CABINDA -
Nzita Tiago quer o fim da guerra
Nem independência nem autonomia
“…o que nós pretendemos é a paz”
CABINDA - Nzita Tiago quer o fim da guerra A FLEC, de Nzita Tiago,
parece estar seriamente empenhada em conversações que levem a paz a Cabinda.
Na nossa edição de 4 de Maio
publicámos o anseio do rebelde cabindense, de 84 anos, residente em Paris, revelando
uma proposta endereçada ao Governo, que está na posse do general Manuel Hélder
Vieira Dias (Kopelipa), chefe da Casa Militar da Presidência da República, responsável
por este dossier.
Na notícia, que foi manchete do Novo
Jornal, referia-se o nome de Khendhrah Silverbridge como sendo porta-voz da
FLEC, condição agora confirmada por uma entrevista que a mensageira de Nzita
Tiago concedeu à revista de grande circulação, em língua francesa, «Jeune
Afrique», de 29 de Abril passado, assinada por Anne Kappès-Grangé, na qual, de forma muito
clara, se evenciam os propósitos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda:
«Nós somos realistas (…) Nós não pretendemos
mais a independência, nem mesmo a autonomia. O que nós pretendemos é a paz para
os cabindenses. (…) Não reivindicamos o dinheiro do petróleo, mas as
infraestruturas».
Khendhrah Silverbridge confirma, nesta
entrevista, que o Governo de Luanda ainda não respondeu à solicitação para
abertura de conversações afirmando que «Nzita
Tiago é um conhecedor do dossier, muito respeitado e o único interlocutor
com o qual Angola deve aceitar dialogar».
Anne Kappès-Grangé traça um breve quadro da situação cabindense
referindo que o Governo reforçou, nas últimas semanas, a presença militar em
Cabinda, e considera que Nizita Tiago perdeu influência no terreno, nomeadamente
para a facção de Alexandre Tati Builo,
considerando o movimento muito dividido.
Poderá ser esta divisão, aliás, o
motivo que justifica o facto de o Governo ainda não ter dado uma resposta clara
aos propósitos de Nzita Tiago.
Citando uma sua fonte, o «Jeune Afrique»
não deixa margem para dúvidas quando à divisão reinante no seio da FLEC, de que
o atentado à comitiva do Togo, aquando do «CAN
2010», na fronteira com o Congo, constituiu exemplo incontornável:
«A iniciativa de Nzita Tiago é
interessante, mas, é tomada a partir de Paris. (…) Tiago não tem apoio popular
para decretar um cessar-fogo. As armas estão nas mãos de Alexandre Tati Builo».
E a jornalista do «Jeune Afrique» afirma, a propósito do
guerrilheiro da FLEC-FAC, aquilo que é público: «Luanda
recusa ver em Tati outra coisa, e não um chefe de facção e não lhe reconhece
legitimidade».
Segundo uma fonte contactada pelo NJ
o Governo «aceita
de bom grado todas as iniciativas que possam contribuir para a prosperidade, reforço
da paz e Democracia e progresso dos angolanos». Trata-se de uma
declaração de princípio, que alinha pelos procedimentos assumidos em relação
àquela província, desde sempre enquadrada no todo nacional.
Mas, o que é novidade,
independentemente do protagonismo actual de Nzita Tiago no seio da FLEC é o
facto deste sinal do rebelde cabindense ter uma leitura política que se
enquadra na estratégia do Governo, pois, a «carta de intenções» apresentada para
discussão constitui uma autêntica rendição aos princípios desde sempre
defendidos por Angola em relação a Cabinda.
Manuel António NJ