sexta-feira, 2 de março de 2012

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE II





A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE II

2.- PORTUGUESES.
2.1.-HONORATO DA COSTA, SEUS POMBEIROS E JOSÉ MARIA CORREIA MONTEIRO E PEDROSO GAMITO

Os poruguses dizem que foram eles os primeiros Europeos a ter contacto com o povo da Lunda, não temos esta certeza, já que outras potências que exploraram Africa não desmentem esta afirmação.

Os Portuguses dezem mesmo que tiveram contacto com o povo Lunda antes da formação do Imperio – Será que eles podem nos dizer a data do mês e o ano que se formou o Imperio Lunda? Se eles não têm a certeza da chegada do Tchinguri a Luanda vinda da Mussumba?

No Cazembe uma grande personalidade da Corte da Lunda a norte da actual República da Zambia, eram eles queridos pelo menos a partir da viagem de Manuel Caetano Pereira. Não quis o muata deixá-los sair sem obter dele a promessa formal de voltar. «E o Rei então lhe disse que assim o não fizessem, trataria os Portugueses como seus inimigos, mataria os que lá fossem e tomaria por perdidas todas as fazendas que levassem» - Segundo os portugses nesta altura não se falava ainda da Lunda.

Asseveraram-nos os documentos (o jagado de Cassange e Bangalas – Pag106) que já em 1797 existia uma feira portuguesa na região dos Cassanges, no sitio do Múcari. Para seu chefe veio a ser nomeado o tenente-coronel de milicias Francisco Honorato da Costa, que até então vivia em PUNGO-ANDONGO entregue ao comércio e á agricultura. Chegado ao Muúcari, estabeleceu residencia proximo do Jaga. Bem cedo cuidou ele de organizar uma expedição até a Nação dos Moluas.

A pequena viagem de Francisco Honorato da Costa, além Cuango foi rica de notícias: confirmou-se da existência de vários potentados para além do rio, todos súbditos do Muatiânvua. Por motivo dela, insistiu o Governador Geral de Angola António Saldanha da Gama com Honorato da Costa para este mandar os seus pombeiros alcançar o Imperador Muatiânvua na Mussumba com presentes para o convencer de que os seus negociantes seriam bem recebidos nas terras de Muene Puto (ANGOLA), ao contrário de que o Jaga de Cassange lhe mandava dizer. Desta expedição resultou a vinda oficial a Luanda de uma Embaixada da Lunda a acompanhar, no regresso, os pombeiros de Francisco Honorato da Costa. Em Janeiro de 1808 chegava ela á LUANDA.

Foi também este mesmo chefe da feira de Cassange quem, por ordem do governador de Angola, mandou a Tete, em 1802, dois dos seus pombeiros com cartas para o governador dos rios Sena. Eram eles Pedro João Baptista e Anastácio José. Saíram de Cassange em fins de Novembro, mas retidos pelo «POTENTADO POMBA» até 1805 e pelo Muata Cazembe até 1810, só atingiram Tete em 2 de Fevereiro de 1811. Em Junho de 1814 chegavam a Angola pelo mesmo caminho.

No ano de 1814, estiveram na LUNDA e ali se demorara o comerciante João Vicente da Cruz.

Em Agosto de 1815 organizou-se em LUANDA uma companhia de pedestres para repetir as viagens entre as duas costas. Como oficiais, foram colocados os dois pombeiros do tenente-coronel Honorato da Costa, recebendo Pedro José Baptista o posto de Capitão com o solto de 10$000 réis mensais.

O major José Maria Correia Monteiro, governador de Tete, e o capitão da vila de Sena, António Cândido Pedroso Gamito, respectivamente, primeiro e segundo comandantes de uma expedição que marchou de Tete no dia 1 de Junho de 1831, chegava á LUNDA do Cazembe em 19 de Novembro e ali permaneceram até ao dia 20 de Maio de 1832, sem obterem deste licença para seguir avante até Angola. No dia 18 de Outubro entravam em Tete sem poder chegar ao seu destino, porque as autoridades Lundas não permitiram.

2.2.- JOAQUIM RODRIGUES GRAÇA

No dia 18 de Março de 1843, o governador de Angola José Xavier Brassane Leite encarregava Joaquim Rodrigues Graça de uma expedição, simultâneamente politica e comercial, até às cabeceiras do rio Sena. Era este antigo empregado e depois sócio da angolana D. Ana Joaquina dos Santos Silva, comerciante muito conhecida no sertão de Luanda pelo nome de Dembo-ià-Lala, e que o gentio dos Estados da LUNDA supunham senhora de todos os artigos de comercio europeu que passavam pelas suas terras.


Em Abril desse mesmo ano, no dia 24, partia ele de Bango-Aquitamba, no Golungo Alto, em direção a Malanje, onde acampou no dia 9 de Maio. Para evitar os Cassanges, descaiu para o sul, bordejando o Cuanza, e atingiu o sitio denominado Boa Vista no mês seguinte, no dia 5, onde residia o major Francisco José Coimbra, chefe do distrito do Bié, «homem abastado de bens, negociante,(...), natural do presídio de Caconda, homem pardo, alto e reforçado, hospitaleiro».

Na verade o major coimbra era um mestiço de origem indiana. Seus pais ou avós, vindos de Moçambique, tinham-se fixado no Bié. Percorreu muitas regiões da África Central, como a LUNDA, a Samba e a Garanngaja. Um dos seus filhos foi guia de explorador Cameron.

Demorou-se Joaquim Rodrigues Graça na província do Bié até 4 de Maio de 1846. Marcou para o dia 8 de Fevereiro deste ano uma reunião de todos os súbditos portugueses « bem como negociantes volantes e outros negociadores» ali residentes. Para tal, oficiou ao major Coimbra a pedir-lhe que convocasse as pessoas em questão. Mas poucos compareceram. O próprio chefe do distrito faltou e só passados dois dias é que ele fez chegar às mãos de Rodrigues Graça a portaria em que nomeava para sua substituição o negociante Guilherme José Gonçalves. Queixou-se então Rodrigues Graça para Luanda « dos frivolos pretextos» do major Coimbra para não comparecer, «tratando todas estas obrigações de menos-cabo», sem impor respeito ao soba D. António Lourenço de Alencastro (Quinjila).

E quando ao governador-geral aquele propôs a criação de uma companhia de voluntários no Bié, foram os nomes de Guilherme José Gonçalves e de Silva Porto para seu comandante e imediato, respectivamente, que sugeriu.

No dia 2 de Junho estava no LUMEGE; no dia 19 tinha ele uma entrevista com o poderoso Muene Catende na região da LUNDA actual Moxico, feudatário do Muatiânvua. Quis então o Muene Catende obter de Muene Puto (Portugal) protecção para rebelar-se contra o Muatiânvua « porque nada posuiam, que não estivesse sujeito aos seus desejos, e que ao menor desagrado era cortada a cabeça ao delinquente, havendo dia de muitas cabeças serem cortadas». Contudo, sem nada decidir a tal respeito, Rodrigues Graça, ele que caminhava em direcção à Mussumba do Muatiânvua, pôs-se a caminho no dia 20, descendo pela margem do rio Cassabi.

O governo do Cassábi estava confiado a Catende-Mucanzo, avô do anterior, pelo próprio Muatiânvua. E também ele se mostrou resolvido a aceitar a vassalagem de Muene Puto e descontente como governo da Mussumba.

Depois de passar por Xacambunje, no dia 5 de Agosto, Rodrigues Graça deixava à direita o rio Cassabi e seguia rumo para leste. No dia 13, acampava no Lulua, e, no dia 21, entrava na capital do régulo Chala (Tchala), também ele feudatário do Muatiânvua e descontente, prometendo obedecer às ordens do Muene Puto.

No dia 3 de Setembro de 1846, chegava ele (Rodrigues Graça) à Mussumba na Corte do Imperador Muatiânvua Noéji, em Cabebe, onde já antes estivera o negociante europeu de nome Romão (Ninguém sabe em que periodo teria ele estado ai), que falecerá naquela terra. Foi bem recebido e agasalhado.

No dia 18 de Setembro, Rodrigues Graça obtinha pela primeira vez do Muatiânvua Noéji o reconhecimento da soberania portuguesa (Não como colonizador da LUNDA) com as condições «de o Muene Puto conceder a compra dos seus escravos para Calunga – Mar, Quer dizer para serem embarcados para o Brasil, mandar uma força para por meio dela, sujeitar os seus inimigos que não quisessem obedecer-lhe e ser o comércio como no tempo dos seus antecessores.

Joaquim Rodrigues Graça – As promessas do Imperador Muatiânvua Noéji Graça respondeu deste modo: “o que a lei ordena, Muene Puto não faz e achando-se abolida o trafico de escravos, não se pode conceder a sua exportação. Podeis vende-los em vossa terras, mas eles serão empregados na lavoura, pesca, caça, e em outros oficios, que vos são úteis; empregai-os também na agricultura e na caça de que tanto abundam as vossas matas. Se anuirdes, o meu governo fará em vosso beneficio o que poder e se não aceitais os meus conselhos não vos deveis queixar do resultado”.

Tudo parecia conduzir ao maior sucesso na Mussumba a viagem do Rodrigues Graça. Porém e entretanto, tinha chegado também à Mussumba uma expedição comércial de quatro pombeiros chefiados por António Bonifacio Rodrigues, « homem pardo, natural do Bailundo e residente em o Presidio de Pungo-Andongo, aviado de D. Ana Joaquina dos Santos Silva». Estes aviados achavam-se ali «cheios de orgulho, dizendo ao Imperador Muatiânvua Noéji, que o explorante Rodrigues Graça não era ninguém, meramente um sócio de sua ama (D.Ana), que as ordens que se haviam publicado eram falsas, que tais ordens não haviam; que em Luanda só sua ama é que tinha o direito de comunicar-se com o Muatiânvua e a seus potentados; que a senhora de Angola era ela; que o explorante Graça havia enganado o Muatiânvua e o seu Estado, para, por este meio, fazer o seu negócio e fortuna»(...)

E Rodrigues Graça não passou depois aos olhos do Muatiânvua Noéji senão por um simples cangundo, insignificante empregado, de D. Ana Joaquina, e a sua missão falhou.

Para o insucesso da viagem de Graça devem ter contribuido também outros motivos: inveja e as manipulações dos Cassanges por os portugueses terem passado avante até a Mussumba, e alguns desmandos seus entre o sexo fraco. Teve, por isso, de fugir de noite e abandonar a maior parte das fazendas e os débitos. Disto se queixou ele amargamente, culpando a prepotência da sua sócia.

Quando, nos principios de 1848, Rodrigues Graça regressou da Mussumba a caminho de Luanda, fixava-se, o sertanejo portugues Lourenço Bezerra Correia Pinto em terras do potentado Muene Xacambunje, na margem direita do rio Cassai. Entre os anos de 1849 e 1850, foi este comerciante chamado pelo imperador Muatiânvua para se estabelecer na Mussumba.

OBSERVAÇÂO:

1.- No proximo texto falaremos de Saturnino de Sousa Machado e Silva Porto, de Cameron, de Stanley, do Pogge e Lux, de Max Búchner, de Capelo Ivens e Serpa Pinto, de Von Mechow,de Wissmann,dos irmãos Machados, do Dr Summers e finalmente do Henrique Augusto Dias de Carvalho.

2.- Neste texto que acabamos de escrever, não há aqui nenhuma imposição portuguesa e ou fins colonizadoras do Estado da LUNDA.