POR QUE BARACK OBAMA ESTÁ TÃO
SILENCIOSO EM RELAÇÃO À NOVA GUERRA NO CONGO?
País africano está
prestes a entrar em nova guerra civil, o que beneficia os interesses econômicos
dos EUA na região.
A última Guerra do
Congo, que terminou em 2003, matou 5,4 milhões de pessoas – o pior desastre
humanitário desde a II Guerra Mundial. A matança foi diretamente possibilitada
pelo silêncio internacional sobre o assunto. A guerra foi ignorada e as causas
foram tornadas obscuras, uma vez que alguns governos estavam apoiando grupos
envolvidos no conflito. Agora, uma nova guerra no Gongo se iniciou e o silêncio
é, mais uma vez, ensurdecedor.
O presidente Obama parece não ter notado que uma nova guerra eclodiu no belicoso Congo. Ele parece estar cego diante da crise dos refugiados e dos crimes de guerra cometidos pela invasiva milícia do M23 contra o governo democraticamente eleito da RDC (República Democrática do Congo).
Mas as aparências podem enganar. O governo norte-americano tem suas mãos sujas de sangue pairando sobre este conflito, tal como as teve durante a última Guerra do Congo, quando Bill Clinton era presidente. A inércia do presidente Obama, assim como foi a de Clinton, é um ato consciente de encorajamento dos invasores. Em vez de Obama denunciar a invasão e a iminente derrubada de um governo democraticamente eleito, seu silêncio se torna uma ação muito poderosa e intencional de cumplicidade em relação aos invasores.
Por que Obama faria isso? Os invasores são armados e financiados por Ruanda, um “forte aliado” e marionete dos Estados Unidos. A Organização das Nações Unidas divulgou um relatório conclusivo provando que o governo de Ruanda está apoiando os rebeldes, mas o governo e a mídia norte-americanos fingem que o tema é discutível.
A última Guerra do
Congo, que matou 5,4 milhões de pessoas, foi também o resultado de os Estados
Unidos apoiarem grupos rebeldes armados em Ruanda e Uganda, conforme relatado
no livro “A Guerra Mundial da África” (Africa's World War), em uma excelente
apuração feita pelo jornalista francês Gerard Prunier.
De fato, muitos dos mesmos criminosos de guerra ruandeses envolvidos na última Guerra do Congo, tais como Bosco Ntaganda, estão no comando da milícia M23 e são procurados por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional da ONU. O atual presidente ruandês, Paul Kagame, é um “bom amigo” do governo norte-americano e um dos mais notórios criminosos de guerra do planeta, devido a seu papel central no genocídio de Ruanda e na consequente Guerra do Congo.
Um grupo de ativistas congoleses e ruandeses tem exigido que Kagame seja julgado por seu papel chave no genocídio de Ruanda.
Tal como explica o livro de Prunier, o genocídio ruandês foi deflagrado pela invasão de Kagame a Ruanda – vindo da aliada norte-americana Uganda. Depois de tomar o poder na Ruanda pós-genocídio, Kagame informou aos Estados Unidos – durante uma viagem a Washington – que ele invadiria o Congo. Prunier relatou a declaração de Kagame em “A Guerra Mundial da África” (Africa's World War):
“Eu fiz uma advertência velada [aos Estados Unidos]: o fracasso da comunidade internacional para tomar uma atitude [contra o Congo] significaria que Ruanda iria tomar uma atitude... Mas sua resposta [da administração Clinton] foi simplesmente nenhuma”. (p. 68).
Na linguagem da
diplomacia internacional, uma falta de resposta como essa – a uma ameaça de
invasão militar – significa um claro sinal verde diplomático.
O mesmo sinal verde
está sendo agora oferecido por Obama a exatamente os mesmos criminosos de
guerra à medida que estes invadem o Congo.
Mas por que isso de
novo? O atual presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila,
ajudou a liderar a invasão militar durante a última Guerra do Congo. Como um
bom pau mandado, ele entregou as imensas riquezas de mineração e petróleo
congolesas a corporações multinacionais. Mas então, as cordas de seu fantoche
começaram a se esfiapar.
Posteriormente,
Kabila se distanciou das marionetes norte-americanas Ruanda e Uganda, isso sem
mencionar o fato de os Estados Unidos terem dominado o FMI (Fundo Monetário
Internacional) e o Banco Mundial. O FMI, por exemplo, alertou Kabila contra um
pacote de ajuda para desenvolvimento e infraestrutura da China, mas Kabila deu de
ombros. The Economist explica:
“...[O Congo] parece
ter levantado a mão mais alto em uma fila com doadores estrangeiros quanto a um
pacote de mineração e infraestrutura no valor de 9 bilhões de dólares que foi
acordado um ano atrás com a China. O FMI se opôs a ele sob o argumento de que
isso sobrecarregaria o Congo com uma nova e enorme dívida. Então [o FMI] está
retardando o perdão da maior parte dos 10 bilhões de dólares a mais que o Congo
já deve”.
Esse ato
instantaneamente transformou Kabila, um amigo não confiável, em um inimigo. Os
Estados Unidos e a China têm lutado loucamente pela imensa riqueza africana de
matérias-primas, e a nova aliança de Kabila com a China era demais para os
Estados Unidos tolerarem.
Kabila inflamou ainda
mais seus antigos aliados ao exigir que as corporações internacionais que
exploram os metais preciosos congoleses tenham seus super lucrativos contratos
renegociados, de forma que o país possa receber algum benefício de suas
riquezas.
Na RDC residem mais
de 80% do cobalto mundial, um metal extremamente precioso utilizado para
construir muitas tecnologias modernas, incluindo armamentos, telefones
celulares e computadores. A RDC é possivelmente o país mais rico do mundo em
recursos minerais – repleto de tudo, desde diamante a petróleo –, muito embora
sua população esteja entre as mais pobres do mundo, devido a gerações de saques
corporativos de sua riqueza.
Agora, uma nova
guerra está sendo travada e ONU está literalmente sentada sobre suas mãos. Há
17.500 soldados pacificadores da ONU na RDC, isso sem mencionar suas Forças
Especiais. A milícia M23 tem três mil soldados. Qual foi a resposta da ONU para
a invasão? O New York Times reporta:
“Os oficiais das
Nações Unidas disseram que eles não têm número para combater os rebeldes e que
estavam preocupados com os efeitos colaterais, mas muitos congoleses tiraram
suas próprias conclusões. Na quarta-feira, desordeiros em Bunia, ao norte de
Goma, saquearam casas onde estava um pessoal da ONU”.
Se Obama e/ou a ONU
fizessem alguma declaração pública sobre defender militarmente o governo
congolês eleito contra a invasão, a milícia do M23 nunca teria agido.
A Human Rights Watch
e outros grupos classificaram corretamente os comandantes do M23 como
responsáveis por “massacres étnicos, recrutamento de crianças, extorsões em
massa, assassinatos, sequestros e tortura.
Mas, nas Nações
Unidas, a administração Obama tem protegido ativamente esse grupo. Segue-se no
New York Times:
“Alguns grupos de
direitos humanos dizem que Susan Rice, embaixadora norte-americana nas Nações
Unidas e um dos nomes mais cotados para ser a próxima secretária de Estado de
Obama, tem sido muito suave com Ruanda, que é um aliado próximo dos Estados
Unidos e cujo presidente, Paul Kagame, conhece Rice há anos. Os ativistas a
acusam de atenuar as palavras em uma resolução do Conselho de Segurança que
teria mencionado as ligações de Ruanda com os rebeldes do M23. Também dizem que
ela tentou bloquear a publicação de parte de um relatório [da ONU] que detalhou
o apoio encoberto de Ruanda ao M23”.
É provável que a
administração Obama entre em ação assim que seus aliados do M23 completem seus
objetivos militares de mudança de regime político e reabram as riquezas do
Congo para que corporações norte-americanas possam lucrar com elas. Há
atualmente algumas conversas ocorrendo no fantoche norte-americano Uganda entre
o M23 e o governo do Congo. É improvável que essas conversas produzam algum
resultado, a menos que Kabila renuncie e permita que o M23 e seus apoiadores
ruandeses assumam o país. O M23 sabe que esta é uma excelente posição para
negociação, dado o silêncio da ONU e do governo dos Estados Unidos.
Se a guerra
prosseguir, espere por mais silêncio internacional. Espere também por mais
massacres e limpeza étnica, e espere que as pessoas do Congo, ainda em
recuperação, sejam jogadas novamente em massivos campos de refugiados, nos
quais elas podem novamente esperar por assassinatos patrocinados por milícias,
estupro, fome, e as várias barbaridades que têm acompanhado essa guerra
especialmente brutal – uma brutalidade que cresce mais ferozmente em ambientes
de silêncio.