sexta-feira, 1 de abril de 2011

Estranho súbito interesse em aniquilar as tiranias africanas.


Não sou apologista de tiranias nem amante de ditaduras! Não sou amante de violência nem morro de paixões por falsos democratas! Sou amante da paz e honro a democracia! Nunca fui e não sou admirador de Ben Ali, Mubarak e Kadhafi, mas, por mais que eu queira perceber as verdadeiras razões que suscitaram o súbito interesse dos Ocidentais em aniquilar as tiranias africanas, fico com a pulga atrás da orelha. Quando leio notícias sobre os actuais acontecimentos no mundo árabe da nossa África e quando vejo as imagens de aviões matando pessoas, seja de que lado for, fico cada vez mais intrigado. E, como é óbvio, careço de uma certa orientação que me possa permitir descortinar que raio leva os Africanos a festejarem perante este dilema.

Se a leviandade de Kadhafi, em combater a insurreição nacional com a força das armas, foi veementemente condenada pela Comunidade Internacional (incluindo os próprios Africanos), porque raio é que a não menos leviana agressão dos Ocidentais ao leviano Kadhafi, com a força das armas, é motivo de regozijo? Será que as bombas da Operação Odisseia ao Amanhecer estão a matar só o que se identifica com Kadhafi? Antes de embarcarmos em euforias, temos que olhar atrás e ver se o que aparece no horizonte é realmente fumo ou é apenas o nevoeiro matinal.

Já foi aqui escrito várias vezes por muita gente anónima, e não só! A situação actual do mundo merece muita consideração. Fruto das conjunturas actuais, muitos dirigentes ocidentais estão a perder a credibilidade governativa nos respectivos países e alguns, até, como não podem sofrer golpe de Estado, como acontece em África, a governação é apenas uma questão de cumprir o mandato. Nesta ordem, estão Sarkozy e o próprio Obama, só para citar alguns nomes. Ora, no passado, dirigentes que viveram situações semelhantes procuraram sempre ressuscitar a credibilidade, atacando terroristas, comunistas, fantasmas e tudo o que agrada aos Povos ocidentais, seus eleitorados, por sinal. Kadhafi parece ser mais uma vítima dos Ocidentais, apesar da psicopatia que se lhe reconhece.

As revoluções magrebinas devem servir de lição para os Africanos. Na Tunísia e no Egipto as coisas correram num ápice, sem resistência. Os Presidentes bazaram e os países estão como todos nós sabemos. O Ocidente manteve-se caladinho. Infelizmente, Kadhafi não imitou os vizinhos e teve a resposta dos Ocidentais.

Por várias vezes, Kadhafi veio a público acusar o terrorismo de estar por trás dos acontecimentos. Falou da conspiração da Al-Qaeda e outros movimentos terroristas dos árabes. Porém, por mais que cite nomes nada vai mudar, pois a ideia generalizada é que o homem está a fazer bluff. Isso cheira a esturro! Parece haver algo programado e bem dirigido para o continente africano. É que noutros tempos, o Ocidente teria dado ouvidos a Kadhafi. Aliás, não teria só dado ouvidos a Kadhafi como teria também protegido, quer Ben Ali quer Mubarak que, por sinal, era o aliado mais importante dos americanos no Magrebe.

Porque terá tanta certeza o Ocidente que todos estes acontecimentos não estão a ser perpetrados por Bin Laden e os outros defensores de um mundo árabe irmanado na fé muçulmana?

E nós Africanos, com tanta desconfiança que paira em torno da crise ocidental, com a falência de muitos países ocidentais à vista, porque é que não nos preocupemos com este tipo de situações? Não será mais uma manobra dos Ocidentais em orquestrar conflitos em África por formas a provocar desestabilização entre países africanos?

Neto dizia que a África era um corpo inerte, onde cada abutre ia tirar a sua parte. No entanto, nos últimos tempos, este mesmo corpo parecia reverter este estado de inércia. A estabilização da situação sociopolítica em vários países, como é o caso de Angola, começou a permitir passos para um desenvolvimento gradual deste flagelado continente. A meu ver, esta situação terá a incomodado muita gente.

Parece um facto que o fim das guerras e de outros tipos de conflitos em África esteja a condicionar a venda de armamentos dos Ocidentais, cujas receitas pendem negativamente no balanço das respectivas economias. Existirá uma outra forma para a reposição dessas receitas que não seja a reabilitação do mercado de armamento? E haverá outra forma de reabilitar o mercado sem criar conflitos? Haverá melhor praça do que África, que a meu entender é muito fértil nisso?

Para mim, das duas, uma: ou estamos perante uma nova iniciativa, com a qual se pretende desencadear novos conflitos para desestabilização de África e para melhor proveito das suas riquezas, ou os Ocidentais perderam a noção de terrorismo. Aliás, noção deve ser eufemismo! Eu diria, mesmo, CONCEITO!

Os países magrebinos sempre tiveram uma estabilidade sociopolítica sustentável, apesar das agora apregoadas ditaduras. Nunca houve revoluções como estas de 2011. Eu sei que sempre há uma primeira vez, mas por mais que eu queira refugiar-me neste velho adágio popular, o zumbido continua a azucrinar-me a cachimónia e não é sem razão. É que o interesse dos Ocidentais em África continua vivo. As riquezas africanas são permanentemente motivo de cobiça.

Antes, os Africanos eram simplesmente selvagens, incivilizados e sem cultura. Para os Ocidentais, os Africanos precisavam de ser domesticados e civilizados. Os Ocidentais foram à África e tudo quanto preconizavam aconteceu. Porém, hoje, com todos os problemas que a África vive, fico sem saber se terão resolvido ou piorado o que achavam ser problema.

Ai, como eu gostava de ter vivido no tempo de Ekwikwi, Nymi ya Lukeni e Ngola Mbandi!

A África é susceptível a todos os tipos de manipulações. Basta um rebuçado dos Ocidentais para criar divisionismos no seio dos Africanos, motivos q.b. para se lançarem a matanças e aos genocídios. Ontem, civilizações e hoje, ditaduras. O que será, amanhã? A situação do Magreb exige reflexão!

Deus queira que eu esteja errado para que, amanhã, os Africanos não voltem a chorar lágrimas de sangue nem os Ocidentais se venham a arrepender da permissividade, conivência e cumplicidade nas revoluções magrebinas. Saudações!

Dr. Xis

Angola24horas.com