quarta-feira, 9 de abril de 2014

A VISÃO DE JES – OLHEM PARA O QUE ELE DIZ E ESQUEÇAM O QUE ELE FAZ – FOLHA8

A VISÃO DE JES – OLHEM PARA O QUE ELE DIZ E ESQUEÇAM O QUE ELE FAZ – FOLHA8, 29 de Março de 2014




O presiden­te José Eduar­do dos Santos conside­ra, e bem, que a situação na região dos Grandes Lagos é “preocupante”, que “perturba e retarda” o processo de integração e o desenvolvimento de Áfri­ca. Na devida proporção é o mesmo que se passa em Angola. Ou seja, o MPLA “perturba e retarda” o de­senvolvimento, sobretu­do social.



José Eduardo dos San­tos considera aquilo a que “o grande desafio” é saber se os líderes africanos “são ca­pazes ou não de banir os confli­tos armados, as rebeliões e as subversões”.



“Temos o de­ver de dizer que sim! So­mos capa­zes de tra­balhar para que isto aconteça, pois somos a espe­rança dos povos que confiaram em nós a con­dução dos seus destinos”, frisou. Não é certo que, no caso angolano, tenham sido os cidadãos a confia­rem livremente o seu des­tino nas mãos de um regi­me que diariamente avilta e desrespeita a dignidade dos angolanos.



Eduardo dos Santos chama à colação a Carta Constitu­tiva da União Africana que, segundo ele, “diz tudo”. É mais ou menos o que diz a Constituição de Ango­la. Diz muita coisa mas, mesmo tendo sido feita por medida e à medida do regime, não é respeitada pelos poderes existentes ou, melhor, pelo único po­der existente que é o Pre­sidente da República, por sinal presidente do MPLA e chefe do Governo.



“Basta respeitar a Car­ta Constitutiva da União Africana e implementá-la para se alcançar esses ob­jectivos e reforçar a nos­sa cooperação em todos os domínios, cumprindo os compromissos assu­midos”, diz Eduardo dos Santos. É claro que a tese do presidente aplica-se aos outros e não a Angola.



Angola tem pela frente os desafios da instabilidade no leste da vizinha Repú­blica Democrática do Con­go e os conflitos recentes na República Centro-Afri­cana (RCA) e no Sudão do Sul. Tem também, é claro, imensos desafios internos. Mas esses terão de espe­rar. E a espera nem sequer é novidade. Desde 1975 que os angolanos esperam que o país seja uma democra­cia e um Estado de Direito. E quem já esperou tanto tempo não terá, em princí­pio, problemas em esperar mais uns 30 anos que é o tempo que o MPLA estima como necessário para lá chegar.



Para fazer face a estes desafios externos, José Eduardo dos Santos sin­tetizou que a posição de Angola será a de “manter o diálogo e obter consen­sos”. Mais uma vez o regi­me aplica aos outros o que não faz aos seus. Interna­mente diálogo é sinónimo de monólogo e consenso significa estar sempre de acordo.



Angola vai assentar a sua acção nos planos político, económico-social e desen­volvimento regional e de defesa e segurança, segun­do o programa anunciado por José Eduardo dos San­tos.

No plano político, privile­giará a aplicação dos prin­cípios constantes do Pacto sobre a Paz, a Estabilidade e o Desenvolvimento da Região dos Grandes Lagos, assinado em Dezembro de 2006 em Nairobi, e o cum­primento dos compromis­sos assumidos “para a bus­ca da paz e estabilidade” na RCA e no Sudão do Sul.



No segundo plano, Angola vai “envidar esforços” para promover as trocas comer­ciais e de experiências nos domínios administrativo, gestão macroeconómica, combate à fome e pobreza, aumento do emprego e da cooperação nos sectores da economia real para con­solidar a diversificação das respectivas economias.



Finalmente, no capítulo da defesa e segurança, Luan­da vai continuar a promo­ver a gestão conjunta da segurança das fronteiras comuns, e a cooperação sobre questões gerais de segurança, designadamen­te o combate ao tráfico de seres humanos, imigração ilegal, exploração ilícita e pilhagem de recursos na­turais, proliferação ilegal de armas e prevenção e combate das actividades criminosas transnacionais e terrorismo.



“Trabalhemos juntos para garantir um futuro melhor para os nossos povos”, diz Eduardo dos Santos. Se o tivesse feito em Angola, certamente que o país e os cidadãos estariam a anos­-luz do actual estado em e milhões têm pouco ou nada.



Recorde-se que no dia 1 de Junho de 2012, Eduardo dos Santos defendia em Luanda, com toda a garra, que “não pode ser tolerado o ressurgimento dos gol­pes de estado em África”.



Tinha, como sempre tem (ou não fosse o “escolhi­do de Deus”) razão. Aliás, a democraticidade do seu regime e a legitimidade do seu mandato são pro­va disso. Como bem es­tabelecem as regras, há ditadores bons e maus. Daí que só os maus devam ser derrubados. Não é, obvia­mente, o caso de Eduardo dos Santos.



José Eduardo dos Santos discursava nessa altura na abertura da cimeira ex­traordinária de Chefes de Estado e de Governo da SADC, que analisava a si­tuação política da região e da integração económica regional.



De acordo como Presiden­te, o continente necessita de exemplos concretos que confirmem que Áfri­ca pretende “virar firme­mente uma página do passado de uma história em comum”, marcado pela existência de “governos autoritários ou autocráti­cos, para dar lugar a socie­dades e instituições demo­cráticas”.



Ver Eduardo dos Santos fazer um discurso, buri­lado pelos especialistas brasileiros, em que faz a apologia da democracia e condena os governos au­toritários, é digno de regis­to no anedotário mundial.



Em 9 de Maio de 2008 já o chefe de Estado lançava um desafio para combater a corrupção e o tráfico de influências, que “atentam contra os interesses nacio­nais”.



Afinal, estando Eduardo dos Santos na Presidên­cia da República há uma porrada de anos, estando Eduardo dos Santos há uma porrada de anos a chefiar o MPLA, estando o MPLA há uma porrada de anos no Governo, o que te­rão andado a fazer desde 11 de Novembro de 1975?



Nesse dia, ao discursar na abertura da III Conferên­cia Nacional do MPLA, em Luanda, o presidente do partido disse ainda que tinha de ser garantida a li­berdade de imprensa e de expressão e um bom fun­cionamento do sistema de justiça, que são “condições essenciais para o aprofun­damento da democracia”.



O chefe de Estado angola­no sublinhou que os desa­fios que lançou na abertu­ra da conferência “não são promessas demagógicas porque são fundamenta­das por um estudo elabo­rado por técnicos compe­tentes sobre a realidade nacional, que teve em con­ta as necessidades do povo e os recursos da nação”.



Com um programa ambi­cioso de construção de um milhão de habitações, das quais 500 mil nas áreas ru­rais, o Presidente afirmou que a questão das habita­ções em Angola merece “insatisfação geral” e a “aposta vai para a constru­ção de habitação social e para o alojamento de pes­soas de média renda”.



A Educação era também uma prioridade, tendo o chefe de Estado apontado para a criação de uma uni­dade de ensino superior ou médio em cada uma das 18 províncias angola­nas. Outras das priorida­des estabelecidas por José Eduardo dos Santos foi a Saúde, nomeadamente no que diz respeito às mulhe­res grávidas e às crianças com menos de cinco anos.



Há quem diga que no país de Eduardo dos Santos, que não é o mesmo da maioria dos angolanos, há 70% de pobres. Alguém acredita nisso? Segundo José Eduardo dos Santos, quando ele nasceu já havia muita pobreza na perife­ria das cidades, nos mus­seques, e no campo, nas áreas rurais.



Eduardo dos Santos de­nuncia também os oportu­nistas que pretendem pro­mover a confusão no país para provocar a subversão da ordem democrática es­tabelecida na Constituição da República, e derrubar governos eleitos, a favor de interesses estrangeiros.




“Hoje há uma certa con­fusão em África e alguns querem trazer essa con­fusão para Angola”, decla­rou Eduardo dos Santos, adiantando que “devemos estar atentos e desmasca­rar os oportunistas, os in­triguistas e os demagogos que querem enganar aque­les que não têm o conheci­mento da verdade”.




Como diria o seu amigo e ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, corroborado pelo seu su­cessor (Passos Coelho), bem como pelo Presiden­te Cavaco Silva, ainda está para nascer um presiden­te do MPLA, de Angola e chefe do Governo, que tenha feito melhor do que José Eduardo dos Santos.




Tudo será mais fácil de en­tender se todos perceber­mos que pôr os vivos (e até os mortos) a votar – mes­mo que de barriga vazia – é democracia. Um povo com fome vota certamente em quem lhe der um saco de fuba. Além disso, todos sabemos que do ponto de vista eleitoral tudo decor­rerá sempre na maior nor­malidade, mesmo que em alguns círculos votem no MPLA mais de 100% dos eleitores inscritos...



“Para essa gente, revolu­ção quer dizer juntar pes­soas e fazer manifestações, mesmo as não autoriza­das, para insultar, dene­grir, provocar distúrbios e confusão, com o propósito de obrigar a polícia a agir e poderem dizer que não há liberdade de expressão e não há respeito pelos direitos” referiu o único presidente dos países lu­sófonos que nunca foi no­minalmente eleito.



José Eduardo dos San­tos diz que os opositores querem apenas colocar fantoches no poder, que obedeçam à vontade de potências estrangeiras que querem voltar a pilhar as riquezas e fazer o povo voltar à miséria de que se está a libertar com sacrifí­cio. Tem razão. Embora o MPLA pilhe as riquezas e o povo desde 1975, sempre tem a seu favor o facto de impor que os estrangeiros só pilhem se for em parce­ria com o clã Eduardo dos Santos.



Como diz o presidente, ninguém se lembrar de dizer que a pobreza não é recente e que é uma pesa­da herança do colonialis­mo e uma das causas que levou o MPLA a conduzir a luta pela liberdade, para criar o ambiente político necessário para resolver esse grave problema. Em­bora sejamos independes­tes há quase 40 anos, não é despiciendo falar também da responsabilidade de D. Afonso Henriques.