenú
ajude a resolver nada.
Zenú espera nas margens, como esperava Gamal Mubarak no
Egipto para suceder ao pai Hosni Mubarak. Tal como para Mubarak, o tempo
foge-lhe, e nada há para apresentar.
A esperança do regime vai ser outro desespero.