A CRISE NA RDC E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS REGIONAIS
POR ALCIDES SAKALA
Opinião do dirigente da UNITA Alcides Sakala, na sua pagina no Facebook
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clima de tensão política que se vive na RDC, desde as manifestações desta
segunda-feira, pode ser abordado sob quatro níveis de análise:
1.
As manifestações estão na base da vontade do Chefe de Estado de alterar a
Constituição do país para poder recandidatar-se a mais um mandato, uma intenção
idêntica a do antigo chefe de Estado da República do Burkina Faso, que levou ao
seu afastamento pela força das manifestações; Blaise Campaore cedeu às
pressões do povo nas ruas. Assim, as manifestações que decorreram durante a
semana na RDC representam, efectivamente, o amadurecimento político do povo
congolês para defesa dos seus legítimos interesses, consagrados
constitucionalmente.
2.
Se Kabila retira as suas intenções, termina a crise. Ao pretender perpetuar-se
no poder, as lideranças africanas, de uma forma geral, transformaram-se num
factor de conflito. A Africa e os africanos precisam de instituições fortes, no
quadro da separação de poderes, e não de líderes fortes, como tem sublinhado o
Presidente Obama.
3.
A visita do Presidente da República de Angola a RDC foi percebida pela
sociedade política congolesa como apoio de Angola a Kabila para alterar a
Constituição. Esta percepção aumentou o sentimento de revolta da população
congolesa que se manifestou, assim, contra as intenções de Kabila e,
simultaneamente, contra a presença do Presidente de Angola em Kinshasa. A
presença militar e a ingerência de Angola nos assuntos internos da RDC é
percebida como nociva, face a um passado recente.
4.
O clima de conflitualidade que reina na região dos Grandes Lagos de que a RDC é
parte geográfica agudiza o clima de tensão, a que se junta o entendimento de
que Angola é o país que mais defende uma solução militar para resolução dos
problemas da Africa Central no quadro dos esforços políticos da NU na região.
5.
Efeito de contagio que a crise da RDC pode ter nos países vizinhos,
particularmente em Angola. Face a tomada de consciência das populações, Angola
tem de fazer reformas políticas profundas, cujo sistema é percebido pela opinião
publica nacional como obstáculo ao processo democrático.