ANGOLA:REGIME MENTE, MENTE SEMPRE
“Angola conduz um processo de
consolidação da paz baseado na inclusão que permite ultrapassar incompreensões,
restabelecer confiança entre as pessoas e lançar bases para uma paz duradoura”,
afirmou, diz em manchete o Pravda do regime, nas Nações Unidas, o secretário de
Estado das Relações Exteriores.
Orlando Castro - Folha 8, opinião
De acordo com o Boletim Oficial
do regime, que usa o título de “Jornal de Angola”, Manuel Augusto, que
discursava no debate aberto do Conselho de Segurança subordinado ao tema
“Desenvolvimento inclusivo para a manutenção da paz e da segurança internacional”,
disse que “Angola desenvolve um programa económico e social de reintegração de
segmentos da população vítima do conflito armado, especialmente ex-combatentes
e famílias”.
Como os ouvintes da ONU têm uma
noção do que é Angola real como, por exemplo, os jacarés que se alimental dos
inimigos do regime têm do que é a democracia, todas as aleivosias podem ser
ditas. Foi, mais uma vez, o caso.
No debate, conta o Pravda, que
teve como moderadora a Presidente do Chile, Michele Bachelet, e no qual
participou o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o secretário de
Estado disse que “nos países que emergem de conflitos armados, a consolidação
da paz deve realizar-se no quadro de um processo inclusivo que permita
ultrapassar incompreensões, restabelecer a confiança e lançar as bases para uma
paz duradoura”.
É verdade. No caso de Angola a
paz foi conseguida há 13 anos e o regime pensa começar a implementar o
“processo inclusivo que permita ultrapassar incompreensões, restabelecer a
confiança e lançar as bases para uma paz duradoura” dentro de, talvez, 30 anos.
Mais vale tarde do que nunca, dirão com a sua atávica hipocrisia os membros da
ONU.
Manuel Augusto considerou
importante, diz o megafone do MPLA, a aplicação de políticas adequadas, com
impacto positivo, nomeadamente nos domínios da educação, do diálogo social e da
inclusão social e económica.
“O secretário de Estado, que está
desde domingo em Nova Iorque, garantiu que as políticas de inclusão social
que Angola desenvolve comportam igualmente a promoção de género, em especial da
mulher rural, que está gradualmente a tomar um papel mais assertivo, ocupando
lugar de direito na comunidade”, retrata o JA, no seu habitual culto á
divindade suprema do patrão.
“Uma governação inclusiva é o
melhor garante para se obterem ganhos de representatividade e de efectividade
para o desenvolvimento económico, a harmonia social e um desenvolvimento humano
efectivo”, referiu Manuel Augusto na leitura do texto que lhe foi entregue.
O diplomata, refere o Boletim
Oficial, considerou que a exclusão territorial “é o ponto de partida para a
existência de forças centrífugas que podem levar à fragmentação territorial dos
Estados,” acrescentando ser necessário que “todas as regiões que compõem um
determinado país sejam tratadas de igual modo, assim como os seus habitantes,
para reforçar a identidade nacional e salvaguardar a integridade territorial”.
Mais coisa menos coisa era isso
mesmo que o regime colonial dizia quando se referia a Angola, ou quando o
governo indonésio falava da sua “província” de Timor-Leste.
A inclusão nacional, realçou o
porta-voz do regime, contribui decisivamente para a coesão e a harmonia social
e consequentemente para a mobilização efectiva dos cidadãos, para os grandes
desígnios ligados à paz e ao desenvolvimento harmonioso.
“É nos países de carácter
multiétnico que os desafios da inclusão se revelam de maior complexidade. Para
a ultrapassagem da tendência natural à exclusão do outro, baseada na diferença,
é fundamental que os Estados abordem os problemas da etnicidade com particular
sensibilidade, de modo a não permitir que qualquer grupo seja marginalizado,
promovendo a plena convivência e a igualdade de oportunidades para todos”,
disse.
Não fosse esta afirmação
dramática por ser falsa, certamente que os milhões de angolanos marginalizados,
também por razões étnicas, se fartariam de rir. Mas, embora rir seja um bom
remédio, a barriga vazia não ajuda a ter boa disposição.
Manuel Augusto disse – citando a
coisa em formato de jornal – que a inclusão social compreende a cultura da paz,
da tolerância e da plena aceitação da diferença inerente à pluralidade social,
bem como de género na formulação das políticas nacionais.
O orador acentuou que “a exclusão
económica geralmente é a causa dos conflitos” e que a inclusão económica,
“enquanto expressão da participação de todo o tecido social no usufruto da
riqueza nacional, revela-se um bem tangível de importância crucial para a
consolidação do sentimento de pertença e para a participação efectiva de todos
no trabalho e no usufruto do trabalho de cada um”.
Para provar a sua tese, Manuel
Augusto bem poderia ter dito que em Angola poucos têm milhões e milhões têm
pouco, ou nada. Não o disse, obviamente. E não disse porque, legitimamente, não
quer entrar na cadeia alimentar dos jacarés.