domingo, 18 de março de 2012

Figuras do MPLA escrevem a José Eduardo dos Santos para exigir fim a repressão policial

Luanda - O escritor e Prémio Camões em 1997, Pepetela, e o ex-PM e ex-secretário-geral do MPLA, Marcolino Moco, expressaram a sua "preocupação e indignação" pela repressão policial sobre as manifestações do passado sábado, numa carta aberta ao Presidente angolano.



Além de José Eduardo dos Santos, a carta aberta, a que a agência Lusa teve acesso, foi também enviada ao Procurador-Geral da República, José Maria de Sousa, ao Provedor de Justiça, Paulo Tjipilika, e ao presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira


Ao longo de duas páginas, os signatários, entre os quais o antigo deputado do MPLA e escritor Mendes de Carvalho, Jacques dos Santos, a secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas, Luísa Rogério, o jornalista Reginaldo Silva e Fernando Pacheco, fundador e antigo presidente da ADRA (Associação De Desenvolvimento de Desenvolvimento Rural de Angola), manifestam a sua "preocupação e indignação" pelos últimos acontecimentos registados no sábado, dia 10, em Luanda e Benguela, na sequência de duas tentativas de manifestação, frustradas pela intervenção da polícia e de civis, alegadamente enquadrados por polícias.



Na qualidade de membros da sociedade civil angolana, expressaram igualmente "inquietação pela violação de um conjunto de direitos fundamentais dos cidadãos previstos na Constituição como, por exemplo, o direito à manifestação, à segurança pessoal e à integridade civil".


"Tendo em conta que estamos em ano de eleições, defendemos que não deveria haver restrições às liberdades que não firam a lei, porque isso cria um ambiente adverso à participação dos cidadãos nas eleições e favorável a especulações que possam pôr em causa a sua credibilidade e a dos seus resultados, e gerador de tensões atentatórias à paz social", lê-se ainda no documento.


Os subscritores manifestam, por outro lado, "estranheza e apreensão" pelo facto de a Televisão Pública de Angola, que consideram "normalmente pouco aberta à sociedade civil", ter divulgado largamente nos noticiários da passada segunda-feira uma comunicação "agressiva" feita por desconhecidos contendo "ameaças à realização de atos à margem da lei".


A referência à TPA tem a ver com a transmissão de declarações de um elemento, não identificado, de um pretenso grupo que sábado se envolveu em confrontos com os jovens que em Luanda se pretendiam manifestar contra o regime, dando assim expressão à tese defendida pela polícia angolana, que assim procurou justificar a existência de feridos em Luanda em resultado dos confrontos dos dois grupos.



"Expostas as preocupações e os sentimentos, as Associações e cidadãos abaixo assinados, esperam a intervenção de V. Exas., no sentido de ordenar que as instituições públicas cumpram os seus deveres de zelar pela integridade física e pelo bem-estar dos cidadãos, de respeito pela ordem democrática que desejamos se consolide em Angola", acentua-se no documento.



Os subscritores concluem manifestando a esperança que os "agressores e outros prevaricadores sejam punidos nos termos da lei, que a Polícia Nacional seja instruída para funcionar num ambiente de construção da democracia e da justiça social, e que os meios de comunicação, em especial os públicos, sejam orientados a pautar a sua ação pela isenção e o respeito pelos cidadãos e pelas diferenças que os caraterizam".

A carta aberta foi entregue aos destinatários na manhã de quinta-feira, segundo disse à Lusa fonte da organização da iniciativa.



No passado sábado, um grupo de jovens do autodenominado Movimento Revolucionário Estudantil pretendeu realizar em Luanda uma manifestação antigovernamental, que culminou na agressão e ferimento de várias pessoas, incluindo o secretário-geral do partido Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.


O ato, protagonizado por civis empunhando armas brancas, decorreu em frente à polícia que nada fez para os impedir, segundo testemunhas.


A polícia prometeu investigar os factos para responsabilização dos seus autores, avançado que se tratavam de dois grupos com ideologias diferentes, que tinham entrado em choque.