quinta-feira, 28 de julho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VII


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE VII

O texto que temos vindo a públicar no blog do protectorado da Lunda, fala da penetração europeia na Lunda até 1890, depois teremos a questão da evolução politica de África e a Lunda entre 1884 até 1891, finalmente a questão do conflito entre Portugal e a Bélgica sobre a mesma Lunda ou seja a questão da Lunda 1885 até 1894. Outro elemento muito importante é a questão da conferência Geográfica de 1876 e a Associação Internacional Africana. O problema da conferência de Berlim de 1884-1885, que nunca abordou a situação jurídica da Lunda é a chave de toda a falsa justificação histórica da usurpação territorial.

7.- OS IRMÃOS MACHADOS NA LUNDA, HENRIQUE DE CARVALHO EM FINAIS DE 1881 EM LUANDA E A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA.

Os irmãos Machados tinham negócios bem assentes em Malanje, por intermédio dela conseguiram penetrar nos Estados sob dominio do Muatiânvua e obtiveram licenças e instalaram feitórias no Muana Tximbundo (Mona Quimbundo) e na Mussumba. As relações entre os irmãos Machados e os potentados Lundas era de comércio. Os Irmãos Machados eram simplesmente comerciantes.

Entretanto e depois da partida do Dr Pogge de Mona Quimbundo para o Lubuco, Saturnino Machado, que muito esperou por carregadores de Malange para buscar a borracha que tinha nos armazéns, deixou a feitória entregue a um empregado Africano da província de Angola e foi ter com o irmão Custódio a Malanje.

Havia já uns tempos que os irmãos Machados andavam em negociações para constituirem uma sociedade de exploração de marfim no Lubuco. Projectavam eles partir de Malanje para nordeste, através do país da Jinga, do Hungo, até às fronteiras setentrionais do Holo, para daí seguirem directamente às cachoeiras de Tembo Aluma, no Cuango. Aqui resolveriam se conviria mais marchar através do país do Mussuco ou do Xinje, até ao Pende, no Cassai. Caminhariam depois através dos Bachilangues, passariam o Cassai até ao LUBILÁCHI, para entrarem no Cacheche, na margem esquerda do Lualaba, próximo do Equador.



7.1.1.- HENRIQUE AUGUSTO DIAS DE CARVALHO EM LUANDA

Em finais de 1881 veio de Lisboa para Luanda Henrique Augusto Dias de Carvalho, já a notícia sobre a LUNDA corria no sertão de Luanda, Henrique de Carvalho tomou conhecimento que os Irmãos Machados pretendiam fazerem –se ao interior da Lunda, própos ele á Sociedade de Geografia, alí organizada havia pouco, que mandasse alguém acompanhar a expedição dos irmãos Machados.

De Janeiro a Março de 1882 houve, entre ela e Custódio Machado, troca de correspondência sobre o assunto. Mas da Sociedade de Geografia organizada em Luanda não foi ninguém com eles.

A expedição partiu para Malanje em Outubro de 1883. Levava 1200 homens (carregadores), e maior era ainda o número de agregados que iam por conta própria.

O caminho seguido para a Lunda não tinha ainda sido trilhado por Europeus. Rumou para nordeste até ao Cuango, atravessou o rio já fora das terras dos Bângalas, nos dominios de MUETO ANGUIMBO, potentado Hári.

Ao entrar em terras do Muene Capenda Camulemba – Xinjes, quis Saturnino caminhar no mesmo rumo, em direcção aos territórios do Muene Nzovo Lukunda Zangú, súbdito regente do Muatiânvua. Contudo, o trilho era inacessível para o transporte das cargas, e seguiu a expedição dos irmãos Machados para leste até ao Cuango. Daqui voltou para nordeste até ao LÓVUA, para lá do CAUNGULA, e cortou direito ao Quicassa, no Cassai.

Lopes de Carvalho, que se tinha associado à expedição Machado, separou-se, neste último percurso, de Saturnino Machado, ao que parece no Chicapa. No Capuco, na margem do Muansangoma, voltaram a reunir-se, e, á chegada de Carvalho, já Saturnino estava alí estabelecido em finais de Fevereiro de 1884.




7.1.2.- CAPELO E IVENS NOVAMENTE NO INTERIOR DA LUNDA

Entre 1882, Henrique Augusto Dias de Carvalho voltou para Portugal onde Capelo e Ivens já se encontravam, vindos anos antes das suas aventuras Africanas.

No dia 6 de Janeiro de 1884, embarcavam em Lisboa, no vapor S.Tomé, Capelo e Ivens que, tendo passado quatro anos na Europa, regressavam á àfrica. Desta vez iam com a missão de também atravessar o continente negro, do Atlântico ao Indico por terra.

No dia 24 de Abril do mesmo ano (1884), partiram eles de Moçâmedes para o interior a leste. Exploraram o Curoca, rumaram para a Huila, desceram o Caculovar até ao Humbe, subiram o Cunene até Quiteve, mudaram-se para o Calonga, passaram pelos Ambuelas, dirigiram-se para leste até tocarem o Cubango, desceram por ele até a sua confluência com o Cuebe, e caminharam para o Cuando nos Tchokwes Nganguelas, para o Ninda, subiram o Cabompo, rumando sempre para nordeste, foram a Bunqueia, á corte do N’Síri (2), encaminharam-se para sul até ao Zambeze, descendo por ele até à confluência do Dáqui, dirigiram-se a Tete, retomando o Zambeze até Mopeia, caminharam para Quelimane e foram sair na embocadura do rio dos Bons Sinais.

Em Junho de 1885 terminava a travessia do Capelo e Roberto Ivens do continente Africano.

...(2)...fui aqui que a expedição conheceu Maria da Fonseca, uma das mulheres de N’Siri e mulata que se supõe filha do major Coimbra. Mais uma vez Ivens teve de «repelir por maneira brutal suas audazes pretensões, vendo-se obrigado a abandonar a terra para não ser vitima de alguma víngança dessa atrevida Messalina»...

...(2)...ao que parece, os seus receios provinham mais do terrível espectáculo que N’Síri proporcionava ao «enfeitar» as ruas da sua Corte com as cabeças, espetadas em varas, daqueles que eram acusados de adultério com qualquer das suas numerosíssimas mulheres. Maria da Fonseca acompanharia mais tarde a Lisboa a expedição belga ao Katanga do comandante LUCIEN BIA. Roberto Ivens cumulou de atenção toda a comitiva da expedição, nomeadamente a Maria da Fonseca...