terça-feira, 19 de julho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VI


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VI

6.- CAPELO, IVENS E SERPA PINTO NO INTERIOR DA LUNDA

No dia 5 de Julho de 1877 embarcava em Lisboa-Portugal no vapor Zaire, com destino à Africa, em especial para a Província ultramarina de Angola, Hermenegildo Capelo e Serpa Pinto.

O Parlamento portugues tinha acabado de votar a soma de trinta contos de réis para se estudarem as relações hidrograficas entre as bacias do Zaire e do Zambeze na Lunda. Em 6 de Agosto do mesmo ano, chegavam a Luanda.

No dia 9 de Agosto de 1877, soube Serpa Pinto que Stanley tinha chegado a Cabinda, e para li seguiu na canhoneira TAMEGA, a fim de lhe oferecer os seus serviços em nome do Governo Portugues. No dia 20, regressou a Tamega a Luanda com a Comitiva de Stanley a bordo.

No dia 6 de Setembro de 1877, o capitão Serpa Pinto partiu de Luanda para Benguela, para dai alcançar o Kunene até às nascentes e seguir a exploração para sueste, até ao Zambeze (Liambeji).

Em Benguela, tomou conselho com Silva Porto e, no dia 12 de Novembro de 1877, partiu para o Dombe, Caconda, onde se encontrou com o primeiro explorador zoólogico de África (segundo os portugueses da epoca) José de Anchieta. Só no dia 8 de Fevereiro de 1878 pôde sair da Caconda, a caminho do Bié. Começou então a descair para sudeste, e veio dar á costa oriental. No dia 19 de Março de 1879 um anos mais tarde, chegava a Durban Africa do Sul, onde tomou o paquete Danúbio para Lourenço Marques Moçambique, daqui para Zanzibar, Suez, Alexandria no Egipto, Nápoles, Bordeus, Pauillac e Lisboa, onde chegou no dia 9 de Junho.

A expedição Capelo-Ivens, a primeira, também partiu de Benguela.

Do Governo de Portugal de Sua Majestade El Fidelissima tinha recebido «por principal objectivo o estudo do rio Cuango nas suas relações como rio Zaire e com os territórios da costa ocidental, assim como toda a região que compreende ao sul e ao sueste as origens dos rios Zambeze e Kunene, e se prolonga ao norte, até entrar pelas bacias hidrograficas do Cuanza e do Cuango (...)».

6.1.2.- ENCONTRO DA EXPEDIÇÃO CAPELO-IVENS E O REI DUMBA WATEMBO 1878

No dia 12 de Setembro de 1877 punha-se expedição em marcha de Benguela para Quilengues, Caconda, onde chegou no dia 8 de Janeiro de 1878. Dias antes daqui partira Serpa Pinto em direcção a Quingolo.

Também Capelo e Ivens se encontraram com José Anchieta, já gasto pelos seus doze anos de sertão. No dia 15 de Janeiro de 1878 partiram para o Kunene, na confluência deste rio como rio Cuando (na região do Kuando Kubango). Voltaram a Caconda e puseram-se a caminho do Bié.

No dia 8 de Março de 1878 eram recebidos em Belmonte por Silva Porto. Capelo foi a Cangombe e chegou a Mucunha, nos Tchokwes Nganguelas. De Belmonte caminharam para nordeste em direcção ao rio Cuanza, que atravessaram.

Entraram nas terras do Luimbe, passaram por Môngoa, subiram ao longo do rio Luando e chegaram no Rei dos Tchokwes Dumba Watembo, que lhes desafiou a sua longa linhagem a partir de Tembo e outras grandes figuras da Aristocracia LUNDA do imperio do Muatiânvua.

Ivens foi às cabeceiras do Cuango, passando para a margem direita. A expedição dividiu-se e cada qual, pela sua margem do Cuango, caminharam até Cassange. Daqui caminhou a expedição em direcção de novo ao Cuango, mas quando se preparava para atravessar o rio foi envolvida pelos Bângalas da Lunda, com os quais teve de pacificamente chegar á fala e a Paz. Perante a hostilidade dos nativos Lundas, que teimavam em barrar-lhe a passagem, teve de regressar a Cassange.

As dificuldades que os Cassanges levantaram ao Alemão OTTO SCHUTT tinham-lhes dado ânimo para proibirem a passagem desta expedição (Capelo-Ivens).

Tentou a expedição (Capelo-Ivens) a travessia do Cuango mais ao norte, mas teve a oposição de outros cassanges. Com esta oposição dos cassanges, Capelo e Ivens rumaram em direcção ao Duque de Bragança.

Passaram pelo Chiça (Mucári), onde visitaram a sepultura de JOSÉ DO TELHADO. Perto de Malanje,junto do morro Bongo, encontraram-se com Dr Max Buchner, que andava aprestando a sua expedição para ir até à Mussumba do Muatiânvua. Andava ele por aquelas bandas em cata de carregadores, e, quando soube da chegada alí «dos exploradores portugueses, foi ter com eles no duplo intento de os conhecer e de escalar o morro».

Com o proposito de chegarem de novo à bacia do Cuango, dispuseram-se a atravessar grande parte do reino da Jinga(Reino de Ndongo).

Do Duque de Bragança foi a expedição Capelo-Ivens explorar as terras de Ambaca, de Pungo-Andongo, as bacias do Lombe, do Cuanza e chegou ao Dondo. Subiu pelos territórios dos reinos de Matamba e da Jinga e alcançou a margem esquerda do Cuango, passou o rio Cauale, encostou-se mais ao Cuango, até mais ou menos ao paralelo 6º 30’ de latitude sul. A expedição Capelo-Ivens não chegou para lá do Cuango.

6.1.3.- VON MECHOW

Quando Capelo e Ivens regressavam da sua exploração, a caminho de LUANDA na província de Angola, ao saírem do Dange-iá-Menha, toparam com o major VON MECHOW, explorador alemão, que se dirigia a Malanje, na intenção de « fazer por água a descida e reconhecimento completo do CUANGO ao ZAIRE».


Também em Malanje, VON MECHOW recorreu á casa de Custódio José de Sousa Machado, que o hospedou e lhe proporcionou os meios precisos para ir na Lunda ao rio Cuango explorá-lo.

Seguiu este explorador (não é colonizador) alemão de Malanje em direitura ao rio Cambo, um pouco a norte de Massangano. Até lá fez conduzir um pequeno barco de aço, desmontado em cinco peças, às costas dos carregadores ( contratados negros africanos da província de angola). Navegou pelo rio Cambo e entrou no Cuango em terras de Tembo Aluma, vísitado pouco antes por Capelo e Ivens.

Seguiu pelo Cuango, visitou Muene Cassongo e continuou a navegaar até Quingúnji, na margem esquerda. Depois interrompeu a sua navegação, por se lhe ter deparado uma queda de água e por os carregadores recearem conduzir o barco por terra, onde podiam ser comidos pelos IACAS (Maiacas ou Baiacas) do livro descrição da Viagem á Mussumba do Muatiânvua, vol. II, pp.881-882; a Lunda, p. 377-378. Henrique Augusto Dias de Carvalho.

6.2.1.- POGGE E WISSMANN, O INTERESSE ALEMÃO NA LUNDA

Dias depois de este explorador entrar em Malanje, aí chegou de novo Dr Pogge, acompanhado agora por H. Wissmann, jovem tenente de infantária do Exercito Alemão.

Ao tempo, já Serpa Pinto tinha chegado a Lisboa e a sua longa travessia, de costa à contracosta, era admirada e aplaudida por toda a EUROPA. Não obstante os desaires do Dr Buchner, que o Dr Pogge bem conhecia, este acalentava a esperança de realizar o seu antigo projecto de sair pela costa oriental, na ambição de também o seu país ter a glória de uma travessia da África.

Mais uma vez o Dr Pogge se dirigiu ao portugues Custódio Machado, que cuidou da organização da nova expedição alemã ao interior da Lunda, apresentando-lhe Caxavala, como intérprete das línguas da Lunda, e Germano para o serviço particular de Dr Pogge e do tenente Wissmann.

Ainda a expedição se encontrava em Malanje e já ali tinha chegado do interior do Estado da Lunda António Lopes de Carvalho, empregado de Custódio Machado, Carvalho, antes de estar em Malanje, tinha estado na Lunda ao serviço de José do Telhado, audaz aventureiro que, apesar das suas muitas tropelias, fez ali obra de mérito para com o Governo de Portugal. António Lopes de Carvalho teve, então, muitas aventuras nos sertões da Lunda e em algumas a sua vida correu perigo.

Desta vez, em expedição de comércio na Lunda por sua conta, Lopes de Carvalho tinha chegado ao Sul, para as bandas do LUALABA no extremo leste do Muatiânvua. Aqui adquiriu marfim e, no regresso, querendo evitar os Tchokwes, internou-se no estado da Lunda sob dominio direito da corte do imperio. No caminho foi despojado de todas as cargas por ordem do Muatiânvua, valeram-lhe os empenhos de Saturnino Machado e dos seus empregados Lourenço Bezerra, que tinha na cidade da MUSSUMBA uma exploração agrícola-comercial, e Vieira Carneiro, que estava ali em viagem de comércio. Obteve então autorização do Muatiânvua para retirar e recursos de guias e mantimentos para poder chegar ao Muana Tximbundo.

Queriam o Dr Pogge e o tenente Wissmann fazer a travessia pela cidade da Mussumba na Corte do Muatiânvua, até à outra costa no indico, mas disto os procuravam dissuadir o Dr Buchner e Lopes de Carvalho. Enquanto XANAMA fosse Muatiânvua, na opinião destes, nínguém a realizaria. António Lopes de Carvalho ofereceu-se para acompanhar a expedição Alemã, pelo caminho que antes trilhara até ao Lualaba.

O Dr Pogge, porém, recusou a oferta de Carvalho, convencido de que aquilo que ele pretendia era reaver, à sombra da expedição, parte dos prejuizos sofridos, além de que tal itínerário desviaria os ilustres exploradores de irem ao Canhíuca, entre o Lubuco e o Lubilachí, averiguar, por ordem da SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE BERLIM, o valor do marfim alí existente.

Ao cabo de três meses em Malanje, Pogge e Wissmann puseram-se a caminho para as terras da LUNDA direitamente para a localidade de Muana Tximbundo (Mona Quimbundo a cerca de 54 Km da cidade de Saurimo actualmente).

Em Muana Tximbundo Saturnino Machado pô-los ao corrente da situação do país Lunda: guerra aberta entre tios e sobrinhos ou seja Lundas e Tchokwes, morte por estes do Muassanza, o maior pontentado Lunda aquém do Cassai ( entre Tchiluanje e Koluezi na actual RDC)e senhor de Cabongo, descida já dos tios Tchokwes pela margem direita do Cassai para fazerem razias no território dos Tucongos e Tubinjes.

Perante a situação no terreno, Saturnino Machano era de opinião que os exploradores deviam alcançar o Cassongo pelo Lubuco, podendo, no trânsito, conhecer da existência do marfim no Canhíuca e também no Cacheche, de que falara STANLEY. Por que do Lubuco, acabava de regressar com pleno êxito SILVA PORTO, e Caxavala, intérprete da expedição, tinha mantido com o Muquengue relações de amizade. Para passar entre os Tchokwes, Saturnino Machado oferecera-se para mandar chamar Muana Congolo, seu antigo freguês e um potentado respeitado entre os Tchokwes, a fim de acompanhar os exploradores Dr Pogge e Wissmann.

O Dr Pogge e o Tenente Wissmann resolveram então pôr de lado o antigo projecto e seguir os conselhos de Saturnino Machado. A expedição desceu pela margem esquerda do Chicapa até à sua confluência com Cassai, e, no Quicassa, mudou para este rio e seguiu até ao Muquengue.

Aos bons oficios de Caxavala deve o Dr Pogge a companhia do próprio potentado Muquengue até ao Cassongo no Lualaba. Aqui a expedição Alemã avistou-se com TIPPU-TIB o árabe que temos vindo a descrever constantemente, e foi sobre um cheque pagável na costa oriental que este abasteceu a expedição do que ela estava necessitando.

O tenente Wissmann, acompanhado por gente negreiro árabe até ao TANGANICA, separou-se do resto da expedição e rumou para leste até à costa do ìndico, levando consigo Caxavala, que foi com ele até BERLIM na Alemanha. O Dr Pogge, com Muquengue, voltou ao Lulua, onde tinha deixado Germano com alguns rapazes de Malanje a construir uma casa para a estação que ele ali estabeleceu.

Quando o Dr Pogge chegou, encontrou uma boa casa com lavras à volta, onde já crescia o arroz de sequeiro, e a tudo deu ele o nome de Estação de LULUABURG. Aqui se conservou Dr Pogge durante os anos de 1882 e 1883. Tendo adoecido gravemente, regressou a Malanje numa rede, e daí a Luanda, onde faleceu na véspera do dia em que tencionava embarcar para a EUROPA.