quarta-feira, 22 de junho de 2011

A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE III


A PENETRAÇÃO EUROPEIA NA LUNDA ATÉ 1890 – PARTE III

A Lunda, dada a sua posição em pleno coração da África, só depois da ocupação da costa atlântica ou indica, podia atrair comerciantes e exploradores europeus. Contudo o interesse sobre a Lunda por parte dos Europeus tem maior interesse a partir de 1875.

3.- PORTUGUESES
3.1.- Saturnino de Sousa Machado e Silva Porto

Depois da viaje do Rodrigues Graça a mussumba, entre 1843 á 1850, muitos portugueses, ajudados pelo Jagado de Cassanje, conseguiram penetrar no interior da Lunda com fins meramente comerciais e com autorização dos potentados ou Miananganas chefes dos Estados indiginas da época.

Por cerca de 1850, o português Carneiro solicita a autorização do Muene Muatximbundo e funda nas suas terras uma feitoria comercial junto aos rios Luvo e Cassengo, á qual associou mais tarde o seu empregado Saturnino de Sousa Machado, sob a firma Carneiro & Machado, firma que finalmente ficou de Machado.

Dela foram mais tarde aviados vários portugueses, tais como João de Carvalho (vulgo dictus da Catepa em Malange), António Lopes de Carvalho e José do Telhado, que percorreram em negócios de lés-a-lés o interior da Lunda e tiveram a ordem do Muatiânvua fixando uma agência na Mussumba.

Entre 1857 e 1860 grandes nomes de chefes tchokwes ou chefes de estados indiginas se destacarm como, Muatchissengue, Tchinhama, Muamuchico, Congolo e Muacanjanga. A Casa Caneiro passou então a fazer negócios com estas entidades.

No dia 3 de Abril de 1852, chegam inesperadamente a Benguela três (3) comerciantes mouros ( embora Bernardino Freire Figueiredo Abreu e Castro tenha mandado para o Boletim Oficial de Angola a notícia de que eram três, a verdade é que no oficio n.º 102, de 15 de Abril de 1852, do governador de Benguela para o Governador-geral se fala de cinco), vindos de Zanzibar através do continente africano, e logo o colono Bernardino Freire Figueiredo Abreu e Castro chama para o facto a atenção de todos. No dia 15 do mesmo mês, o governador de Benguela, José Rodrigues Coelho Amaral, dá disso notícias ao governador-geral, lembrando que talvez ele quisesse aproveitar «o regresso desta gente» para «enviar alguma carta ao Governador Geral de Moçambique.

O resultado foi que o governador-geral da província de Angola, decidiu conferir «o posto de Capitão de Passagens, com o soldo ou gratificação que o governo de Sua Majestade» designasse e um prémio de um conto de reis, a pagar pela Junta da Fazenda, àquele que, indígina ou europeu, se animasse «a seguir os caminheiros em questão», oficio n.º 474, de 28 de Abril de 1852, da repartição Civil do Governo-Geral de Angola para o Governo de Benguela.

Das instruções constava também que a expedição deveria « fazer conhecer aos regúlos poderosos – Chefes ou potentados poderosos, as grandes vantagens que lhes devem resultar de serem nossos fiéis aliados, e com especialidade ao imperador Muatiânvua, quando por aí passassem, certificando-lhe o desejo que o Governo-Geral da Província de Angola tinha de estabelecer com ele íntimas relações de aliança e amizade perpétua (...)» (artigo 5º) – In Silva Porto e a travessia do continente Africano,pp.27-28.

O governador de Benguela, receioso de que a empresa viesse a pertencer a algum aventureiro menos capaz, dirigiu a António Francisco da Silva Porto caloroso apelo para chamar a si a « glória de realizar intento tão profícuo».

Além das viagens para sudoeste, tinha este penetrado nos sertões do norte pelo Cuanza, pela LUNDA até ao Cassai, ao Lulua, ao Lubuco.

Silva Porto, que acabava de realizar a sua quarta viagem, acedeu ao convite do governador, e preparou-se para ir em direitura às cabeceiras do rio Sena. No dia 20 de Novembro de 1852, partia ele de Belmonte em direcção a Cangombe, daqui a Dumba, a Bango-Acunuco, às nascentes do Cuando, Ninda, Libonta, até ao Catongo, depois de passar o rio Zambeze, numa jornada de cento e sete dias. A gente de Silva Porto continuou com os Mouros até Moçambique, e ele regressou a Angola.

3.2.- PORTUGUESES E ESTRANGEIROS
3.2.1.- DR DAVID LIVINGSTONE

Entre os exploradores estrangeiros (Europeus), o que deve ter penetrado primeiro em terras da antiga LUNDA foi o Dr David Livingstone, enviado pela LONDON MISSIONARY SOCIETY em 1840 a África, onde fez três viagens e viveu vinte e cinco anos.

Na segunda viagem, em 1853, Livingstone subiu o Zambeze, travessou o Cuango, chegou até Luanda, e regressou a Moçambique, passando pelo cotovelo superior do Zambeze. Em Março de 1868, e pela última vez, internou-se no sertão Africano, embarcando na baía de Mikindâni, ao sul de Zanzibar, pelo rio Rovuma acima, em direcção ao Niassa. Atravessou depois os territórios de Kinsula, o rio Luângua, contornou a margem sul do Tanganica e atingiu o Muata Kazembe da LUNDA, onde recebeu deste bom acolhimento.

Até 1868, Dr David Livingstone, explorou as regiões vizinhas do Moero, Tanganica e Kazembe. Em Junho desse ano, partiu do Kazembe para Bemba, e foi em seguida conduzido pelo potentado Chicúmbi á beira do Bangueolo. No dia 1 de Maio de 1871, em Chitambo, ao sul do lago Bangueolo, falecia ele atacado de febres e minado por uma disentera crónica.

Apesar de ter percorrido regiões tão vastas da Africa Central, não conseguiu ele visitar a MUSSUMBA DO MUATIÂNVUA. Tentou realmente explorar o Lualaba e possivelmente caminhar depois mais para ocidente, mas não pode remover a animosidade dos nativos. Em vão procurou obter informes sobre o rio, mas Muíni Dugúmbi, que interrogara,« recusou-se a isso, com o pretexto de que morreria se tal fizesse». Procedeu, por isso, de ma fé quando escreveu que o Sr Rodrigues Graça e outros portugueses visitaram este chefe de Estado LUNDA o Muatiânvua por várias vezes; porém, nenhum europeu reside além Cuango: é contrário á politica do Governo da Província de Angola consentir que os seus súbtidos penetrem pelo interior a dentro.

Quando Dr David Livingstone, na sua segunda viagem, chegava às nascentes do Cuango, já em Muana Tximbundo (Quimbundo) estava estabelecido o comerciante Carneiro, já aviados seus tinham na mussumba uma agência, o que traduz as boas relações com gentes vinda da Província de Angola de origem europeia com os Áfricanos da Lunda.

A presença dos portugueses na Lunda como amigos deste povo, foi testemunhada, nas conversas que Stanley teve com Tippu-Tib, este lhe dissera que na aldeia de Cassongo, no Lua, muito para lá do Lualaba, «costumam parar alguns negociantes portugueses. E era este um testemunho de um Àrabe que devassava o continente negro e que poucas simpatias manifestava pelos portugueses.

Em 1858, Dr David Livingstone, antes de regressar a África, apresentou ao Governo Britanico um projecto de exploração do rio Zambeze na Lunda, para o qual a Inglaterra solicitou do Governo de Portugal a necessária autorização (...Porque? se a Lunda não era propriedade de Portugal..). Portugal propôs então que nessa exploração seguissem também dois ou três súbditos portugueses escolhidos pelo Governo de Sua Majestade (Oficio reservado N.º 1, de 6 de Janeiro de 1858, do embaixador portugues em Londres. In LAVRADIO, Marques do), mas tal proposta foi rejeitada in limine. O representante portugues em Londres lembrava, por isso, para Lisboa a necessidade de fazer anteceder ou seguir a expedição de David Livingstone de uma expedição portuguesa.

Tal sugestão não veio a efectivar-se, e David Livingstone foi estabelecer-se nas margens do Niassa, seguido de um Bispo protestante, de missionários e de uma colónia escocesa. Assim se levantava para Portugal mais um litigio Africano ( Porque? Se Portugal não era nada no estado da Lunda, não existia relações oficiais).

Os arrojos de David Livingstone de penetrar nos sertões inóspitos de Àfrica e a falta de novas suas emocionaram a Europa. Vários foram os que se ofereceram para ir em busca dele: um foi Henry Moreland Stanley, que antes, em 1868, tinha ajudado o capitão SPEKE na sua expedição à Abissínia. Em 1871, parte para o centro da África e, achando o missionário inglês, prepara ele uma expedição para completar as Explorações.