ÁFRICA DO SUL: CYRIL RAMAPHOSA
É O NOVO LÍDER DO ANC
Após
sucessivos adiamentos e um enorme suspense, partido sul-africano anuncia novo
líder: Cyril Ramaphosa. Ex-mulher de Zuma é derrotada.
O suspense juntou-se
à tensão e desconfiança. O Congresso do ANC (Congresso Nacional Africano) foi
adiando a votação dos seis mil delegados juntos na reunião, e adiou depois o
anúncio dos resultados. A dada altura sobe ao palco a presidente do partido, dizendo
que o anúncio seria feito “em cinco ou dez minutos”, mas passou mais de uma
hora até se ouvir o nome do vencedor: Cyril Ramaphosa.
Ramaphosa enfrentava
Nkosazana Dlamini-Zuma, e os principais candidatos na corrida simbolizavam
dois caminhos diferentes para o partido no poder na África do Sul desde o
fim do apartheid: Ramaphosa é um antigo sindicalista, entretanto
empresário, e até agora número dois do partido, mas visto como um potencial
reformista, especialmente na parte económica; Dlamini-Zuma, ex-mulher do
Presidente, Jacob Zuma, é vista como uma candidata de continuidade, em especial
de políticas vistas como falhadas em termos de emprego, por exemplo.
A margem foi
pequena: o vencedor obteve 2440 votos e a derrotada 2261.
A paixão de
Ramaphosa sempre foi a política. Em 1994, achou que poderia ser ele o número
dois de Mandela, mas quando foi preterido afastou-se, recusando fazer parte do
governo. Dedicou-se então aos negócios e tornou-se um empresário de sucesso; é
hoje um dos homens mais ricos do país.
Ramaphosa prometeu
lutar contra a corrupção e revitalizar a economia. Quando a sua vitória foi
anunciada, Ramaphosa emocionou-se, enquanto os seus apoiantes
gritaram em júbilo. Um jornalista filmou a cara do Presidente Zuma: não era de
agrado. A vitória da sua ex-mulher era vista como uma garantia de protecção a
novas investigações.
Mas pouco depois, um
abraço entre Ramaphosa e Dlamini-Zuma foi um sinal, para a emissora
britânica BBC, de que pelo menos por agora as diferenças vão ser esquecidas.
Ramaphosa deverá,
assim, ser o candidato do partido às próximas eleições, em 2019, e vários
observadores esperam que as vença – apesar de nas últimas eleições municipais
de Agosto passado, o partido ter sido surpreendido com a perda de algumas das
principais cidades do país, incluindo Pretória e Joanesburgo, para o principal
partido da oposição, a Aliança Democrática.
A causa do declínio
do partido liderado por Nelson Mandela foi apontada aos escândalos de corrupção
envolvendo Zuma – que se manterá na presidência até às eleições de 2019.
Zuma sobreviveu há meses, por pouco, à oitava moção de censura no
Parlamento, por causa de alegações de corrupção.
Aliás, o candidato,
que em 2007 lançou um desafio considerado improvável na altura contra o então
Presidente Thabo Mbeki, acabou por vencer facilmente com o apoio de várias
estruturas-chave do partido – apesar de já na altura enfrentar acusações de
corrupção (retiradas antes das eleições de 2009, o que permitiu a sua
candidatura presidencial).
Foi algo
que Ramaphosa não teve: vários organismos-chave do ANC apoiaram a
rival. Daí que a vitória seja ainda mais significativa.
A maioria dos
analistas e observadores mantiveram cautela sobre quem poderia vencer a
corrida. A contagem estava “demasiado próxima” para se perceber um vencedor; os
políticos mantinham-se no palco da convenção, os militantes cantavam e dançavam
enquanto não saíam para salas laterais para discutir os últimos rumores. O
anúncio foi feito depois de rumores de que a candidata derrotada tinha pedido
uma recontagem.
A missão
de Ramaphosa não vai ser fácil: unir as diferentes facções do partido e ao
mesmo tempo ter a acção decisiva contra a corrupção que prometeu, e que o país
espera, comentou o analista da BBC Milton Nkosi. Se vencer as eleições para a
liderança do ANC foi difícil, sublinha Nkosi, cumprir esta promessa será
muito mais duro.