domingo, 10 de julho de 2011

GRANDEZA E PERSONALIDADE DE DUMBA WATEMBO


GRANDEZA E PERSONALIDADE DE DUMBA WATEMBO


No texto anterior que publicamos, descrevemos Dumba Watembo, o Rei Tchokwe no Tchiboco. Hoje vamos descrever o vestuário deste grande personagem que o tempo jamais apagará.

Relativamente ao vestuário do rei Dumba Watembo, há a notar que a contaria CASSUNGO que lhe guarnecia o casaco era uma missanga de bordar, de cores diversas, muito apreciadas pelos nativos, para a confecção de adornos. Era particularmente aplicada nas interessantes e artisticas coroas em múltiplas palas, e nos diademas, dos antigos Chefes LUNDAS. Com a mesma missanga devia ser bordado o diadema que Dumba Watembo ostentava abaixo da coroa de latão, e um pouco confundido com ela na descrição que os exploradores Europeus Henry Stanley, David Livingstone, Capelo Ivens e Silva Porto quando visitaram Tchiboco.

Quanto à pequena pele que usava, trata-se do LUKANO, pele de corça, animal em vários aspectos muito consagrado aos simbolismos do poder ancestral dos grandes Chefes LUNDA TCHOKWES.

No que se refere á coroa de latão, conforme a figura de Dumba Watembo, não apresenta ela correspondência de qualquer ordem com a tradição dos Tchokwes ou dos Lundas.

Tratando-se de obra do próprio Dumba Watembo, devemos concluir que a fez inspirando-se em objectos idênticos que conheceu, ou em imagens ou ideia que lhe foi sugerida. Admitimos que se trate de influência de qualquer modo provenientes de parentes seus, investidos em altas funções de chefia nos Bângalas e na Jinga (Mujinga Bandi), em modos de realeza, e da nomeação dos portugueses da província de Angola, como fossem, pelo menos os Jagas de Cassange, originários da mesma família da LUNDA dos Konte, parentes próximos dos Dumba Watembo (Tchinguri ua Konte ou Kinguri dos Bângalas, quando o Jaga de Cassange era irmão da LUEJI ua Konte, governanta dos Lundas anteriormente ao primeiro Muatiânvua, e ambos famílias de Dumba Watembo).

Em qualquer caso, porém, o uso da coroa não podia de modo nenhum ser arbitrário, sem risco de agravo das relações famíliares e oficias de subordinação com o Estado dos LUNDAS da Katanga, centro politico do imperio, seja com o Muatiânvua.

Também tal uso não era um enjeite das normas tradicionais, e bem o comprova a presença do diadema dos Chefes Lunda Tchokwes, usado a par com a coroa metálica do Dumba Watembo.

No conjunto, devemos entender a presença de atributos de realeza tradicional dos povos Lunda Tchokwes, com os duma nova realeza, instituido pelos portugueses na província de Angola. Em um e outro lado tinha Dumba Watembo classificados parentes de cujas recíprocas dignidades ia resumindo em si honras, senão direitos.

Quando ao colar com « dois búzios e um pequeno chifre» deve tratar-se de N’zimbo dos Olivancilaria nana, provenientes da Ilha de Luanda na província de Angola, e dum chifre de corça (esta última peça geralmente recheada de produtos de curandice ou magismo é usada como amuleto).

Com vista ao bordão usado pelo rei Muene Dumba Watembo, e que muitas vezes lhe caía por terra, temos que o seu uso era para o efeito de exibir com maior evidência as garras de metal.

No que respeita aos anéis de latão, que lhe guarneciam os dedos, estamos em presença de um velho hábito de luxo dos Lunda Tchokwes de categoria.

Conhecemos grandes Muanangas como Muatchondo e outros que ostentavam anéis de latão e de cobre finamente cinzelados, em todos os dedos das mãos e na maior parte dos dedos dos pés. Aliás os nativos Lunda Tchokwes sabem-no bem, o metal amarelo e o cobre principalmente contrastam e realçam a beleza do tom das peles melanodermes.

Finalmente, quanto ás «longas unhas» de latão usadas por Dumba Watembo (melhor chamar-lhes garras e lembramos que Dumba significa Leão), trata-se duma exteriorização visível e tangível dos seus predicados de Chefe Poderoso, a que o próprio nome Dumba não é estranho.

As garras do Dumba Watembo, como Leão e como Chefe, expressam a força e o poder de DUMBA, que já traduzimos como Leão de Tembo ou Watembo.

Este facto está de acordo com certos estilos e conceitos da vida Tchokwe, que levam os individuos a atribuir a si próprios os nomes e insígnias que entendem definir ou vincar a sua personalidade, caracter ou acção.

Por via inversa, também usam marcas ou simbolos que traduzem exteriormente os predicados do nome ou da condição, ou de ambos os factos ao mesmo tempo.

É este o caso das garras de Leão de Dumba Watembo, Leão de Tembo, rei dos Tchokwes, guerreiro, Régulo e Senhor das extensas florestas do mel, cabeça ornada com insígnias de duas realezas para maior glória dos Tembos da LUNDA e mais temerosa fama dos «demónios silvículas do Tchiboco».