O ex-presidente é acusado de corrupção e ter matado pelo menos 850 manifestantes durante a repressão da revolta contra seu governo em janeiro e fevereiro de 2011.
Ahmed Refaat Juiz Fahmi, presidente do Tribunal Criminal do Cairo e de acusação contra o presidente Hosni Mubarak, que começará no dia 3, durante uma conferência de imprensa no Cairo, Egito, domingo, 31 de julho, 2011. EPA / KHALED ELFIQI
O julgamento do deposto presidente Hosni Mubarak, que começa na próxima semana terá lugar nas instalações da escola de polícia no Cairo, disse o presidente do tribunal de apelações.
O processo será aberto na quarta-feira, "dentro da Academia de Polícia do Masr Gedida" no norte do Cairo, por razões de segurança, disse Omar Abdel Aziz.
Em Abril, Mubarak, 83 anos de idade, foi internado em hospital em Sharm el-Sheikh Internacional depois de um problema cardíaco e está lá até hoje sob custódia, segundo a agência France Press (AFP).
O ex-presidente é acusado de corrupção e à morte de manifestantes durante a repressão da revolta contra seu governo em janeiro e fevereiro. A revolta deixou pelo menos 850 mortos.
A transferência de Mubarak no Cairo a ser julgado foi uma das principais demandas dos militantes, que derrubou seu regime.
Fonte: Martinoticias.com
domingo, 31 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Entrevista de JOSÉ MATEUS ZECAMUTCHIMA A VOZ DE AMERICA
PARTICIPANTES A CONFERÊNCIA NACIONAL DO MANIFESTO NOS DIAS 15 Á 16 DE JULHO DE 2011
O novo presidente da Comissão do Manifesto do Protectorado da Lunda diz que quer um diálogo com o governo angolano para discutir a autonomia da região.
Numa entrevista á Voz da América José Mateus Zecamutchima disse que o objectivo da sua organização é a autonomia para o desenvolvimento da zona leste de Angola como parte de Angola.
Embora no passado a Lunda tivesse sido “independente” o objectivo é a autonomia como parte integrante de Angola, disse.
O presidente da comissão do protectorado da Lunda disse que as autoridades angolanas deveriam abordar ao questão de imediato pois segundo disse os problemas devem ser resolvidos antes destes se tornarem em questões mais difíceis de resolver.
Com base em tratados históricos com as autoridades portuguesas a organização reivindica a autonomia de uma vasta região que engloba as províncias do Cuando Cubango, Moxico e Lundas norte e sul.
Zecamutchima disse que sabe que conta com o apoio popular porque ele próprio faz parte de uma família de dirigentes tradicionais que conhecem as aspirações das populações.
Interrogado sobre se estaria disposto a participar em eleições, o novo dirigente do Movimento do Protectorado da Lunda disse que isso só poderia acontecer após o reconhecimento da autonomia da Lunda.
Zecamutchima disse que não advogava uma federação para Angola mas apenas a autonomia da região que o seu movimento diz representar.
Falar de uma federação, disse, seria falar por outras regiões de Angola.
José Mateus Zecamutchima foi eleito presidente da organização numa reunião da comissão nacional da sua organização que decorreu nos dias 15 e 16 de Julho.
Na reunião participaram dirigentes tradicionais e representantes da corte do rei da Lunda Muatchissingue Watembo.
Zecamutchima congratulou as autoridades angolanas por não terem interferido com a reunião.
A entrevista com o novo dirigente da comissão foi transmitida no nosso programa Temas e Debates.
Pode ouvir o programa com a entrevista carregando na barra azul no topo
Fonte: VOA
quinta-feira, 28 de julho de 2011
" AS FAMÍLIAS DEIXARAM DE SER ESCOLAS DE VIRTUDES SOCIAIS"
As famílias angolanas já não estão a ser constituídas na base do amor, deixando de ser “escolas de virtude sociais”.
Uma constatação do Arcebispo de Saurimo, que apela para a inversão do actual quadro baseado em interesses materiais.
“Vemos as nossas famílias a se afundarem paulatinamente porque já não é o amor que está na base da sua constituição, mas o interesse” – disse o Prelado.
Dom Manuel Imbamba, que falava durante a eucaristia alusiva à festa de Santa Ana de Caxito condenou também a infidelidade conjugal, que na sua análise “ está a afundar as famílias angolanas”.
“A infidelidade, a poligamia, a poliandria, também é bom frisar este aspecto. Há um tempo eram as mamãs que choravam porque os maridos tinham várias mulheres. Agora são os maridos a chorarem porque às mamas têm vários homens” - referiu.
O Arcebispo voltou ainda a chamar atenção para a mentalidade feiticeira, que atinge crianças e afasta velhos do convívio familiar.
“Nalgumas partes do nosso país nem crianças são poupadas. Agora estamos a ganhar a mentalidade de afastar os velhos do convívio familiar, acusando-os de feiticeiros” - exemplificou.
Pelo facto, pediu às famílias angolanas para a “escuta e meditação da palavra de Deus, a oração, o diálogo, a edificação mútua, o diálogo, o perdão e a solidariedade”
Fonte:O APOSTOLADO
Muatchissengue Watembo preocupado com perda de valores morais entre a Juventude
Rei Tchokwé angolano preocupado com perda de valores entre os jovens
Soberano diz que o poder tradicional está a ser exercido por um usurpador imposto pelo regime
Angola está confrontar-se com a perca de valores morais, culturais e cívicos cuja situação é cada vez mais ascendente no sentido negativo. A afirmação é de José Carlos Manuel Muachitambuila, soberano Rei Muachissengue - wa - Tembo.
Segundo a autoridade tradicional dos Lundas e Tchokwes, na região também quase não se observam os ritos até tradicionais para a educação de menores, o desuso da circuncisão tradicional masculina e feminina, a perca da consciência da construção por esforço próprio de uma moradia e da lavra.
Lamenta, ainda, que se desleixe a prática das boas maneiras com os mais velhos da aldeia, o respeito pelos usos e costumes da linhagem, como por exemplo o saber tocar o butuque, dançar o chianda, oferecer a custo zero a hospedagem e alimentação a estranhos na condição de visitantes-Estes valores, recorda, foram ao longo dos séculos entre os Lunda Chokwe um cartão de identidade deste povo e que fazia parte de boa conduta social entre os adolescentes e jovens na comunidade e na família.
O modo de vestir, de falar, andar, eram outras práticas observadas com convicção de obrigatoriedade por parte de todos os membros da comunidade onde os pais nunca deveriam perder a autoridade de exercer bem papel.
Os velhos carinhosamente tratados de seculos ou bibliotecas eram objecto de atenção na partilha das suas experiências de vida para os jovens, são hoje desvalorizados
O soberano Rei Muachissengue - wa - Tembo está preocupado com o futuro das novas gerações, e diz que apesar do poder Real estar a ser exercido por um usurpador imposto pelas estruturas intermédias do regime na região, há tempo para recuperar os valores morais, culturais e cívicos.
Basta para isso, insiste, que as autoridades tradicionais assumam o seu verdadeiro papel de unidade das comunidades, cuja autoridade seja independente de conveniências políticas, invasão orientada de estrangeiros.
Para o arcebispo Dom José Manuel Imbamba, a situação de perca de valores e morais, culturais deve ser vista com seriedade. O prelado fala da participação da Igreja Católica na recuperação destes valores
FONTE:VOA
Soberano diz que o poder tradicional está a ser exercido por um usurpador imposto pelo regime
Angola está confrontar-se com a perca de valores morais, culturais e cívicos cuja situação é cada vez mais ascendente no sentido negativo. A afirmação é de José Carlos Manuel Muachitambuila, soberano Rei Muachissengue - wa - Tembo.
Segundo a autoridade tradicional dos Lundas e Tchokwes, na região também quase não se observam os ritos até tradicionais para a educação de menores, o desuso da circuncisão tradicional masculina e feminina, a perca da consciência da construção por esforço próprio de uma moradia e da lavra.
Lamenta, ainda, que se desleixe a prática das boas maneiras com os mais velhos da aldeia, o respeito pelos usos e costumes da linhagem, como por exemplo o saber tocar o butuque, dançar o chianda, oferecer a custo zero a hospedagem e alimentação a estranhos na condição de visitantes-Estes valores, recorda, foram ao longo dos séculos entre os Lunda Chokwe um cartão de identidade deste povo e que fazia parte de boa conduta social entre os adolescentes e jovens na comunidade e na família.
O modo de vestir, de falar, andar, eram outras práticas observadas com convicção de obrigatoriedade por parte de todos os membros da comunidade onde os pais nunca deveriam perder a autoridade de exercer bem papel.
Os velhos carinhosamente tratados de seculos ou bibliotecas eram objecto de atenção na partilha das suas experiências de vida para os jovens, são hoje desvalorizados
O soberano Rei Muachissengue - wa - Tembo está preocupado com o futuro das novas gerações, e diz que apesar do poder Real estar a ser exercido por um usurpador imposto pelas estruturas intermédias do regime na região, há tempo para recuperar os valores morais, culturais e cívicos.
Basta para isso, insiste, que as autoridades tradicionais assumam o seu verdadeiro papel de unidade das comunidades, cuja autoridade seja independente de conveniências políticas, invasão orientada de estrangeiros.
Para o arcebispo Dom José Manuel Imbamba, a situação de perca de valores e morais, culturais deve ser vista com seriedade. O prelado fala da participação da Igreja Católica na recuperação destes valores
FONTE:VOA
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VII
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VII
O texto que temos vindo a públicar no blog do protectorado da Lunda, fala da penetração europeia na Lunda até 1890, depois teremos a questão da evolução politica de África e a Lunda entre 1884 até 1891, finalmente a questão do conflito entre Portugal e a Bélgica sobre a mesma Lunda ou seja a questão da Lunda 1885 até 1894. Outro elemento muito importante é a questão da conferência Geográfica de 1876 e a Associação Internacional Africana. O problema da conferência de Berlim de 1884-1885, que nunca abordou a situação jurídica da Lunda é a chave de toda a falsa justificação histórica da usurpação territorial.
7.- OS IRMÃOS MACHADOS NA LUNDA, HENRIQUE DE CARVALHO EM FINAIS DE 1881 EM LUANDA E A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA.
Os irmãos Machados tinham negócios bem assentes em Malanje, por intermédio dela conseguiram penetrar nos Estados sob dominio do Muatiânvua e obtiveram licenças e instalaram feitórias no Muana Tximbundo (Mona Quimbundo) e na Mussumba. As relações entre os irmãos Machados e os potentados Lundas era de comércio. Os Irmãos Machados eram simplesmente comerciantes.
Entretanto e depois da partida do Dr Pogge de Mona Quimbundo para o Lubuco, Saturnino Machado, que muito esperou por carregadores de Malange para buscar a borracha que tinha nos armazéns, deixou a feitória entregue a um empregado Africano da província de Angola e foi ter com o irmão Custódio a Malanje.
Havia já uns tempos que os irmãos Machados andavam em negociações para constituirem uma sociedade de exploração de marfim no Lubuco. Projectavam eles partir de Malanje para nordeste, através do país da Jinga, do Hungo, até às fronteiras setentrionais do Holo, para daí seguirem directamente às cachoeiras de Tembo Aluma, no Cuango. Aqui resolveriam se conviria mais marchar através do país do Mussuco ou do Xinje, até ao Pende, no Cassai. Caminhariam depois através dos Bachilangues, passariam o Cassai até ao LUBILÁCHI, para entrarem no Cacheche, na margem esquerda do Lualaba, próximo do Equador.
7.1.1.- HENRIQUE AUGUSTO DIAS DE CARVALHO EM LUANDA
Em finais de 1881 veio de Lisboa para Luanda Henrique Augusto Dias de Carvalho, já a notícia sobre a LUNDA corria no sertão de Luanda, Henrique de Carvalho tomou conhecimento que os Irmãos Machados pretendiam fazerem –se ao interior da Lunda, própos ele á Sociedade de Geografia, alí organizada havia pouco, que mandasse alguém acompanhar a expedição dos irmãos Machados.
De Janeiro a Março de 1882 houve, entre ela e Custódio Machado, troca de correspondência sobre o assunto. Mas da Sociedade de Geografia organizada em Luanda não foi ninguém com eles.
A expedição partiu para Malanje em Outubro de 1883. Levava 1200 homens (carregadores), e maior era ainda o número de agregados que iam por conta própria.
O caminho seguido para a Lunda não tinha ainda sido trilhado por Europeus. Rumou para nordeste até ao Cuango, atravessou o rio já fora das terras dos Bângalas, nos dominios de MUETO ANGUIMBO, potentado Hári.
Ao entrar em terras do Muene Capenda Camulemba – Xinjes, quis Saturnino caminhar no mesmo rumo, em direcção aos territórios do Muene Nzovo Lukunda Zangú, súbdito regente do Muatiânvua. Contudo, o trilho era inacessível para o transporte das cargas, e seguiu a expedição dos irmãos Machados para leste até ao Cuango. Daqui voltou para nordeste até ao LÓVUA, para lá do CAUNGULA, e cortou direito ao Quicassa, no Cassai.
Lopes de Carvalho, que se tinha associado à expedição Machado, separou-se, neste último percurso, de Saturnino Machado, ao que parece no Chicapa. No Capuco, na margem do Muansangoma, voltaram a reunir-se, e, á chegada de Carvalho, já Saturnino estava alí estabelecido em finais de Fevereiro de 1884.
7.1.2.- CAPELO E IVENS NOVAMENTE NO INTERIOR DA LUNDA
Entre 1882, Henrique Augusto Dias de Carvalho voltou para Portugal onde Capelo e Ivens já se encontravam, vindos anos antes das suas aventuras Africanas.
No dia 6 de Janeiro de 1884, embarcavam em Lisboa, no vapor S.Tomé, Capelo e Ivens que, tendo passado quatro anos na Europa, regressavam á àfrica. Desta vez iam com a missão de também atravessar o continente negro, do Atlântico ao Indico por terra.
No dia 24 de Abril do mesmo ano (1884), partiram eles de Moçâmedes para o interior a leste. Exploraram o Curoca, rumaram para a Huila, desceram o Caculovar até ao Humbe, subiram o Cunene até Quiteve, mudaram-se para o Calonga, passaram pelos Ambuelas, dirigiram-se para leste até tocarem o Cubango, desceram por ele até a sua confluência com o Cuebe, e caminharam para o Cuando nos Tchokwes Nganguelas, para o Ninda, subiram o Cabompo, rumando sempre para nordeste, foram a Bunqueia, á corte do N’Síri (2), encaminharam-se para sul até ao Zambeze, descendo por ele até à confluência do Dáqui, dirigiram-se a Tete, retomando o Zambeze até Mopeia, caminharam para Quelimane e foram sair na embocadura do rio dos Bons Sinais.
Em Junho de 1885 terminava a travessia do Capelo e Roberto Ivens do continente Africano.
...(2)...fui aqui que a expedição conheceu Maria da Fonseca, uma das mulheres de N’Siri e mulata que se supõe filha do major Coimbra. Mais uma vez Ivens teve de «repelir por maneira brutal suas audazes pretensões, vendo-se obrigado a abandonar a terra para não ser vitima de alguma víngança dessa atrevida Messalina»...
...(2)...ao que parece, os seus receios provinham mais do terrível espectáculo que N’Síri proporcionava ao «enfeitar» as ruas da sua Corte com as cabeças, espetadas em varas, daqueles que eram acusados de adultério com qualquer das suas numerosíssimas mulheres. Maria da Fonseca acompanharia mais tarde a Lisboa a expedição belga ao Katanga do comandante LUCIEN BIA. Roberto Ivens cumulou de atenção toda a comitiva da expedição, nomeadamente a Maria da Fonseca...
quarta-feira, 20 de julho de 2011
NOVA LIDERANÇA DO MANIFESTO ELEITO NO DIA 16 DE JULHO DE 2011
COMUNICADO DE IMPRENSA
Conferência Nacional do Manifesto do Protectorado da Lunda
A conferência nacional da Comissão do Manifesto Jurídico Sociológico do Protectorado da Lunda (CMJSPLT) teve lugar em Luanda de 15 à 16 de Julho de 2011. Realizada para o cumprimento do compromisso assumido no dia 12 de Abril de 2011, na qual deu a consequência da destituição da anterior liderança do movimento.
A conferência que se realizou sob o lema “Justiça, Liberdade e Progresso”, foi testemunhada com a presença dos Miananganas da Corte do Reinado da Lunda, em representação de sua Majestade Muatchissengue Watembo e de todo o povo neste forúm por Muene Rainha Muzumbo, Muene Muatxizaji, Muene Capenda Camulemba, Muene Nzovo, Muene Pungulo e uma presença massiva de delegados do Manifesto vindos do Kuando Kubango, Moxico, Lundas Norte e Sul e de Luanda.
A conferência aprovou por unanimidade os documentos fundamentais para a reorganização do movimento em virtude da antiga liderança não ter feito nada a cerca de regras e disciplina, mormente;
Estatuto
Regulamento interno
Declaração de princípios
Manifesto em revisto
No decorrer dos trabalhos, foi eleita uma nova liderança, encabeçada por Eng.º José Mateus Zecamutchima, coadjuvada por Domingos Manuel e José da Silva, respectivamente – Presidente e vice presidentes, bem como foi eleito o Secretário geral Junior Cassoca, de forma democratica com voto aberto.
Os delegados presentes a Conferência, reafirmaram o seu apoio a nova liderança, e aprovaram uma moção de apoio aos membros da Corte do reino da Lunda que sempre estiveram ao lado do movimento do protectorado.
Foi eleito o Comite Nacional do Manifesto, composto por 375 membros, dos quais 125 são dirigentes e responsáveis a diversos níveies do movimento e representantes na Europa, América do Norte, América do Sul e África.
Com base na “ Questão da Lunda 1885 – 1894” e do direito legitimo de Autonomia Administrativa e Financeira Efectiva, nos termos de sucessão colectiva e fundamentos juridicos dos tratados de Protectorado de 1885 – 1894, assinados entre Portugal e Soberanos – Miananganas - Lunda Tchokwe da Conferencia do Berlin e da Convenção de Lisboa de 25 de Maio de 1891, ractificado no dia 24 de Março de 1894 sobre a delimitação das fronteiras da Lunda e trocado no dia 01 de Agosto do mesmo ano entre Portugal e Belgica sob mediação internacional da França, na presença da Alemanha, Inglaterra e do Vaticano, tornando assim a Lunda em um Estado Independente “Jus Cogens Internacional” – “Pacta Script Sunta Servanda”. Portugal produziu moralmente a Lei Nº. 8904/55 de 19 de Fevereiro, e Lunda foi atribuida a letra “g” no contexto das Nações e o nosso Manifesto dirigido ao Governo Angolano no dia 3 de Agosto de 2007, a troca da nossa propria independencia por mero Estatuto de Autonomia Administrativa e Financeira Efectiva, de forma aberta, pública, jurudica e transparente.
Os conferencistas recomendaram a nova liderança do Manifesto a encontrar mecanismos que privilegiem o princípio do dialógo transparente e de uma participação alargada e aberta à comunidade internacional e aos autores morais do protectorado da Lunda; Portugal, Bélgica, França, Reino Unido, Vaticano, a ONU, a UE e a União Áfricana.
Os conferencistas reafirmaram o compromisso de continuar a reivindicação até a instauração definitiva de Autonomia Administrativa e Financeira efectiva do Estado da Lunda (Cuando Cubango, Moxico e Lundas Sul e Norte), como princípio fundamental da luta e uma convivência pacifica com os nossos irmãos angolanos na base do respeito mutuo, no sentido de contribuirmos para o fortalecimento das instituições democráticas e a confiança pública no processo.
É objectivo do Manifesto do Protectorado da Lunda, contribuir na criação de um ambiente politico que garanta a PAZ, a segurança, a estabilidade e o respeito pelos direitos humanos, promova os princípios democráticos, o estado de direito, fomente o desenvolvimento e a luta contra as assimetrias e a pobreza absoluta em que esta mergulhado o povo Lunda, mesmo sabendo que o seu Estado é um dos mais ricos de África.
Os conferencistas instam ao Governo de Portugal, no sentido de publicamente dizer ao mundo que ele foi o protector do Estado da Lunda,segundo a lei n.º 8904 de 19 de Fevereiro de 1955, que deu ao povo Lunda a formação de um governo próprio, sem que para isso tenha algum constrangimento nas suas relações politico diplomáticos com o governo de Angola.
Finalmente os conferencistas reiteraram que o Governo saido das últimas eleições em Angola de 2008, e outras entidades legitimas, continuam sendo o interlocutor e responsável sobre o processo da Questão da Lunda; e encorajaram o Presidente José Eduardo dos Santos, a tomar uma atitude politica para um dialógo aberto e transparente com o movimento do Manifesto do Protectorado da Lunda, garantia da Paz, da estabilidade na pacificação de Angola. Esta é a posição que todo o nosso povo desta nossa região da Africa Austral deseja e não definitivamente a guerra.
Luanda, aos 16 de Julho de 2011.-
A CONFERÊNCIA NACIONAL DO MANIFESTO DO PROTECTORADO DA LUNDA
Nova organica do Manifesto
MESA que presidiu a Conferencia Muene Capenda Camulemba, Muene Rainha Muzumbo, Muene Pungulo, Muene Nzovo, Muene Muatxizaji Muzumbo e outros
Mesa de presidium da Conferencia que elegeu a nova Lideranca
terça-feira, 19 de julho de 2011
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VI
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VI
6.- CAPELO, IVENS E SERPA PINTO NO INTERIOR DA LUNDA
No dia 5 de Julho de 1877 embarcava em Lisboa-Portugal no vapor Zaire, com destino à Africa, em especial para a Província ultramarina de Angola, Hermenegildo Capelo e Serpa Pinto.
O Parlamento portugues tinha acabado de votar a soma de trinta contos de réis para se estudarem as relações hidrograficas entre as bacias do Zaire e do Zambeze na Lunda. Em 6 de Agosto do mesmo ano, chegavam a Luanda.
No dia 9 de Agosto de 1877, soube Serpa Pinto que Stanley tinha chegado a Cabinda, e para li seguiu na canhoneira TAMEGA, a fim de lhe oferecer os seus serviços em nome do Governo Portugues. No dia 20, regressou a Tamega a Luanda com a Comitiva de Stanley a bordo.
No dia 6 de Setembro de 1877, o capitão Serpa Pinto partiu de Luanda para Benguela, para dai alcançar o Kunene até às nascentes e seguir a exploração para sueste, até ao Zambeze (Liambeji).
Em Benguela, tomou conselho com Silva Porto e, no dia 12 de Novembro de 1877, partiu para o Dombe, Caconda, onde se encontrou com o primeiro explorador zoólogico de África (segundo os portugueses da epoca) José de Anchieta. Só no dia 8 de Fevereiro de 1878 pôde sair da Caconda, a caminho do Bié. Começou então a descair para sudeste, e veio dar á costa oriental. No dia 19 de Março de 1879 um anos mais tarde, chegava a Durban Africa do Sul, onde tomou o paquete Danúbio para Lourenço Marques Moçambique, daqui para Zanzibar, Suez, Alexandria no Egipto, Nápoles, Bordeus, Pauillac e Lisboa, onde chegou no dia 9 de Junho.
A expedição Capelo-Ivens, a primeira, também partiu de Benguela.
Do Governo de Portugal de Sua Majestade El Fidelissima tinha recebido «por principal objectivo o estudo do rio Cuango nas suas relações como rio Zaire e com os territórios da costa ocidental, assim como toda a região que compreende ao sul e ao sueste as origens dos rios Zambeze e Kunene, e se prolonga ao norte, até entrar pelas bacias hidrograficas do Cuanza e do Cuango (...)».
6.1.2.- ENCONTRO DA EXPEDIÇÃO CAPELO-IVENS E O REI DUMBA WATEMBO 1878
No dia 12 de Setembro de 1877 punha-se expedição em marcha de Benguela para Quilengues, Caconda, onde chegou no dia 8 de Janeiro de 1878. Dias antes daqui partira Serpa Pinto em direcção a Quingolo.
Também Capelo e Ivens se encontraram com José Anchieta, já gasto pelos seus doze anos de sertão. No dia 15 de Janeiro de 1878 partiram para o Kunene, na confluência deste rio como rio Cuando (na região do Kuando Kubango). Voltaram a Caconda e puseram-se a caminho do Bié.
No dia 8 de Março de 1878 eram recebidos em Belmonte por Silva Porto. Capelo foi a Cangombe e chegou a Mucunha, nos Tchokwes Nganguelas. De Belmonte caminharam para nordeste em direcção ao rio Cuanza, que atravessaram.
Entraram nas terras do Luimbe, passaram por Môngoa, subiram ao longo do rio Luando e chegaram no Rei dos Tchokwes Dumba Watembo, que lhes desafiou a sua longa linhagem a partir de Tembo e outras grandes figuras da Aristocracia LUNDA do imperio do Muatiânvua.
Ivens foi às cabeceiras do Cuango, passando para a margem direita. A expedição dividiu-se e cada qual, pela sua margem do Cuango, caminharam até Cassange. Daqui caminhou a expedição em direcção de novo ao Cuango, mas quando se preparava para atravessar o rio foi envolvida pelos Bângalas da Lunda, com os quais teve de pacificamente chegar á fala e a Paz. Perante a hostilidade dos nativos Lundas, que teimavam em barrar-lhe a passagem, teve de regressar a Cassange.
As dificuldades que os Cassanges levantaram ao Alemão OTTO SCHUTT tinham-lhes dado ânimo para proibirem a passagem desta expedição (Capelo-Ivens).
Tentou a expedição (Capelo-Ivens) a travessia do Cuango mais ao norte, mas teve a oposição de outros cassanges. Com esta oposição dos cassanges, Capelo e Ivens rumaram em direcção ao Duque de Bragança.
Passaram pelo Chiça (Mucári), onde visitaram a sepultura de JOSÉ DO TELHADO. Perto de Malanje,junto do morro Bongo, encontraram-se com Dr Max Buchner, que andava aprestando a sua expedição para ir até à Mussumba do Muatiânvua. Andava ele por aquelas bandas em cata de carregadores, e, quando soube da chegada alí «dos exploradores portugueses, foi ter com eles no duplo intento de os conhecer e de escalar o morro».
Com o proposito de chegarem de novo à bacia do Cuango, dispuseram-se a atravessar grande parte do reino da Jinga(Reino de Ndongo).
Do Duque de Bragança foi a expedição Capelo-Ivens explorar as terras de Ambaca, de Pungo-Andongo, as bacias do Lombe, do Cuanza e chegou ao Dondo. Subiu pelos territórios dos reinos de Matamba e da Jinga e alcançou a margem esquerda do Cuango, passou o rio Cauale, encostou-se mais ao Cuango, até mais ou menos ao paralelo 6º 30’ de latitude sul. A expedição Capelo-Ivens não chegou para lá do Cuango.
6.1.3.- VON MECHOW
Quando Capelo e Ivens regressavam da sua exploração, a caminho de LUANDA na província de Angola, ao saírem do Dange-iá-Menha, toparam com o major VON MECHOW, explorador alemão, que se dirigia a Malanje, na intenção de « fazer por água a descida e reconhecimento completo do CUANGO ao ZAIRE».
Também em Malanje, VON MECHOW recorreu á casa de Custódio José de Sousa Machado, que o hospedou e lhe proporcionou os meios precisos para ir na Lunda ao rio Cuango explorá-lo.
Seguiu este explorador (não é colonizador) alemão de Malanje em direitura ao rio Cambo, um pouco a norte de Massangano. Até lá fez conduzir um pequeno barco de aço, desmontado em cinco peças, às costas dos carregadores ( contratados negros africanos da província de angola). Navegou pelo rio Cambo e entrou no Cuango em terras de Tembo Aluma, vísitado pouco antes por Capelo e Ivens.
Seguiu pelo Cuango, visitou Muene Cassongo e continuou a navegaar até Quingúnji, na margem esquerda. Depois interrompeu a sua navegação, por se lhe ter deparado uma queda de água e por os carregadores recearem conduzir o barco por terra, onde podiam ser comidos pelos IACAS (Maiacas ou Baiacas) do livro descrição da Viagem á Mussumba do Muatiânvua, vol. II, pp.881-882; a Lunda, p. 377-378. Henrique Augusto Dias de Carvalho.
6.2.1.- POGGE E WISSMANN, O INTERESSE ALEMÃO NA LUNDA
Dias depois de este explorador entrar em Malanje, aí chegou de novo Dr Pogge, acompanhado agora por H. Wissmann, jovem tenente de infantária do Exercito Alemão.
Ao tempo, já Serpa Pinto tinha chegado a Lisboa e a sua longa travessia, de costa à contracosta, era admirada e aplaudida por toda a EUROPA. Não obstante os desaires do Dr Buchner, que o Dr Pogge bem conhecia, este acalentava a esperança de realizar o seu antigo projecto de sair pela costa oriental, na ambição de também o seu país ter a glória de uma travessia da África.
Mais uma vez o Dr Pogge se dirigiu ao portugues Custódio Machado, que cuidou da organização da nova expedição alemã ao interior da Lunda, apresentando-lhe Caxavala, como intérprete das línguas da Lunda, e Germano para o serviço particular de Dr Pogge e do tenente Wissmann.
Ainda a expedição se encontrava em Malanje e já ali tinha chegado do interior do Estado da Lunda António Lopes de Carvalho, empregado de Custódio Machado, Carvalho, antes de estar em Malanje, tinha estado na Lunda ao serviço de José do Telhado, audaz aventureiro que, apesar das suas muitas tropelias, fez ali obra de mérito para com o Governo de Portugal. António Lopes de Carvalho teve, então, muitas aventuras nos sertões da Lunda e em algumas a sua vida correu perigo.
Desta vez, em expedição de comércio na Lunda por sua conta, Lopes de Carvalho tinha chegado ao Sul, para as bandas do LUALABA no extremo leste do Muatiânvua. Aqui adquiriu marfim e, no regresso, querendo evitar os Tchokwes, internou-se no estado da Lunda sob dominio direito da corte do imperio. No caminho foi despojado de todas as cargas por ordem do Muatiânvua, valeram-lhe os empenhos de Saturnino Machado e dos seus empregados Lourenço Bezerra, que tinha na cidade da MUSSUMBA uma exploração agrícola-comercial, e Vieira Carneiro, que estava ali em viagem de comércio. Obteve então autorização do Muatiânvua para retirar e recursos de guias e mantimentos para poder chegar ao Muana Tximbundo.
Queriam o Dr Pogge e o tenente Wissmann fazer a travessia pela cidade da Mussumba na Corte do Muatiânvua, até à outra costa no indico, mas disto os procuravam dissuadir o Dr Buchner e Lopes de Carvalho. Enquanto XANAMA fosse Muatiânvua, na opinião destes, nínguém a realizaria. António Lopes de Carvalho ofereceu-se para acompanhar a expedição Alemã, pelo caminho que antes trilhara até ao Lualaba.
O Dr Pogge, porém, recusou a oferta de Carvalho, convencido de que aquilo que ele pretendia era reaver, à sombra da expedição, parte dos prejuizos sofridos, além de que tal itínerário desviaria os ilustres exploradores de irem ao Canhíuca, entre o Lubuco e o Lubilachí, averiguar, por ordem da SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE BERLIM, o valor do marfim alí existente.
Ao cabo de três meses em Malanje, Pogge e Wissmann puseram-se a caminho para as terras da LUNDA direitamente para a localidade de Muana Tximbundo (Mona Quimbundo a cerca de 54 Km da cidade de Saurimo actualmente).
Em Muana Tximbundo Saturnino Machado pô-los ao corrente da situação do país Lunda: guerra aberta entre tios e sobrinhos ou seja Lundas e Tchokwes, morte por estes do Muassanza, o maior pontentado Lunda aquém do Cassai ( entre Tchiluanje e Koluezi na actual RDC)e senhor de Cabongo, descida já dos tios Tchokwes pela margem direita do Cassai para fazerem razias no território dos Tucongos e Tubinjes.
Perante a situação no terreno, Saturnino Machano era de opinião que os exploradores deviam alcançar o Cassongo pelo Lubuco, podendo, no trânsito, conhecer da existência do marfim no Canhíuca e também no Cacheche, de que falara STANLEY. Por que do Lubuco, acabava de regressar com pleno êxito SILVA PORTO, e Caxavala, intérprete da expedição, tinha mantido com o Muquengue relações de amizade. Para passar entre os Tchokwes, Saturnino Machado oferecera-se para mandar chamar Muana Congolo, seu antigo freguês e um potentado respeitado entre os Tchokwes, a fim de acompanhar os exploradores Dr Pogge e Wissmann.
O Dr Pogge e o Tenente Wissmann resolveram então pôr de lado o antigo projecto e seguir os conselhos de Saturnino Machado. A expedição desceu pela margem esquerda do Chicapa até à sua confluência com Cassai, e, no Quicassa, mudou para este rio e seguiu até ao Muquengue.
Aos bons oficios de Caxavala deve o Dr Pogge a companhia do próprio potentado Muquengue até ao Cassongo no Lualaba. Aqui a expedição Alemã avistou-se com TIPPU-TIB o árabe que temos vindo a descrever constantemente, e foi sobre um cheque pagável na costa oriental que este abasteceu a expedição do que ela estava necessitando.
O tenente Wissmann, acompanhado por gente negreiro árabe até ao TANGANICA, separou-se do resto da expedição e rumou para leste até à costa do ìndico, levando consigo Caxavala, que foi com ele até BERLIM na Alemanha. O Dr Pogge, com Muquengue, voltou ao Lulua, onde tinha deixado Germano com alguns rapazes de Malanje a construir uma casa para a estação que ele ali estabeleceu.
Quando o Dr Pogge chegou, encontrou uma boa casa com lavras à volta, onde já crescia o arroz de sequeiro, e a tudo deu ele o nome de Estação de LULUABURG. Aqui se conservou Dr Pogge durante os anos de 1882 e 1883. Tendo adoecido gravemente, regressou a Malanje numa rede, e daí a Luanda, onde faleceu na véspera do dia em que tencionava embarcar para a EUROPA.
domingo, 10 de julho de 2011
DELEGAÇÃO DA CG DO MANIFESTO DO PROTECTORADO DA LUNDA RECEBIDO EM AUDIÊNCIA NA EMBAIXADA DOS EUA EM ANGOLA
DELEGAÇÃO DA CG DO MANIFESTO DO PROTECTORADO DA LUNDA RECEBIDO EM AUDIÊNCIA NA EMBAIXADA DOS EUA EM ANGOLA
Uma delegação de alto nível da CG do Manifesto do Protectorado da Lunda Tchokwe, chefiada pelo Eng.º José Mateus Zecamutchima SG/CCG, que integrou também os Secretarios; Eng.º Gideão dos Santos, Dr José Alberto, José da Silva e Bernardo Naiminha, foi recebido oficialmente no dia 6 de Julho de 2011, pela Embaixada dos EUA em Angola.
O encontro que se realizou no edificio sede da Embaixada dos EUA em Luanda, teve como objectivo a entrega de uma carta para o Presidente Barack Obama e o Senando dos EUA, para além das explicações do caracter pacifico e sem violência da luta reivindicativa do direito legitimo, da necessidade urgente do dialógo aberto, transparente e sem ambiguidades com o Governo Angolano sobre a Autonomia Administrativa e Financeira efectiva da Lunda (Kuando Kubango, Moxico e Lundas Norte e Sul).
Abordou-se também a questão de intimidações e perseguições continuadas pelo governo angolano a membros do Manifesto, da violação sistemática de direitos humanos no interior da Lunda, do meio ambiente e da soltura de ( 7 ) activistas politicos aprisionados na cadeia da Kakanda na Lunda-Norte ao abrigo do artigo 26 da Lei 7/78, de crimes contra a segurança de estado, já revogada em 2010 pela Assembleia Nacional de Angola.
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE V
Mapa da cidade da Mussumba do Imperio LUNDA 1885 - 1894
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE V
O texto que temos vindo a publicar, esta bem claro que as expedições europeias na Lunda, eram meramente de caracter ciêntifico, estudos etnograficos e história tradicional dos povos sob dominio do Muatiânvua, outros ainda estavam interessados pelo comércio de marfim, porque a partir do ano de 1880 já não existia mais o comercio de escravatura, em nenhum momento havia intenções de ocupação colónial por parte, seja ela de Portugal, da França, da Alemanha ou da Inglaterra, no Império LUNDA do MUATIANVUA.
5.- ESTRANGEIROS EM EXPEDIÇÕES NO INTERIOR DA LUNDA
5.1.- DR. PAUL POGGE E A. LUX
5.1.2.- O INTERESSE SOBRE A LUNDA 1875
Não havia interesses especificos na Lunda de nenhuma potência Europeia. O interesse maior sobre a exploração da Lunda começa no ano de 1875, uma terra desconhecida e mal estudada há menos de 9 anos para a realização da CONFERÊNCIA DE BERLIM de 1884-1885.
As terras da Lunda eram até então alheias às preocupações dos exploradores estrangeiros, mormente a Europa. E, porque eles eram a guarda avançada dos interesses politicos dos seus Estados, não podiam estes alimentar, por isso, ambições sobre os territórios do Muatiânvua. No entanto, a partir de 1875, principiam a entrar na LUNDA expedições de estrangeiras Europeias, Alemães e Belgas sobretudo, expedições essas que estão na base das reivindicações que vieram a anunciar-se a seu tempo (A QUESTÃO DA LUNDA 1885-1894) e que parecem explicar os meandros bem tortuosos por que passou a DELIMITAÇÃO DE FRONTEIRAS DO ESTADO INDEPENDENTE DO CONGO na conferência de Berlim – tratado de 14/02/1885.
A Lunda foi tida durante muitos anos como um dos maiores armazéns de marfim de toda a Àfrica.
A pouco a pouco, com a caça indiscriminado que se davam ao elefante, este animal foi rareando e internando-se cada vez mais para norteste. Em 1859, segundo relatos, ainda se caçava entre o Cuilo e o Lulua, do 9º da latitude sul para o norte. Em 1868, já os caçadores não encontravam elefantes senão para lá do Chicapa e nos territórios de MUSSENVO, do 8º de latitude sul para o norte; dez anos depois, só nas bandas do 7º.
Mas o Muquengue (terras do lubuco) continuavam ainda abundante de marfim. Talvez isto explique um pouco certas preferências de exploradores, comissionados de sociedades de geografia e de casas comerciais europeias, alcançarem o lubuco depois de 1876.
Durante muitos anos, mesmo após a abolição do infame tráfico da escravatura, as caravanas comerciavam assim; levavam da costa atlantica ou indica produtos e trocavam-nos por escravos e marfim, e eram os próprios escravos que conduziam depois o marfim. Era deste modo que TIPPU-TIB fazia o seu negócio...
Abolido o tráfico dos escravos negros, os Europeus deixavam de contar com os réditos que dele advinham, e foram-se só em busca de marfim, borracha e demais produtos que a África podia oferecer de interesse. Mas agora urgia tratar o comércio por modo diferente. Era dificil o engajamento de carregadores. Era preciso ocupar, instalar armazéns de compra e venda e drenar os produtos para a costa por outros processos.
Além disso, mas valia ter a propriedade do que a posse ou o seu uso. Poe isso, os Estados Europeus se lançaram em Africa numa furiosa corrida, que sabia aliar aparentes intenções altruistas com evidentes intuitos politicos e comerciais.
Foi grande o desapontamento de STANLEY quando verificou que à saida do Zaire havia cataratas... Se as suas intenções eram diferentes, era para alargar-se, pois que as cataratas são o maior deleite que um rio pode causar aos homens...
5.1.2.- O INTERESSE SOBRE A LUNDA A PARTIR DE 1875
O certo é que a partir de 1875, a Lunda começou a despertar a «curiosidade» dos Europeus que iam a África também para explorar.
Durante muitos anos os BÂNGALAS opunham em Cassangue séria oposição à passagem de caravanas, mesmo que fossem pequenas comitivas de Ambaquista (Ambaca), Calandulas, Bondos ou outros nativos Africanos ou Brancos vindos da província de Angola para a Lunda, com o receio de concorrência no interior.
Até 1882, as expedições portuguesas da provincia de Angola para a Lunda que pretendiam atravessar o rio Lui e o Cuango para lá, faziam-no no porto chamado do Caminho grande, o caminho de Quimbundo, ou de Munene Quissesso [Senhor Machado (Saturnino)]. Mais ao norte, perto de Quitamba-cá-Quimpungo, de Ambanza IMBUA, havia um outro porto, onde algumas comitivas passavam sem dificuldades levantadas pelo Ambanza (Descrição da viagem á Mussumba do Muatiânvua, vol. I, p.273).
5.1.3.- DR PAUL POGGE E A: LUX
Em 1875 o Dr Paul Pogge e o tenente A. Lux, passaram no primeiro porto no Lui e Cuango. Iam estes dois exploradores da parte da Sociedade de Geografia de Berlim. Entraram na província de Angola com a protecção do Governo Português. Dirigiram-se a Malanje, e ali encontraram a hospitalidade e a protecção da casa comercial dos irmãos Machados e souberam, com grande pasmo, que « todos os portugueses (dali) estavam em directas relações comerciais com os principais potentados de todo o Estado da LUNDA e com o próprio imperador Muatiânvua e tinham de aprender a língua portuguesa para se poderem fazer compreender naqueles estados.
Acompanhados por negociantes ambaquistas, rumaram em direcção ao Muana Tximbundo (monaquimbundo) onde tiveram hospedagem na feitória de Saturnino Machado.
O tenente A. Lux regressou, e o Dr Paul Pogge, com pombeiros deste comerciante e com o Cacuata Vunje, então Xanama do Cassai e súbditos, portanto, do Imperador Muatiânvua, dirigiu-se à Mussumba pelo caminho antigo, bem trilhado pelas caravanas comerciais portuguesas. O próprio Saturnino recomendou o Dr Paul Pogge ao seu enviado na Mussumba, o velho Lourenço Bezerra, para que estivesse sempre ao seu lado e o avisasse de tudo quanto se passasse na Corte do Imperador Muatiânvua que lhe dissesse respeito.
Em 1876, um ano depois, o Dr Paul Pogge retira, sem poder passar à outra costa, o indico como era seu desejo. Promete voltar com um companheiro que se dispusesse a fazer esta travessia, e, com esse intento, volta a Berlim.
5.1.4.- OTTO SCHUTT E SILVA PORTO
Em 1877, chega a Malanje, recomendado a Custódio Machado, outro explorador Alemão comissionado da Sociedade de Geografia de Berlim. Era Otto Schutt, que se propunha ir também à Mussumba.
A conselho de Machado, quis seguir outro caminho, por o antigo estar explorado, não haver nele comércio e estar infestado de Tchokwes salteadores de caravanas. Pretendeu passar, mas não o conseguiu, não obstante ter pago avultadas quantias de fazendas. Aborrecido, retirava já para Malanje, quando no caminho encontrou Saturnino Machado e seu empregado João de Carvalho (vulgo João da Catepa), que o animaram a prosseguir.
Por influência deste passou o Cuango, e, com o João da Catepa, chegou a Muana Tximbundo (Mona Quimbundo ou Muatximbundo). Daqui rumou pela margem direita do Rio Chicapa, na companhia de João, a quem depois dispensou de o acompanhar, por se julgar seguro e certo de atingir a Mussumba.
Mas os carregadores, ao ouvirem falar do negócio do Lubuco, convenceram Schutt a desistir da Mussumba e a ir antes ao Muquengue. Ao chegar à sanzala Mahi Munene, este não o deixou passar o Cassai, por querer fazer ele o negócio com Schutt. Entretanto, chegou ao Luachimo o Muata Mussenvo e, procurando o explorador, participou-lhe que o Imperador Muatiânvua, que tinha muito marfim para lhe dar, o mandava ir, e que a oposição do Mahi provinha apenas da ordem do Muatiânvua para não deixar passar nenhum Branco com receio de os canibais o comerem, e «ele não queria ter má fama como Muene Puto».
Todavia, tudo isto causou tanta perplexidade em Otto Schutt que, quando numa noite ouviu um tiroteio de fusilaria, o tomou por ameaça à sua pessoa, e retirou.
Ainda antes, ao passar o 9º de latitude para o norte, os Tchokwe de Sua Majestade Muatchissengue disputaram-lhe a passagem e a pendência arrastou-se por dias. Estava então já perto de si uma grande caravana de Silva Porto que, vindo da sua casa do Bié, subia pelo Chicapa. Mas, quando este chegou a Sua Majestade Muatchissengue (Watembo), já Otto Schutt regressava a Malanje.
Silva Porto deixou no potentado Muatchissengue parte das cargas e atravessou o Luachimo, o Chiúmbue e o Chicapa, e no Estado de Congolo, recebeu a companhia de António Bezerra. Atravessam de novo o Chicapa, em Anguina Ambanza, segue o Luachimo, depois o Chiúmbue, passam o Cassai no porto de Cambundo Mulonde, chefe de um grupo de Bachilangues, e continua para o norte até 5º de latitude sul.
Com os Tchokwes manteve Silva Porto boas relações. No Lubuco, fez negócios com os Balubas, Baquetes, Bacubas, e ali encontrou um grande número de angolanos do norte do Cuanza. Dr Otto Schutt não teve nenhum encontro com a Mussumba.
5.1.5.- DR MAX BUCHNER E SUA MAJESTADE MUATCHISSENGUE
Em Dezembro de 1878 desembarcava em Luanda o Dr Max Buchner, comissionado pela Sociedade Africana Alemã, que fazia parte da Associação Internacional, fundada pelo rei dos Belgas LEOPOLDO II.
De Luanda dirigiu-se a Malanje, recomendado pela secção africana da Sociedade de Geografia de Berlim a Custódio Machado. Aqui aprendeu os indispensáveis rudimentos da língua portuguesa e, em fins de Julho de 1879, seguiu para Muana Tximbundo, onde foi hospedado por Saturnino Machado.
No potentado Muatchissengue teve que travar luta com os Tchokwes, que intentavam impedi-lo de continuar para a Mussumba na corte do Imperador Muatiânvua. Ajudado pelos 40 negociantes ambaquistas que se tinham agregado à expedição, conseguiu impedir o ataque, e o potentado Muatchissengue propôs a PAZ.
Dr Buchner seguiu avante, e, no dia 10 de Dezembro de 1879, quatro meses e meio depois da partida de Malanje, entrava na Mussumba do Muatiânvua, depois de atravessar os rios Lui, Cuango, Cuilo, Chicapa, Luachimo, Chiúmbue, Luembe, Luia, Cassai, Lulua e Luisa.
Na corte do imperador Muatiânvua, que era então XANAMA, não gostou o Dr Max Buchner da maneira de fazer negócio. Era uso negociar o comerciante a sua «factura» com o potentado: entregar-lhe toda a fazenda e aguardar pacientemente o pagamento. Deste modo, o negociante ficava na dependência dele para retirar.
E, porque este Muatiânvua era «talvez mais avarento do que seus antecessores», não ouviu com agrado os planos do Dr Max Buchner de ir dali ao Cassongo de Cameron (Nhangoé) e sair pela costa oriental. « Lá não se pode ir, há muito má gente, muito feitiço e fome. Lá, tu vais morrer e depois os brancos dizem que fui eu que te matei» - disse-lhe o Muatiânvua. E, não pode Dr Max Buchner realizar o seu intento de sair pela outra costa.
Dr Max Buchner demorrou seis meses na Mussumba, e aproveitou o cacimbo para empreender a sua viagem de regresso.
Atravessou o Lulua e rumou para noroeste. Partindo do CAUNGULA, na margem do Lóvua, intentou penetrar nas terras do Muata Cumbana, para descer pelo Luangue até ao Zaire e alcançar a costa Atlântica. Mas os tucuatas, que por ali andavam por via de uma revolta havida dias antes por cobrança dos tributos, intimidaram os carregadores com a ideia de virem a ser comidos pelos canibais e incitaram os Tucongo a fazer-lhe guerra.
Dr Max Buchner não teve outra alternativa senão a de regressar a Malanje pelas terras de CAPENDA CAMULEMBA.
Em Fevereiro de 1881estava ele em Malanje e, no dia 1 de Setembro do mesmo ano, era recebido em Luanda na SOCIEDADE PROPAGADORA DE CONHECIMENTOS GEOGRAFICOS AFRICANOS, onde pronunciu discurso de agradecimento aos Portugueses e relatou a sua viagem no interior da LUNDA.
A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE V
O texto que temos vindo a publicar, esta bem claro que as expedições europeias na Lunda, eram meramente de caracter ciêntifico, estudos etnograficos e história tradicional dos povos sob dominio do Muatiânvua, outros ainda estavam interessados pelo comércio de marfim, porque a partir do ano de 1880 já não existia mais o comercio de escravatura, em nenhum momento havia intenções de ocupação colónial por parte, seja ela de Portugal, da França, da Alemanha ou da Inglaterra, no Império LUNDA do MUATIANVUA.
5.- ESTRANGEIROS EM EXPEDIÇÕES NO INTERIOR DA LUNDA
5.1.- DR. PAUL POGGE E A. LUX
5.1.2.- O INTERESSE SOBRE A LUNDA 1875
Não havia interesses especificos na Lunda de nenhuma potência Europeia. O interesse maior sobre a exploração da Lunda começa no ano de 1875, uma terra desconhecida e mal estudada há menos de 9 anos para a realização da CONFERÊNCIA DE BERLIM de 1884-1885.
As terras da Lunda eram até então alheias às preocupações dos exploradores estrangeiros, mormente a Europa. E, porque eles eram a guarda avançada dos interesses politicos dos seus Estados, não podiam estes alimentar, por isso, ambições sobre os territórios do Muatiânvua. No entanto, a partir de 1875, principiam a entrar na LUNDA expedições de estrangeiras Europeias, Alemães e Belgas sobretudo, expedições essas que estão na base das reivindicações que vieram a anunciar-se a seu tempo (A QUESTÃO DA LUNDA 1885-1894) e que parecem explicar os meandros bem tortuosos por que passou a DELIMITAÇÃO DE FRONTEIRAS DO ESTADO INDEPENDENTE DO CONGO na conferência de Berlim – tratado de 14/02/1885.
A Lunda foi tida durante muitos anos como um dos maiores armazéns de marfim de toda a Àfrica.
A pouco a pouco, com a caça indiscriminado que se davam ao elefante, este animal foi rareando e internando-se cada vez mais para norteste. Em 1859, segundo relatos, ainda se caçava entre o Cuilo e o Lulua, do 9º da latitude sul para o norte. Em 1868, já os caçadores não encontravam elefantes senão para lá do Chicapa e nos territórios de MUSSENVO, do 8º de latitude sul para o norte; dez anos depois, só nas bandas do 7º.
Mas o Muquengue (terras do lubuco) continuavam ainda abundante de marfim. Talvez isto explique um pouco certas preferências de exploradores, comissionados de sociedades de geografia e de casas comerciais europeias, alcançarem o lubuco depois de 1876.
Durante muitos anos, mesmo após a abolição do infame tráfico da escravatura, as caravanas comerciavam assim; levavam da costa atlantica ou indica produtos e trocavam-nos por escravos e marfim, e eram os próprios escravos que conduziam depois o marfim. Era deste modo que TIPPU-TIB fazia o seu negócio...
Abolido o tráfico dos escravos negros, os Europeus deixavam de contar com os réditos que dele advinham, e foram-se só em busca de marfim, borracha e demais produtos que a África podia oferecer de interesse. Mas agora urgia tratar o comércio por modo diferente. Era dificil o engajamento de carregadores. Era preciso ocupar, instalar armazéns de compra e venda e drenar os produtos para a costa por outros processos.
Além disso, mas valia ter a propriedade do que a posse ou o seu uso. Poe isso, os Estados Europeus se lançaram em Africa numa furiosa corrida, que sabia aliar aparentes intenções altruistas com evidentes intuitos politicos e comerciais.
Foi grande o desapontamento de STANLEY quando verificou que à saida do Zaire havia cataratas... Se as suas intenções eram diferentes, era para alargar-se, pois que as cataratas são o maior deleite que um rio pode causar aos homens...
5.1.2.- O INTERESSE SOBRE A LUNDA A PARTIR DE 1875
O certo é que a partir de 1875, a Lunda começou a despertar a «curiosidade» dos Europeus que iam a África também para explorar.
Durante muitos anos os BÂNGALAS opunham em Cassangue séria oposição à passagem de caravanas, mesmo que fossem pequenas comitivas de Ambaquista (Ambaca), Calandulas, Bondos ou outros nativos Africanos ou Brancos vindos da província de Angola para a Lunda, com o receio de concorrência no interior.
Até 1882, as expedições portuguesas da provincia de Angola para a Lunda que pretendiam atravessar o rio Lui e o Cuango para lá, faziam-no no porto chamado do Caminho grande, o caminho de Quimbundo, ou de Munene Quissesso [Senhor Machado (Saturnino)]. Mais ao norte, perto de Quitamba-cá-Quimpungo, de Ambanza IMBUA, havia um outro porto, onde algumas comitivas passavam sem dificuldades levantadas pelo Ambanza (Descrição da viagem á Mussumba do Muatiânvua, vol. I, p.273).
5.1.3.- DR PAUL POGGE E A: LUX
Em 1875 o Dr Paul Pogge e o tenente A. Lux, passaram no primeiro porto no Lui e Cuango. Iam estes dois exploradores da parte da Sociedade de Geografia de Berlim. Entraram na província de Angola com a protecção do Governo Português. Dirigiram-se a Malanje, e ali encontraram a hospitalidade e a protecção da casa comercial dos irmãos Machados e souberam, com grande pasmo, que « todos os portugueses (dali) estavam em directas relações comerciais com os principais potentados de todo o Estado da LUNDA e com o próprio imperador Muatiânvua e tinham de aprender a língua portuguesa para se poderem fazer compreender naqueles estados.
Acompanhados por negociantes ambaquistas, rumaram em direcção ao Muana Tximbundo (monaquimbundo) onde tiveram hospedagem na feitória de Saturnino Machado.
O tenente A. Lux regressou, e o Dr Paul Pogge, com pombeiros deste comerciante e com o Cacuata Vunje, então Xanama do Cassai e súbditos, portanto, do Imperador Muatiânvua, dirigiu-se à Mussumba pelo caminho antigo, bem trilhado pelas caravanas comerciais portuguesas. O próprio Saturnino recomendou o Dr Paul Pogge ao seu enviado na Mussumba, o velho Lourenço Bezerra, para que estivesse sempre ao seu lado e o avisasse de tudo quanto se passasse na Corte do Imperador Muatiânvua que lhe dissesse respeito.
Em 1876, um ano depois, o Dr Paul Pogge retira, sem poder passar à outra costa, o indico como era seu desejo. Promete voltar com um companheiro que se dispusesse a fazer esta travessia, e, com esse intento, volta a Berlim.
5.1.4.- OTTO SCHUTT E SILVA PORTO
Em 1877, chega a Malanje, recomendado a Custódio Machado, outro explorador Alemão comissionado da Sociedade de Geografia de Berlim. Era Otto Schutt, que se propunha ir também à Mussumba.
A conselho de Machado, quis seguir outro caminho, por o antigo estar explorado, não haver nele comércio e estar infestado de Tchokwes salteadores de caravanas. Pretendeu passar, mas não o conseguiu, não obstante ter pago avultadas quantias de fazendas. Aborrecido, retirava já para Malanje, quando no caminho encontrou Saturnino Machado e seu empregado João de Carvalho (vulgo João da Catepa), que o animaram a prosseguir.
Por influência deste passou o Cuango, e, com o João da Catepa, chegou a Muana Tximbundo (Mona Quimbundo ou Muatximbundo). Daqui rumou pela margem direita do Rio Chicapa, na companhia de João, a quem depois dispensou de o acompanhar, por se julgar seguro e certo de atingir a Mussumba.
Mas os carregadores, ao ouvirem falar do negócio do Lubuco, convenceram Schutt a desistir da Mussumba e a ir antes ao Muquengue. Ao chegar à sanzala Mahi Munene, este não o deixou passar o Cassai, por querer fazer ele o negócio com Schutt. Entretanto, chegou ao Luachimo o Muata Mussenvo e, procurando o explorador, participou-lhe que o Imperador Muatiânvua, que tinha muito marfim para lhe dar, o mandava ir, e que a oposição do Mahi provinha apenas da ordem do Muatiânvua para não deixar passar nenhum Branco com receio de os canibais o comerem, e «ele não queria ter má fama como Muene Puto».
Todavia, tudo isto causou tanta perplexidade em Otto Schutt que, quando numa noite ouviu um tiroteio de fusilaria, o tomou por ameaça à sua pessoa, e retirou.
Ainda antes, ao passar o 9º de latitude para o norte, os Tchokwe de Sua Majestade Muatchissengue disputaram-lhe a passagem e a pendência arrastou-se por dias. Estava então já perto de si uma grande caravana de Silva Porto que, vindo da sua casa do Bié, subia pelo Chicapa. Mas, quando este chegou a Sua Majestade Muatchissengue (Watembo), já Otto Schutt regressava a Malanje.
Silva Porto deixou no potentado Muatchissengue parte das cargas e atravessou o Luachimo, o Chiúmbue e o Chicapa, e no Estado de Congolo, recebeu a companhia de António Bezerra. Atravessam de novo o Chicapa, em Anguina Ambanza, segue o Luachimo, depois o Chiúmbue, passam o Cassai no porto de Cambundo Mulonde, chefe de um grupo de Bachilangues, e continua para o norte até 5º de latitude sul.
Com os Tchokwes manteve Silva Porto boas relações. No Lubuco, fez negócios com os Balubas, Baquetes, Bacubas, e ali encontrou um grande número de angolanos do norte do Cuanza. Dr Otto Schutt não teve nenhum encontro com a Mussumba.
5.1.5.- DR MAX BUCHNER E SUA MAJESTADE MUATCHISSENGUE
Em Dezembro de 1878 desembarcava em Luanda o Dr Max Buchner, comissionado pela Sociedade Africana Alemã, que fazia parte da Associação Internacional, fundada pelo rei dos Belgas LEOPOLDO II.
De Luanda dirigiu-se a Malanje, recomendado pela secção africana da Sociedade de Geografia de Berlim a Custódio Machado. Aqui aprendeu os indispensáveis rudimentos da língua portuguesa e, em fins de Julho de 1879, seguiu para Muana Tximbundo, onde foi hospedado por Saturnino Machado.
No potentado Muatchissengue teve que travar luta com os Tchokwes, que intentavam impedi-lo de continuar para a Mussumba na corte do Imperador Muatiânvua. Ajudado pelos 40 negociantes ambaquistas que se tinham agregado à expedição, conseguiu impedir o ataque, e o potentado Muatchissengue propôs a PAZ.
Dr Buchner seguiu avante, e, no dia 10 de Dezembro de 1879, quatro meses e meio depois da partida de Malanje, entrava na Mussumba do Muatiânvua, depois de atravessar os rios Lui, Cuango, Cuilo, Chicapa, Luachimo, Chiúmbue, Luembe, Luia, Cassai, Lulua e Luisa.
Na corte do imperador Muatiânvua, que era então XANAMA, não gostou o Dr Max Buchner da maneira de fazer negócio. Era uso negociar o comerciante a sua «factura» com o potentado: entregar-lhe toda a fazenda e aguardar pacientemente o pagamento. Deste modo, o negociante ficava na dependência dele para retirar.
E, porque este Muatiânvua era «talvez mais avarento do que seus antecessores», não ouviu com agrado os planos do Dr Max Buchner de ir dali ao Cassongo de Cameron (Nhangoé) e sair pela costa oriental. « Lá não se pode ir, há muito má gente, muito feitiço e fome. Lá, tu vais morrer e depois os brancos dizem que fui eu que te matei» - disse-lhe o Muatiânvua. E, não pode Dr Max Buchner realizar o seu intento de sair pela outra costa.
Dr Max Buchner demorrou seis meses na Mussumba, e aproveitou o cacimbo para empreender a sua viagem de regresso.
Atravessou o Lulua e rumou para noroeste. Partindo do CAUNGULA, na margem do Lóvua, intentou penetrar nas terras do Muata Cumbana, para descer pelo Luangue até ao Zaire e alcançar a costa Atlântica. Mas os tucuatas, que por ali andavam por via de uma revolta havida dias antes por cobrança dos tributos, intimidaram os carregadores com a ideia de virem a ser comidos pelos canibais e incitaram os Tucongo a fazer-lhe guerra.
Dr Max Buchner não teve outra alternativa senão a de regressar a Malanje pelas terras de CAPENDA CAMULEMBA.
Em Fevereiro de 1881estava ele em Malanje e, no dia 1 de Setembro do mesmo ano, era recebido em Luanda na SOCIEDADE PROPAGADORA DE CONHECIMENTOS GEOGRAFICOS AFRICANOS, onde pronunciu discurso de agradecimento aos Portugueses e relatou a sua viagem no interior da LUNDA.
GRANDEZA E PERSONALIDADE DE DUMBA WATEMBO
GRANDEZA E PERSONALIDADE DE DUMBA WATEMBO
No texto anterior que publicamos, descrevemos Dumba Watembo, o Rei Tchokwe no Tchiboco. Hoje vamos descrever o vestuário deste grande personagem que o tempo jamais apagará.
Relativamente ao vestuário do rei Dumba Watembo, há a notar que a contaria CASSUNGO que lhe guarnecia o casaco era uma missanga de bordar, de cores diversas, muito apreciadas pelos nativos, para a confecção de adornos. Era particularmente aplicada nas interessantes e artisticas coroas em múltiplas palas, e nos diademas, dos antigos Chefes LUNDAS. Com a mesma missanga devia ser bordado o diadema que Dumba Watembo ostentava abaixo da coroa de latão, e um pouco confundido com ela na descrição que os exploradores Europeus Henry Stanley, David Livingstone, Capelo Ivens e Silva Porto quando visitaram Tchiboco.
Quanto à pequena pele que usava, trata-se do LUKANO, pele de corça, animal em vários aspectos muito consagrado aos simbolismos do poder ancestral dos grandes Chefes LUNDA TCHOKWES.
No que se refere á coroa de latão, conforme a figura de Dumba Watembo, não apresenta ela correspondência de qualquer ordem com a tradição dos Tchokwes ou dos Lundas.
Tratando-se de obra do próprio Dumba Watembo, devemos concluir que a fez inspirando-se em objectos idênticos que conheceu, ou em imagens ou ideia que lhe foi sugerida. Admitimos que se trate de influência de qualquer modo provenientes de parentes seus, investidos em altas funções de chefia nos Bângalas e na Jinga (Mujinga Bandi), em modos de realeza, e da nomeação dos portugueses da província de Angola, como fossem, pelo menos os Jagas de Cassange, originários da mesma família da LUNDA dos Konte, parentes próximos dos Dumba Watembo (Tchinguri ua Konte ou Kinguri dos Bângalas, quando o Jaga de Cassange era irmão da LUEJI ua Konte, governanta dos Lundas anteriormente ao primeiro Muatiânvua, e ambos famílias de Dumba Watembo).
Em qualquer caso, porém, o uso da coroa não podia de modo nenhum ser arbitrário, sem risco de agravo das relações famíliares e oficias de subordinação com o Estado dos LUNDAS da Katanga, centro politico do imperio, seja com o Muatiânvua.
Também tal uso não era um enjeite das normas tradicionais, e bem o comprova a presença do diadema dos Chefes Lunda Tchokwes, usado a par com a coroa metálica do Dumba Watembo.
No conjunto, devemos entender a presença de atributos de realeza tradicional dos povos Lunda Tchokwes, com os duma nova realeza, instituido pelos portugueses na província de Angola. Em um e outro lado tinha Dumba Watembo classificados parentes de cujas recíprocas dignidades ia resumindo em si honras, senão direitos.
Quando ao colar com « dois búzios e um pequeno chifre» deve tratar-se de N’zimbo dos Olivancilaria nana, provenientes da Ilha de Luanda na província de Angola, e dum chifre de corça (esta última peça geralmente recheada de produtos de curandice ou magismo é usada como amuleto).
Com vista ao bordão usado pelo rei Muene Dumba Watembo, e que muitas vezes lhe caía por terra, temos que o seu uso era para o efeito de exibir com maior evidência as garras de metal.
No que respeita aos anéis de latão, que lhe guarneciam os dedos, estamos em presença de um velho hábito de luxo dos Lunda Tchokwes de categoria.
Conhecemos grandes Muanangas como Muatchondo e outros que ostentavam anéis de latão e de cobre finamente cinzelados, em todos os dedos das mãos e na maior parte dos dedos dos pés. Aliás os nativos Lunda Tchokwes sabem-no bem, o metal amarelo e o cobre principalmente contrastam e realçam a beleza do tom das peles melanodermes.
Finalmente, quanto ás «longas unhas» de latão usadas por Dumba Watembo (melhor chamar-lhes garras e lembramos que Dumba significa Leão), trata-se duma exteriorização visível e tangível dos seus predicados de Chefe Poderoso, a que o próprio nome Dumba não é estranho.
As garras do Dumba Watembo, como Leão e como Chefe, expressam a força e o poder de DUMBA, que já traduzimos como Leão de Tembo ou Watembo.
Este facto está de acordo com certos estilos e conceitos da vida Tchokwe, que levam os individuos a atribuir a si próprios os nomes e insígnias que entendem definir ou vincar a sua personalidade, caracter ou acção.
Por via inversa, também usam marcas ou simbolos que traduzem exteriormente os predicados do nome ou da condição, ou de ambos os factos ao mesmo tempo.
É este o caso das garras de Leão de Dumba Watembo, Leão de Tembo, rei dos Tchokwes, guerreiro, Régulo e Senhor das extensas florestas do mel, cabeça ornada com insígnias de duas realezas para maior glória dos Tembos da LUNDA e mais temerosa fama dos «demónios silvículas do Tchiboco».
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