A Nigéria, o Níger, o Mali e a Guiné-Bissau lideram a lista dos
países com a taxa mais elevada de mortalidade infantil no mundo.
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Talvez (santa e repetida
ingenuidade a minha) com estes dados a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), dirigida pelo único presidente de um país lusófono não
eleito e há 33 anos no poder – José Eduardo dos Santos - perceba a porcaria que
andam a fazer em muitos países lusófonos.
Com 168,7 mortes por cada mil
nascimentos, a Nigéria ocupa o primeiro lugar da lista, seguido do Níger e do
Mali, ambos com uma média de 161 mortes.
Já na Guiné-Bissau, em cada mil
crianças que nascem morrem 158,6 crianças antes de atingir os cinco anos,
referem os dados do estudo divulgados pela revista norte-americana The Lancet,
e que foram compilados pela Universidade de Washington.
Mas há mais, muito mais dados
que – para além de envergonharem as autoridades guineenses – revelam a
hipocrisia que reina nos areópagos das principais capitais da CPLP, a começar
por Lisboa, sem esquecer Luanda.
Dois em cada três guineenses
vivem na pobreza absoluta, a Guiné-Bissau continua a ocupar uma posição de
desenvolvimento muito precária no concerto das Nações, com uma evolução
relativamente baixa da economia e um crescimento do Produto Interno Bruto
fraco.
Estas situações, aliadas à
instabilidade política e institucional, não têm ajudado ao processo de melhoria
sustentada das condições de vida das populações guineenses.
A progressão (se é que tal se
pode chamar) na educação, em que persiste a desigualdade entre os sexos, com
primazia aos rapazes, a morte durante o trabalho de parto por falta de cuidados
básicos e a propagação de doenças como o HIV/SIDA, a tuberculose e a malária
são, infelizmente, emblemas do país.
O aprovisionamento de água
potável é fraco, os níveis de saneamento básico e de habitação
"decente" são dos piores do mundo.
A esperança de vida à nascença
para um guineense é de "apenas" de 45 anos, atendendo à fragilidade
humana, sobretudo por causa da fraca cobertura dos serviços sociais.
Apesar disso, os líderes
guineenses (já para não falar dos cavacos da praça) vão continuar a saborear
várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente que foi gerada
com fome, nasceu com fome e morre com fome.
Tal como acontece, por exemplo,
em Angola e mais recentemente em Portugal, também em Bissau se pensa que é
possível enganar toda a gente durante todo o tempo. Mas não é. E, mesmo que
famintos, ainda sobra força aos guineenses para um dia destes voltarem a fazer
o que já começa a ser um hábito: puxar o gatilho.
Quando leio notícias deste tipo
fico virado do avesso. Tal como entendo que os franceses devem dar prioridade
aos países francófonos, imaginava que os portugueses – por exemplo - deveriam
fazer o mesmo em relação aos lusófonos.
Mas ainda bem que, mesmo que
isso signifique (como significa) um monstruoso e dilacerante murro no estômago,
há gente que por gostar tanto de mim me explica que os meus ideais são uma
utopia.
É isso que me acontece todos os
dias. Poucos me compreendem quando os meus olhos abalroam as lágrimas ao ver as
crianças famintas e doentes da minha terra. Poucos entendem o que digo quando
afirmo que enquanto houver uma criança lusófona com fome a luta tem de
continuar.
Explicaram-me os europeus donos
da verdade que são poucos os portugueses a quem a real África lusófona diz
alguma coisa.
- E são poucos porquê?
Olhando-me como que a dizer:
acorda!, explicaram-me que a juventude portuguesa o que sabe da África lusófona
é o que mais ou menos vai aprendendo nas escolas, algumas construídas ou
recuperadas pela Parque Escolar e iluminadas com candeeiros de Siza Vieira, o
que em síntese é quase nada, ou mesmo nada.
E se é isso que aprendem, se
não lhes ensinam o que é a real Lusofonia, para eles é mais importante uma
criança que passa fome em Kiev do que uma outra que sofre o mesmo em Luanda, é
mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da
Praia, é mais importante o que se passa em Rabat do que o que se passa em
Bissau.
E se calhar até têm razão.
Portugal (pai da suposta Lusofonia) adoptou oficialmente a tese de que a Europa
é que tem futuro. E quem sou eu para justificar que o presente pode ser a
Europa, mas que o futuro, esse passa pela África lusófona? Sim quem sou eu?
Se, de facto, a dita CPLP é uma
treta, e a Lusofonia é uma miragem de meias dúzia de sonhadores, o melhor é
mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos
pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.
E quando se tiver coragem (para
mim será cobardia, mas quem sou eu?) para oficializar o fim do que se pensou
poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos
do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.
É claro que essa coisa de que
quem não vive para servir não serve para viver não se aplica à Guiné-Bissau.
Nem a Portugal, acrescente-se.