As terras agrícolas e
onde o gado pastava foram transformadas em arrozais explorados por chineses. O
arroz é exportado e a população perdeu os seus meios de subsistência, diz um soba
à VOA
MENONGUE — No Kuando
Kubango chineses desapropriam camponeses das suas terras e recrutam crianças
para trabalharem em plantações de arroz.
A comuna do Longa, com fortes potencialidades no sector agropecuário, passou a constar do leque de regiões no país onde nos últimos tempos muitos investidores chineses procuram terras para desenvolverem a cultura de arroz.
Um soba da Aldeia Tchingondola, situada na margem direita do rio Longa, disse à Voz da América que os chineses usurparam à força cerca 15 mil hectares que é por direito da população local como herança dos seus antepassados.
A área agora ocupada pelos chineses dista a 90 quilómetros da cidade de Menongue, e é boa para agricultura de subsistência que serve de alternativa à agricultura de sequeiro. Agricultura de sequeiro é uma técnica agrícola para cultivar terrenos onde a chuva é diminuta.
Aquele líder tradicional disse à VOA que a população local ficou sem suas extensões de terras onde leva a cabo agricultura de regadio na época do cacimbo. Os camponeses perderam terreno que garante o pasto a milhares de cabeças de gado e foram destruídas todas as suas culturas para dar lugar ao desenvolvimento da cultura de arroz.
“Tinha os mais velhos que cultivaram arroz, batata-doce e rena, lhes tiraram tudo. Não têm outros terrenos e nem para o pasto dos bois”, relata o soba.
Conta, ainda, que os chineses não negociaram com as autoridades tradicionais locais e nem informaram que tipo de projecto pretendiam implementar na comunidade, dizendo apenas, segundo ele, que tinham recebido os terrenos de José Eduardo dos Santos. Os chines proibiram a população de usar aquelas terras, ameaçado matar a tiro quem insistisse.
Segundo ainda este líder tradicional, há um ano os chineses começaram a recrutar crianças para trabalharem nas plantações de arroz. Estas crianças com idades entre os 14 aos 17 anos são filhos de camponeses que perderam as suas terras.
Os empregados trabalham em turnos, uns durante o dia e outros no período da noite. Têm uma carga horária de 10 horas diárias e recebem mensalmente cerca de 90 dólares, contra os 150 do ordenado medio na agricultura.
“Eles trabalham toda hora, dia e noite, não tem domingo e nem sábado para a pessoa poder descansar, não lhes dão comida, apenas recebem cigarros” lamentou o soba.
Referiu ainda que, que o arroz que se produz é exportado para China e perspectiva uma crise alimentar na região alegando que as pessoas perderam as suas terras que serviam de suporte alimentar da população local.
A autoridade tradicional disse ter informações de que há chineses que agora se encontram em Angola a trabalhar foram presos e condenados na China e agora estão cumprir pena em Angola. “Todos aqueles que estavam nas cadeias é que vieram trabalhar na nossa terra,” afirmou este líder tradicional em conversa com a VOA.