terça-feira, 5 de junho de 2012

"Sim" às crianças de Kiev, "não" às de Bissau!


A Nigéria, o Níger, o Mali e a Guiné-Bissau lideram a lista dos países com a taxa mais elevada de mortalidade infantil no mundo.



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Talvez (santa e repetida ingenuidade a minha) com estes dados a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), dirigida pelo único presidente de um país lusófono não eleito e há 33 anos no poder – José Eduardo dos Santos - perceba a porcaria que andam a fazer em muitos países lusófonos.


Com 168,7 mortes por cada mil nascimentos, a Nigéria ocupa o primeiro lugar da lista, seguido do Níger e do Mali, ambos com uma média de 161 mortes.


Já na Guiné-Bissau, em cada mil crianças que nascem morrem 158,6 crianças antes de atingir os cinco anos, referem os dados do estudo divulgados pela revista norte-americana The Lancet, e que foram compilados pela Universidade de Washington.


Mas há mais, muito mais dados que – para além de envergonharem as autoridades guineenses – revelam a hipocrisia que reina nos areópagos das principais capitais da CPLP, a começar por Lisboa, sem esquecer Luanda.


Dois em cada três guineenses vivem na pobreza absoluta, a Guiné-Bissau continua a ocupar uma posição de desenvolvimento muito precária no concerto das Nações, com uma evolução relativamente baixa da economia e um crescimento do Produto Interno Bruto fraco.


Estas situações, aliadas à instabilidade política e institucional, não têm ajudado ao processo de melhoria sustentada das condições de vida das populações guineenses.


A progressão (se é que tal se pode chamar) na educação, em que persiste a desigualdade entre os sexos, com primazia aos rapazes, a morte durante o trabalho de parto por falta de cuidados básicos e a propagação de doenças como o HIV/SIDA, a tuberculose e a malária são, infelizmente, emblemas do país.


O aprovisionamento de água potável é fraco, os níveis de saneamento básico e de habitação "decente" são dos piores do mundo.


A esperança de vida à nascença para um guineense é de "apenas" de 45 anos, atendendo à fragilidade humana, sobretudo por causa da fraca cobertura dos serviços sociais.


Apesar disso, os líderes guineenses (já para não falar dos cavacos da praça) vão continuar a saborear várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente que foi gerada com fome, nasceu com fome e morre com fome.


Tal como acontece, por exemplo, em Angola e mais recentemente em Portugal, também em Bissau se pensa que é possível enganar toda a gente durante todo o tempo. Mas não é. E, mesmo que famintos, ainda sobra força aos guineenses para um dia destes voltarem a fazer o que já começa a ser um hábito: puxar o gatilho.


Quando leio notícias deste tipo fico virado do avesso. Tal como entendo que os franceses devem dar prioridade aos países francófonos, imaginava que os portugueses – por exemplo - deveriam fazer o mesmo em relação aos lusófonos.


Mas ainda bem que, mesmo que isso signifique (como significa) um monstruoso e dilacerante murro no estômago, há gente que por gostar tanto de mim me explica que os meus ideais são uma utopia.


É isso que me acontece todos os dias. Poucos me compreendem quando os meus olhos abalroam as lágrimas ao ver as crianças famintas e doentes da minha terra. Poucos entendem o que digo quando afirmo que enquanto houver uma criança lusófona com fome a luta tem de continuar.


Explicaram-me os europeus donos da verdade que são poucos os portugueses a quem a real África lusófona diz alguma coisa.


- E são poucos porquê?


Olhando-me como que a dizer: acorda!, explicaram-me que a juventude portuguesa o que sabe da África lusófona é o que mais ou menos vai aprendendo nas escolas, algumas construídas ou recuperadas pela Parque Escolar e iluminadas com candeeiros de Siza Vieira, o que em síntese é quase nada, ou mesmo nada.


E se é isso que aprendem, se não lhes ensinam o que é a real Lusofonia, para eles é mais importante uma criança que passa fome em Kiev do que uma outra que sofre o mesmo em Luanda, é mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da Praia, é mais importante o que se passa em Rabat do que o que se passa em Bissau.


E se calhar até têm razão. Portugal (pai da suposta Lusofonia) adoptou oficialmente a tese de que a Europa é que tem futuro. E quem sou eu para justificar que o presente pode ser a Europa, mas que o futuro, esse passa pela África lusófona? Sim quem sou eu?


Se, de facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meias dúzia de sonhadores, o melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.


E quando se tiver coragem (para mim será cobardia, mas quem sou eu?) para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.


É claro que essa coisa de que quem não vive para servir não serve para viver não se aplica à Guiné-Bissau. Nem a Portugal, acrescente-se.